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MONTERO, Maritza (2004a) Introducción a la psicología comunitaria: desarrollo, conceptos y processos.

Capítulo 4. Estratégias metodológicas (ou um psicólogo no 'paraíso dos etnólogos') 102

4.3. Primeira configuração da pesquisa

4.3.1. Local de pesquisa e pessoas envolvidas. Em 2006, quando vim pela primeira vez à

Amazônia, participei de uma série de viagens pelo interior do estado do Amazonas, durante o período de 01 mês. As cidades visitadas foram Coari e Tabatinga. Na primeira, visitei 02 bairros urbanos e 02 comunidades rurais (Esperança I e Vila Lira). Na segunda, 01 bairro urbano e 03 comunidades rurais (Terezina I, Terezina IV e Tauaru). As pessoas envolvidas na pesquisa foram os ribeirinhos (meio rural) e aquelas das classes populares (meio urbano). Não se trabalhou com indígenas.

4.3.2. Projeto de Pesquisa. Na ocasião, participei do projeto intitulado 'Estudo-diagnóstico

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Dentre os centros que pude passar e que me agregaram substancial contribuição pelas discussões e orientações de seus respectivos coordenadores e colaboradores, devo citar: Núcleo de Apoio à Pesquisa sobre Populações Humanas e Áreas Úmidas Brasileiras (NUPAUB/USP), do prof. Dr. Antônio Carlos Sant'Ana Diegues; Núcleo de Psicologia Política e Movimentos Sociais (NUPMOS/PUC-SP), do prof. Dr. Salvador Antonio Mireles Sandoval; Grupo de Pesquisa em Psicologia Política, Políticas Públicas e Multiculturalismo (GEPSIPOLIM/USP), do prof. Dr. Alessandro Soares da Silva; Grupo Interdisciplinar de Estudos Sócio- Ambiental e Desenvolvimento de Tecnologias Apropriadas na Amazônia (Grupo Inter-Ação/UFAM), da profa. Dra. Maria do Perpétuo Socorro Rodrigues Chaves.

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sobre o modo de organização da produção pesqueira para implantação de empreendimentos solidários nas comunidades ribeirinhas nos municípios de Coari e Tabatinga – Amazonas'. Este projeto tinha por objetivo central realizar experimentos que comprovassem a efetividade na viabilização de infra-estrutura para a implantação e implementação de empreendimentos solidários114 para geração de trabalho e renda, que servissem de subsídio a políticas públicas voltadas ao desenvolvimento social e econômico das comunidades ribeirinhas amazônicas, por meio de práticas de pesca sustentável. Portanto, um projeto que servia como uma importante experiência com vistas a fomentar ações em comunidades ribeirinhas e que, posteriormente, se prestaria a contribuir para a formulação, implementação e avaliação de políticas públicas voltadas a essa população.

4.3.3. Financiamento, logística e tempo de execução. Tal pesquisa foi realizada em

parceria com a Agência de Agronegócios do estado do Amazonas (AGROAMAZON) no âmbito do Programa Amazonas de Apoio a Pesquisa em Políticas Públicas em Áreas Estratégias (PPOPE), incentivado e financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM), que garantiu todas as despesas para o estudo, que no caso da Amazônia tornam-se onerosas devido à cara logística da região. O projeto foi realizado também em parceria com o Instituto de Desenvolvimento Agropecuário do Estado do Amazonas (IDAM). Nesta parte do país, o transporte é o que absorve boa parte do orçamento, pois para se chegar às comunidades, se gasta com: avião, barco, gasolina, voadeira, barqueiro, alimentação, remédios, material em geral, hospedagem, além de outros gastos que tornam a logística dispendiosa. Há comunidades que são distantes e se leva muitos dias para se chegar até elas. Essa distância e tempo é o que tornam particulares as condições logísticas das pesquisas realizadas na Amazônia. A execução do projeto estava programado para durar 03 anos, divididos em Fase I (diagnóstico local e formação de banco de dados), II (plano de ação) e III (monitoramento e assessoria).

4.3.4. Inserção institucional. Psicólogo, mestre e doutorando em Psicologia Social pelo IP-

USP, fui chamado como consultor, juntamente com uma colega psicóloga do IP-USP

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Chaves et all. (2006) nomeia dessa maneira os empreendimentos geridos pelos comunitários que obedecem a organização própria de trabalho do ribeirinho amazônico. Isso envolve o estilo de liderança entre eles, a rede comunitária mobilizada para a execução de ações e, principalmente, a divisão de trabalho específica das comunidades ribeirinhas (que funcionam em regimes de mutirão e ajuri). No caso em questão, eram empreendimentos ligados à prática pesqueira, tocados pelos comunitários segundo organização própria. Ajuri é um modo de organização coletiva de trabalho cujo beneficiário é uma pessoa ou grupo familiar. Mutirão é uma prática que segue a mesma lógica de trabalho coletivo, mas que beneficia a comunidade como um todo. CHAVES, Maria do Perpétuo Socorro Rodrigues et all. (2006). Relatório Fase I do Projeto: Estudo-

diagnóstico sobre o modo de organização da produção pesqueira para implantação de empreendimentos solidários nas comunidades ribeirinhas nos municípios de Coari e Tabatinga no Estado do Amazonas.

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(mestre em Psicologia da Educação), para compor a equipe de pesquisa do Grupo Interdisciplinar de Estudos socioambientais e de Desenvolvimento de Tecnologias Sociais Apropriadas na Amazônia (Grupo Inter-Ação), coordenado pela Profa. Dra. Maria do Perpétuo Socorro Rodrigues Chaves, do Departamento de Serviço Social do Instituto de Ciências Humanas e Letras da Universidade Federal do Amazonas (UFAM).

4.3.5. Equipe de pesquisadores. O grupo de pesquisa era composto por profissionais de

disciplinas diferentes: biologia, engenharia de pesca, técnico agrícola, psicologia, serviço social, história e sociologia. E em todos os níveis: graduandos, graduados, mestrandos, mestres, doutorandos e doutores.

4.3.6. Referência teórica. Em relação ao conhecimento sobre a vida do ribeirinho, boa

parte das referências consultadas no momento foi proveniente dos escritos de Chaves, cuja produção é expressiva sobre políticas públicas, sustentabilidade do desenvolvimento, pesquisa-ação, vida ribeirinha, entre outros temas relacionados à Amazônia – sob o crivo do olhar das ciências sociais aplicadas. Além da produção teórica dessa autora, também outros teóricos foram utilizados para conduzir nosso olhar sobre a realidade amazônica. Todos eles estão citados ao longo desta tese.

4.3.7. Metodologia. Os membros da equipe provinham de áreas diferentes, o que foi

bastante enriquecedor como experiência de trabalho interdisciplinar. Não obstante cada profissional tivesse vindo de uma área diferente, o que implica em possuírem recursos técnico-teóricos diferentes, houve comum acordo numa base conceitual comum e na utilização de um método a ser empregado, adequado aos propósitos da pesquisa e ao contexto amazônico. O estudo-diagnóstico configurou-se com uma modalidade de pesquisa-

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ação – a metodologia interação115 – para o estudo das condições de vida nas comunidades ribeirinhas (focando-se os aspectos sócio-econômicos e culturais referentes à atividade pesqueira). Portanto, para efeitos de estudo, buscou-se: a) identificar e dar maior enfoque às comunidades ribeirinhas em que a prática da pesca é considerada a atividade principal para reprodução dos grupos domésticos familiares; b) avaliar a teia formada pelas entidades organizativas dos pescadores e a dinâmica de mobilização; c) observar as formas de lutas e o modelo político-organizativo adotados, os quais forneceram indicações importantes sobre: como os pescadores reivindicam seus direitos e defendem seu modo de vida; uso dos recursos locais na demarcação de seus territórios, que marcam posição na sociedade e na história. Os procedimentos técnico-operacionais utilizados na Fase I foram: pesquisa bibliográfica; visitas institucionais; formulários para lideranças; formulários para pescadores; entrevistas semi-estruturadas; diário de campo; reunião de equipe; elaboração de material didático e instrumentais de pesquisa-ação; levantamento de demandas e potencialidades por meio de técnicas de abordagem grupal; atividades de arte/cultura com criança e adolescente; registro fotográfico; participação em atividades do cotidiano dos ribeirinhos; atividades de instrumentalização/capacitação técnica de lideranças e comunitários; alimentação de banco de dados e elaboração do relatório final.

4.3.8. Primeiro objetivo do doutorado. Meu projeto de doutorado se inseria nesse projeto

maior. Minha questão de pesquisa era estudar essa implantação e implementação dos empreendimentos solidários, elucidando os processos comunitários particulares das comunidades ribeirinhas amazônicas alvo da pesquisa – características próprias aos povos tradicionais dessa região. O resultado da Fase I da pesquisa-ação foi concluída em 2006 e descrita em Chaves et al. (2006). Boa parte dos dados levantados nessa etapa serviriam também como fonte para minha pesquisa de doutorado.

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Sua base teórica-metodológica e técnica-operacional foi estruturada no trabalho de doutorado em política científica e tecnológica de Chaves (2001). Esta se caracteriza como pesquisa social aplicada, onde se articulam a base teórica e metodológica à investigação empírica através de atividades sócio-educativas, que visam subsidiar a construção de alternativas de manejo dos recursos locais, juntamente com os grupos comunitários. Colocado de outra maneira, a 'metodologia interação' propõe a geração do conhecimento e o enfrentamento de problemáticas socioambientais por meio da interação entre os pesquisadores e os agentes sociais envolvidos, aliando o saber técnico-científico ao saber tradicional e possibilitando o acesso a bens e serviços sociais. Essa articulação permite a valorização das habilidades e conhecimentos dos agentes sociais na definição, gestão e execução de um plano de ação participativo, numa relação de horizontalidade. A elaboração e gestão deste plano compreendem estudos contínuos para conhecimento da realidade local e a permanente avaliação e rearticulação das ações implementadas. O mérito dessa metodologia consiste em apoiar a organização interna comunitária e, ao mesmo tempo, captar alguns de seus princípios e tomá-los como orientação de trabalho (rede de ajuda mútua, coletivização do trabalho). Seu molde, similar a um programa social (com ações integradas de serviços sociais), requer a participação dos envolvidos não de modo secundário, mas como protagonistas na determinação dos rumos a serem assumidos. Dentre as orientações prioritárias do projeto, permeava o caráter de busca da sustentabilidade e autonomia das comunidades.

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