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RELAÇÕES ENTRE O BOLSA FAMÍLIA E OS INDICADORES DE TRABALHO

Variação de Gasto Social

RELAÇÕES ENTRE O BOLSA FAMÍLIA E OS INDICADORES DE TRABALHO

Após a apresentação dos dados coletados referentes às condições de trabalho, podemos fazer algumas observações pertinentes, objetivando estabelecer alguma correlação entre os dados e os beneficiários do Programa Bolsa Família. Ainda que tenhamos apresentado uma diversidade de dados, é preciso considerar os diferentes períodos de coleta. Quando observamos as análises que utilizaram a PNAD/2006 podemos identificar que a participação no mercado de trabalho de beneficiários do Bolsa Família é superior à participação apresentada pelos não beneficiários; o mesmo já ocorria segundo as análises que utilizam a PNAD/2004, as quais identificaram que a participação no mercado de trabalho é maior entre os beneficiários, com maiores percentuais entre homens e mulheres

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casados, apresentando redução apenas na participação no mercado de trabalho de mulheres chefes de família.

Os dados apresentados pelo CEBRAP/2007 também corroboram as pesquisas anteriores, evidenciando a elevação de 3% na participação no mercado de trabalho dentre os beneficiários do Bolsa Família quando comparados aos não beneficiários; apresentando ainda a diminuição das chances de mulheres empregadas saírem de seu emprego por conta do benefício. Esses dados nos levam a perceber como os beneficiários do Bolsa Família mantém e até elevam suas taxas de participação no mercado do trabalho, demonstrando que se trata de trabalhadores de baixa remuneração que utilizam o beneficio como complementação de renda familiar.

Tal evidência se comprova quando observamos que, ainda segundo as pesquisas que utilizaram a PNAD/2006, é maior a presença de situação de trabalho infantil entre os beneficiários do Programa. Segundo a PNAD/2006, cerca de 12,9 milhões de crianças na faixa etária de 5 a 9 anos estavam em domicílios com renda mensal de até 1 salário mínimo, correspondendo a 42% dos beneficiários dessa faixa etária. Na faixa etária de 10 a 15 anos 15,7 milhões de crianças e adolescentes residem em domicílios com renda de até um salário mínimo mensal, correspondendo a 45,6% dos beneficiários dessa faixa etária; desses 8,6% em situação de trabalho infantil.

Se entre os beneficiários do Bolsa Família a situação de trabalho infantil apresenta um percentual muito baixo, tendo em vista as exigências impostas pelo programa em especial após a inserção dos beneficiários do PETI ao Programa em 2005, segundo os dados apresentados referentes a PNAD/2006, 22% da população nacional com idade de 5 a 17 anos de idade estavam trabalhando. Em sua maioria eram meninos (14,5%), pretos e pardos (64,2% na faixa etária de 5 a 13 anos e 57,8% na faixa etária de 14 a 17 anos), em atividades agrícolas (62,6% na faixa etária de 5 a 13 anos e 43,6% na faixa etária de 14 a 17 anos), sem remuneração (57% na faixa etária de 5 a 13 anos), 19% não frequentava a escola (população de 5 a 17 anos de idade), em especial nas regiões Nordeste (14,4%), Sul (13,6%) e Norte (12,4%).

Segundo a PNAD/2007, 4,8 milhões de crianças e adolescentes brasileiros, com idades de 5 a 17 anos se encontravam em situação de trabalho infantil. Esse número

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apresenta uma significativa redução de 37% na PNAD/2012, caindo para 3,5 milhões da população dessa faixa etária, basicamente zerando a população de beneficiários do Programa em situação de trabalho infantil em 2012 (99,5% dos beneficiários na faixa etária declararam não trabalhar).

Quando comparamos os dados das PNADs referentes ao período de implementação do Programa Bolsa Família (de 2003 a 2012) entre a situação das famílias e da população, podemos observar uma diminuição tanto de famílias como da população economicamente ativa no período, elevando os percentuais dos economicamente não ativos; por outro lado, observamos a elevação do percentual de famílias e da população com renda mensal entre 1 e 2 salários mínimos, diminuindo os percentuais de famílias e da população sem rendimento ou com renda inferior a 1 salário mínimo mensal. Esses dados aparentemente contraditórios evidenciam que, apesar da diminuição de famílias e da população nacional economicamente ativa, houve aumento de renda, em especial nas famílias e na população mais pobre. Apesar de não podermos estabelecer uma correlação direta com os benefícios oferecidos pelo Programa, pois a PNAD apresenta dados referentes à totalidade da população nacional sem identificar a população beneficiária do Bolsa Família, podemos observar que no período novas fontes de renda têm elevado o padrão de rendimento da população mais pobre, independente de sua participação no mercado de trabalho.

Dentre as possibilidades de melhoria dos rendimentos da população mais pobre, a pesquisa realizada pelo IPEA/2013 evidencia uma importante incrementação dos negócios dos beneficiários do Programa após a implementação do sistema de Microempreendedores, os quais em sua maioria (38%) trabalhavam por “conta própria” ou estavam no mercado de trabalho informal (7%). Dentre os beneficiários, a pesquisa aponta que mais da metade (55%) já possuía algum negócio próprio e apenas 10% estava desempregado. Dos MEIs beneficiários do Bolsa Família,87% pretende expandir seu negócio, evidenciando melhoria nas expectativas futuras. O perfil apresentado corresponde ao perfil dos beneficiários: são moradores de áreas urbanas (92%), em sua maioria na região Nordeste, homens (50,2%) e mulheres (45,3%) responsáveis pela família (50%), jovens em idade produtiva de 25 a 39 anos (56%), com baixa escolaridade (60% com ensino fundamental e 39% com nível médio), voltados a atividades do comércio (42%) ou serviços (31%).

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Assim, ainda que não seja possível estabelecer correlação entre as melhorias das condições de trabalho e renda da população mais pobre e os benefícios ofertados pelo Programa Bolsa Família, podemos a partir das análises feitas observar importantes avanços ocorridos após a implementação do Programa na situação de trabalho e renda da população brasileira, em especial dentre as famílias e população de beneficiários. Destacamos a eliminação das situações de trabalho infantil dentre o público beneficiário, apesar da importante diminuição do número de crianças e adolescentes em tal situação, ainda são necessárias medidas específicas de atendimento, além das já existentes, a essa população.