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3.5.2.3 INDICADORES EDUCACIONAIS

Variação de Gasto Social

3.5.2.3 INDICADORES EDUCACIONAIS

A educação representa um papel central nos objetivos propostos pelo Bolsa Família (contribuir para a superação e a quebra da transmissão intergeracional da pobreza no Brasil; proteger a família inteira em vez de o indivíduo; potencializar as ações de governo, articulando União, Unidades da Federação e municípios; construir uma gestão configurada em redes; e assumir a educação como direito coletivo, subjetivo inalienável). Assim, é pela educação que se objetiva romper a transmissão intergeracional da pobreza no Brasil, reconhecendo a educação como uma estratégia de combate e/ou erradicação da pobreza. De tal forma, temas como a permanência dos estudantes nas escolas e a universalização da educação básica, entram no debate sobre a pobreza277. O controle da frequência escolar parte da noção de que o direito à educação está além de possibilitar o acesso à escola, mas também sua permanência, em idade adequada, com acesso às oportunidades de continuidade dos estudos e de inserção no mundo do trabalho.

Como condicionalidade do Bolsa Família, há o acompanhamento da frequência escolar entre estudantes de 6 a 17 anos de idade beneficiários do programa. A coleta, processamento e acompanhamento bimestral - em cinco períodos ao longo do ano, quais sejam: fevereiro/março, abril/maio, junho/julho, agosto/setembro e outubro/novembro -, são

277 “Com relação ao campo da educação, a literatura tem mostrado que os programas de transferência

condicionada aumentam significativamente a probabilidade de que crianças pobres estejam matriculadas e efetivamente frequentem a escola. O Banco Mundial (2011) faz uma meta-análise dos efeitos dos programas de assistência social nestes indicadores e mostra que, no caso dos programas de transferência monetária condicionada, encontram-se resultados positivos em todos os casos. O grau e a magnitude deste efeito varia entre países.” (CINERO, SILVA e PROENÇA, 2013, p. 297).

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feitos por meio de consulta a cada instituição278, sendo repassadas aos sistemas municipais

por cada unidade educativa no Sistema de Presença, vinculado ao Ministério da Educação (MEC) e ao Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), com a participação dos entes federados.

A rede nacional do acompanhamento da frequência escolar inclui os 5.570 municípios brasileiros, com a participação aproximada de 30 mil operadores do Sistema Presença (MEC). Em cerca de 170 mil escolas, existe pelos menos um beneficiário estudante do programa. Neste processo, foram mobilizadas mais de 1 milhão de pessoas que trabalham para coletar e acompanhar as informações individualizadas de mais de 17 milhões de estudantes, o que representa um terço das matrículas nos sistemas públicos de educação. (CRAVEIRO e XIMENES, 2013, PP. 110-111).

Por meio de ações do Programa de Acompanhamento da Frequência Escolar de Crianças e Jovens em Vulnerabilidade, da Diretoria de Políticas de Educação em Direitos Humanos e Cidadania do MEC, com a Coordenação Geral de Acompanhamento da Inclusão Escolar (CGAIE), são definidos os objetivos: acompanhar o cumprimento da condicionalidade em educação dos beneficiários do Bolsa Família; e, propor políticas setoriais de inclusão de crianças e jovens em situações de vulnerabilidade.

O principal objetivo da condicionalidade de educação é apoiar a inclusão, permanência e progressão escolar de crianças de famílias em situação de pobreza ou de extrema pobreza. A condicionalidade de educação representa, portanto, um farol de alerta, um ponto de monitoramento para a gestão pública, para se equalizar em uma linha positiva as trajetórias escolares de todas as crianças e adolescentes, independentemente de sua condição socioeconômica. (CRAVEIRO e XIMENES, 2013, p.116).

Tomamos os dados apresentados pelo PNAD/IBGE dos anos de 2003 a 2012 quanto à escolaridade da população nacional, visando identificar os avanços apresentados pelo sistema nacional de ensino. Assim, elaboramos o quadro a seguir:

Analfabetismo Anos de Estudo Rede Pública

2003 11,2% 6,4 81,2% 2004 10,5% 6,6 80,9% 2005 10,2% 6,7 80,8% 2006 9,6% 6,6 79,6% 2007 9,2% 6,9 79,3% 2008 9,2% 7,1 79,2% 2009 8,9% 7,2 78,1% 2010* 8,9% 2011 7,9% 7,3 78,4% 2012 9,9% 86,6%

278 “O registro e a coleta da frequência escolar dos beneficiários do PBF abrangem dois grupos distintos: i)

crianças e adolescentes na faixa etária de 6 a 15 anos, que devem frequentar, no mínimo, 85% do período letivo mensal; e ii) jovens com 16 e 17 anos de idade, cuja frequência escolar mensal deve atingir no período letivo, no mínimo, 75% de frequência escolar.” (CRAVEIRO e XIMENES, 2013, p.113).

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Quadro 21– Indicadores de Educação

Fonte: Elaboração da autora279.

*Dados do CENSO/IBGE 2010.

Podemos observar uma considerável redução nas taxas de analfabetismo de 11% no período; o crescimento dos anos de estudo em 15%280, e, o aumento de alunos na rede

pública de mais de 6%.

Sobre o analfabetismo, segundo o Censo Demográfico/IBGE de 2010, o Brasil possui 14 milhões de analfabetos, a maior parte na região Nordeste, em municípios com até 50 mil habitantes, na população com mais de 15 anos, entre negros e pardos e na zona rural, ainda que o censo revele uma redução de 29% em relação aos números apresentados em 2000. Outra informação importante publicada pelo Censo de 2010 se refere às desigualdades regionais do analfabetismo, o qual chega a 28% da população da região Nordeste com mais 15 anos de idade, em municípios com até 50 mil habitantes, mantendo uma proporção de idosos não alfabetizados de aproximadamente 60% (NAOE, 2012).

Embora a taxa de analfabetismo da população adulta venha caindo no Brasil, nas últimas décadas (de aproximadamente 20% em 1990 para 10,0% em 2009), ainda existe mais de 15 milhões de pessoas analfabetas. Desse total, um quinto, ou 3 milhões de pessoas, encontra-se dentro da definição de analfabetismo isolado, estando, portanto, totalmente privado de usufruir de atividades que requerem o uso da escrita e da leitura (RIBEIRO e SOUZA, 2013, p.625).

Ainda segundo dados do Censo, os índices de analfabetismo de indivíduos acima de 15 anos de idade tiveram uma drástica redução no Brasil: em 1940 o índice chegava a 56% da população nacional; em 1950 o índice caiu para 50,5%; em 1960 chegou a 39,6%; em 1970 diminui até 33,6%; em 1980 cai para 25,5%; em 1991 baixa para 20,1%; em 2000 diminui para 13,6%; e, em 2010 cai para 9,6% da população nacional. Dentre os fatores que possibilitaram essas importantes reduções dos índices de analfabetismo brasileiro, destacamos os programas de alfabetização de jovens e adultos implementados a partir da década de 1960.

Na década de 1960, pela pressão de vários movimentos sociais em prol da educação e cultura popular, tais como o Movimento de Educação de Base (MEB); o Movimento de

279 Fonte de dados PNAD/IBGE dos anos em estudo, exceto para o ano de 2010 com dados do CENSO/IBGE

2010.

280 Considerando apenas os dados disponíveis, em 2010 pela metodologia diferenciada do Censo Demográfico

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Cultura Popular (MCP); o Centro Popular de Cultura (CPC); e, a Campanha de Educação Popular (CEPLAR) - todos extintos pelo regime militar implantado em 1964, uma série de projetos de alfabetização de adultos começou a surgir. Durante o período de regime militar, com a Lei no. 5.379, de 15 de dezembro de 1967, foi criado o Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL) (posteriormente substituído pela Fundação EDUCAR, extinta em 1990 no governo Collor com a criação do Programa Nacional de Alfabetização e Cidadania (PNAC)).

A ideia do Mobral encontra-se no contexto do regime militar no Brasil, iniciado em 1964, cujo governo passa a controlar os programas de alfabetização de forma centralizada. Até então, duas décadas antes, a reflexão e o debate em torno do analfabetismo no país convergiam para a consolidação de um novo modelo pedagógico. Nesse modelo, o analfabetismo era interpretado como efeito de uma situação de pobreza gerada por uma estrutura social não igualitária e, sendo assim, a educação e a alfabetização deveriam partir de um exame crítico da realidade existencial dos educandos, da identificação das origens de seus problemas e das possibilidades de superá-los. Os programas de alfabetização orientados neste sentido foram interrompidos pelo golpe militar, porque eram considerados uma ameaça ao regime, e substituídos pelo Mobral. Dessa forma, muitos dos procedimentos adotados no início da década de 60 foram reproduzidos mas esvaziados de todo senso crítico e problematizador.(MENEZES e SANTOS, 2002).

Cabe destacar as dificuldades enfrentadas para a efetivação de Programas de Alfabetização implantados para a alfabetização de jovens e adultos em situação de miséria, além da falta de estrutura educacional e de transporte escolar adequado, as escolas no campo, a frequência escolar associada ao trabalho diário, são os principais fatores que dificultam o sucesso de tais ações de combate ao analfabetismo no Brasil. Outro ponto frágil de tais programas está relacionado à baixa formação exigida dos professores que atuam como alfabetizadores; em geral a exigência é de ensino médio completo, o que pode resultar em precarização do ensino ofertado, comprometendo os resultados e metas pretendidas (NAOE, 2012).

Um indicador sensível ao analfabetismo é o de evasão ou abandono escolar, um dos mais graves problemas da educação brasileira, que se acentua conforme avança a faixa etária. Nesse sentido, as políticas educacionais de combate à evasão escolar surgem a partir de meados dos anos 90, em duas frentes: uma de ação imediata buscando resgatar o aluno evadido e outra de reestruturação do ensino para mantê-lo na escola. A fim de corrigir as deficiências causadas pela evasão, foram criadas as chamadas “medidas de correção de fluxo”, uma espécie de atividades de recuperação paralela. Se mesmo assim o aluno não

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conseguir se recuperar ao longo do ano, há uma recuperação final, caso essa não seja suficiente, há outra chance de recuperação oferecida no mês de janeiro. Todas essas medidas desembocam na chamada "progressão continuada," esforço a mais para regularizar a relação idade/série (MENEZES e SANTOS, 2002).

Um estudo elaborado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) em 2011281 aponta que a condicionalidade da educação vinculada aos beneficiários do Bolsa Família reduziu em 36% a quantidade de crianças (de 6 a 16 anos) que não frequentavam a escola; das crianças com idade de 6 a 10 anos, a redução é de 40%; e, de 30% para crianças na faixa etária de 11 a 16 anos. Nos anos 2000, segundo o Censo/2000, o percentual de 3,3% das crianças na faixa de 6 a 14 anos (idade obrigatória) não frequentava a escola; esse percentual chega a 16,7% entre a população na faixa etária dos 15 aos 17 anos (IBGE, 2012).

A análise da escolaridade média dos brasileiros com 15 anos ou mais, realizada com os dados da PNAD/IBGE, 2011282, demonstra a grande diferença entre indivíduos mais pobres (5,6 anos de estudos) e os mais ricos (10,7 anos de estudos). As taxas de conclusão do ensino fundamental chega a apenas 43% da população mais pobre, enquanto que a porcentagem dos mais ricos atinge 86%.

Em estudo realizado pelo INEP/MDS em 2012283, a análise das taxas de abandono

escolar, tanto nos anos iniciais como nos anos finais do ensino fundamental, os alunos beneficiário do Bolsa Família (1,5% e 4,4% respectivamente) apresentam índice menor em comparação aos demais alunos da rede pública nacional (1,8% e 4,8% respectivamente). No ensino médio, as taxas de abandono dos beneficiários do Bolsa Família chega a 7,4%, enquanto dos demais alunos é de 11,3%.

Mantendo nosso acompanhamento, na mesma pesquisa INEP/MDS em 2012284, os resultados relacionados às taxas de aprovação demonstram que os alunos mais pobres

281 Apresentado por CRAVEIRO e XIMENES (2013), o estudo intitulado O impacto do Programa Bolsa

Família sobre a frequência escolar: uma análise de diferenças, a partir da PNAD (INEP, 2011).

282 Pesquisa apresentada por CRAVEIRO e XIMENES (2013).

283 Dados apresentados por CRAVEIRO e XIMENES (2013) sobre o Censo Escolar (2012), estudo realizado

pelo INEP e MDS (2012).

284 Dados apresentados por CRAVEIRO e XIMENES (2013), referentes ao Censo Escolar (2012), realizado

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possuem maiores dificuldades que os demais alunos da rede pública, desde os anos iniciais do ensino fundamental (alunos beneficiários tem 88,7% e os demais alunos 95,8%) reduzindo conforme o avanço do percurso, nos anos finais (aprovação dos alunos beneficiários chega a 80,8%, enquanto dos demais alunos chega a 83,8%) e no ensino médio (aprovação de alunos beneficiários é de 79,7%, a dos demais alunos é de 75,5%).

Associada a esses índices educacionais, a defasagem entre a idade e a série que o aluno deveria estar cursando, é considerada uma das mais graves distorção e um dos maiores problemas do ensino fundamental brasileiro, agravada pela repetência e o abandono da escola (MENEZES e SANTOS, 2002). Por isso, analisaremos esse indicador mais detalhadamente.