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2.6. TEORIA DA IDEOLOGIA

2.6.1. Estado e ideologia

O francês de origem argelina Louis Althuser (1918-1990), membro do Partido Comunista Francês, elaborou uma concepção original da ideologia para buscar uma explicação sobre a eficácia da submissão de uma maioria sob uma minoria. Segundo o filósofo, o Estado, como agente repressivo, não daria conta sozinho da manutenção de uma classe dominante ainda que tivesse meios para isso através da da justiça, da polícia e outros instrumentos jurídicos-legais.

Os Aparelhos Ideológicos de Estado surgem para explicar uma nova forma (mais eficaz) de submeter uma classe à outra, através do convencimento de idéias e disputa ideológica. Temos nesta definição, além do aparelho repressor tradicional das classes dominantes, dados pelas leis e pela força, também uma estrutura de manutenção do sistema econômico e social a partir da educação, da religião, da cultura etc. A mídia está incluída entre estes aparelhos como instituição social que vende a ideia de isenção e prestação de serviços, ainda que, principalmente em países como o Brasil, seja controlada em sua quase totalidade pelas classes dominantes. O fato é quase que abertamente revelado quando se pensa em campanhas políticas apoiadas nas entrelinhas ou em favorecimento de um político em especial.

Mesmo que no Brasil, diferente dos Estado Unidos, por exemplo, a mídia não declare apoio explícito a certa tendência política, fica clara em diversas reportagens a tendência de cada um dos meios. Esta postura foi fartamente comprovada nas publicações que tentaram minar a confiança dos brasileiros nas candidaturas e governos do presidente Luiz Inácio da Silva. Neste caso, um trabalho em vão – Lula deixou o poder com 87% de aprovação popular, de acordo com a pesquisa realizada em dezembro de 2010 pela Confederação Nacional dos Transportes em parceria com o Instituto Sensus (LULA DEIXA, 2010). Isso não impede que em outras instâncias ou momentos históricos (eleição do presidente Fernando Collor de Mello, por exemplo) a “campanha” da mídia não tenha sido eficaz ao ponto de convencer a população que um legítimo representante da classe dominante fosse realmente governar com objetivo de atender as necessidades da totalidade da população. Segundo Althusser (1999, p. 121), “todos aparelhos ideológicos de Estado, sejam quais forem, contribuem para um mesmo resultado: a reprodução das relações de produção, isto é, das

relações capitalistas de exploração. Cada qual contribui para este resultado único da maneira que lhe é própria”.

A mídia faz de conta que mostra a “realidade” tal como é, pelos fatos que apresenta, editados à sua maneira, omitindo a autoria, para convencer que as coisas são da forma que são vistas. As “provas cabais” estariam nas imagens dos meios impressos e da televisão que recortam o mundo e o montam numa apresentação em forma de um quebra-cabeças artificial que está longe de representar o concreto. A “reprodução das relações de produção” estão todas ali e, seguindo a forma de encarar o mundo de seus proprietários, pertencentes à classe dominante e que atendem aos seus interesses, tentam cristalizar a história para que não haja mudança. É como, segundo Zizek (1999, p. 17), dizer “‘Olhe, você pode ver por si mesmo como são as coisas!’ ou ‘Deixe os fatos falarem por si!’, frases que talvez constituam a arquiafirmação da ideologia, considerando-se justamente que os fatos nunca ‘falam por si’, mas são sempre levados a falar por uma rede de mecanismos discursivos”.

A mídia nos ensina (ou doutrina) a maneira que devemos enxergar o mundo, já a escola, como um elemento teoricamente fora do processo produtivo, não deveria preparar os alunos apenas para o trabalho no mundo capitalista. É na escola que aprende-se a ler, escrever, a contar, cultura científica e literária, além de avançar-se um pouco dentro do sistema científico e teórico de estudo. Estas técnicas e formas de aprendizagem estão relacionadas e são utilizáveis nos diferentes postos da produção (uma forma de instrução para operários, outra para técnicos, uma para engenheiros e uma diferente para gerentes superiores etc). Na verdade, o que se aprende é a visão do mundo capitalista do trabalho e da produção. A reprodução da força de trabalho não exige apenas a sua qualificação, mas acima de tudo sua submissão às normas da ordem vigente, isto é, a reprodução da submissão dos operários à ideologia dominante e, segundo Althusser (1985, p. 58), ‟uma reprodução da capacidade de perfeito domínio da ideologia dominante por parte dos agentes da exploração e repressão, de modo a que eles assegurem também ‘pela palavra’ o predomínio da classe dominante”.

Com a escola, a mídia e um estado como reflexo da classe dominante, a burguesia assegura sua dominação frente à classe operária, para submetê-la ao processo de extorsão através da “mais valia”, que está entre os processos mais eficazes da exploração capitalista. Os mecanismos que produzem e reproduzem a relação entre exploradores e explorados da ordem capitalista funcionam porque são são naturalmente

encobertos e dissimulados por uma ideologia da escola universalmente aceita, que é uma das formas essenciais da ideologia burguesa dominante: uma ideologia que representa a escola como neutra, desprovida de ideologia (uma vez que é leiga),

aonde os professores, respeitosos da “consciência” e da “liberdade” das crianças que lhes são confiadas pelos pais, que também são “livres”, entenda-se proprietários de seus filhos, conduzem-nas à liberdade, à moralidade, à responsabilidade adulta pelo seu exemplo, conhecimento, literatura e virtudes em geral libertárias (ALTHUSSER, 1985, p. 80).

Como este trabalho aborda questões relativas à escola, gostaríamos de ressaltar que a instituição escolar, ao lado da família, desempenha, desde os primeiros anos de vida, a forma de reprodução das relações de produção do modo capitalista que infiltra-se no proletariado para garantir sua hegemonia e manter as relações de exploração através do trabalho assalariado e acumulação de capital nas mãos de poucos. Uma situação que se mantém a partir da ideologia dominante como, segundo Althusser (1985, p. 85), “ uma ‘representação’ da relação imaginária dos indivíduos com suas condições reais de existência”.