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103Educação, no início dos anos 2000, os cursos que estavam até então em funcionamento, sob

No documento As ambiguidades da doutrina (páginas 105-109)

a denominação Desenho Industrial, vêm sofrendo adaptações curriculares e adotando a de- nominação Design. Isso sugere que os cursos de Desenho Industrial cadastrados no Sistema e-Mec correspondem, provavelmente, a currículos em processo de extinção que coexistem com currículos novos, cadastrados sob a denominação Design; por isso, os cursos de Desenho Industrial não foram contabilizados aqui como cursos ativos. Em segundo lugar, o relatório gerado pelo Sistema e-Mec apresenta, em muitos casos, dois ou mais cursos ligados a uma mesma instituição, o que sugere que existem dois ou mais currículos em vigência numa mesma instituição, sem que eles correspondam efetivamente a cursos distintos; por isso apenas um FXUVRGH'HVLJQSRULQVWLWXLomRIRLFRQWDELOL]DGRSDUDDV¿QDOLGDGHVGHVWHHVWXGRRTXHJHURX os seguintes dados:

1. 52 cursos de bacharelado em Design ofertados por instituições públicas, distribuídos nas VHJXLQWHVHVSHFLDOLGDGHEDFKDUHODGRVHP'HVLJQ VHPHVSHFL¿FDomRGDHVSHFLDOLGDGH EDFKD- UHODGRVHP'HVLJQ*Ui¿FREDFKDUHODGRVHP'HVLJQ,QGXVWULDORXGH3URGXWRVEDFKDUHODGRV em Design de Moda; 4 bacharelados em Design de Ambientes e/ou Interiores; 1 bacharelado em $UWHV9LVXDLVH'HVLJQ*Ui¿FREDFKDUHODGRHP&RPXQLFDomR9LVXDOEDFKDUHODGRHP:HEGH- sign; 1 bacharelado em Design Digital e 1 bacharelado em Interdisciplinar em Artes e Design

2. 162 bacharelados em Design ofertados por instituições privadas, distribuídos entre: 95 bacha- UHODGRV HP 'HVLJQ VHP HVSHFL¿FDomR GD HVSHFLDOLGDGH   EDFKDUHODGRV HP 'HVLJQ GH 0RGD EDFKDUHODGRVHP'HVLJQ*Ui¿FRHRX&RPXQLFDomR3URJUDPDomR9LVXDOEDFKDUHODGRVHP Design Industrial ou de Produtos; 8 bacharelados em Decorações e Design de Ambientes e/ou In- teriores; 5 bacharelados em Design Digital; 1 bacharelado em Design de Games e 1 bacharelado em 'HVLJQGH,QWHUIDFH*Ui¿FD

Autores como minto (2006) e amaral (2003) discutem a expansão do ensino superior no Brasil no contexto da reforma do Estado brasileiro, iniciada no governo de Fernando Henrique &DUGRVRHGRTXHVWLRQDPHQWRJOREDODRV¿QDQFLDPHQWRVHVWDWDLVGDHGXFDomRXQLYHUVLWiULD Eles apontam que, de acordo com a crítica privatizante, instalada em nível global nos anos 90, a educação pública seria cara e de má qualidade, devido à suposta incapacidade do Estado gar- DQWLUDH¿FLrQFLDHDTXDOLGDGHGRVLVWHPDRVDXWRUHVOHPEUDPTXHRPRGHORDOWHUQDWLYRHQWmR instalado entendia que a função das universidades deveria ser a contrução da empregabilidade dos indivíduos, ou seja, da sua competência e adequação ao mercado de trabalho e à auto-ed- ucação posterior. Minto e Amaral discutem as medidas políticas que deram sustentação a essa guinada, bem como apresentam índices que expressam a diminuição do investimento público QRVHWRUHGXFDFLRQDOEUDVLOHLUR3RU¿PVXEOLQKDPTXHRSDUDGLJPDGDHGXFDomRYROWDGDDR mercado não mais contemplava a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, tripé característico das instituições públicas de ensino superior.

O impacto qualitativo dessas medidas sobre o ensino superior de design só pode ser cor- UHWDPHQWHDYDOLDGRPHGLDQWHDQiOLVHVPLQXFLRVDVGRVFXUUtFXORVGRSHU¿OGRFHQWHHGDVFRQ-

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dições objetivas de oferta dos cursos em vigência no Brasil desde os anos 90, o que exige um HQRUPHHVIRUoRGHSHVTXLVD1RHQWDQWRDOJXPDVUHÀH[}HVSDQRUkPLFDVMiVHHQFRQWUDPGLV- poníveis, especialmente no que se refere às mudanças implantadas nos anos 2000, a partir da vigência da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996) e das Diretrizes Curriculares 1DFLRQDLVGRV&XUVRVGH*UDGXDomRHP'HVLJQ¿[DGDVSHODUHVROXomRGR&RQVHOKR Nacional de Educação. Este é um processo relatado em pormenores pela pesquisadora Rita Couto (2008), que apresenta uma retrospectiva que remonta à fundação da esdi, sobre a qual destacamos os seguintes pontos:

1. Em 1968, pressionados pelo regime militar, os integrantes da esdiWHULDPPRGL¿FDGRDHVWUXWXUD

curricular da escola (originalmente baseada na Escola de Ulm), de maneira a obter sua aprovação do Conselho Federal de Educação, dando origem ao documento que, em seguida, serviu de base para o texto do Currículo Mínimo; este último, por sua vez, teria sido adotado, a partir de então, pelas demais escolas de desenho industrial do país;

2. Couto aponta que, conforme já discutido no início deste capítulo, os termos daquele Currículo Mínimo eram tão imprecisos e abrangentes, que permitiram a implantação de cursos superiores com feições extremamente distorcidas em relação ao projeto original da esdi, e que eram muito

heterogêneos e pouco consistentes. Este fato teria conduzido o Conselho Federal de Educação a instalar, em 1978, uma comissão de especialistas dedicada à elaboração de uma nova versão do Currículo Mínimo, que foi, por sua vez, sancionada em 1987. Esta nova versão do currículo deter- PLQDYDTXHDIRUPDomRSUR¿VVLRQDOGRVGHVHQKLVWDVLQGXVWULDLVGHYHULDWHUXPD~QLFDDERUGDJHP metodológica e duas únicas habilitações: o Projeto de Produto – ligado a projetos de sistemas de uso tridimensionais – e a Programação Visual – ligado a projetos de sistemas visuais bidimensio- nais. Couto comenta que, ao contrário do primeiro Currículo Mínimo, esta segunda versão era a WDOSRQWRHVSHFt¿FDHIHFKDGD³que praticamente não permitia aos cursos respeitar suas próprias

vocações nem novas habilitações e ênfases que surgiram em função das demandas de mercado”

(COUTO: 2008, 24).

3. Como resultado, a autora relata que, dez anos mais tarde, por ocasião do 1o Fórum de Dirigentes de Cursos de Desenho Industrial realizado em 1997, constatou-se que os quase 40 cursos então em funcionamento no país não contemplavam somente as duas habilitações previstas no Currículo Mínimo de 1987; essa constatação teria desencadeado, por sua vez, uma nova reforma educacional, que ocorreu já na vigência da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, sancionada em 1996, em nome da qual foram instituídas Comissões de Especialistas dedicadas a reestruturar todas as carreiras do ensino superior, sendo o desenho industrial discutido, inicialmente, no âmbito da Comissão de Especialistas no Ensino das Artes e do Design (entre 1994 a 1998) e, em seguida, na Comissão de Especialistas em Ensino de Design (CEEDesign);

4. Couto relata ainda que a CEEDesign teve duas formações78 diferentes ao longo de seu funciona-

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GHFXUVRVVXSHULRUHVQRVTXDLVVHFRQVROLGDUDPHQWUHRXWUDVGHFLV}HVDDGRomRR¿FLDOGDQRPHQ

FODWXUD³GHVLJQ´QRkPELWRHGXFDFLRQDOHDSRVVLELOLGDGHGHFDGDLQVWLWXLomRGHHQVLQRGH¿QLUVXD JUDGHFXUULFXODUGHDFRUGRFRPHVSHFL¿FLGDGHVHFRQ{PLFDVHSURGXWLYDVGHVXDUHJLmR'HVVDPD- neira, as duas antigas habilitações em Projeto do Produto e Programação Visual deixaram de ser FRPSXOVyULDVDEULQGRHVSDoRSDUDDLPSODQWDomRGHFXUVRVHVSHFt¿FRVWDLVFRPRGHVLJQGLJLWDO design de games, design de moda, entre diversos outros atualmente em vigência. Além disso, as no- YDV'LUHWUL]HV&XUULFXODUHVWRUQDUDPSRVVtYHODÀH[LELOL]DomRGDIRUPDomRFRPRUHFRQKHFLPHQWR da validade de outras atividades acadêmicas diferentes da ministração de aulas.

a

nos

2000 –

asCensãodoCampoaCadêmiConobrasil

As mudanças no sistema de ensino superior no Brasil expressas pela adoção do nome Design e pela superação das habilitações em Projeto do Produto e Programação Visual con- stituem um aspecto do processo de autonomização do campo em questão; este é processo que resulta de um trabalho coletivo de elaboração, empreendido por todos os membros campo ao longo de sua história, com vistas à imposição social das particularidades que caracterizam a prática do design, em contraposição a práticas análogas, e em favor do reconhecimento social de sua importância e legitimidade (bourdieu: 1996c).

Três esferas do campo do design vem se dedicando mais claramente, nos últimos anos, a esta elaboração: uma delas é a esfera das publicações periódicas; a outra diz respeito às premi- ações e concursos, e será discutida brevemente na próxima seção deste estudo, sendo alvo da extensa pesquisa de autoria de Ethel Leon (2013), intitulada Design em exposição: O design no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (1968–1978), na Federação das Indústrias de São Paulo (1978–1984) e no Museu da Casa Brasileira (1986–2002).

A terceira esfera está ligada ao contexto acadêmico/universitário, à pesquisa e à pós-grad- uação, âmbito que vem se constituindo desde a virada dos anos 80, a partir da iniciativa de alguns professores universitários, que deram os primeiros passos para consolidar o design como área de conhecimento, o que ocorreu em 1988, por ocasião do já discutido workshop de Florianópolis. Naquela ocasião deram-se os esforços iniciais para a implantação do primeiro programa de mestrado em design do país; também foi formada ali a Associação Brasileira de Ensino de Design (abed), rebatizada em 1992 de Associação de Ensino de Design (AEnD-BR). No ano de 1993 a seção carioca da AEnD-BR deu continuidade ao processo, fundando a re- vista Estudos em Design, dedicada abrigar artigos sobre a atividade do design que, até então, era considerada por muitos como uma prática sobre a qual não eram pertinentes quais-quer teorizações (AEnD-BR: 1993, 4); a revista passou a reunir traduções de artigos, resenhas, ar- tigos dos poucos pesquisadores brasileiros então titulados e atuantes, além de contribuições

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GHSUR¿VVLRQDLVGRPHUFDGRHDWpPHVPRWH[WRVGRVFHQWURVDFDGrPLFRV(PH respectivamente, a mesma associação realizou as duas primeiras edições do Congresso P&D (Congresso de Pesquisa e Desenvolvimento em Design), com vistas a reunir os pesquisadores brasileiros num evento efetivamente acadêmico, marcando o início da fase intelectualizada do campo, conforme expressam os excertos a seguir:

(…) um congresso de pesquisa e desenvolvimento. Como acontece nas engenharias, na arquitetura, na informática. (aend: 1994, 5)

Do mesmo modo que antropólogos, psicólogos, sociólogos, economistas, comunicadores, in- formáticos, engenheiros, arquitetos, artistas, os designers trataram de questões metodológicas, didáticas, tecnológicas, culturais. Democraticamente, pluralmente todos mostraram suas preocu- pações, análises e conclusões. (…) Garantimos nosso espaço na universidade. Contribuímos para a consolidação do design entre nós. (aend: 1996, 9)

'HVGHHQWmRDHVIHUDDFDGrPLFDXQLYHUVLWiULDGRGHVLJQYHPVHD¿UPDQGRFDGDYH]PDLV LQWHQVDPHQWHFRPDUHDOL]DomRSHULyGLFDGHWUrVFRQJUHVVRVFLHQWt¿FRVGLVWLQWRVHGHDOFDQFH nacional, além de inúmeros colóquios, seminários e congressos regionais. Merecem destaque três eventos de alcance nacional: (1) o já mencionado Congresso P&D, cujas edições bienais ocorrem regular e ininterruptamente desde 1994; (2) o Ciped (Congresso Internacional de Pes- quisa em Design), cuja primeira edição ocorreu em 2002, paralelamente ao 5o Congresso P&D,

tornado-se independente a partir de então, sendo sua sexta edição realizada no ano de 2011, em Portugal, no Centro de Investigação em Arquitetura, Urbanismo e Design (Lisboa); (3) o Cidi (Congresso Internacional de Design da Informação), realizado bienalmente desde 2003 pela sbdi (Sociedade Brasileira de Design da Informação), paralelamente ao Congresso Bra- sileiro de Design da Informação e ao ConCig &RQJUHVVR1DFLRQDOGH,QLFLDomR&LHQWt¿FDHP Design da Informação).

$VVLPFRPRQRFDVRGRVHQFRQWURVHVWXGDQWLVWDPEpPRVFRQJUHVVRVFLHQWt¿FRVGRFDP- po do design fornecem dados capazes de subsidiar análises sobre a transformação do conceito e das práticas em questão, bem como da pretendida inserção dos designers na sociedade. O crescimento da esfera acadêmica do campo do design pode ser demonstrado a partir de al- guns números relativos aos Congressos P&D: no que diz respeito à quantidade de indivíduos envolvidos na organização desses eventos, em 1994, (ano de sua primeira edição), o congresso FRQWDYDFRPDSHQDVPHPEURVHPVHXFRPLWrFLHQWt¿FRFRQWUDPHPEURVQRR&RQ- gresso (2008) e 337 colaboradores em sua nona edição (2010), divididos entre o comitê or- JDQL]DGRU PHPEURV RFRPLWrFLHQWt¿FR PHPEURV HRVDYDOLDGRUHVGHDUWLJRV  PHPEURV  1R TXH GL] UHVSHLWR j SURGXomR FLHQWt¿FD VXEPHWLGD DRV FRQJUHVVRV R o P&D,

realizado em 1996, contou com 80 submissões e 55 aceites; a terceira edição (1998) contou com 150 submissões e mais de cem artigos aceitos; já o 7o P&D (2008) teve 2.694 submissões

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