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MONTERO, Maritza (2004a) Introducción a la psicología comunitaria: desarrollo, conceptos y processos.

2.6. Outras abordagens em Psicologia Social no Brasil

Retomando as diferentes abordagens em Psicologia Social, destacaríamos também outras que ainda não são tradições fortes, porém estudadas por pesquisadores da Psicologia Social no Brasil:

G) a Psicologia Social fundada pelo argentino Enrique Pichon-Rivière (2002, 2003)61 e seus discípulos, cujos trabalhos são mais conhecidos pela contribuição dos grupos operativos, mas que de longe estão restritos a estes. Na Argentina, há escolas que outorgam título de nível superior em Psicologia Social, sendo difundida a prática desses profissionais na condução de trabalhos em grupos, instituições e comunidades, nas áreas da saúde,

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MONTERO, Maritza & MARTÍN-BARÓ, Ignacio (1987). Presentación. In: MONTERO, Maritza (org.).

Psicología Política Latinoamericana. Caracas: Editorial Panapo.

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A psicologia social comunitária latino-americana (ou psicologia comunitária, como preferem denominar alguns grupos brasileiros) desenvolveu-se em algumas direções, enquanto a psicologia política veio se desenvolvendo por outros caminhos. Para compreensão das intersecções dentro das perspectivas atuais, Cf. FREITAS, Maria de Fátima Quintal de (2001). Psicologia social comunitária latino-americana: algumas aproximações e intersecções com a psicologia política. Revista de Psicologia Política, vol 1, nº 02, p.71-92.

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PICHON-RIVIÈRE, Enrique (2002). Teoría del vínculo. 1ª ed. 24ª reimp. Buenos Aires: Nueva Visión. ______ (2003). El proceso grupal: del psicoanálisis a la psicología social (1). 2ª ed. 33ª reimp. Buenos Aires: Nueva Visón.

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educação e trabalho62.

H) as interfaces entre a 'Psicologia Social' e as leituras da psicanálise dos fenômenos sociais e aquelas provenientes da psicanálise de abordagem grupal e institucional, com autores advindos da escola argentina, inglesa e francesa de psicanálise63;

I) a 'Psicologia Social' em sua interface com a psicossociologia, pelas contribuições do movimento institucionalista (sociopsicanálise, psicoterapia institucional, socioanálise e esquizoanálise) (MACHADO & ROEDEL, 2001)64, também com autores argentinos e franceses, e da qual emerge recentemente a Psicologia Social Clínica proposta por Jacqueline BARUS-MICHEL (2004)65.

J) a corrente nomeada como psicologia social crítica (ou psicologia crítica), que adota discussões de autores marxistas, neomarxistas e da Escola de Frankfurt (MONTEIRO, 200666; LANE, 1981, 2006);

K) As contribuições dos russos Alexis Nikolaevich Leontiev, Lev Semenovich Vygotsky e Alexander Romanovich Luria, que dão base às teorizações da Psicologia Sócio-Histórica (BOCK, GONÇALVES & FURTADO, 2004)67, com contribuições pertinentes às discussões da Psicologia Social, em especial pelo estudo sobre a constituição social da subjetividade, a historicidade como noção básica nos processos de formação do sujeito, a consciência e atividade como categorias centrais para compreender o indivíduo/sociedade e a aquisição da linguagem, aprendizagem e socialização como fenômenos do âmbito individual/social. L) O construcionismo social inaugurado por Kenneth J. Gergen (1973; 2008)68, afim às teorizações do interacionismo simbólico e teoria psicossocial de G. H. Mead, à fenomenologia social de Alfred Schütz (que combina a fenomenologia de Husserl e a sociologia de Weber) e aos desdobramentos dados por Peter L. BERGER e Thomas

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Alguns exemplos: Primera Escuela Privada de Psicología Social. Disponível em: <www.psicologiasocial.esc.edu.ar>. Escuela de Psicología Social del Sur. Disponível em: <www.psicologiasocial.org.ar>. Acesso em: 03 de Ago, 2009.

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Uma exposição das teorias psicanalíticas de grupo e instituições, as respectivas 'escolas' e suas leituras de fenômenos sociais, cf. CASTANHO, Pablo de Carvalho de Godoy Entre Línguas e Afetos: Uma Investigação Psicanalítica da Língua em Grupos Multilíngues. 2005. 333f. Dissertação (Mestrado). Instituto de Psicologia. Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005.

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MACHADO, Marília Novais da Mata & ROEDEL, Sonia (2001). Prefácio. In: MACHADO, Marília Novais da Mata et al. (org.). Psicossociologia: análise social e intervenção. Belo Horizonte: Autêntica.

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BARUS-MICHEL, Jacqueline (2004). O sujeito social. Tradução de Eunice Galery e Virgínia Mata Machado. Belo Horizonte: Editora PUC Minas.

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MONTEIRO, Luís Gonzaga Mattos (2006). Objetividade X Subjetividade: da crítica à psicologia à psicologia crítica. In: LANE, Silvia Tatiana Maurer & SAWAIA, Bader Burihan (2006). Novas veredas da

psicologia social. São Paulo: Brasiliense; Educ.

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BOCK, Ana Mercês Bahia; GONÇALVES, Maria Graça M.; FURTADO, Odair (orgs.) (2004). Psicologia

Sócio-Histórica: uma perspectiva crítica em psicologia. São Paulo: Cortez Editora.

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GERGEN, Kenneth J. (1973). Social Psychology as History. Journal of Personality and Social Psychology,

vol. 26, nº 02, p. 309-320. Disponível em:

<http://www.swarthmore.edu/Documents/faculty/gergen/soc_psych.pdf>. Acesso em: 27 de Jan, 2010. GERGEN, Kenneth J. (2008). A psicologia social como história. Psicologia & Sociedade, vol. 20, nº. 3, Dec., p. 475-484. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102- 71822008000300018&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 27 de Jan, 2010.

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LUCKMANN (2008), no difundido 'A construção social da realidade'69 (IBAÑEZ GRACIA, 200470;IÑIGUEZ, 200471, MOL, 200872; SPINK; 200473).

Além, é claro, de muitas outras leituras em 'Psicologia Social' realizadas dentro do contexto da Psicologia e Sociologia contemporâneas, não referidas acima e que recebem o devido valor em seus respectivos centros de estudos, manuais e livros da área. Todas as tradições e correntes teriam, paradoxalmente, um mesmo ponto em comum e de litígio: a relação indivíduo-sociedade. Segundo Corga (1998, p. 240), todas essas abordagens são consideradas como pertencentes à grande disciplina Psicologia Social por tentar estudar o indivíduo psicológico e a sociedade num único objeto, deixando de lado tanto a supremacia do psicologismo quanto do sociologismo, por meio de metodologias quantitativas e qualitativas.

2.6. Conclusão

Com esta breve exposição e localização da Psicologia Social, vimos que sua crise movimentou a produção de novas abordagens teóricas, metodológicas e políticas. Isso teve repercussão direta sobre a maneira como os psicólogos lidaram com sua formação, produção acadêmica e intervenção na realidade. Neste caminho, passou-se a privilegiar métodos qualitativos em detrimentos dos quantitativos, cujas bases se encontravam sedimentadas na Psicologia Social criticada. Esse mesmo movimento de contestação à ciência realizada por métodos quantitativos também teve sua repercussão, a partir dos anos '60, em outras ciências sociais e humanas, como descrito por Minayo (2000)74, num momento em que passam a ganhar credibilidade as pesquisas qualitativas, como formas legítimas de produção do conhecimento.

Atualmente, continuam as discussões a respeito da superação da dicotomia qualitativo/quantitativo dentro das ciências humanas e sociais. Dentro desse movimento, já se fala em triangulação de métodos, como elaborado por Minayo, Simone Gonçalves de

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BERGER, Peter L. & LUCKMANN, Thomas (1966/ 2008). A construção social da realidade: tratado de

sociologia do conhecimento. Tradução de Floriano de Souza Fernandes. 29ª Edição. Petrópolis: Vozes.

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IBAÑEZ GRACIA, Tomás (2004). O 'giro lingüístico'. In: IÑIGUEZ, Lupicinio (Coord.). Manual de análise

do discurso em ciências sociais. Tradução de Vera Lúcia Joscelyne. Petrópolis: Vozes.

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IÑIGUEZ, Lupicinio (2004). Os fundamentos da Análise do Discurso. In: ______ (Coord.). Manual de

análise do discurso em ciências sociais. Tradução de Vera Lúcia Joscelyne. Petrópolis: Vozes.

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MOL, Annemarie (2008). Política ontológica. Algumas ideias e várias perguntas. In: NUNES, João Arriscado; ROQUE, Ricardo (Org.). Objectos impuros. Experiências em estudos sobre a ciência. Tradução de Gonçalo Praça. Porto: Edições Afrontamento.

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SPINK, Mary Jane P. & MENEGON, Vera Mincoff (2004). Práticas Discursivas. In: IÑIGUEZ, Lupicinio (Coord.). Manual de análise do discurso em ciências sociais. Tradução de Vera Lúcia Joscelyne. Petrópolis: Vozes.

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MINAYO, Maria Cecília de Souza (2000). O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em Saúde. 7ª Edição. São Paulo: Hucitec.

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ASSIS e Edinilsa Ramos de SOUZA (2006)75, em que se cruzam técnicas vindas de ambas perspectiva para poder estudar um objeto de vários ângulos e, assim, ter uma visão mais diversificada e completa sobre um determinado fenômeno. Do mesmo modo, Álvaro & Garrido (2006) apontam que um dos desafios da Psicologia Social contemporânea é superar tais barreiras e desenvolver pesquisas e intervenções que se utilizem dessa combinação, pois a adequação de cada uma das técnicas de pesquisa empregadas depende da forma em que elas são ajustadas à natureza do objeto de estudo. Esse aspecto será abordado adiante e merecerá atenção especial: as questões socioambientais só são possíveis de serem refletidas quando vistas de vários pontos de vista, o que envolve uma visão inter-/transdisciplinar e utilização de vários métodos para realização de pesquisas que versam sobre esses temas.

Antes de finalizarmos esta reflexão, devemos esclarecer quais as características centrais das ciências sociais, que podem ser identificadas entre as disciplinas que a compõem e que as diferenciam dos outros tipos de ciências. Minayo (2007a) caracteriza suas particularidades da seguinte maneira:

1) o objeto das ciências sociais é histórico. As sociedades humanas existem e se constroem num determinado espaço e se organizam de forma particular e diferente de outras; vivenciam a mesma época histórica e têm traços em comum; vivem o presente marcado pelo passado e é com tais determinações que constroem o futuro. Há provisoriedade, dinamismo e especificidade marcantes em qualquer questão social. As ciências sociais também se inscrevem nesses processos, tendo momentos distintos de decadência e desenvolvimento teórico.

2) o objeto de estudos das ciências sociais possui consciência histórica. Não apenas o investigador tem a capacidade de dar sentido ao trabalho intelectual, mas todos os seres humanos dão significado às suas ações e construções, explicitam intenções de seus atos e projetam e planejam o futuro segundo sua racionalidade.

3) existe identidade entre sujeito e objeto. A pesquisa nesta área lida com seres humanos. Portanto, há substrato comum de identidade entre os envolvidos na investigação, o que os torna solidariamente imbricados e comprometidos. O pesquisador é da mesma natureza que seu objeto e é, ele mesmo, parte de sua investigação.

4) as ciências sociais são intrínseca e extrinsecamente ideológicas. Não há neutralidade científica, pois toda investigação está imersa em interesses, visões de mundo historicamente construídas. A visão de mundo do pesquisador e dos pesquisados está implicada em todo processo de conhecimento, ou seja, “a relação (…) entre conhecimento e

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MINAYO, Maria Cecília de Souza; ASSIS, Simone Gonçalves e SOUZA, Edinilsa Ramos de (orgs.) (2006).

Avaliação por triangulação de métodos: abordagem de programas sociais. 1ª reimpressão. Rio de Janeiro:

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interesse deve ser compreendida como critério de realidade e busca de objetivação” (idem, p. 14).

5) o objeto das ciências sociais é essencialmente qualitativo. A realidade social é a cena e o seio do dinamismo da vida individual e coletiva com toda riqueza de significados dela transbordante. Por meio de teorias e instrumentos próprios destas ciências, há uma tentativa de aproximação da magnitude da existência da vida humana em sociedade, mesmo que incompleta, imperfeita e insatisfatória. Tenta-se reconstruir teoricamente os processos, relações, símbolos, significados e toda expressão da subjetividade constituintes/constituídas das/pelas expressões humanas.

Com estas colocações, pudemos inscrever esta pesquisa dentro dos parâmetros das ciências humanas (Psicologia – dada nossa formação acadêmica) e sociais (Psicologia Social – dada nossa pós-graduação e foco de estudos), o que vem auxiliar os interlocutores a compreender o alcance e a limitação deste trabalho.

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