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são da filosofia, representada pela sofística, e a perversão da política, representada pela tirania Tirania e sofística formam

No documento Historia e Verdade Paul Ricoeur (páginas 131-137)

um par monstruoso. E assim �latão desc_obre

Ull_l

aspecto .do

mal político, diferente do podeno, mas a ele estreitamente vm-

3 Amós 1, 3�15:

"

. . . Porque êles esmagaram Galaad com gra­ des de ferro . . . Porque êles deportaram uma multidão de exilados para entregá�los a Edom . . . Porque êle perseguiu o seu irmão com a espada, abafando tôda compaixão . . . Porque êl�s rasgaram os vent�es das mu­ lheres grávidas de Galaad, a fim de dilatar as suas fronteuas . . . não mudarei o meu decreto."

culado, a "lisonja", isto é, a arte de extorquir a persuasão por meios outros que a verdade; põe dêsse modo a nu a ligação entre a política e não-verdade. O que vai ter muito longe, se é certo que a palavra é o meio, o elemento da Humanidade, o lagos que torna o homem semelhante ao homem e funda­ menta a comunhão; a mentira, a lisonja, a não-verdade - males políticos por excelência - arruínam assim o homem em sua origem, que é palavra, discurso, razão.

Eis, pois, uma dupla meditação sôbre o orgulho do pode­

rio e sôbre a não-verdade, que revela nêles males licrados à

essência da política. "

Ora, eu reencontro essa dupla meditação nas grandes obras da filosofia política: o Príncipe de Maquiavel e o Estado e a

Revolução de Lênin, que atestam a permanência da problemá­

tica do poder através da variedade dos regimes, da evolução das técnicas e das transformações das condições econômicas e so­ ciais. A questão do poder, de seu exercício, de sua conquista, defesa e extensão, tem uma impressionante estabilidade, que fana crer de bom grado na permanência de uma natureza humana.

Já se falou muito mal do "maquiavelismo"; mas se se dese­

ja levar a sério, como se deve, o Príncipe, chega-se à conclusão

de que não é fácil iludir seu problema, que é pràpriamente a instauração de um nôvo poder, de um nôvo Estado. O Príncipe é a lógica implacável da ação política; é a lógica dos meios, a pura téciüca. da aquisição e da mantença do poder; essa técnica acha-se mteiramente dommada pela relação política essencial amigo-inimi�o, yodendo o inimigo ser exterior ou interior, povo,

no

reza, exercito ou conselheiro, e sendo ainda possível todo

am1go

ornar-se inimigo e vice versa; toca ela num vasto teclado

que vm do poderio militar aos sentimentos de temor e reconhe­ cim<;_nto, de vingança e de fidelidade. O Príncipe, conhecedor

de as molas do poder, a imensidade, a variedade e as pos­

,contrast�das de seu teclado, será estrátego e psicólogo, leao e raposa. Assim propunha Maquiavel o verdadeiro proble­ m� da violência política, que não é o da vã violência, do arbi­ e do delírio, mas o da violência calculada e limitada me­

p�l� próprio desígnio de instauração de um Estado du

ável.

Sem duvida pode-se dizer que por êsse cálculo a violência ins­ tauradora se coloca debaixo do julgamento da legalidade instau­ rada; mas essa legalidade instaurada, essa �'república'', é mar-

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cada desde a origem pela violência que foi bem sucedida. As­ sim nasceram tôdas as nações, todos os podêres e todos os re­ gimes; seu nascimento na violência foi reabsorvido pela nova

legitimidade que deram à luz, mas essa nova legitimidade con­

serva algo de contingente, de pràpriamente histórico, que seu nascimento violento não cessa de comunicar-lhe.

Maquiavel trouxe, pois, à luz a relação entre a política e

a violência; nisto está sua probidade, sua veracidade.

Marx e Lênin, muitos séculos depois, voltaram a um tema que se poderia chamar platoniano, o problema da "consciência mentirosa". Parece-me com efeito que o que há de mais inte­ ressante na crítica marxista da política e do Estado hegeliano, não é a explicação dada por êles do Estado, pelas relações de poderio entre classes, portanto, a redução do mal político a um mal econômico-social, e sim a descrição dêsse mal como mal específico da política; penso mesmo que a grande infelicidade que aflige tôda a obra do marxismo-leninismo e que pesa sôbre os regimes gerados pelo marxismo, é essa redução do mal po­ lítico ao mal econômico; daí a ilusão que uma sociedade liber­ tada das contradições da sociedade burguesa seria libertada tam­

bém da alienação política. Ora, o essencial da crítica de Marx, 4

é que o Estado não é aquilo que pretende, e que de fato não pode ser. Que pretende êle ser? Se Hegel tem razão, o Estado é a conciliação, a conciliação em uma esfera superior dos inte­ rêsses e dos indivíduos, inconciliáveis no nível daquilo que He­ gel chama a sociedade civil, o plano econômico-social diríamos nós. O mundo incoerente das relações privadas é arbitrado e racionalizado pela instância superior do Estado. O Estado é o mediador e, portanto, a razão. E cada um de nós alcança sua

liberdade como um direito através da instância do Estado. Ê

politicamente que sou livre. Ê nesse sentido que Hegel diz que

o Estado é representativo : existe na representação e o homem se representa nêle. O essencial da crítica de Marx é a denúncia de uma ilusão, nessa pretensão; o Estado não é o verdadeiro mundo do homem, mas um outro mundo e um mundo irreal; não resolve as contradições reais senão dentro de um direito fictício que se acha por sua vez em contradição com as relações reais entre os homens.

4 Cf. J. Y. CAL VEZ, La Pensée de Karl Marx, _capítulo sôbre a alie·

nação política.

É a partir dessa mentira essencial, dessa di•cordância entre a pretensão e o ser verdadeiro, que Marx reencontra o problema da violência. Pois a soberania, não sendo ofício do povo em sua realidade concreta, mas um outro mundo sonhado, é obri­ gada a tomar por sustentáculo um soberano real, concreto, em­ pírico. O idealismo do direito não se mantém na história senão pelo realismo do arbitrário do príncipe. Eis a esfera política que se divisa entre o ideal da soberania e a realidade do poder, entre a soberania e o soberano, entre a constituição e o go­ vêrno, e mesmo a polícia. Pouco importa que Marx só tenha conhecido a monarquia constitucional; a decomposição da Cons­ tituição e do monarca, do direito e do arbítrio, é uma contradi­ ção interior a todo poder político. Isto também é verdadeiro

em relação à República. Vêde como o ano passado fomos rou­

bados em nossos votos por hábeis políticos que volveram o po­ der de fato contra a soberania do corpo eleitoral; o soberano tende sempre a defraudar a soberania; é o mal político essen­ cial. Nenhum Estado existe sem um govêrno, uma administra­ ção, uma polícia; dessa forma, êsse fenômeno da alienação polí­ tica atravessa todos os regimes, tôdas as formas constitucionais; é a sociedade política que comporta essa contradição externa entre uma esfera ideal das relações de direito e uma esfera real das relações comunitárias, - e essa contradição interna entre a soberania e o soberano, entre a constituição e o poder, e nas situações limites a polícia. Sonhamos com um Estado em que estivesse resolvida a contradição radical que existe entre a universalidade visada pelo Estado e a particularidade e o arbi­ trário que a afeta na realidade; o mal, é que êsse sonho está fora de alcance.

Infelizmente, Marx não viu o caráter autônomo dessa con­ tradição; viu uma simples superestrutura, isto é, a transposição, para um plano de acréscimo, das contradições pertencentes ao plano inferior da sociedade capitalista e finalmente um efeito da oposição das classes; o Estado então não é senão o instru­ mento da violência de classe, não obstante êle tenha sempre um desígnio, um projeto que ultrapassa as classes e que seu malefício próprio é a contrapartida dêsse grande desígnio. Uma vez que se reduz assim a um meio de opressão da classe domi­ �ante: a ilusão do Estado de ser a universal conciliação não e mrus do que um caso particular dêsse vício das sociedades

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burguesas que não podem suportar sua própria deficiência ou resolver sua contradição senão evadindo-se no sonho do direito. Penso que é preciso sustentar, contra Marx e Lênin, que a alienação política, longe de ser algo de redutível a outra alie­ nação, é algo de constitutivo da existência humana, e, nesse sentido, que o modo de existência política comporta a cisão da vida abstrata do cidadão e da vida concreta da família e do trabalho. Penso também que dêsse modo se salva o melhor da

crítica marxista, que se vem unir à crítica maquiaveliana, pla­

toniana e bíblica do poder.

Não preciso de outra prova além do relatório de Khrucht­ chev; o que me parece fundamental, é que a crítica que ali se faz de Stálin só tem sentido se a alienação da política é uma

alienação autônoma, irredutível à da sociedade econômica. Se­

não, como se poderia criticar Stálin e continuar a aprovar a eco­ nomia socialista e o regime soviético? Não existe relatório Khru­ chtchev possível sem uma crítica do poder e dos vícios do poder. Mas como o marxismo não tem lugar para uma problemática au­ tônoma do poder, seus adeptos se concentram na anedota e na crítica moralizante. Togliatti foi bem inspirado no dia em que disse que as explicações do relatório Khruchtchev não lhe satis­ faziam e que êle perguntava de que maneira o fenômeno Stálin tinha sido possível em regime socialista. A resposta, não lha podiam dar, pois ela só poderia brotar de uma crítica do poder socialista ainda não feita e que, talvez, não poderia ser feita no quadro do marxismo, ao menos na medida em que o marxismo reduz tôdas as alienações à alienação econômica e social.

Desejaria deixar bem claro, uma vez por tôdas, que o tema do mal político, que se acaba de desenvolver, não constitui de modo algum um "pessimismo" político e não justifica qualquer "derrotismo" político. Deve-se, aliás, proscrever da reflexão as etiquêtas pessimista e otimista filosófica; o pessimismo e o

otimismo são humores e não dizem respeito senão à caracte­

rologia, em outras palavras, nada há a fazer com êles aqui. Mas, sobretudo, a lucidez face ao mal do poder não deveria ser separada de uma reflexão total sôbre o político; ora, essa refle­ xão revela que a política não pode ser a ocasião do mal maior, senão em razão da sua eminente posição na existência humana.

A magnitude do mal político está à altura da existência política

do homem; mais que qualquer outra, uma meditação sôbre o mal político que a aproximasse do mal radical, que fizesse dela

a aproximação mais íntit�a

o mAal radical,,. de.ve �en?-.ane�er in­ dissociável de uma med1taçao sobre a propna Sigmficaçao ra­ dical da política. Tôda condenação da política como algo de mau é ela própria mentirosa, malévola, má, se omitir o situar essa descrição na dimensão elo animal político. A análise do político, como racionalidade em marcha do homem, não está abolida, e sim pressuposta sem cessar pela meditação sôbre o mal político. Ao contrário, o mal político só é algo ele sério por ser o mal dessa racionalidade, o mal específico dessa gran­ deza específica.

Em particular, a crítica marxista elo Estado não suprime a análise da soberania, ele Rousseau a Hegel, mas pressupõe a verdade dessa análise. Se não existe verdade da vontade geral (Rousseau ) , se não existe teleologia da história através cta'"'"in­ sociável sociabilidade" e por meio dessa "astúcia da razão" que é a racionalidade política (Kant ) , se o Estado não é "represen­ tativo" da humanidade do homem, então o mal político não é grave. É porque o Estado é uma certa expressão da racionali­ dade da história, uma vitória sôbre as paixões do homem pri­ vado, sôbre os intcrêsses "civis" e mesmo sôbre os interêsses de classe, que êle é a grandeza humana mais exposta, mais amea­ çada, mais inclinada ao mal.

O "mal" político, em sentido próprio, é a loucura da gran· deza, isto é, a loucura daquilo que é grande - Grandeza e cul­ pabilidade do poder!

Em conseqüência, não pode o homem subtrair-se à política, sob pena de se subtrair à sua própria humanidade. Através da história e pela política, põe-se o homem em confronto com sua grandeza e sua culpabilidade.

Como se deduziria dessa lucidez um "derrotismo" político? Ao contrário, é à vigilância política que conduz uma tal refle­ xão. É aqui que a reflexão, ao finalizar seu grande desvio, reú­ ne-se à atualidade c executa a passagem da crítica à prática.

IIl . O PROBLEMA DO PODER E!vi REGIME SOCIALISTA

.. Se é exata nossa análise do paradoxo do poder, se o Estado e. ao mesm� tempo mais racional que o indivíduo e mais pas­ Sl�nal que ele, o grande problema da dcmocraria é o do con­ trole do Estado pelo povo. .ílssc problema do contrôle do Es-

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tado é um problema tão irredutível quanto o é a racionalidade do Estado à história econômico-social, e sua maldade às con­ tradições das classes. Tal problema de contrôle do Estado con­ siste no seguinte : inventar técnicas institucionais especialmente destinadas a tornar possível o exercício do poder e impossível o abuso do poder. A noção de "contrôle" procede diretamente do paradoxo central ela existência política do homem; constitui ela a resolução prática dêsse paradoxo; trata-se com efeito dz fazer com que o Estado exista e ao mesmo tempo não exista em demasia; trata-se de fazer com que êlc dirija, organize e decida, a fim de que o próprio animal político exista; mas é ainda necessário que o tirano se torne improvável.

Só uma filosofia política que reconheceu a especificidade do político, - a especificidade de sua função e a especificidade de seu mal -, se acha em estado de situar de modo corrcito o problema do contrôle político.

Eis por que a redução da alienação política à alienação eco­ nômica me parece ser o ponto fraco do pensamento político do marxismo. Essa redução da alienação política conduziu com efeito o marxismo-leninismo a substituir o problema do con­ trôle do Estado por outro problema, o do deperecimento do Estado. Essa substituição me parece desastrosa; lança para um futuro indeterminado o fim do mal do Estado, ao passo que o problema político prático verdadeiro é o da limitação dêsse mal no presente; uma escatologia da inocência toma o lugar de uma ética da violência limitada; paralelamente, a tese do pereci­ mento do Estado, prometendo demais, porém mais tarde, tolera igualmente muito mais agora; a tese do deperecimento futuro do Estado serve de cobertura e de alibi à perpetuação do ter­ rorismo; por um paradoxo maléfico, a tese do caráter provi­ sório do Estado torna-se a melhor justificativa para o prolon­ gamento sem fim da ditadura do proletariado e prepara o leito para o tota1itarismo.

Ora, é preciso ver-se bem que a teoria do perecimento do Estado é uma conseqüência lógica da redução da alienação polí­ tica à alienação econômica; se o Estado é sOmente um órgão de repressüo que procede dos antagonismos de classes e exprime a dominação de uma classe, o Estado desaparecerá com as últi­ mas sequelas da divisão da sociedade em classes.

Mas a questão é de saber se o fim da apropriação privada dos meios de produção poderá acarretar o fim de tôdas as alie-

nações. Talvez que a mesma apropriação não seja senão uma forma privilegiada do poder do homem sôbre o homem; talvez 0 próprio dinheiro não seja senão um meio de dominação entre óutros; talvez seja o mesmo espírito de dominação que se ex­ prime, tanto na exploração pelo dinheiro, quanto na tirania bu­ "rocrática, na ditadura intelectual, no clericalismo.

Qualquer que seja o alcance da unidade oculta de tôdas as alienações, assunto que não nos cabe abordar aqui, a redução da forma política à forma econômica é indiretamente respon­ sável pelo mito do deperecimento do Estado.

É verdade que Marx, Engels e Lênin tentaram elaborar essa teoria sôbre uma base experimental; a Comuna de Paris, êles a interpretaram como uma promessa e um início de verificação experimental da tese do perecimento do Estado; aos olhos dêles, ela mostra que a ditadura do proletariado poderia bem ser coisa diferente de uma simples transferência do poder repressivo do Estado para outras mãos, poderia ser já a demolição da má­ quina do Estado como "fôrça especial" de repressão; se o povo armado se substitui ao exército permanente, se a polícia é a qualquer momento dissolúvel, se se desmantela a burocracia como corpo organizado, reduzida à mais baixa condição sala­ rial, -então a fôrça geral da maioria do povo substitui a fôrça especial de repressão do Estado burguês e o início do depere­ cimento do Estado coincide com a ditadura do proletariado; conforme disse Lênin, "é impossível passar do capitalismo ao socialismo sem um certo retôrno ao democratismo primitivo"; o deperecimento do Estado é, portanto, contemporâneo da dita­ dura do proletariado, na medida em que esta é uma revolução verdadeiramente popular, que destrói as bases repressivas do Es­ tado burguês. Marx chegou mesmo a dizer: "A Comuna não era um Estado no sentido próprio da palavra".

No pensamento de Marx e de Lênin, a tese do depereci­ mento do Estado não era, portanto, urna tese hipócrita, mas sincera. Poucos homens esperaram mesmo tão pouco do Estado como os grandes marxistas: "Enquanto o proletariado ainda pre­ c.isar de um Estado, diz a Carta a Bebel, isso não será para a" liberdade, mas para reprimir os adversários; e no dia em que

tornar possível falar de liberdade, o Estado cessa de existir tal."

se o deperecimento do Estado é o critério de saúde do proletariado, surge cruel a questão: por que, ,

âe jato, o perecimento do Estado não coincidiu com a ditadura do proletariado? porque, de fato, o Estado socialista reforçou o poder do Estado a ponto de verificar-se o axioma que Marx acreditava verdadeiro apenas para as revoluções burguesas : "Tô­ das as subversões só têm feito aperfeiçoar essa máquina em lugar de destruí-la" (Dix-huit Brumaire).

Tentar responder a essa questão, é também dar ao rela­ tório Khruchtchev a base que lhe falta, pois é explicar de que modo se tornou possível o fenômeno Stálin em regime socialista. Minha hipótese de trabalho, da maneira como a propõe a reflexão anterior, é que Stálin foi possível, porque não se reco­ nheceu a permanência da problemática do poder na passagem da antiga sociedade à nova, porque se acreditoU" que ó fim da ex­ ploração econômica implicaria necessàriamente no fim da re­ pressão política, porque se acreditou que o Estado fôsse provi­ sório, porque se substituiu o problema do contrôle do Estado pelo de seu perecimento.

Em suma, minha hipótese de trabalho é que o Estado não

pode deperecer e que, não podendo deperecer, deve ser contro­ lado por uma técnica institucional especial.

Parece-me que é preciso ir mais longe ainda e dizer que o Estado socialista requer mais que o Estado burguês um con­ trôle popular vigilante, precisamente porque sua racionalidade é maior, e porque estende o cálculo, a previsão, a setores da existência humana, que outrora, aliás, se achavam entregues ao azar e à improvisação; é maior a racionalidade de um Estado planificador que empreende suprimir a longo têrmo os antago­ nismos de classes e pretende mesmo pôr fim à divisão da socie­ dade em classes, seu poder é também maior e os meios ofere­ cidos à tirania igualmente maiores.

Parece que essa devéria ser a tarefa de uma crítica do poder socialista: manifestar com tôda lucidez e tôda lealdade as pos­ sibilidades novas da alienação política vinculadas à própria luta contra a alienação econômica e ao refôrço do poder do Estado que essa luta exige.

Eis algumas direções nas quaiii se poderia processar essa pesquisa sôbre o poder no regime socialista:

1.0 De início, seria preciso ver em que medida "a admi­ nistração das coisas" é necessàriamente um "govêrno das pes­ soas" e em que medida 'o progresso na administração das coi-

sas provoca um aumento do poder político do homem sôbre o homem.

Por exemplo: a planificação exige uma escolha de caráter econômico relativamente à ordem de prioridade na satisfação das necessidades e no emprêgo dos meios de produção; mas essa

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