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Parte II. Razão e Desenvolvimento

Capítulo 08. Desenvolvimento Sustentável

8.4. Do desenvolvimento sustentável (DS)

Colocado de modo esquemático, Lars-Göran ENGFELDT (2002)186 descreve que a partir dos anos '70 inaugurou-se um novo ambientalismo, em que se tenta integrar o ambiente ao desenvolvimento, até então considerados como dimensões separadas. Essa mesma abordagem temporal é referida no 'Terceiro Relatório do PNUMA sobre as Perspectivas do Meio Ambiente Mundial 2002 – GEO-3: Passado, presente e futuro' (IBAMA/UMA, 2004, p.02-28)187, que aponta uma trajetória no marco de referência do pensamento moderno em relação ao ambiente e ao desenvolvimento: nos anos '50 e '60,

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Criado por Mahbub ul Haq (1934-1998) com a colaboração do economista indiano Amartya K. Sen, ganhador do Prêmio Nobel de Economia de 1998, o IDH pretende ser uma medida geral, sintética, do desenvolvimento humano. O IDH parte do pressuposto de que “para aferir o avanço de uma população não se deve considerar apenas a dimensão econômica, mas também outras características sociais, culturais e políticas que influenciam a qualidade da vida humana” (PNUD, 2009).

PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO (PNUD). Índice de Desenvolvimento Humano. Disponível em: <http://www.pnud.org.br/idh/>. Acesso em: 03 de Ago, 2009.

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SEN, Amartya Kumar (2000). Desenvolvimento como liberdade. Tradução de Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras.

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ENGFELDT, Lars-Göran (2002). Chronicle Essay: The Road from Stockholm to Johannesburg. Online edition. Disponível em: <http://www.un.org/Pubs/chronicle/2002/issue3/0302p14_essay.html>. Acesso em: 03 de Ago, 2009.

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INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS (IBAMA) E UNIVERSIDADE LIVRE DA MATA ATLÂNTICA (UMA) (2002/2004). Perspectivas do Meio

Ambiente Mundial - 2002 GEO-3: Passado, presente e futuro. Tradução de Sofia Shellard e Neila Barbosa

Corrêa. Brasília: IBAMA; Salvador: UMA. Disponível em: <http://www.wwiuma.org.br/geo_mundial_arquivos/index.htm>. Acesso em: 03 de Ago, 2009.

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catástrofes ambientais e os primeiros trabalhos apontando problemáticas ambientais, como 'Primavera Silenciosa' de Rachel Carson em 1962 e 'A tragédia dos comuns' de Garrett Hardin em 1968188; nos anos '70, a fundação do ambientalismo moderno, em que se passa a integrar a visão desenvolvimentista com a ambientalista; nos anos '80, a definição do DS; nos anos '90, a implementação do DS nas agendas locais e globais; do ano 2000 em diante, a revisão dessas agendas. Essa trajetória de discussões em nível internacional pode ser recapitulada de acordo com a seguinte sequência de eventos:

- 1968. Clube de Roma. Reunião de cúpula entre cientistas de países desenvolvidos realizada em Roma. Nesta reunião, debateu-se sobre a urgência de se planejar meios para garantir a conservação dos recursos naturais e controlar o crescimento da população, após haverem visualizado os limites do crescimento econômico em função dessas condições (Nogueira & Chaves, 2005, p.131-2). O resultado foi a publicação, em 1972, do fatalista 'Limites do crescimento', elaborado por Dennis L. MEADOWS et al. (1978)189, que inseriu a discussão da problemática ambiental em nível planetário. Dentre as polêmicas propostas do Clube de Roma, estava a idéia do 'estado estacionário', por meio da redução a zero, ou próximo dela, das taxas anuais de crescimento econômico dos países desenvolvidos; os países em desenvolvimento não deveriam seguir as aspirações ao crescimento econômico e, ainda, teriam sua soberania nacional ferida no que se refere ao destino dos seus recursos naturais, como resume Carvalho (2006, p.198-9).

- 1971. Encontro de Founex, na Suíça, em junho de 1971. Essa reunião preparatória inaugura a pauta de discussão no âmbito mundial a respeito das preocupações ecológicas. Produziu-se um relatório em que analisou a problemática da relação entre ambiente e desenvolvimento. Segundo Sachs (1993)190, nesse documento se traçou um caminho intermediário entre as teses malthusianas e as cornucopianas. A teoria de Malthus, do começo do século XIX, diz que as plantas e animais crescem em progressão aritmética, enquanto os homens crescem em progressão aritmética. A problemática existente entre superpopulação, produção de alimentos e incapacidade tecnológica para solucionar essa

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“A tragédia dos bens comuns como fonte de alimentos pode ser evitada pela propriedade privada, ou algo que se assemelhe formalmente a isso. Mas o ar e as águas a nossa volta não podem ser cercados de forma fácil, e assim, a tragédia do uso dos bens comuns como fossa sanitária deve ser evitada por outros meios, por leis coercitivas ou impostos que façam com que seja menos dispendioso para o poluidor tratar seus agentes poluentes do que despejá-los sem tratamento no meio ambiente.” (HARDIN, 1968 in IBAMA/UNA, 2004, p.02). Segundo Diegues & Moreira (2001, p.10), o trabalho de Hardin serve de base às teses liberais, segundo as quais somente o capital privado pode explorar os recursos naturais de forma adequada, sem destruí-lo. Com isso, ignoram-se os povos residentes em determinadas localidades e seus sistemas tradicionais de manejo comunitário dos recursos naturais.

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MEADOWS, Dennis L.; MEADOWS, Donella H.; RONDERS, Jorgen (1972/1978). Limites do

crescimento: um relatório para o projeto do clube de roma sobre um dilema da humanidade. 2ª Edição. São

Paulo: Perspectiva.

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SACHS, Ignacy (1993). Estratégias de transição para o século XXI – desenvolvimento e meio ambiente. São Paulo: Studio Nobel: Fundap.

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equação é a questão central de suas teorizações, como resume John Bellany FOSTER (2005, p.202-209)191. As teses cornucopianas postulam a necessidade de ajuste tecnológico para superar a escassez física da produção do que precisamos para nossa existência, bem como o controle de poluentes decorrentes dessas atividades, uma vez que se entende ser essa a chave para desenvolver a capacidade ilimitada de produção de alimentos (SACHS, 1993, p.11-12). Segundo Maimon (1993, p.56), o relatório do Clube de Roma foi elaborado a partir de um modelo econométrico que previa o esgotamento dos recursos naturais em função do modelo de crescimento, padrão tecnológico e estrutura de demanda internacional – o que remetia à problemática malthusiana da incompatibilidade entre crescimento populacional e limitação do patrimônio natural. Tal abordagem foi altamente contestada e nesse encontro de Founex se ponderou que, para atingir o desenvolvimento econômico, a prioridade ambiental era fundamental e esta, por sua vez, dependia da vida humana em si. Carvalho (2006, p.197) refere que o Relatório de Founex rejeitou as polarizações entre o ecologismo radical e a visão de desenvolvimento econômico neoclássico, dando as bases para uma agenda sobre ambiente e desenvolvimento às reuniões seguintes.

- 1972. Estocolmo. 'Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente Humano' com o tema 'meio ambiente e desenvolvimento'. Nesse encontro produziu-se a 'Declaração de Estocolmo'192, foi criado o PNUMA193 e apresentaram-se idéias cujo foco central era que a noção de desenvolvimento fosse intermediária aos partidários do crescimento econômico selvagem e aqueles que ponderam outras variáveis, como as ecológicas e sociais, para o desenvolvimento (SACHS, 1993). Dentre os expositores que deixaram sua marca ao trazerem uma abordagem social do ambientalismo e desenvolvimento, registram-se a primeira ministra indiana, Indira Ghandi, que afirma ser a pobreza a pior forma de poluição, e Tang Ke, da delegação chinesa, que aponta serem as pessoas o que há de mais precioso no planeta (IBAMA/UMA, 2004). Carvalho (2006, p.198) descreve que o relatório da conferência de Estocolmo estabeleceu as bases metodológicas para se pensar os grandes problemas ambientais numa perspectiva global; e enfatizou também a idéia da possibilidade de harmonização entre desenvolvimento e ambiente. No entanto, no plano operacional cada nação deveria levar adiante suas próprias políticas para resolução desses problemas – apesar do discurso de aldeia global.

- 1974. Cocoyoc (México). Simpósio do Programa das Nações Unidas para o

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FOSTER, John Bellany (2005). A ecologia de Marx – materialismo e natureza. Rio de Janeiro: Civilização brasileira.

192

DECLARAÇÃO DE ESTOCOLMO. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/_arquivos/estocolmo.doc>. Acesso em: 03 de Ago, 2009.

REPORT OF THE UNITED NATIONS CONFERENCE ON THE HUMAN ENVIRONMENT -

STOCKHOLM 1972. Disponível em:

<http://www.unep.org/Documents.Multilingual/Default.asp?DocumentID=97>. Acesso em: 03 de Ago, 2009.

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Desenvolvimento, organizado pelo PNUMA e pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), com o tema 'Modelos de utilização de recursos, meio ambiente e estratégias de desenvolvimento', em que se identificaram os fatores sociais e econômicos que levam à deterioração ambiental (IBAMA/UMA, 2004, p.07). Como apontado por Carvalho (2006, p.199), nessa reunião reconheceu-se que os grandes problemas ambientais urbanos e de destruição dos recursos naturais rurais eram causados, principalmente, pelos países industrializados. Mainom (1993, p. 56) descreve que havia duas posições em Cocoyoc: os que fixavam como prioridade as necessidades básicas (alimentação, água, aquecimento) em oposição ao crescimento puro e simples; os que priorizavam outros limites do planeta, como recursos naturais e ambiente. O resultado desses simpósios foi a 'Declaração de Cocoyoc', na qual se destaca, mais uma vez, a necessidade de repensar o desenvolvimento dos países em nível mundial, para além do simples ajuste tecnológico: remodelar as estruturas sociais para diminuir a pobreza e promover a igualdade social, calcadas em formas de desenvolvimento que garantam a sobrevivência do homem na biosfera. Em suma, reforçou-se a primazia de considerar novas noções de desenvolvimento, mas ainda sem considerá-lo segundo as diferenças dos países do Norte e Sul.

- 1975. A Fundação Dag Hammarskjöld publica o influente Relatório sobre desenvolvimento e cooperação internacional “What Now” (1975)194. Este aponta que “o presente estado do mundo, caracterizado por pobreza em massa e degradação ambiental, é inaceitável. Precisa ser mudado” (idem, p.25). Após retomar as abordagens dos que previam a abundância (cornucopianos – com a fé em soluções técnicas e do crescimento econômico) e dos catastrofistas (doomsayers – dentre os quais, os neomalthusianos), declara a necessidade de se adotar um novo paradigma de desenvolvimento, que satisfaça as necessidades humanas com base na autosuficiência e harmonia com o ambiente. Este outro desenvolvimento descrito pelo relatório seria “endógeno (em oposição à transposição mimética de paradigmas alienígenas), autosuficiente (em vez de dependente), orientado para as necessidades (em lugar de direcionado pelo mercado), em harmonia com a natureza e aberto às mudanças institucionais” (SACHS, 2002, p. 54)195.

- 1980. Três publicações oficiais importantes: 1) órgãos do governo norte-americano publicam o relatório 'Global 2000' (BARNEY, 1980)196, em que se reconheceu pela primeira vez que a extinção das espécies ameaçava a biodiversidade como componente essencial

194

WHAT NOW – another development. The 1975 Dag Hammarskjšld Report. Development Dialog, 1/2. Disponível em: <http://www.dhf.uu.se>. Acesso em: 03 de Ago, 2009.

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SACHS, Ignacy (2002). Caminhos para o desenvolvimento sustentável. Organização: Paula Yone Stroh. Rio de Janeiro: Garamond.

196

BARNEY, Gerald O. (org.) (1980). The Global 2000 Report to the President. Vol. I: Entering the Twenty-

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dos ecossistemas terrestres. O estudo adota uma linguagem mais moderada – e diz-se mais abrangente do que aquele do Clube de Roma – para apontar que os padrões de desenvolvimento são insustentáveis e que se tal tendência persistir, o mundo no ano 2000 seria mais lotado, mais vulnerável a rupturas, mais poluído, menos estável ecologicamente e haverá graves tensões envolvendo população, recursos e meio ambiente. Não obstante haja maior produção material, a população mundial seria mais pobre em muitos aspectos, pois não haveria como continuar a satisfazer suas necessidades com a diminuição da base mundial de recursos naturais. 2) O 'World Conservation Strategy' (WCS), já referido acima. 3) Os dois relatório da 'Brandt Comission', (BRANDT, 1980, 1983)197, encabeçado pelo então presidente da Socialista Internacional Willy Brandt, que também enfatizam a deterioração dos recursos naturais, as diferenças entre países do Norte e Sul, e a necessidade de cooperação internacional para repensar novos padrões de desenvolvimento. Como a interdependência entre desenvolvimento e ambiente se tornava cada vez mais óbvia, a Assembléia Geral da ONU adotou em 1982 a 'Carta Mundial da Natureza'198, chamando a atenção para o valor intrínseco das espécies e do ecossistema (IBAMA/UNA, 2004, p.10).

- De 1979 a 1987. O PNUMA, em conjunto com as Comissões Regionais das Nações Unidas, realizou seminários sobre estilos alternativos de desenvolvimento, que culminaram no Relatório Brundtland, em 1987, denominado também 'Nosso futuro comum'199, cujo núcleo central é a formulação dos princípios do DS. Criada em 1983, por decisão da Assembléia Geral da ONU, a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD) – ou Comissão Brundtland (nome dado em homenagem à presidente da comissão, a ministra norueguesa Gro Harlem Brundtland) – tinha como objetivo propor estratégias que aliassem desenvolvimento e ambiente, considerando a economia global de forma ampla. Isso implica na observância de que, por um lado, existem dinâmicas econômicas que geram pobreza e desigualdade em países subdesenvolvidos, o que acentua a crise ambiental, e, por outro lado, os padrões de produção e consumo de países desenvolvidos estão levando ao desgaste dos recursos naturais. Em suma, o papel dessa comissão foi produzir o Relatório Brundtland, que serviu de base para as ações na linha do DS e foi adotado por inúmeros órgãos da ONU e governos. A CMMAD define:

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BRANDT, W. & ICIDI (1980). North-South: a programme for survival – report of the Independent

Commission on International Development Issues under the chairmanship of Willy Brandt. Massachusetts:

MIT Press.

_______ (1983). Common crisis north-south: cooperation for world recovery. Massachusetts: MIT Press. Disponível em: <http://files.globalmarshallplan.org/inhalt/coc_2.pdf>. Acesso: 03 de Ago, 2009.

198

WORLD CHARTER FOR NATURE. ONU. Assembléia Geral 37/7. Disponível em: <http://www.un.org/documents/ga/res/37/a37r007.htm>. Acesso em: 03 de Ago, 2009.

199

COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO (CMMAD). NOSSO FUTURO COMUM (1987/1991). 2ª edição. Rio de Janeiro: Editora Fundação Getúlio Vargas.

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O desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem a suas próprias necessidades. Ele contém dois conceitos-chave: - o conceito de 'necessidade', sobretudo as necessidades essenciais dos pobres do mundo, que devem receber a máxima prioridade;

- a noção das limitações que o estágio da tecnologia e da organização social impõe ao meio ambiente, impedindo-o de atender às necessidades presentes e futuras.

Portanto, ao se definirem os objetivos do desenvolvimento econômico e social, é preciso levar em conta suas sustentabilidade em todos os países – desenvolvidos ou em desenvolvimento, com economia de mercado ou de planejamento central. Haverá muitas interpretações, mas todas elas terão características comuns e devem derivar de um consenso quanto ao conceito básico de desenvolvimento sustentável e quanto a uma série de estratégias necessárias para sua conservação (CMMAD, 1991, p. 46).

Essa definição é compartilhada por inúmeros órgãos internacionais, governamentais e não-governamentais desde o Relatório Brundtland. De acordo com Olivier MEUNIER e Marcílio de FREITAS (2005, p. 131)200, a idéia central do DS é a de gerar condições de desenvolvimento para crescimento das nações e erradicação das desigualdades e pobreza, na qual a utilização dos recursos naturais seja conduzida de maneira a perdurar para as gerações futuras. Além destes pressupostos, a noção de DS parte do princípio de que há diferenças nos modelos de desenvolvimento dos países do Norte e Sul, insustentáveis em longo prazo; introduz uma dimensão ética e política ao considerar o desenvolvimento como um processo de mudança social, que implica em transformações das relações econômicas e sociais entre os países; enfatiza o processo democrático do acesso aos recursos naturais e distribuição dos benefícios do desenvolvimento; propõe uma nova concepção de economia, que leve em conta variáveis ambientais, participação política e equilíbrio entre uso de recursos e crescimento demográfico. Nesse relatório, ainda se qualificou melhor a crise ambiental em âmbito global; menciona a insustentabilidade do desenvolvimento econômico capitalista às gerações futuras; associa as questões socioambientais e a crise geral do capitalismo aos problemas socioeconômicos, pobreza, superpopulação e retardo do desenvolvimento nos países de periferia; inverte o argumento: a preocupação passa a ser dos impactos da destruição do ambiente sobre o desenvolvimento econômico; relaciona pobreza como causa e efeito dos problemas ambientais fruto do modelo econômico vigente; associa o inadequado uso e manejo de recursos naturais com desigualdades sociais e distribuição dos benefícios do desenvolvimento; entrelaça desenvolvimento econômico às questões ambientais e sociais numa nova forma de desenvolvimento que seja sustentável.

200

MEUNIER, Olivier & FREITAS, Marcílio de (2005). Culturas, técnicas, educação e ambiente: uma abordagem histórica do desenvolvimento sustentável. In: FREITAS, Marcílio de (org.). Amazônia: a

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- 1989. O PNUMA e a Organização Meteorológica Mundial (OMM) criam o Intergovernmental Panel on Climate Change201 (IPCC – Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas), com grupos de trabalho centrados em avaliar cientificamente as mudanças climáticas, os impactos ambientais e socioeconômicos, bem como estratégias de resposta aos desafios a serem enfrentados pela humanidade nas décadas vindouras202. Desde 2001, o IPCC vem ganhando maior destaque por mostrar evidências de mudanças climáticas cada vez mais significativas de origem antrópica, com consequências diretas sobre o aquecimento global.

- 1992. Rio de Janeiro. 'Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento' (CNUMAD) – conhecida como Rio-92 (ou 'Cúpula da Terra'). Simultaneamente a esse evento oficial internacional, ocorreu o 'Fórum Global das Organizações Não-Governamentais', reunindo inúmeras organizações para discussão de temas diretamente relacionados à Rio-92. A união desses dois eventos ficou conhecida como Eco-92 (BARBIERI, 2005, p.47). O resultado da CNUMAD foi a reafirmação e ampliação da Declaração de Estocolmo com mais 27 princípios, que objetivam “orientar a formulação de políticas e acordos internacionais que respeitem interesses de todos, o desenvolvimento global e a integridade do meio ambiente” (BARBIERI, 2005, p.48). Além desta ampliação da Declaração de Estocolmo, conhecida como 'Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e o Desenvolvimento'203, na conferência formam aprovados: 'Convenção sobre Mudanças Climáticas' (United Nations Framework Convention on Climate Change – UNFCCC)204; 'Comissão de Desenvolvimento Sustentável' (Comission on

201

INTERGOVERNMENTAL PANEL ON CLIMATE CHANGE. Disponível em: <http://www.ipcc.ch/>. Acesso em: 03 de Ago, 2009.

202

Sobre mudanças climáticas, alguns protocolos foram elaborados pelas agências internacionais. Em 1987, o Protocolo de Montreal, em que os países signatários se comprometem a substituir as substâncias que empobrecem a camada de ozônio – especialmente os Hidroclorofluorcarbonos (HCFCs). Posteriormente, foi reforçado e ampliado por meio das emendas de Londres (1990), de Copenhague (1992), de Viena (1995), de Montreal (1997) e de Beijing (1999). Em 1997, o Protocolo de Kyoto, que entrou em vigor somente em 2005, estabelece a redução da emissão de gases de efeito estufa. Com vigência até 2012, será substituído por novo documento, que atenda às indicações do IPCC.

PROTOCOLO DE MONTREAL BRASIL. Disponível em: <http://www.protocolodemontreal.org.br/>. Acesso em: 03 de Ago, 2009.

THE MONTREAL PROTOCOL ON SUBSTANCES THAT DEPLETE THE OZONE LAYER. Disponível em: <http://ozone.unep.org/>. Acesso em: 03 de Ago, 2009.

THE KYOTO PROTOCOL. Disponível em: <http://unfccc.int/kyoto_protocol/items/2830.php>. Acesso em: 03 de Ago, 2009.

203

DECLARAÇÃO DO RIO DE JANEIRO SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO.

Disponível em: <http://www.mma.gov.br/sitio/index.php?ido=conteudo.monta&idEstrutura=18&idConteudo=576>. Acesso

em: 03 de Ago, 2009.

204

CONVENÇÃO SOBRE MUDANÇAS CLIMÁTICAS. Disponível em: <http://www.mct.gov.br/index.php/content/view/4069.html#ancora>. Acessado em: 03 de Ago, 2009.

UNITED NATIONS FRAMEWORK CONVENTION ON CLIMATE CHANGE. Disponível em: <http://unfccc.int>. Acesso em: 03 de Ago, 2009.

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Sustainable Development – CSD) 205, 'Declaração de Princípios sobre Floresta'; 'Convenção da Diversidade Biológica' (Convention on Biological Diversity – CBD)206; 'Agenda 21'207; e um acordo para negociar uma 'convenção mundial sobre a desertificação'208

.

No que diz respeito à Agenda 21, nela encontram-se planos de ação que visam alcançar os objetivos do DS. Trata-se de uma consolidação dos diversos tratados, encontros e declarações, em forma de um manual para orientar as nações e suas comunidades no “processo de transição para uma nova concepção de sociedade” (BARBIERI, 2005, p.65). Sua implementação deve ocorrer de forma global e local e, por essa razão, se fala na construção da Agenda 21 de cada localidade. Na Amazônia, como nos relata Luis E. ARAGÓN (2000b, p. 1-2)209, a construção da Agenda Amazônia 21 começou a ser construída por iniciativa do Ministério do Meio Ambiente (MMA), por meio da Secretaria de Coordenação da Amazônia (SCA)210. Uma versão preliminar foi apresentada na reunião 'Rio + 5', em 1997. Posteriormente, uma conferência envolvendo a SCA e a Associação de Universidades da Amazônia (UNAMAZ), em novembro de 2007, reuniu especialistas de todos os países amazônicos para debater sobre a formulação da Agenda 21 para a Grande Amazônia, tendo como resultado a publicação do volume 'Amazônia 21: uma agenda para um mundo sustentável' (ARAGÓN, 1998)211. Em seguida, a Universidade Federal do Pará