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4 – Estudo de Apocalipse: Capítulo 7 – Os 144.000 selados

No documento Apocalipse - Estudo versículo a versículo (páginas 50-54)

1- Introdução

Depois do Cordeiro abrir os seis primeiros selos temos uma pausa e João tem a visão de pessoas sendo seladas, antes que o sétimo selo (contendo as 7 trombetas e as 7 taças) seja aberto.

2- A visão dos 144.000 selados

Versículo 1 - E depois destas coisas vi quatro anjos que estavam sobre os quatro cantos da terra, retendo os quatro ventos da terra, para que nenhum vento soprasse sobre a terra, nem sobre o mar, nem contra árvore alguma.

E depois destas coisas – Embora alguns intérpretes procurem colocar a ação

deste capítulo entre os 6 primeiros selos ou antes destes, a expressão aqui indica que esta visão é situada cronologicamente depois do Capítulo 6. Este é interlúdio entre o sexto e o sétimo selo tem como objetivo responder a pergunta deixada no versículo 17, que fecha o capítulo 6: “Quem pode suster-se?”. A ação é deslocada dos julgamentos de Deus para seu povo, judeu ou gentio. Novo parêntesis será aberto entre a sexta e a sétima trombeta. Este capítulo contrasta a segurança que o povo de Deus tem com o tormento que o sétimo selo trará sobre os moradores da Terra, os não-salvos.

quatro anjos – Quatro é em Apocalipse um número que representa o efeito

global. É a primeira vez que anjos são colocados como executando juízos divinos no livro. Porém, nos próximos capítulos anjos estarão presentes no juízo divino (por exemplo 9.14).

quatro cantos da terra – Significa a Terra toda. Estes anjos têm atuação global,

assim como é global o juízo de Deus descrito em Apocalipse.

retendo os quatro ventos da terra – Ventos são figuras de julgamento e juízo.

Assim, temos por exemplo que os sete anos de fome do Egito são representados no sonho de Faraó como trazidos por um vento oriental (Gn 41.6), além disso existem outros textos que associam o vento leste com julgamento divino (Sl 48.7, Sl 78.26, Is 27.8, Jr 18.17, Ez 19.12, Jn 4.8). Assim, temos que os julgamentos de Deus estão retidos até que sejam selados aqueles que ele escolheu para vitória diante dos próximos julgamentos.

nenhum vento soprasse sobre a terra, nem sobre o mar, nem contra árvore alguma – As 3 partes da criação de Deus: terra, águas e a natureza. Quando Deus deixar

de reter os ventos dos próximos julgamentos, todas estas partes da criação serão atingidas: um terço das arvores será queimada no soar da primeira trombeta (8.7), um terço dos mares se tornará sangue na segunda trombeta (8.8), um terço da terra é queimada na primeira trombeta (8.7). Embora alguns intérpretes vejam aqui símbolos (a Terra é Israel, as águas os gentios e as árvores as autoridades, por exemplo) diante dos demais textos seguintes, fica mais claro que aqui são usados em sentido literal.

Versículo 2 - E vi outro anjo subir do lado do sol nascente, e que tinha o selo do Deus vivo; e clamou com grande voz aos quatro anjos, a quem fora dado o poder de danificar a terra e o mar,

do lado do sol nascente – Do leste. O leste é sempre, na Palavra, a direção de

onde o juízo de Deus é enviado (Gn 41.6, Ex 10.13, Ex 14.21, p.ex.). Em Ezequiel a glória de Deus se retira do Templo de Salomão para o leste (Ez 11.22-23) e voltará de lá (Ez 43.2-4). O leste é a direção de Deus, e de onde virá a proteção para estes escolhidos.

o selo do Deus vivo – Não propriamente o selo mas o meio pelo qual as pessoas

serão seladas. Não é dito explicitamente o que é este selo, mas 14.1 sugere que seja o nome do Pai e do Cordeiro. O selo é do Deus vivo, contrastando com os deuses mortos que nada podem fazer.

Versículo 3 - Dizendo: Não danifiqueis a terra, nem o mar, nem as árvores, até que hajamos assinalado nas suas testas os servos do nosso Deus.

O julgamento deve ser adiado até que os servos de Deus sejam selados. Os selos identificam aqueles que pertencem a Deus e serão protegidos por este nos julgamentos a seguir. Esta figura do selo, remonta a visão que Ezequiel teve no capítulo 9, no qual aqueles que estão contra as idolatrias na cidade são selados e os não-selados são mortos depois. Relembra também o sangue colocado nos umbrais da porta e que impedia que o anjo de Deus destruísse os primogênitos no Egito.

Durante a tribulação, podemos ver que existem 3 classes de pessoas: aqueles que recebem o selo e são protegidos por Deus para cumprir seu propósito especial, aqueles que recebem a marca da Besta (13.16-18) e serão destruídas, e aqueles que recusarão a marca da Besta, muito dos quais serão martirizados (20.4).

Aqueles que são selados são também uma das 3 classes de pessoas que escaparão da Ira de Deus na Tribulação. As outras pessoas serão aqueles que vindo a acreditar serão martirizados e esperarão em descanso em Deus (7.9-17). A terceira classe é daqueles que ficarão vivos durante a tribulação e se converterão a Deus, entrando vivos no Reino Milenar de Cristo e sendo sua população inicial. O fato de estes escaparem da Tribulação é uma resposta a pergunta final do Capítulo anterior.

Aqueles que são selados aqui escaparão da fúria de Deus manifestada pelos selos, trombetas e taças.

Versículo 4 - E ouvi o número dos assinalados, e eram cento e quarenta e quatro mil assinalados, de todas as tribos dos filhos de Israel.

o número dos assinalados – Aqueles que Deus escolheu são selados, e o seu

número é aqui apresentado. Aqueles que são assinalados tem proteção especial de Deus. O selo não é visível para os homens, mas o é para Deus, e os anjos e demônios que atuarão no julgamento de Deus. Isto ocorre nos nossos dias com aqueles que são selados com o Espírito de Deus e separados (2 Co 1.22).

cento e quarenta e quatro mil – Este número é um dos mais usados pelos

intérpretes que procuram tratar o livro de Apocalipse como principalmente simbólico, talvez, somente menos que os 1000 anos do Reino de Cristo. O fato é que o texto não favorece uma leitura simbólica deste número. Temos, por exemplo, que o versículo 9 usa um número indefinido, enquanto aqui o número além de ser definido é explicado nos versículos seguintes. Se tivermos de tratar simbólica este número aqui, o que dizer dos 7000 restantes no tempo de Acabe? (1 Re 19.18). Devem ser tratados como simbólicos também? O fato é que a principal dificuldade dos intérpretes reside na característica predominantemente judaica do texto, que muitos tem dificuldades de

aceitar. Porém os versos seguintes deixam claro que estas pessoas descritas aqui são judeus, pois descrevem claramente que estes pertencem as tribos de Israel. Assim, este número deve ser visto como literal embora seu significado simbólico não deixe de ser claro.

de todas as tribos dos filhos de Israel – O texto aqui é claro que estas pessoas

são de Israel. Porém, muitos intérpretes com uma tendência anti-semita procuram colocar aqui a Igreja, não importando que o texto, além de dizer que estas pessoas pertencem a Israel, ainda coloca as tribos as quais elas pertencem. Estes intérpretes estão fortemente influenciados pela Teologia da Substituição.

Anexo 5 – A Teologia da Substituição...

A Teologia da Substituição tem como base que Israel, tendo falhado em aceitar a Cristo, foi definitivamente substituído pela Igreja, que é o novo Israel de Deus. Assim, a nação de Israel não importa mais para os planos de Deus, e os textos que falam de Israel no NT estão se referindo a Igreja. Historicamente, o primeiro uso de Israel em referência a Igreja pode ser encontrado em uma carta de Justino Mártir em 160DC, onde este se refere à Igreja como o verdadeiro Israel. Além disso, algumas figuras usadas para Israel são usadas para a Igreja no NT, por exemplo, a figura da vinha (Is 51.1-7 e Jo 15.5). Apesar disso a teologia da substituição não tem base bíblica, pois textos do NT mostram justamente o contrário. Por exemplo:

• Paulo continua se descrevendo como judeu depois da sua conversão (At 22.3). • Paulo escreve três capítulos de Romanos ( 9,10 e 11) para falar aos gentios

convertidos sobre o fato de que os judeus não estavam condenados pela sua rejeição a Cristo.

• No final deste trecho, Paulo é bem claro sobre essa distinção entre Israel e a Igreja e sobre a redenção de Israel: “Porque não quero, irmãos, que ignoreis este mistério (para que não presumais de vós mesmos): que o endurecimento veio em parte sobre Israel, até que a plenitude dos gentios haja entrado; e assim todo o Israel será salvo, como está escrito: Virá de Sião o Libertador, e desviará de Jacó as impiedades; e este será o meu pacto com eles, quando eu tirar os seus pecados. Quanto ao evangelho, eles na verdade, são inimigos por causa de vós; mas, quanto à eleição, amados por causa dos pais. Porque os dons e a vocação de Deus são irretratáveis. Pois, assim como vós outrora fostes desobedientes a Deus, mas agora alcançastes misericórdia pela desobediência deles, assim também estes agora foram desobedientes, para também alcançarem misericórdia pela misericórdia a vós demonstrada. Porque Deus encerrou a todos debaixo da desobediência, a fim de usar de misericórdia para com todos.” Deste texto fica clara a intenção de Paulo de que os gentios não pensassem como pensam os defensores da Teologia da Substituição, assumindo que não há mais distinção entre Israel e gentios. Ele claramente distingue entre estes e mostra que Deus tem tempos diferentes para cumprir sua vontade nos dois grupos.

• Nos tempos do NT, a dúvida não era se um judeu quando se converte se torna parte da Igreja, mas sim se os gentios convertidos se tornavam parte de Israel, tendo de assumir a aliança do AT.

Outro ponto geralmente colocado pelos defensores da Teologia da Substituição neste trecho das escrituras é que, ao contrário da distinção aqui feita, não existem mais todas as tribos de Israel. Este mito bíblico é sustentado por alguns e tem como base que quando as tribos do Norte foram levadas para Assíria, conforme descrito na Bíblia, estas foram para sempre perdidas, ou de acordo com algumas versões, assimiladas ou se tornaram outros povos (chegando a suposições absurdas como o Anglo-Israelismo, que

diz que os britânicos e povos descendentes destes, como os americanos são descendentes das 10 tribos perdidas). Sobre o fato de termos 10 tribos perdidas de Israel (Judá e Benjamim eram as tribos do Sul que permaneceram) algumas considerações devem ser feitas. A idéia principal atrás deste mito é de que as tribos eram no período da invasão assíria totalmente separadas, sem nenhuma mistura entre si. Porém a Bíblia mostra justamente o contrário:

• Os levitas se moveram para o sul para fugir da rejeição ao culto de Deus em favor do paganismo (2 Cr 11.13-14), na época de Jeroboão.

• Na reforma feita por Asa, grande número de pessoas de Efraim, Manasses e Simeão foram para o Sul (2 Cr 15.8-9).

• Quando Esdras retorna da Babilônia, pessoas de diferentes tribos são descritas como voltando com este (Ed 2).

• O fato de termos um grande fluxo de imigrantes, na divisão dos reinos, do Norte para o Sul, é vista no aumento do contingente de soldados do Sul em poucos anos. Roboão conseguiu juntar uma armada de 180.000 homens (1 Re 12.21). Dezessete anos depois, Abias junta um exército que é de 400.000 homens (2 Cr 13.3). Apenas 3 anos depois, Asa junta um exército de 580.000 soldados (2 Cr 14.8). Este aumento progressivo e rápido do número de pessoas apoiando as guerras de Judá só pode ser explicado por imigrações de outras tribos para o Sul.

Assim sendo, vemos que as tribos estavam misturadas na queda de Israel, e pessoas de todas as tribos estavam no sul. Além disso, Deus próprio prometeu que Israel nunca se perderia como nação: “Assim diz o Senhor, que dá o sol para luz do dia, e a ordem estabelecida da lua e das estrelas para luz da noite, que agita o mar, de modo que bramem as suas ondas; o Senhor dos exércitos é o seu nome: Se esta ordem estabelecida falhar diante de mim, diz o Senhor, deixará também a linhagem de Israel de ser uma nação diante de mim para sempre.” (Jr 31.35)

Portanto, vemos que hoje pessoas de todas as 12 tribos ainda estão presentes dentro do povo judeu, embora estes próprios talvez não possam precisar a qual tribo pertencem. Isto derruba uma das bases da Teologia da Substituição. De fato, Apocalipse e a Bíblia como um todo não dão base para essa teologia.

Versículo 5 - Da tribo de Judá, havia doze mil assinalados; da tribo de Rúben, doze mil assinalados; da tribo de Gade, doze mil assinalados;

Versículo 6 - Da tribo de Aser, doze mil assinalados; da tribo de Naftali, doze mil assinalados; da tribo de Manassés, doze mil assinalados;

Versículo 7 - Da tribo de Simeão, doze mil assinalados; da tribo de Levi, doze mil assinalados; da tribo de Issacar, doze mil assinalados;

Versículo 8 - Da tribo de Zebulom, doze mil assinalados; da tribo de José, doze mil assinalados; da tribo de Benjamim, doze mil assinalados.

De cada uma das tribos alistadas há um número igual de pessoas. Esta listagem das tribos é diferente de outros lugares da Bíblia. Aqui, para completar o número doze é excluída a tribo de Dã enquanto Levi é incluído. Mais marcante é o fato que José é citado enquanto Efraim é excluído. Além disso a ordem, com Judá em primeiro lugar, é diferente de outras listas. Essas omissões e diferenças entre as listagens das tribos, porém, não é exclusiva daqui. Jacó teve 12 filhos e adotou os 2 filhos de José como seus, de forma que 14 nomes podem ser usados na listagem. Nas listagens são usados sempre 12 nomes, que é o número simbólico do povo de Deus. Quanto ao fato das tribos de Dã e Efraim terem sido omitidas, isso se deve, provavelmente, à ligação destas tribos com a idolatria (por exemplo, na descrição da fundação da cidade de Dã em Jz 18,

no fato dos bezerros de Jeroboão serem colocados em Efraim e Dã). Porém, o fato de não serem citadas estas tribos não significa que estas deixaram de receber proteção durante a Grande Tribulação. Na listagem das tribos na distribuição futura, que Ezequiel faz, Dã é citada em primeiro lugar (Ez 48.2), mostrando que pessoas desta tribo ainda sobreviverão. Durante a história alguns apontaram o fato de Dã na ser citado como tribo um indicativo de que o Anticristo viria desta tribo, em conjunção com uma passagem de Jeremias (Jr 8.16). Porém, nada conclusivo a esse respeito pode ser encontrado na Bíblia.

Uma outra pergunta que surge é qual o objetivo destes 144.000 serem assinalados. Diante de passagens como Is 66.19-20 e do fato de ser dito que estes são servos de Deus, a melhor alternativa é de que estes serão mensageiros da Palavra, neste período final da história. Estes 144.000 serão os primeiros no plano de Deus de converter Israel a si. O fato de serem usados para pregar a todo mundo parece indicar que a Igreja estará ausente (fato concreto caso se tome como certo o arrebatamento) e Deus passa a usar seu povo da Antiga Aliança para levar sua Palavra.

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