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Parte II. Razão e Desenvolvimento

Capítulo 08. Desenvolvimento Sustentável

8.7. Por uma nova concepção de desenvolvimento

Decorrente da necessidade de reformulação da idéia de desenvolvimento, alguns autores vêm elaborando propostas que rompam com os paradigmas vigentes. Um deles é Amartya K. Sen (2000), para quem a expansão da liberdade é vista “como o principal fim e principal meio do desenvolvimento” (idem, p.10). Por isso, sua idéia de desenvolvimento como liberdade. Para o autor, “o desenvolvimento consiste na eliminação de privações de liberdade que limitam as escolhas e as oportunidades das pessoas de exercer ponderadamente sua condição de agente” (idem, ibidem).

Sen explica que a expansão das liberdades que as pessoas podem vir a desfrutar é considerada segundo dois pontos de vista:

1) como fim primordial do desenvolvimento: é o papel constitutivo do processo de desenvolvimento, relacionado “à importância da liberdade substantiva no enriquecimento da vida humana” (SEN, 2000, p.52). As liberdades substantivas incluem capacidades elementares, como ter condições para evitar privações como a fome, desnutrição, morbidez evitável, morte prematura, assim como liberdades associadas a saber ler, escrever, fazer cálculos aritméticos, ter participação política, liberdade de expressão, etc. Sob estes aspectos, para alcançar o desenvolvimento se deve eliminar as fontes de privação destas liberdades substantivas: pobreza e tirania, carência de oportunidades econômicas e destituição social sistemática (educação, emprego remunerado, segurança econômica e social), negligência dos serviços públicos (acesso a serviços de saúde, saneamento básico, água tratada) e intolerância ou interferência excessiva de Estados repressivos.

2) como principal meio do desenvolvimento: o papel instrumental desse processo, concernente ao “modo como diferentes tipos de direitos, oportunidades e intitulamentos contribuem para a expansão da liberdade humana em geral e, assim, para a promoção do desenvolvimento (SEN, 2000, p. 54). Seriam cinco liberdades instrumentais: liberdades políticas (direitos civis, políticos e sociais), facilidades econômicas (financiamentos e utilização de recursos econômicos com propósito para consumo, produção ou troca), oportunidades sociais (saúde, educação, etc., que influenciam nas liberdades substantivas), garantias de transparência (dessegredo, clareza, inibição de corrupção, irresponsabilidades financeiras e transações ilícitas), segurança protetora (rede de segurança social com disposições institucionais fixas, como benefícios a desempregados, suplemento de renda a indigentes, distribuição de alimentos em crises de fome coletiva, empregos públicos de emergência para gerar renda a necessitados). As capacidades individuais estão atreladas às inter-relações entre estas liberdades e às disposições econômicas, sociais e políticas, que em arranjos institucionais apropriadas constituem os meios para a liberdade. Isso

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implica em “desenvolver e sustentar uma pluralidade de instituições, como sistemas democráticos, mecanismos legais, estruturas de mercado, provisão de serviços de educação e saúde, facilidades para mídias e outros tipos de comunicação, etc.” (idem, p.71), realizadas pela iniciativa privada, pública ou mescladas, assim como por ONGs e entidades cooperativas.

Por tais colocações, os fins e meios do desenvolvimento colocam a liberdade como centro, e não o crescimento econômico. Sob essa perspectiva, se pondera que Estado e sociedade têm papel no fortalecimento e proteção das capacidades humanas. As pessoas, vistas como ativamente envolvidas neste processo, devem receber as oportunidades adequadas para decidir seu próprio destino.

A liberdade é central nessa reconceitualização de desenvolvimento por duas razões: avaliatória – se há aumento das liberdades das pessoas; de eficácia – o desenvolvimento depende da livre condição de agente das pessoas (SEN, 2000, p.18). Sobre a condição de agente, Sen a entende como “alguém que age e ocasiona mudança e cujas realizações podem ser julgadas de acordo com seus próprios valores e objetivos, independentemente de as avaliarmos ou não também segundo algum critério externo” (idem, p.33). Por essa compreensão, atenta-se à expansão das capacidades das pessoas de levar o tipo de vida que elas valorizam, tradições que querem seguir, como desejam agir, onde trabalhar, o que produzir, o que consumir, etc. Isso vem ao encontro das colocações de Diegues (2001, p.52- 3), que ao se referir às 'sociedades sustentáveis' como contraponto ao DS, argumenta a favor de que cada sociedade seja capaz de definir seu padrão de produção e consumo, o bem-estar a partir de sua cultura, de seu desenvolvimento histórico e de seu ambiente. Por essas idéias, as pessoas são agentes do desenvolvimento, e não apenas objetos passivos de projetos desenvolvimentistas impostos a partir de um outro contexto.

Em linha argumentativa semelhante estão as contribuições de Virgílio Maurício VIANA (2007)230, que nos relembra que envolver é a antítese de des-envolver. Des-envolver significa tirar do invólucro, descobrir o que está encoberto; enquanto envolver significa manter-se num invólucro, comprometer-se. Para Viana, os paradigmas desenvolvimentistas das sociedades industriais levaram ao des-envolvimento das pessoas com seus ecossistemas e recursos naturais. O autor nos dá um exemplo: nos Brasil, tendemos a considerar 'mato' como algo ruim. E a floresta é mato. Remover o mato é caminho para o progresso e desenvolvimento. Isso se traduziu em políticas públicas, atitudes práticas, investimento público e privado. Refletiu-se na criação de unidades de conservação sem a presença humana (para preservação), devastação para pecuária e monoculturas agrícolas (para progresso). Segundo essa concepção, a floresta amazônica é mais valiosa derrubada

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VIANA, Virgílio Maurício (2007). As florestas e o DESenvolvimento sustentável na Amazônia. 2ª edição. Manaus: Editora Valer.

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do que de pé. As populações que ali vivem, por terem uma relação diferenciada com esse ambiente, são des-envolvidas de seu contexto ambiental (em muitos casos, retiradas de seu local de morada) por meio de ações ressonantes com outra idéia de 'envolvimento', que tentam encaixá-las em padrões diferentes daquele onde vivem.

Por isso, o autor fala em envolvimento sustentável (ES), que designa “o conjunto de políticas e ações destinadas a fortalecer o envolvimento das sociedades com os ecossistemas locais, expandindo os seus laços sociais, econômicos, culturais, espirituais e ecológicos” (idem, p.43-4). A idéia de sustentabilidade permearia todas essas dimensões. Fortalecer a idéia de ES na Amazônia, por exemplo, significa valorizar as populações tradicionais que ali vivem, respeitando seus direitos à propriedade e ao manejo tradicional dos ecossistemas; desenvolver estratégias de conservação da floresta por meio de tecnologias ambientalmente apropriadas e economicamente rentáveis (a floresta ser mais rentável de pé do que derrubada); valorizar e aprimorar o sistema tradicional de manejo231, para maior sustentabilidade e produtividade de produtos florestais certificados; envolver essas populações nas tomadas de decisão sobre a gestão dos ecossistemas, reconhecendo seu grandioso valor na proteção da natureza feita até hoje. Por tais colocações, o desafio é de elaborar um conceito novo que estimule a mudança de atitude, valores e práticas no processo de tomada de decisões públicas e privadas. Ao mesmo tempo, deve-se respeitar, valorizar e fortalecer as estruturas organizativas das populações que vivem em determinados contextos ambientais, envolvendo-as ativamente nas etapas de planejamento, implantação e avaliação de políticas e ações governamentais (VIANA, 2007, p.56).

Também Morin & Kern (2002)232 mostram que, mais além do que buscar a chave para o desenvolvimento-problema, é preciso recuperar-se o sentido do desenvolvimento humano. Para os autores, deve-se buscar a 'hominização', entendida como o desenvolvimento das potencialidades psíquicas, espirituais, éticas, culturais e sociais do homem (MORIN & KERN, 2002, p.101). Segundo esse ângulo, o desenvolvimento é colocado para além da ótica do crescimento, mas concebido de maneira antropológica e compreendido segundo sua multidimensionalidade, para “ultrapassar e romper os esquemas não apenas econômicos, mas também civilizacionais e culturais ocidentais que pretendem fixar seu sentido e suas normas. Deve romper com a concepção do progresso como certeza histórica” (MORIN & KERN, 2002, p.102).

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“Por sistema tradicional de manejo entende-se os sistemas de produção utilizados por populações tradicionais. Esses sistemas foram desenvolvidos com base num processo histórico de desenvolvimento tecnológico protagonizado pelas próprias populações tradicionais. O saber empírico acumulado ao longo desse processo é retransmitido entre diferentes populações (índios, extrativistas, quilombolas, etc.) e gerações” (VIANA, 2007, p. 52).

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Para Sachs (2002, p.65),

o desenvolvimento é o processo histórico de apropriação universal pelos povos da totalidade dos direitos humanos, individuais e coletivos, negativos (liberdade contra) e positivos (liberdade a favor), significando três gerações de direitos: políticos, cívicos e civis; sociais, econômicos e culturais; e os direitos coletivos ao desenvolvimento, meio ambiente e à cidade (BOBBIO, M., 1990; LAFER, C., 1994).

De acordo com o autor, o crescimento econômico serve como expansão das forças produtivas da sociedade para alcançar esses direitos plenos para toda população. Por essa compreensão, pondera-se um triplo imperativo ético: solidariedade sincrônica (com as gerações presentes), diacrônica (com as futuras) e com a inviolabilidade da natureza (respeito à biodiversidade, à diversidade cultural e à sustentação da vida). Isso significa que a conservação da natureza entra necessariamente em cena ao se refletir sobre o futuro da humanidade e o alcance de direitos plenos. Sobre a conservação, Sachs (2002, p.68-71) aponta que a natureza sem pessoas é uma violação dos direitos à vida, relembrando estudos que mostram que a natureza habitada é enriquecida pela presença humana. Mais além, deve-se desenvolver uma economia da permanência, pautada na perenidade dos recursos e aproveitamento sensato da natureza, isto é, na utilização da ciência e tecnologia para transformar elementos do ambiente em recursos (um conceito cultura e histórico), sem destruir a natureza. Para que seja possível chegar à harmonização entre estes objetivos sociais, ecológicos e econômicos em áreas estratégicas, como a Amazônia, necessita-se reconhecer o direito das populações locais em utilizar os recursos naturais, dando-lhes papel central no planejamento da proteção e monitoramento de seu ambiente, por meio: da aliança de conhecimentos tradicionais com os da ciência moderna; da identificação, criação e desenvolvimento de alternativas no uso de recursos de biomassa e geração de renda; do envolvimento dos agentes locais em planejamento participativo; e do cultivo da conscientização do valor e necessidade de proteção da área, bem como de padrões de crescimento local apropriado.

Esse modo de compreender o desenvolvimento, segundo Sachs (2002, p.75-6), implica numa abordagem negociada e contratual dos recursos entre os diferentes atores envolvidos, com seus interesses particulares, mas tendo em vista os objetivos mencionados acima. Por meio desse processo de negociação, explorar-se a matriz ecossistema/cultura, valorizam-se respostas culturais para desafios ambientais, aproveita-se o sistema tradicional de manejo dos recursos naturais, aproveita-se da melhor maneira a biodiversidade e identificam-se as necessidades fundamentais para a melhoria da qualidade de vida dos envolvidos. Segundo o autor, esse pode ser um caminho alternativo para regimes

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democráticos, enquanto resposta criativa à atual crise de paradigmas: colapso do socialismo real, enfraquecimento do Estado do Bem-Estar, não-cumprimento das promessas da contra-revolução neoliberal.

Em outro modo de argumentar, Sachs (2002, p.29-42) fala em uma nova civilização fundamentada no aproveitamento sustentável dos recursos naturais. Para termos a 'moderna civilização baseada em biomassa', deve-se inicialmente transformar os conhecimentos das 'pessoas dos ecossistemas' (povos tradicionais) – que possuem conhecimentos profundos sobre a natureza – e decodificá-los pelas etnociências, de modo a conjugá-los com as ciências de ponta e explorar o paradigma do 'B ao cubo': biodiversidade, biomassa, biotecnologia.

1) A biodiversidade envolve o estudo de espécies e genes; de ecossistemas e paisagens; e da diversidade cultural no processo histórico de co-evolução. Para tanto, é necessária uma abordagem holística e interdisciplinar, que conjugue ciências sociais e naturais para a conservação e uso/aproveitamento racional da natureza.

2) A biomassa coletada ou produzida em terra e na água refere-se aos 5-F: alimento (food), suprimentos (feed – ou matérias-primas industriais, como fibras, celuloses, óleos, resinas, etc.), combustível (fuel – os biocombustíveis), fertilizantes (fertilizers) e ração animal industrializada (feedstock). Sachs (2004, p.130) adiciona mais três elementos posteriormente: materiais de construção, fármacos e cosméticos. O uso da biomassa pode ser otimizado quando combinado de maneira adequada em sistemas integrados de alimento-energia adaptados às diferentes condições agroclimáticas e socioeconômicas. Busca-se cada vez mais, por meio da ciência, desenvolver sistemas produtivos artificiais análogos aos ecossistemas naturais.

3) A biotecnologia tem papel fundamental, por propiciar o aumento da produtividade da biomassa e permitir a expansão de produtos dela derivados. Para tanto, é primordial disponibilizar a biotecnologia moderna aos pequenos produtores, implementar políticas complementares (acesso justo à terra, ao conhecimento, ao crédito e mercado, melhor educação rural) e desenvolvimento de uma 'química verde' (para substituir a petroquímica e trocar combustível fóssil por biocombustível).

Segundo o autor, atualmente já se consideram países com clima tropical como mais vantajoso do que os temperados, por permitir produtividades maiores de biomassa. O Brasil tem boas condições de 'pular etapas' (aquelas percorridas pelos países industrializados) e chegar à moderna civilização da biomassa, por combinar algumas vantagens competitivas: recursos naturais abundantes e baratos, fronteira agrícola ainda não totalmente explorada, força de trabalho qualificado e conhecimentos modernos. Para tanto, necessita-se chegar a linhas de ação para o aproveitamento racional da natureza, ordenadas segundo prioridades em ciência e tecnologia que criem estratégias de sustentabilidade rumo a essa sociedade

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proposta. No caso da Amazônia, Sachs (2002, p.38-42) sugere 10 prioridades de pesquisa para alcançar esse objetivo: compreender melhor o funcionamento dos ecossistemas; pesquisas com macrodados e dados locais sobre a biodiversidade, sob controle de mãos nativas; aliança entre cientistas sociais e naturais para estudar a diversidade biológica e cultural; uso sustentável da biodiversidade e pesquisas avançadas sobre ela; estudos de sistemas integrados de produção (da agricultura familiar aos grandes sistemas comerciais), adaptados às condições locais; logística adequada para produtos florestais (armazenamento, transporte e processamento); diferentes sistemas locais de geração de energia (baseados na biomassa, mini-hidrelétricas, eólico, solar); fortalecimento e modernização das técnicas de subsistência da agricultura familiar; acoplar novos sistemas de produção (como a piscicultura, domesticação de animais, etc.); redimensionamento de acesso a bens e serviços sociais apropriados às condições específicas da Amazônia rural. O acento dado por Sachs é a busca de padrões endógenos de desenvolvimento, que sejam mais justos socialmente e que receitem a natureza.

Por fim, Sachs (2004) resume suas idéias, influenciado também pelas dos autores acima citados, no que chama de estratégias de desenvolvimento nacionais includentes, sustentáveis e sustentadas (DISS), cujo “adjetivo sustentável se refere à condicionalidade ambiental, (…) sustentado se refere à permanência do processo de desenvolvimento” (SACHS, 2004, p.70) e includente se refere à dimensão social233. As metas do desenvolvimento não são o crescimento econômico – uma condição necessária, mas não suficiente – e sim termos uma vida melhor, mais feliz e mais completa para todos. É apropriação plena dos direitos humanos. Implica em igualdade, equidade e solidariedade. Neste momento, o grande desafio das teorias desenvolvimentistas é encontrar soluções para dois grandes problemas enfrentados pela humanidade: desemprego em massa e desigualdade crescente (SACHS, 2004, p.26).

Sob essa perspectiva, o crescimento econômico deve ser guiado para ampliar o emprego, reduzir a pobreza, atenuar a desigualdade e evitar as armadilhas da competitividade espúria (SACHS, 2004, p. 14). A equidade significa, então, “o tratamento desigual dispensado aos desiguais, de forma que as regras do jogo favoreçam os participantes mais fracos e incluam ações afirmativas que os apóiem” (idem, ibidem). Uma

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O desenvolvimento includente está em oposição ao crescimento perverso: excludente (do mercado de consumo), concentrador (de renda e riqueza), em mercados de trabalho segmentados (que mantém uma parte da população na economia informal), em condições precária de subsistência pela agricultura familiar e de fraca ou nulo estímulo à participação política. E refere-se: ao tratamento desigual aos desiguais, ao comércio justo, à transformação da ciência e tecnologia em bens públicos, ao exercício pleno dos direitos humanos, à democracia participativa e planejamento local participativo, ao acesso a programas de assistência, políticas sociais compensatórias e serviços públicos (educação, saúde, moradia, etc.), à facilitação de crédito, à geração de empregos e ao trabalho descente para todos (saída do mercado informal e montagem de microempresas; estímulo ao trabalho autônomo e empreendedorismo; estímulo e modernização da produção agrícola familiar/rural). (SACHS, 2004, p.38-42).

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das idéias de Sachs para aliar a necessidade de crescimento econômico com equidade é a do desenvolvimento endógeno (opostas ao crescimento mimético), que envolve: autoconfiança (oposta à dependência), orientação por necessidades (em oposição à orientação pelo mercado), harmonia com a natureza, abertura à mudança institucional (SACHS, 2004, p. 12).

O autor coloca que para executar o DISS e fortalecer esse processo endógeno, necessita-se aliar um projeto societal para urgências não apenas no curto, mas também médio e longo prazo; crescimento baseado na mobilização de recursos internos, induzido pelo emprego; envolver todos agentes nos processos de negociação: autoridades públicas, trabalhadores, empregadores e sociedade civil organizada (o que inclui o Terceiro Setor); e combinar políticas complementares de: a) crescimento induzido por empregos sem importações (obras públicas, construção civil, ligados à conservação de energia e de recursos, à reciclagem de materiais, à manutenção da infra-estrutura existente); b) consolidação e modernização da agricultura familiar (desenvolvimento rural endógeno/ noções da 'moderna sociedade da biomassa'); c) ações afirmativas para melhorar as condições de criação e gestão de empreendimentos próprios (sair da informalidade e criar microempresa); d) fortalecimento das estratégias endógenas nacionais, que ao obterem maior sucesso adquirem poder de barganha, no plano internacional, para mudanças da ordem econômica desigual.

Em suma, a necessidade de se reformular a idéia de desenvolvimento é torná-la mais central e operacional, reaproximando ética, economia e política na condução de uma sociedade mais includente socialmente, sustentável ecologicamente e sustentada economicamente. O desenvolvimento pretende

habilitar cada ser humano a manifestar potencialidades, talentos e imaginação, na procura da auto-realização e da felicidade, mediante empreendimentos individuais e coletivos, numa combinação de trabalho autônomo e heterônomo e de tempo dedicado a atividades não produtivas (SACHS, 2004, p.35).

Algumas chaves foram colocadas para se alcançar essas metas: busca do exercício pleno dos direitos humanos; expansão das liberdades substantivas e instrumentais; conhecimento mais aprofundado da biodiversidade, na sua relação com a diversidade cultural; uso sustentável da biomassa; planejamento participativo, dialógico e negociado entre os atores envolvidos, em arranjos contratuais que beneficiem a todos; envolvimento das populações enquanto agentes em áreas a serem conservadas; maximização de oportunidades que criem condições de produção de meios de existência viáveis e em função de cada contexto socioambiental.

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8.8. Conclusão

Pela maneira como abordamos a questão do DS, vimos que estamos em um momento crucial da humanidade: necessitamos reformular não apenas que desenvolvimento queremos, como também conduzi-lo segundo ações que propiciem a toda humanidade um presente bom de se viver. Se conseguirmos transformar o mundo atual em um lugar digno e bom para todos, seremos capazes também de deixá-lo às gerações futuras num legado de bem-feitorias. Mas, pelo andar da carruagem, ainda teremos que nos empenhar bastante para que isso se transforme de um ideal quase utópico em realidade.

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