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as possibilidades e todos os perigos que lhe estão vinculados, é como que o simétrico dêsse ato pelo qual o homem inaugura

No documento Historia e Verdade Paul Ricoeur (páginas 87-101)

as matemáticas. E ambos os atos mutuamente se interrogam.

Simultlineamente, todo comportamento que se situa aquém da axiomática matemática não esclarecida, e aquém da peripécia nuclear da física, todo êste comportamento científico, lançado pela geometria dos gregos e pela física matemática de Galileu, surge de repente como um comportamento que_ tranqüiliza, claro, dogmático em face do aclaramento dos confms do mate­ mático e dos confins do físico, - em relação a essa grande problematização da ciência que se processa aos nossos olhos. Somos aquêles humanos que ainda não acabamos de extrair tôdas as conseqüências da Epistêmê grega e que pusemos em

discussão os fundamentos dessa Epistêmê. De um lado, tudo

nos convida a dogmatizar, na qualidade de homens de ciência e a esmagar sob nosso desprêzo tôda iniciativa que não foi pers­ crutada pela clarificação quantitativa de uma disciplina cientí­ fica: acaso não nos achamos no limiar de um exaltador domínio sôbre os fenômenos vitais? não estamos mesmo perto de entre­ ver o que será uma ciência verdadeira do psiquismo superior? Mais: fora êsses saltos da ciência para além do ciclo da expe­ riência matemático-mecanicista, abre-se uma fase nova da teo­ rização, não apenas por um pulular de disciplinas matemáticas, mas por sua associação

à

nova lógica simbólica, de um lado, e

à

teoria física, do outro. Em suma, uma razão científica de uma amplidão diferente daquela que Descartes e Kant conhe­ ceram está a tomar corpo sob nossos olhos. 2

A

verdade é que tudo isso convida a inteligência científica a dogmatizar e a des­ conhecer êsse "século" no qual, no entanto, se acha incluída, e no qual está a debater-se ao mesmo tempo com a consciência perceptiva do fato de estarmos no mundo e com a consciência ética de nossa responsabilidade: com a verdade existencial e a verdade ética.

Mas, precisamente, o trabalho de problematização que se

opera em sentido inverso das tendências dogmatizantes da inte­ ligência científica, substitui o ato científico em seu contexto de existência e de responsabilidade.

Ora, no princípio das matemáticas encontram-se decisões teóricas e a energia nuclear põe em jôgo decisões práticas, in­ clusive políticas e militares.

A

assimilação por parte da Huma­ nidade de tal descoberta suscita problemas não mais de obje-

2 Cf. D. DUBARLE, "Le christianisme et les progrês de la science" em Esprit de set. de 19 51.

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tividade, de saber, mas de gestão dos negócios humanus. O problema militar, industrial e econômico da energia atômica não se situa na escala na qual a teoria atômica é verdadeira, mas na escala de nossa existência; situa-se no mundo tal qual nos surge; situa-se não no universo tal qual o físico o repre­

senta, mas no mundo da percepção em que nascemos, vivemos e

morremos.

É

o mundo da percepção que nossos instrumentos, nossas máquinas têm uma significação ética e põem em jôgo nossas responsabilidades. Justamente por aí é que somos tra­ zidos de volta ao nosso "século".

A

extensão da verdade cien­ tífica engloba o homem como uma porção de objetos, mas as responsabilidades que essa verdade científica põe em jôgo ates­ tam que o ato científico se acha englobado no conjunto dos atos do homem responsável, na figura global da praxis humana.

Outro tanto se diria da conquista da vida pela ciência e da eventual conquista do psiquismo superior e da sociabilidade humana em disciplinas científicas rigorosas. Mais que qualquer progresso científico, essa conquista traz de volta o homem

à

sua condição e o reabsorve nas coisas; mas, por outro lado, mais que qualquer progresso científico envolve ela uma questão ética virtual: que faremos de tal poderio sôbre a vida e sôbre o

homem.

O fato de podermos temer pelo homem, discernir perigos para o homem, pelo fato de que a ciência do homem se inicia

e caminha, êsse mesmo fato atesta o poder de envolvimento mútuo do saber e da ética. Tais temores por causa do homem - que em tantos de nossos contemporâneos degeneram em mêdo e desespêro - são salutares na medida em que atestam que a verdade ética é a resposta do homem ao progresso de seu saber, que a verdade ética, para dizer tudo, a própria vigi­ lância de tal homem, no coração do mundo que lhe chega

à

percepção, no meio dos demais homens.

Esta maneira pela qual a verdade científica se "dialetiza" em si mesma e se presta assim ao "círculo" do percebef, do saber e do agir, nós voltamos a encontrá-la no cerne da ver­ dade ética.

Na da que mais se preste à dogmatização que a consciência ética; nada mais vulnerável também

à

problematização. De um lado, o que faz a coerência de uma conduta ética pessoal, como a estabilidade de uma tradição comum, é o fato de não se re­ começar sem cessar a apreciar suas opções principais, de não

pôr em dúvida os valôres fundamentais, mas conservá-los como convicções adquiridas, voltando a apoiar-nos nêles, a fim de nos lançarmos tranqüilamente e sem escrúpulos em direção a novas situações. Assim se consolida. uma ordem de valôres que permite optar com rapidez· e remover as últimas hesitações nas decisões cotidianas.

Essa espécie de sedimentação de nossas escolhas faz com que haja para nós um "mundo" ético, uma concepção da feli­ cidade e da honra que é nossa referência moral própria, e mais ainda o tesouro das grandes civilizações. Tôda uma história, individual e coletiva, estreita-se dêsse modo numa ordem está­

vel. Podemos apoiar-nos nela; é assim que se constitui para nós um dos dois aspectos de verdade ética: uma conduta ver­ dadeira é, em determinado sentido, a que se conforma a . . . , que se dispõe conforme tal ordem moral cujo debate não se renova.

Mas basta pôr uma só vez em dúvida um ponto de vista antigo, um costume, uma convicção, para que de súbito tudo vacile e se manifeste a precariedade do "mundo ético", para que uma interrogação sem fim se atire sôbre aquêles dados fun­ damentais e que repousa nossa ação e a vertigem de nossa condição ética se aposse de nós. Existe porventura um poder capaz de obrigar-nos, um centro de autoridade que resista à nossa fantasia, à tentação do ato gratuito? Essa interrogação é a outra face da idéia de verdade ética; pois nessa dúvida, nessa interrogação que sacode a ordem preestabelecida, buscamos a· obrigação autêntica, dispomo-nos ainda segundo a exigência mais autêntica, mais original, capaz ao mesmo tempo de nos ordenar e de atrair-nos. Desconfiamos que a verdade moral deve ser algo como essa tensão entre uma obediência muda a uma or­ dem preestabelecida, sempre ao alcance da mão e essa obe­ diência interrogativa e, se assim me posso exprimir, dubitativa, dirigida para o valor essencial que sempre foge para além de todo costume já consolidado.

Talvez se tornasse a encontrar êsse ritmo de dogmatização e problematização da verdade ética no princípio de todos os paradoxos da vida moral: só posso reconhecer um valor, se me ponho a seu serviço; um valor só mostra autenticidade - ju�­ tiça, veracidade etc., - em sua dialética com outro; o um­ versa! é o histórico etc.

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Não é esta a ocasião de se estabelecer a teoria da verdade moral; depois

e se ter situado de modo grosseiro um e�. face · do outro, as tres grandes ordens da verdade, era necessano de certo modo animar interiormente - ou como dissemos, "dia­ letizar" - cada uma dessas ordens, para pressentir não sà­ mente que a verdade é que existem ordens de verdade, mas que cada ordem tem a agitá-la um duplo movimento de dogma­ tização e de problematização.

Dêsse modo, nossa consciência moderna não cessa de plu­ ralizar-se.

Que aconteceria, se nesse esquema triangular reintroduzís­ semos a multidão das outras dimensões em que uma conduta de "conformidade" - isto é, uma conduta de verdade - pode intervir?

A própria arte comporta verdade.

Verdade de respeito e verdade de dúvidas.

Não existe arquitetura sem respeito às exigências dos ma­ teriais: a arte da cantaria não deve produzir imitação de ma­ deira, nem a arte do concreto armado repetir a da pedra; que as colunas não finjam estarem a sustentar uma abóbada. Mes­ mo o imaginário tem sua verdade peculiar que o romancista bem conhece, e também o leitor: é verdadeiro um personagem quan­ do sua coerência interna, quando sua presença completa na ima­ ginação tem o criador sob sua dependência e convence o leitor. Mas essa verdade de submissão é também verdade de crí­ tica e debate. :É verdadeiro o artista que só conhece a moti­ vação própria à sua arte e não cede a imperativos exteriores à sua arte: agradar ao tirano, ilustrar a Revolução. Mesmo ao pintar a sociedade de seu tempo, mesmo ao anunciar tempos novos, o artista é verdadeiro quando não copia uma análise sociológica já feita e uma reivindicação que já encontrou uma expressão não estética. :É êle, ao criar coisas novas realmente válidâs social e pollticamente, se fôr fiel ao poder de análise que procede da autenticidade de sua sensibilidade, bem como da madureza dos meios de expressão herdados. Será preciso vol­ tarmos a êste ponto quando !atarmos da "síntese política do verdadeiro" : a arte verdadeira, adequada à sua motivação pró-

pria, empenha-se por uma �ausa ainda que não seja tal o obje­ tivo do artista, ainda que ele se tenh� prop?sto a desconhecer

0 princípio de sua integração a uma CIVthzaçao total.

Qualquer que seja o destino dessa situação política da ver- d d estética esta introduz em nossa VIda cultural uma lmha a e '

É , 1 .

, . nova de separação e dispersão. poss1ve um� . exrstencta pu- ramente estética; e todos os outros se beneftcmm, com :ssa aventura; que seria para nós o emo�io�a�te espetacu

o des

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e mundo percebido matriz de nossa extstencm, se o artista nao nos devolvesse s

m cessar a alegria, ainda que pelo artifício extenno da arte abstrata? Ao preservar a côr, e o som, e o sabor da palavra, o artista, sem explicitamente desejá�lo, res­ suscita a verdade mais primitiva do mundo de nossa vtda, que o sábio sepulta; ao criar mitos e fig_uras, interp�e�a êl: o mundo e institui de modo permanente um JUlgamento etJco sobre nossa existência, mesmo sem exercer função moralizante, e sobretudo quando não exerce tal função. Poel!y is a criticism of life . . .

Assim tôdas as ordens de verdade se põem em confronto e se reinte

g

ram num "círculo, sem fim.

Seria ainda necessário trazer à lume outra dimensão, nessa mensagem cifrada e supercifrada de nossa história cultural: a dimensão crítica, aquela que aflorou por fôrça de nossa filo­

sofia ocidental de tipo socrático, cartesiano, kantiano, e que consiste em formular esta questão preliminar: como será pos­ sível que exista um "sentido" para mim ou em si? A filosofia

ocidental introduziu no campo da verdade urna potência, ao mesmo tempo corrosiva e construtiva de pôr algo em. dúvida e debate, que transforma o próprio problema da verdade que

as disciplinas particulares encontravam como um problema de concordância externa e de coerência interna. Tal filosofia faz disso o problema do fundamento. Também temos aí uma par­

cela de nossa tradição cultural. A medida que as ciências se

separavam da filosofia concebida como Ciência universal, sur­ gia esta última impetuosamente como a questão do limite e do fundamento de tôda ciência. Ao mesmo tempo, dava ela origem a uma história dessa subjetividade filosófica que tem dúvidas e formula interrogações sôbre o fundamento.

E

esta história não é vã, pois que uma crítica da vida já é uma vida nova, um nôvo tipo de reações humanas: o gênero de vida filo­ sófica; esta história que vai repercutir nas ciências, no direito,

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na ética - e mesmo, conforme se verá mais adiante, na teo­ looia - processa-se de maneira discontínua, através de impé­ ri

s

guerras, atravessando longos períodos de silêncio para rebrotar de súbito em novas obras.

A UNIDADE COMO TAREFA E COMO FALHA A SÍNTESE CLERICAL

Chegamos agora ao ponto crítico de tôda esta reflexão.

O

desenvolvimento cultural nascido do pensamento grego é, pois, um processo de pluralização da existência humana, que se torna capaz de inúmeras situações contrapontísticas.

E, no entanto, a unidade é nossa meta. Queremos a ver­ dade no singular, não sàmente em sua definição formal, mas em suas obras. Desejaríamos que houvesse um sentido total que fôsse como que a figura significativa a totalizar tôda nossa atividade cultural. Qual a significação dêsse desejo dizendo res­ peito à unidade das verdades?

Parece-me que tal desejo é muito ambíguo. Por um lado representa uma exigência, isto é, uma tarefa autêntica: nem se pode imaginar um pluralismo absoluto. É a significação pro­ funda da "razão", no sentido em que Kant a distingue do enten­ dimento: aplica-se o entendimento a objetos, encarna-se em obras de pensamento, já se acha em estado de dispersão; a razão é a tarefa suprema de unificação dos pensamentos entre si, os pensamentos e as obras, os homens entre si, a virtude e a felicidade.

Tanto quanto tarefa da razão, é a unidade a meta do sen­ timento; por sentimento entendo essa posse prévia confusa, na clave do desejo, ela tristeza e da alegria, da unidade que se bus­ ca, perde ou entrevê; a unidade é amada. Sem concebê-lo, com­ preendemos afetivamente que a alegria das matemáticas deve ser a mesma que a das artes ou a da amizade; tôdas as vêzes que

pressentimos conexões em profundidade entre realidades, pontos de vista ou personagens disparatados, sentimo-nos fehzes; a feli­ cidade da unidade atesta um plano de Vida que é mais profundo

que a dispersão de nossa cultura. Sim, a Vida deve significar fi­ nalmente a unidade como se nela se tivesse em primeiro lugar a vida bruta, o querer-viver não cindido, e depois a poderosa explosão cultural de nossa existência segundo tôdas as dimen-

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sões da verdade, e para além de tal dispersão, uma outra uni­ dade que seria Razão e Vida . . .

De qualquer maneira, tal objetivo de unidade 3 se encontra

no princípio e no fim das verdades. Mas, desde que a exigência de uma verdade una entra na história, como tarefa de civili­ zação, ela se acha imediatamente afetada por um índice de vio­ lência: pois é sempre cedo demais para se realizar a tarefa da unidade. A unidade realizada do verdadeiro é precisamente a

mentira primordial.

Ora, tal grau de culpa que se vincula à unidade da ver­ dade - essa mentira da verdade - surge quando a tarefa de

unificação coincide com o fenômeno sociológico da autoridade.

Não que a autoridade seja em princípio viciada; é ao contrário função insubstituível. Talvez seja impensável que o govêrno das pessoas, sob tôdas as suas formas, se dissolva na adminis­ tração das coisas. Sempre haverá situações em que o homem terá de dar ordens ao homem, mesmo quando seu delegado. A autoridade não é por si mesma culpável. Mas torna-se ocasião de irrupção das paixões do poder. É através das paixões do poder que certos homens exercem uma função unificadora. É

dêsse modo que a violência simula a mais alta função da razão e a mais firme esperança do sentimento. Belo exemplo de am­ bigüidade em que, como sempre, o êrro não se distingue da grandeza . . .

A primeira manifestação histórica dessa unificação violenta da verdade, - ou pelo menos a primeira a ser por nós consi­ derada, pois não se trata de examinar até o fundo o problema do poder - acha-se vinculada à teologia, a sua autoridade ao poder clerical do verdadeiro ( doravante tomarei "clerical'; no sentido pejorativo, oposto a "eclesial") .

Coloca�-me-ei, daqui por diante numa perspectiva cristã, e m�smo precisamente teológica e eclesial, e devo dizer que se mmha posição se acha fortemente acentuada num sentido "pro­ testante", espero que ela se mostre largamente comum, salvo alguns acentos, aos meus camaradas católicos.

Para o cristão, a teologia introduz na vida de cultura uma dimensão de verdade que é de todo necessário situar em rela­ ção às precedentes. Mas a própria teologia não é realidade sim- 3 Veja·se no fim dêste capítulo o Apêndice: Nota sôbre a tarefa

de unidade.

ples: do ponto de vista de nossa investigação sôbre a verdade é ela própria um complexo de planos de verdade. Antes de se

;

em tentação de violência de que falaremos, é ela uma realidade subordinada, submissa; seu pólo de referência além de si mes­ ma, é a Verdade que é e que se mostra como uma Pessoa. É

assim que ela se dá, e ao sociólogo agnóstico é ao menos per· mitido compreendê-la fcnomenologieamente tal qual se dá. Esta Verdade não é a teologia, mas a senhora da teoloo-ia e a teo-

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logm não tem acesso a ela de modo direto; pois essa Verdade , que se manifestou não nos atinge senão por uma cadeia de tes-

/

temunhas e testemunhos. À verdade que é, adere a verdade como testemunho dela: o dedo que mostra; êsse primeiro teste­ munho é a Escritura; à sua verdade subordina-se e mede-se a verdade da pregação, que no ato de culto transmite e explica à comunidade de hoje o testemunho primordial. Se existe, pois, uma verdade da pregação, é em sua conformidade com o tes­ temunho sôbre a Verdade-pessoa. Mas como a pregação é sem­ pre um ato hodierno, um ato na modernidade presente, ela já manifesta as características dialéticas da verdade humana; tam­ bém ela se dialetiza entre os dois pólos mortais de uma repe­ tição anacrônica c de uma aventurosa adaptação da Palavra às

necessidades atuais da comunidade dos crentes; esta verdade da pregação acha-se, pois, sempre à procura de uma fidelidade que fôsse criadora.

É a esta verdade - sempre a caminhar - da pregação que se vem articular a verdade possível da teologia e a profis­ são de "doutor" que sustenta essa verdade possível. Ora a teologia é, por necessidade, um ato cultural a interferir c

m tôda a vida cultural de um povo ou civilização.

É � teologia, com efeito, um esfôrço de compreensão; não

no sentido de querer ela firmar a credibilidade da Revelação; mas em sentido duplo: preliminarmente, é ela uma crítica da pregação, cujo conteúdo compara à Palavra de Deus; ela exerce pois, juízo sôbre a pregação; mas essa função crítica supõe um

fun�ão de totalização; compreender, para ela, é compreender em conJunto os momentos da Revelação. Compreender é sempre apreender uma totalidade; enquanto os temas da pregação se distribuem sucessivamente ao longo do ano litúrgico, ela quer fazer dêles uma figura de conjunto. Por aí apresenta-se ela como realidade cultural, comparável a outras; busca implicações, cone� xões, introduz ordem: ordem entre os temas de vida para o

r-

crente (ser-pecador, justificação, ser-santificado, espera do fim), ordem entre temas de vida e acontecimentos absolutos (Encar­ nação, Cruz, Ressurreição, Parusia), er:t suma, ordem ell:tre uma totalidade de experiência e uma totahdade de acontecimentos. Por mais dialética, por mais entrecortada de antítese que seja essa ordem - estirada entre encarnação e redenção, entre con­ versão individual e vida comunitária, entre vida presente e vida eterna, entre esfôrço histórico e fins últimos -, é maneira de compreender; como tal, usa idiomas, aparelhos nacionais da filo­ sofia, do direito, da vida social ambiente e assim interfere com tôda a cultura.

A

teologia interfere com a cultura, não apenas pela inte­ gração dos elementos culturais, mas pela oposição funcional a

essa outra tentativa de retomada do conjunto de nossa exis­ tência, pela oposição à filosofia. Constitui-se a verdade teoló­ gica dessa mesma polaridade: pode existir uma pregação indi­ ferente à filosofia, mas não pode existir teologia sem referência filosófica, e essa referência não pode ser uma oposição nas­ cente, ao menos de tipo metodológico. Com efeito, se a com­ preensão teológica é uma crítica da pregação, e se, sob tal título, ela está sempre em relação com uma comunidade de fiéis, a filosofia é uma crítica do entendimento e do saber. Sua base de referência é o ideal do saber racional, e mais precisamente a ciência contemporânea na tarefa de amoldar a estrutura do entendimento em um momento dado.

A

vontade de compreen­ der de modo universal acha-se necessàriamente em estado de

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