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O ambiente pelas ciências econômicas e enfoques de desenvolvimento

Parte II. Razão e Desenvolvimento

Capítulo 08. Desenvolvimento Sustentável

8.3. O ambiente pelas ciências econômicas e enfoques de desenvolvimento

Maimon (1993, p.49) descreve que nas teorias econômicas clássicas e neoclássicas, dos séculos XIX e XX, o fator de produção, que impulsiona o desenvolvimento, está em função: do capital, do trabalho e dos recursos naturais. O acento dado pelos teóricos é maior nos primeiros dois. O terceiro é considerado como apêndice do sistema econômico e sua utilização seguia a equação: retirada de insumos do ambiente, passagem pelo sistema de produção, devolução dos dejetos.

Como nos mostra Veiga (2006b), nas teorias das ciências econômicas o ambiente não é incorporado pelos economistas com peso equivalente às outras variáveis, nem considerado segundo uma dimensão sustentável – quando não completamente desconsiderado. Maimon (1993, p.50) aponta dois motivos para isso: a) a economia convencional concentra-se na escassez, isto é, entendem-se os bens ambientais como abundantes, livres e gratuitos. É o que Maria Amélia da SILVA (2009)164 chama de lógica do mundo vazio, isto é, as teorias foram formuladas num contexto onde havia pouca população, poucas máquinas, pouco capital e um mundo cheio de recursos a serem explorados. b) pelos bens ambientais serem públicos, não possuíam mercado definido e isso implicava na dificuldade de estimativa dos preços desses bens.

Em suma, dentro das teorias clássicas e neoclássicas da Economia, Maimon (1993, p.51-2) resume que o ambiente é considerado segundo três aspectos: a) fonte de matéria prima, utilizada como insumo (renováveis ou não) nos processos de produção; b) absorção de dejetos e efluentes da produção e do consumo de bens e serviços; c) outras funções, como suporte à vida animal, vegetal, lazer e estética.

Essa abordagem do ambiente das teorias econômicas está contida dentro dos enfoques desenvolvimentistas do século XX, imbuídos pelas idéias de progresso já acima citadas. Maimon (1993, p.54-5) agrupa-os em quatro tipos:

1) Desenvolvimento enquanto sinônimo de crescimento; 2) Desenvolvimento enquanto etapa;

3) Desenvolvimento enquanto processo de mudança estrutural; 4) Desenvolvimento sustentável.

O primeiro e segundo enfoques prevaleceram nos anos '50 e '60. Entendiam que a

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SILVA, Maria Amélia da (2009). Introdução à economia ecológica (a economia na perspectiva ecológica). Manaus, UFAM, julho de 2009. Mini-curso 61ª Reunião anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência.

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sociedade era constituída de unidades econômicas (de produção ou consumo), segundo processos mecanicistas e cujas leis são conhecidas cientificamente. O desenvolvimento se media pelo produto nacional bruto e renda per capita – sinais de eficiência econômica. A equidade social e a distribuição dos frutos do crescimento econômico não são contempladas nestes modelos. Para desencadear o desenvolvimento, que significa passar de uma sociedade tradicional para uma moderna e implica em consumo de massa, os países devem seguir os modelos de industrialização.

Gilberto MONTIBELLER FILHO (2004, p.59-82)165 aponta que são recentes as críticas ao reducionismo econômico e desenvolvimentista sobre as teorias de desenvolvimento elaboradas, principalmente, nas décadas de '50 e '60. O autor descreve três teorias de desenvolvimento econômico representativas de abordagens críticas ao sistema capitalista: a) a teoria da renda diferencial da terra, dos salários e dos lucros de David Ricardo; b) a teoria do fluxo circular de Joseph Schumpeter; c) a teoria marxista de crítica ao sistema capitalista. Em todas essas abordagens críticas não estão contemplados componentes ambientais, como a degradação do meio pela poluição, destruição de ecossistemas e a exaustão de recursos naturais, renováveis ou não. Montibeller Filho aponta também que apenas quando a atividade humana sobre a natureza atingiu níveis alarmantes, nos anos '70, é que a consciência ambiental passou a ser pauta das discussões sobre as teorias de desenvolvimento.

No terceiro enfoque, a partir dos anos '60, o desenvolvimento não é considerado como um processo mecânico, mas implica mudanças sociais e estruturais. Desenvolvimento e subdesenvolvimento são faces de um mesmo processo de divisão internacional do trabalho, isto é, o crescimento da produção e qualidade de vida em países centrais ocorre à custa dos demais países, mantendo-os atrasados. Por este enfoque, a industrialização também é a força motriz para romper o subdesenvolvimento. Diegues (2001, p. 42) acrescenta que nessa linha foi proposta a teoria da dependência, que aponta interesses opostos entre países capitalistas centrais e periféricos.

Segundo Silva (2009), por estes três enfoques tradicionais a natureza é considerada como recurso a ser explorado para a geração de riquezas. O ambiente é o lugar de onde se extrai os insumos e para onde se envia os dejetos da produção e consumo. São modelos intrinsecamente predatórios, baseados no uso intensivo de energias renováveis e não- renováveis a um ritmo que compromete a capacidade de (re)geração dos ecossistemas essenciais para a manutenção da vida. São também modelos que privilegiam apenas alguns países centrais, já que o padrão de acumulação predatório é desigual, por não ser física, ecológica e tampouco socialmente universalizável.

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MONTIBELLER FILHO, Gilberto (2004). O mito do desenvolvimento sustentável – meio ambiente e custos

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O quarto enfoque, que tem raízes nos anos '60 e permaneceu por um tempo sem grande destaque, pautam-se na integração entre crescimento econômico, equidade social e harmonia ambiental. Trata-se de abordagens que tentavam integrar a visão desenvolvimentista à ambientalista e resultaram na proposta do desenvolvimento sustentável (DS). Uma gama de vertentes teóricas foi elaborada segundo este enfoque, como apontam NOGUEIRA e Chaves (2005)166, Chaves e RODRIGUES (2006)167, Chaves et all. (2008)168, Maimon (1993) e Olivier GODARD (1997; 2002)169:

1) Estratégias de ecodesenvolvimento. Anos '70. Segundo David Ferreira CARVALHO (2006, p. 196-7)170, apresentadas por Maurice F. Strong no decorrer da '1ª Reunião do Conselho Administrativo do PNUMA' (em Genebra, 1973), para designar uma concepção alternativa de desenvolvimento e “que questionava o caráter tecnocrático do planejamento econômico tradicional, visando direcionar ações em zonas rurais dos países em desenvolvimento para incorporação da racionalidade de prudência ecológica” (NOGUEIRA & CHAVES, 2005, p.133). Em 1974, Ignacy Sachs desenvolve o conceito171 e, nessa versão aprimorada, expressa um estilo de desenvolvimento aplicável também a projetos urbanos e orientado pela busca de autonomia e pela satisfação prioritária das necessidades básicas das populações envolvidas. Para Sachs (1980 in NOGUEIRA & CHAVES, 2005, p.134), é “desenvolvimento endógeno e dependendo de suas forças próprias, submetido à lógica das necessidades do conjunto da população, consciente de sua dimensão ecológica e buscando estabelecer uma relação de harmonia entre o Homem e a natureza”. Em outras palavras, esta proposta corresponde à preocupação de subordinar o desenvolvimento aos objetivos sociais e éticos integrando as dificuldades ecológicas e buscando, no nível

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NOGUEIRA, Marinez Gil & CHAVES, Maria do Perpétuo Socorro Rodrigues (2005). Desenvolvimento sustentável e Ecodesenvolvimento: uma reflexão sobre as diferenças ideo-políticas conceituais. Somanlu:

revista de estudos amazônicos. Manaus: EDUA/ CAPES, ano 5, n. 1, jan/jun, p. 129-143.

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CHAVES, Maria do Perpétuo Socorro Rodrigues & RODRIGUES, Débora Cristina Bandeira (2006). Desenvolvimento sustentável: limites e perspectivas no debate contemporâneo. INTERAÇÕES: Revista

Internacional de Desenvolvimento Local, Campo Grande: Universidade Católica Dom Bosco, vol. 08, n. 13,

p.99-106.

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CHAVES, Maria do Perpétuo Socorro Rodrigues et al. (2008). Recursos naturais, biotecnologia e conhecimentos tradicionais: questões sobre o desenvolvimento sustentável na Amazônia. Revista

Perspectiva. Erechim: URI. v.32, n. 117, p. 137-148. mar.

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GODARD, Olivier (1997). O desenvolvimento sustentável: paisagem intelectual. In: CASTRO, Edna Maria Ramos de & PINTON, Florence (orgs.). Faces do trópico úmido: conceitos e questões sobre

desenvolvimento e meio ambiente. Belém: CEJUP; NAEA -UFPA.

______ (2002). A gestão integrada dos recursos naturais e do meio ambiente: conceitos, instituições e desafios de legitimação. In: VIEIRA, Paulo Freire & WEBER, Jacques (orgs.). Gestão de Recursos Naturais

Renováveis e Desenvolvimento – novos desafios para a pesquisa ambiental. 3ª edição. São Paulo: Cortez.

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CARVALHO, David Ferreira (2006). Desenvolvimento Sustentável e seus limites teóricos-metodológicos. In: FERNANDES, Marcionila & GUERRA, Lemuel (orgs.). Contra-discurso do desenvolvimento

sustentável. 2ª Edição revisada. Belém: UNAMAZ; NAEA-UFPA.

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Em suas obras, Sachs reconhece que não é o autor do ecodesenvolvimento. Apesar de ter-lhe dado aprimoramento e ampla divulgação.

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instrumental, soluções economicamente eficazes (SACHS, 1998)172. As estratégias do ecodesenvolvimento estão fundamentadas, segundo Godard (1997, p.111), no

atendimento às necessidades fundamentais (habitação, alimentação, meios energéticos de preparação de alimentos, água, condições sanitárias, saúde e decisões nas participações) das populações menos favorecidas, prioritariamente nos países em desenvolvimento, na adaptação das tecnologias e dos modos de vida às potencialidades e dificuldades específicas de cada ecozona, na valorização dos resíduos e na organização da exploração dos recursos renováveis pela concepção de sistemas cíclicos de produção, sistematizando os ciclos ecológicos.173

2) Bioeconomia ou Economia Ecológica. Final anos '80. De acordo com Cavalcanti (1993, p.86)174, a “economia ecológica busca é entender e integrar o estudo e o gerenciamento do 'lar da natureza' (a ecologia) e do 'lar da humanidade' (a economia), visando compreender a ecologia dos humanos e a economia da natureza”. Silva (2009) precisa que a economia ecológica funda-se no princípio de que o sistema econômico é um subsistema dentro do ecossistema biofísico global, pois é deste que derivam a energia e matérias-prima para o próprio funcionamento da Economia. Suas propostas partem da lógica do mundo cheio, isto é, deve-se equilibrar o que já existe em abundância (população, capital, máquinas, tecnologia), de maneira a não comprometer o ambiente (já bastante explorado e com níveis de esgotamento). Para tanto, o desafio é reorientar políticas que ponderem: escalas (quanto se pode mexer nos recursos naturais, na economia, na vida social, etc.), distribuição (de renda, dos custos, dívida e pegada ecológica, para quem e onde) e eficiência (como o mercado se regula em função da definição dos outros dois princípios). Por essa corrente, questiona-se a sustentabilidade do sistema econômico, por estar restrito pelas impossibilidades de reciclagem completa das matérias-primas devido aos fenômenos da

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SACHS, Ignacy (1998). O desenvolvimento enquanto apropriação dos direitos humanos. Estudos

Avançados, São Paulo, vol.12, n.33, Mai/Ago. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-

40141998000200011&script=sci_arttext>. Acesso em: 03 de Ago, 2009.

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Posteriormente, pela influência de pesquisadores anglo-saxãos, passou-se a adotar o termo e postulados do DS, que ganhou maior visibilidade e tornou-se dominante no cenário mundial a partir de 1987. De acordo com Nogueira e Chaves (2005), isso ocorreu porque este tinha uma conotação ideológica menos radical que o ecodesenvolvimento. Para as autoras, os pontos em comum entre ambos são: defesa ao direito das gerações futuras e criação de uma sociedade sustentável. As diferenças são: pelo DS, a solução da crise socioambiental vem por mecanismos que consolidam o sistema vigente (modelos de desenvolvimento sob uma 'roupagem verde'); pelo ecodesenvolvimento, tal solução vem pela superação da lógica individualista/predatória do capitalismo e limitação à livre atuação do mercado.

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CAVALCANTI, Clóvis (1993). Em busca da compatibilização entre a ciência da economia e a ecologia: bases da economia ecológica. In: VIEIRA, Paulo Freire & ______ (orgs.). As ciências sociais e a questão

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entropia (2ª lei da termodinâmica)175.

3) O prolongamento da teoria neoclássica do equilíbrio e do crescimento econômico. Por meio destas, são feitas análises sobre os regimes de exploração de recursos naturais não- renováveis (DASGUPTA & HEAL, 1979; SOLOW, 1974 in GODARD, 2002) ou renováveis (CLARK, 1973, 1990 in GODARD, 2002), para identificar: as condições possíveis de uma exploração economicamente ideal; as implicações sobre a evolução destes recursos; deduzir as possíveis conseqüências analíticas para o estudo do crescimento e da distribuição do bem-estar. Foram construídos modelos para analisar as implicações lógicas de uma exigência de equidade entre as gerações nas trajetórias de crescimento máximo, os respectivos níveis de consumo acessíveis a cada geração e as condições de transferência de custos de uma geração a outra (CHAVES et all., 2008).

4) Desenvolvimento sustentado. Chaves & Nogueira (2005, p.136) descrevem que, entre 1973 e 1986, pesquisadores do Centre International de Recherche sur l’Environnement et le Développement (CIRED)176 e Fondation Internacionale pour un Autre Développement (FIPAD), aprofundaram o debate sobre as estratégias de desenvolvimento ecologicamente viável e chegaram a essa proposta. Segundo este enfoque, é preciso construir um novo paradigma de desenvolvimento, que se sustente pela integração entre questões econômicas, sociais, culturais, ecológicas e tecnológicas. Este novo paradigma deve estar pautado na noção de prudência ecológica (princípio de precaução)177, reformas no âmbito do processamento das políticas econômicas e sociais públicas, novas bases científicas que

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A entropia é uma grandeza termodinâmica geralmente associada ao grau de desordem. Ela mede a parte da energia que não pode ser transformada em trabalho. Em outras palavras, a entropia é a energia que tende a ser dissipada de tal modo que a energia total utilizável se torna cada vez mais desordenada e mais difícil de captar e utilizar (portanto, não reciclável). Enrique Leff (2006, p.202) aponta que os enfoques provenientes da lei da entropia para outras áreas adquirem um caráter heurístico, conectando seus significados científicos aos seus sentidos sociais em uma nova percepção da ordem ecológica e do processo econômico. Segundo a extrapolação do conceito a outros campos, a entropia é referida como energia que se dissipa/degrada e não pode mais ser utilizada, portanto não é reciclável. Isso significa que, por essa lei da termodinâmica, se percebeu que há processos irreversíveis de utilização de energia por recursos não renováveis, o que leva necessariamente à degradação ambiental. Ou seja, a entropia surge como lei-limite que a natureza impõe à expansão do processo econômico, sedimentado na ciência econômica nascida da visão mecanicista subjacente ao paradigma científico da modernidade.

LEFF, Enrique (2006). Racionalidade ambiental: e reapropriação social da natureza. Tradução de Luís Carlos Cabral. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.

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CENTRE INTERNATIONAL DE RECHERCHE SUR L’ENVIRONNEMENT ET LE DÉVELOPPEMENT. Disponível em: <http://www.centre-cired.fr/>. Acesso em: 03 de Ago, 2009.

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“(...) ações que limitem as emissões de certas substâncias potencialmente perigosas, sem esperar que uma relação de causalidade seja estabelecida de maneira formal sobre bases científicas” (GODARD, 1997, p.118 in CHAVES & RODRIGUES, 2006, p.104). Um exemplo do princípio de precaução são as pesquisas sobre aquecimento global. Philip Martin Fearnside, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas na Amazônia (INPA), possui inúmeras pesquisas mostrando correlação direta entre efeitos devastadores do desmatamento e emissão de carbono na atmosfera sobre o aquecimento global. No entanto, há outros pesquisadores que, por outras metodologias, não estabelecem essa correlação. Portanto, não há consenso e nem verdade científica sobre os motivos do aquecimento global. Isso abre a possibilidade para decisões políticas serem tomadas com base em uma ou outra comprovação científica. O princípio da precaução é: na dúvida, não façamos. Infelizmente, ainda muitas decisões são tomadas sem levar em conta esse princípio.

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superem as limitações da ciência moderna, novo arcabouço sociocultural de respeito à natureza. Para tanto, como colocado por Cavalcanti (1997, p.37)178, as linhas de ação devem concentrar-se na busca da sustentabilidade de um desenvolvimento equitativo, economicamente eficiente, socialmente justo, ecológica e politicamente viável. Isso seria possível por meio de uma reforma institucional que envolve três fatores: educação, gestão participativa e diálogo com atores sociais relevantes (stakeholders). Seriam novas instituições exigidas para: conservação dos ativos naturais; encorajar a regeneração dos recursos naturais; proteger a biodiversidade; gerar tecnologias ambientalmente benignas; promover estilos de vida menos intensivos no uso de energia e materiais; manter constante o capital da natureza em benefício das gerações futuras; proteger os saberes dos povos indígenas e tradicionais.

5) Desenvolvimento sustentável (DS). Segundo Diegues (2004b, p.29), as idéias precursoras do DS surgem nos EUA, no final do século XIX, por meio das proposições conservacionistas de Gifford Pinchot, as quais enfocavam que a produção máxima sustentável pauta-se na busca de benefícios à maioria (incluindo as gerações futuras), pela redução dos dejetos e da ineficiência na explotação e consumo dos recursos naturais não- renováveis. Manuel Sena DUTRA (2006, p.179)179 relata que a noção de DS foi originada em 1968, na primeira 'Biosphere Conference' da UNESCO, em Paris. Stephen BOCKING (2009)180 descreve que nesta conferência, as atenções foram focadas na necessidade de se ligar pesquisas científicas com a disseminação de resultados de investigações sobre conservação da natureza e recursos naturais. Isso levou à elaboração do 'Man and the Biosphere Programme' (MAB). Este programa, segundo o autor, tem fornecido a base para uma combinação inovadora de pesquisa ecológica e de base comunitária de conservação. Para Veiga (2006b, p.190), a expressão DS foi publicamente empregada pela primeira vez em agosto 1979, em Estocolmo, no 'Simpósio das Nações Unidas sobre Inter-relações entre Recursos, Ambiente e Desenvolvimento', no qual W. Burger apresentou o texto 'A busca de padrões sustentáveis de desenvolvimento'. Para Barbieri (2005, p.23), “a expressão Desenvolvimento Sustentável surge pela primeira vem em 1980, no documento denominado

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CAVALCANTI, Clóvis (1997). Política de governo para o desenvolvimento sustentável: uma introdução ao tema e a esta obra coletiva. In: ______ (org.). Meio ambiente, desenvolvimento sustentável e políticas

públicas. São Paulo: Cortez; Refice: Fundação Joaquim Nabuco.

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DUTRA, Manuel Sena (2006). Biodiversidade e desenvolvimento sustentável: considerações sobre um discurso de inferiorização dos povos da floresta. In: FERNANDES, Marcionila & GUERRA, Lemuel (orgs.).

Contra-discurso do desenvolvimento sustentável. 2ª Edição revisada. Belém: UNAMAZ; NAEA-UFPA.

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BOCKING, Stephen. Linking Science and Practice: The History of UNESCO's Man and the Biosphere

Programme. Symposium, UNESCO. Disponível em: <http://portal.unesco.org/en/ev.php- URL_ID=30393&URL_DO=DO_TOPIC&URL_SECTION=201.html>. Acesso em: 03 de Ago, 2009.

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World Conservation Strategy”181 – organizado por Robert ALLEN (1980)182, teve importante influência no âmbito mundial, por apontar estratégias mundiais para a conservação da natureza e reconhecer que a abordagem dos problemas ambientais requerem esforço em logo prazo e integração entre desenvolvimento e ambiente: “esse é o tipo de desenvolvimento que proporciona melhorias reais na qualidade da vida humana e ao mesmo tempo conserva a vitalidade e a diversidade da terra. O objetivo é um desenvolvimento que seja sustentável” (ALLEN, 1980 in IBAMA/UNA, 2004, p.11).

O termo DS só viria a ser mundialmente conhecido, em 1987, pelo Relatório Brundtland e popularizado pela Rio-92, sendo adotado por muitos organismos internacionais, nacionais, organizações não-governamentais, entre inúmeras outras instituições – não obstante haja muita confusão em relação ao uso desse termo, especialmente devido às mais de 100 definições que adquiriu após sua ampla divulgação, como aponta Subhabrata Bobby BANERJEE (2006, p. 82)183. Segundo Godard (1997), a proposta de DS inaugurada pelo referido relatório não é inédita, mas inspirada em três correntes teóricas nos meios científicos, cujos estudiosos vinham discutindo essa integração entre o desenvolvimento econômico e as consequências sobre o ambiente: as estratégias de ecodesenvolvimento, a economia ecológica e o prolongamento da teoria neoclássica do equilíbrio e do crescimento econômico. Adiante veremos como surgiu e do que trata o DS.

Antes de prosseguir, podemos resumir as noções de desenvolvimento segundo o viés dos economistas segundo três vertentes, como sugere Veiga (2006b, p.17-82). Na primeira, desenvolver é crescer economicamente. Produto Interno Bruto (PIB) e renda per

capita são os indicadores de desenvolvimento. A riqueza vem pela industrialização e os

processos inerentes a ela, o que divide os países entre desenvolvidos e subdesenvolvidos. E “o que o economista precisa saber é macroeconomia e microeconomia, duas disciplinas voltadas ao crescimento econômico, e não à idéia muito mais ampla de desenvolvimento” (idem, p.20). Os novos indicadores, como o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da ONU (a partir da publicação do primeiro relatório, em 1990), que utiliza índices da educação (índice de analfabetismo e pela taxa de matrícula em todos os níveis de ensino), longevidade (índices sobre expectativa de vida ao nascer) e renda (PIB per capita, em dólar PPC – paridade do poder de compra), tentam minimizar essa abordagem estritamente economicista, para superar a simples identificação do desenvolvimento com crescimento

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Produzido pela International Union for Conservation of Nature (IUCN), sob o conselho, cooperação e apoio financeiro da World Wildlife Fund (hoje, World Wide Fund for Nature – WWF) e Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA – em inglês, United Nations Environment Programme – UNEP).

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ALLEN, Robert (1980). How to save the world: Strategy for world conservation. London: Kogan Page.

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BANERJEE, Subhabrata Bobby (2006). Quem sustenta o desenvolvimento de quem? O desenvolvimento sustentável e a reinvenção da natureza. In: FERNANDES, Marcionila & GUERRA, Lemuel (orgs.). Contra-

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econômico e a considerá-lo como desenvolvimento do ser humano de modo global184.

Na segunda, desenvolvimento é uma quimera, ilusão, falácia – visão apontada principalmente pelas teses de Celso Furtado. Há pouca mobilidade dos países fora do núcleo central da economia global. O acúmulo de riqueza para ingressar no núcleo orgânico dos países desenvolvidos, via processo de industrialização, é uma ilusão, pois foram muito raros os saltos de países da periferia para o centro. A baixa tecnologia e as altas taxas de natalidade resultam em aumento da pobreza e perpetuam a situação dos subdesenvolvidos enquanto tal. Os modelos de industrialização e padrão de consumo dos países já desenvolvidos não são reproduzíveis por países em desenvolvimento. E “os únicos países da periferia a se saírem razoavelmente bem durante a última década do século XX foram exatamente aqueles que se recusaram a aplicar ao pé da letra as prescrições cultuadas no