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Florestas de araucária, canela, cedro e erva-mate

Estudos sobre a cobertura vegetal nativa do Rio Grande do Sul, feitas no início do século XX pelo botânico sueco Lindstrom78, registravam que o Planalto Meridional era

possuidor de densos bosques, matas e capões nos campos. A região pertencia à área de ocorrência da exuberante floresta mista com araucária que se desenvolveu nos três estados do Sul do Brasil. No final da década de 1930, pesquisas de Jacy Tupi Caldas79 apresentavam o

planalto como sendo coberto por florestas de acácias, angicos, canelas, cedros, erva-mate, palmeiras e araucárias. No Rio Grande do Sul, os pinheiros ocorriam a partir de 400 m de

74 BERLINK, Eudoro Brasileiro. Compêndio de Geografia do Rio Grande do Sul. 1863. 2. ed. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, s.d., p. 47; BRANDÃO, Souza. Rio Grande do Sul. A Terra, o Homem e o Trabalho. Rio de Janeiro: Sauer, 1930, p. 228.

75 DOURADO, Ângelo. Os Voluntários do Martírio. Narrativa da Revolução de 1893. Porto Alegre: Martins Livreiro, 1977, p. 16.

76 Arroios e lajeados que irrigavam a região: Araçá, Barcelos, Belo, Bernardina, Butiá ou Depósito, Caixão, Camargo, Carazinho, Carreta Quebrada, Carijinho, Cerca Velha, Cinco Voltas, Despraiado, Elesbão, Engenho Velho, Estivinha, Guedes, Inácio Teixeira, Invernada, Irinéo, Lagoão, Luiz Francês, Macaco, Malaquias, Maria Rita, Mormaço, Passa Sete, Passo Feio, Pedro Elias, Pinheiro Marcado, Portão, Povinho, Quebra Dentes, Resvalador, Ricardo Lopes, São Bento, Serafim, Serrinha, Silvanos, Taipa, Taipinha, Tocos, Três Passos e Turvo. Especificamente para Sobradinho podem ser acrescentados o rio Segredo e o lajeado da Gringa. Conforme: COSTA, Alfredo. O Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Globo, 1922, v. 2, p. 229; SILVEIRA, Hemetério José Velloso da. As Missões Orientais e seus Antigos Domínios. 2. ed. Porto Alegre: Cia União de Seguros Gerais, 1979, p. 314-7; BOTTARI, Luiz Pedro. Sobradinho. Conferência. Santa Maria: Escola Tipográfica Santo Antônio, 1940, p. 11.

77 FORTES, Amyr Borges. Compêndio de Geografia geral do Rio Grande do Sul. 6. ed. Porto Alegre, Sulina, 1979, p. 16, 21-2, 35-6; BANCO NACIONAL DO COMÉRCIO. O Rio Grande do Sul. Novo Hamburgo/RS, Otomit, 1967, p. 16; BRANDÃO, Souza. Rio Grande do Sul. A Terra, o Homem e o Trabalho. Rio de Janeiro: Sauer, 1930, p. 68. 78 SIMCH, Francisco Rodolfo. Situação Geográfica e Limites. Aspecto Físico do Estado. In: COSTA, Alfredo. O Rio

Grande do Sul. V. 1. Porto Alegre: Globo, 1922, p. 11. O autor utiliza-se dos estudos de Lindstrom para o seu trabalho.

79 CALDAS, Jacy Tupi. Esboço Morfográfico com Isotérmicas Médias Anuais e Tipos de Formações Vegetais. Trabalho realizado no Mapa do Rio Grande do Sul da Secretaria do Estado dos Negócios da Agricultura, Indústria e Comércio, s.l., abril de 1939; BANCO NACIONAL DO COMÉRCIO. Op. cit., p. 15.

altitude. Na encosta meridional do planalto, destacavam-se canelas, canjeranas, cedros, espinilhos, louros e umbus.80

Os ervais e o processamento da erva-mate adquiriram lugar de destaque na história econômica local. As propriedades fitoterápicas e nutricionais desse vegetal despertaram interesse de vários pesquisadores ao longo do tempo e o tema é objeto de diversos trabalhos científicos.81 Alguns autores destacam o valor nutricional da erva-mate ao evitar a fome e a

desnutrição, dando força física e resistência muscular, além de contribuir positivamente para as funções do aparelho digestivo; outros vão mais além debatendo benefícios para diversos órgãos e funções vitais. Em 1831, a árvore foi classificada cientificamente pelo botânico francês Auguste de Saint-Hilaire como Ilex paraguayensis.82

As áreas de ocorrência original da erva-mate são as regiões temperadas da América do Sul. No Brasil, existiam grandes ervais nos estados do Sul – Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná – estendendo-se por São Paulo, Mato Grosso e Minas Gerais. Com porte similar a uma laranjeira e aspecto arbustivo, a árvore pode atingir entre seis e dez metros de altura. Os ervais desenvolviam-se em florestas de vegetação robusta, sob o abrigo de araucárias, cedros e imbuias e na proteção dos taquarais que amenizavam os rigores do frio, as geadas e o sol intenso. Conforme Rodrigues de Alencar83, para o ecossistema dos ervais eram

imprescindíveis as árvores de grande porte. Para o autor, o corte da madeira de lei pelas serrarias, colocava em risco os ervais, que morriam sem a proteção natural.

Utilizada pelos guaranis84 desde tempos remotos – para mascar, como bebida e até

mesmo com finalidades rituais –, a erva-mate era encontrada próxima aos grandes rios como o Jacuí, o Paraná, o Paraguai e o Uruguai. No trabalho missioneiro, os jesuítas adquiriram o privilégio da exploração dos ervais nas terras de domínio espanhol na época colonial. Desde esse período, o produto era comercializado na Argentina, Brasil e Paraguai. O consumo da erva-mate pelos colonizadores espanhóis consta desde o século XVII, sendo os habitantes da cidade de Assunção grandes consumidores. No século XIX e início do século XX várias foram as iniciativas para inserir o produto no mercado europeu, especialmente no aspecto

80 FUNDAÇÃO INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Geografia do Brasil. Região Sul. V. 5. S.l., Sergraf-IBGE, 1977, p. 88-9.

81 Entre os trabalhos disponíveis, foram consultados: ROLIM, Ernesto. Contribuição ao estudo da erva-mate. Tese de doutorado apresentada à Escola Medico-Cirurgica de Porto Alegre. Porto Alegre: Livraria do Globo, 1917; FERREIRA, João Candido Filho. Cultura e preparo da erva-mate. Concurso de monografias de 1945. Rio de Janeiro: Ministério da Agricultura/Serviço de Informação Agrícola, 1948; ALENCAR, F. Rodrigues de. Erva-mate. Rio de Janeiro: Ministério da Agricultura/Serviço de Informação Agrícola, 1960; COSTA, Samuel Guimarães da. A erva-mate. Curitiba: Secretaria de Estado do Planejamento e Coordenação Geral: Scientia er Labor, 1989. Concurso da SEPCG de 1980.

82 SAINT-HILAIRE, Auguste de. Viagem ao Rio Grande do Sul. 1820-1821. São Paulo: Editora da USP, 1974; ALENCAR, F. Rodrigues de. ALENCAR, F. Rodrigues de. Op.cit, p. 9, 46; ROLIM, Ernesto. Op.cit., p. 8, 11. 83 ALENCAR, F. Rodrigues de. Op. cit., p. 50-1.

84 Para identificar o território tradicional das comunidades caingangues e guaranis, que ocupavam áreas do que veio a ser o Rio Grande do Sul, ver KERN, Arno Alvarez (org). Arqueologia Pré-Histórica do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1991. De modo geral, os guaranis ocupavam as várzeas dos rios e as matas em galerias e os caingangues as terras altas das florestas de araucárias.

farmacológico, mas também em substituição ao café e ao chá inglês. O Brasil era grande exportador da erva, especialmente os estados do Rio Grande do Sul e do Paraná85. No aspecto

da produção comercial, no início do século XX, os pesquisadores86 mencionavam o “modo

grosseiro e primitivo” como ainda era preparada a erva-mate.

Existem divergências entre os autores sobre o período da colheita, alguns afirmam que começava em março e estendia-se até julho, a legislação estabeleceu a poda somente durante o inverno, de maio a outubro87. A lida da erva-mate era exigente e necessitava grande

habilidade no manejo das florestas. Para cada etapa do tratamento das folhas e dos galhos eram utilizados outros vegetais disponíveis nesses ambientes. O ciclo do preparo da erva, até chegar aos engenhos, era conhecido com cancheamento e o trabalho era realizado pelos “ervateiros” que abriam picadas no mato para realizarem a colheita. Em local próximo a uma vertente de água, eram erguidos “ranchos” cobertos com folhas de coqueiros. O rancho principal para o processamento da erva-mate chamava-se carijo. Para o abrigo dos trabalhadores e para guardar a colheita era erguido outro. Essas estruturas eram rudimentares e as fotografias apresentadas pelos autores fazem lembrar habitações indígenas construídas com taquaras e folhas de palmeiras.88

Segundo Ernesto Rolim89, o “peão” cortava os galhos ao seu alcance, depois subia na

árvore para cortar o restante, ficando apenas o tronco, galho principal e outros poucos galhos. Essa poda radical fazia com que o vegetal levasse vários anos para se recuperar, assim, a colheita só era permitida de cinco em cinco anos. Na poda tradicional das erveiras, os homens utilizavam a foice ou o facão e as mulheres e as crianças juntavam os galhos cortados, organizando “grandes feixes” para o “sapeco”.90 Para João Cândido Ferreira Filho91, embora a

poda dos galhos grossos dificultasse a recuperação do vegetal, era necessária porque evitavam que o peão fosse atingido pelo fogo durante o “sapecamento manual”. Recolhidos os ramos com as folhas começava a “sapeca”. Esta operação consistia em passar os galhos e as folhas pelo fogo para “tostar” ou “chamuscar” evitando a decomposição: era montada “uma fogueira de lenha bastante seca” evitando a fumaça e o “cheiro desagradável”, o ervateiro submetia os

85 COSTA, Samuel Guimarães da. A erva-mate. Curitiba: Secretaria de Estado do Planejamento e Coordenação Geral: Scientia er Labor, 1989, p. 45-48. O autor afirma que a erva-mate enriqueceu algumas famílias do Paraná, atribuindo a isso os requintes arquitetônicos de Curitiba. Na época do Império, ervateiros de origem portuguesa, de Paranaguá, enriquecidos, adquiriram títulos de nobreza. Dois exemplos ilustram esta situação: Visconde de Nacar, filho de português, e Barão do Cerro Azul, filho do comendador, neto do tenente coronel Manoel Francisco Correia.

86 ROLIM, Ernesto. Contribuição ao estudo da erva-mate. Tese de doutorado apresentada à Escola Medico-Cirurgica de Porto Alegre. Porto Alegre: Livraria do Globo, 1917, p. 16, 20-1.

87 FERREIRA, João Candido Filho. Cultura e preparo da erva-mate. Rio de Janeiro: Ministério da Agricultura/Serviço de informação agrícola, 1948, p. 32.

88 FERREIRA, João Candido Filho. Op. cit., p. 30, 32, 35-6; COSTA, Samuel Guimarães da. Op. cit. 89 ROLIM, Ernesto. Op. cit., p. 32.

90 COSTA, Samuel Guimarães da. Op. cit., p. 7; ALENCAR, F. Rodrigues de. Erva-mate. Rio de Janeiro: Ministério da Agricultura/Serviço de Informação Agrícola, 1960.

91 FERREIRA, João Candido Filho. Cultura e preparo da erva-mate. Concurso de monografias de 1945. Rio de Janeiro: Ministério da Agricultura/Serviço de Informação Agrícola, 1948, p. 30, 32, 35-6.

ramos em feixes ao calor das chamas, evitando, assim, que as folhas queimassem mais do que o necessário. O processo de secagem no fogo levava várias horas.

Após esse processo, a erva preparada estava em condições de ser levada ao carijo para ser colocada no jirau – “uma espécie de grade de varas sobre esteios fincados no chão” – onde um braseiro mantinha um lento processo de secagem, que poderia durar entre seis e oito dias, para que as folhas ficassem quebradiças. O cuidado era para não perder a “gomosidade” das folhas, os compradores rejeitavam a erva muito queimada. O passo seguinte era triturar os feixes de erva seca: na “cancha ou eira” – feita de “barrotes de coqueiro” – onde dois peões batiam com “espadas de madeira muito dura” até restar apenas pó e pedacinhos dos galhos. A erva-mate pronta era colocada em cestos de taquara, conhecidos como jacás, e conduzidos para os monjolos. Nesses engenhos, a erva era pulverizada e recolhida em surrões ou em barricas para ser comercializada.

Os grandes engenhos de erva-mate ficavam nas cidades comerciais do Sul da América como Assunção, Posadas, Rosário, Buenos Aires e Porto Alegre. Interessante observar que, a nomenclatura de várias etapas do processo de tratamento da erva-mate tem origem tupi- guarani e caingangue92 – como sapecar, carijo, jirau e jacá – não deixando dúvida de quem

eram os intrusos dos matos que realizam os serviços de ervateiro para os “donos” dos ervais. Segundo Rolim93, em 1917, o Rio Grande do Sul apresentava “importante aumento

quanto à produção”, embora os negócios da erva-mate sofressem bastante oscilação. Disso “resulta o receio que capitalistas rio-grandenses têm de se entregarem à futurosa indústria do mate.” A área explorada era estimada em 183.400 hectares e os municípios produtores eram: Cruz Alta, Lagoa Vermelha, Lajeado, Palmeira, Passo Fundo, Santa Cruz, Santo Ângelo, São Francisco de Paula, São Luiz, Soledade, Venâncio Aires e Vacaria. No Rio Grande do Sul, os ervais nativos estavam sob a proteção do Código Florestal. Em 1930, em Santa Catarina foi proibida a derrubada das árvores de erva-mate e foram tomadas iniciativas visando à qualidade do produto destinado à exportação, também foram estabelecidos prêmios para quem apresentasse projetos para a mecanização dos processos de beneficiamento. No Paraná foi criado o Instituto Estadual e a Frente Única em defesa e para a propaganda do mate, visando proteger o principal produto da economia estadual.

Em 13 de abril de 1938, foi criado o Instituto Nacional do Mate (INM)94. Era o “órgão

oficial dos interesses da indústria do mate”, formado pelos plantadores, cortadores, cancheadores, beneficiadores, comerciantes e exportadores de mate. Com sede na capital federal, tinha a finalidade de “coordenar e superintender os trabalhos relativos à defesa de sua

92 Conforme Novo Dicionário Eletrônico Aurélio, versão 6.1, 4. ed. Editora Positivo, 2009.

93 ROLIM, Ernesto. Contribuição ao estudo da erva-mate. Porto Alegre: Livraria do Globo, 1917, p. 45-6.

94 BRASIL, Decreto-Lei n. 375, de 13 de abril de 1938. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/Decreto- Lei/1937-1946/Del0375.htm>, acesso em: 20 de julho de 2013.

produção, comércio e propaganda”, além de promover, junto aos governos federal e estaduais, a unificação das leis e regulamentos, desde a colheita até a venda do produto processado, tratando da qualidade e da classificação dos tipos propícios para a exportação e a proibição da venda das “ervas inferiores”. Era financeiramente autônomo e o custeio das despesas com a manutenção do Instituto, suas seções estaduais, e com a defesa de propaganda do produto fazia-se com a renda da taxa de propaganda, cobrada por quilo de mate produzido no país. Segundo Samuel Guimarães da Costa95, a criação do Instituto Nacional do Mate, em 1938, foi

para tentar estancar a crise no setor, que se estendia desde 1930, e que teve naquele ano o seu ápice “em consequência de uma produção brasileira muito superior à capacidade de um mercado que se tinha reduzido”.

Entre 1940 e 1941, Wolfgang Hoffmann Harnisch96, exilado no Brasil na década de

193097, esteve em viagem pelo Rio Grande do Sul e fez preciosos registros sobre a região de

Santa Cruz e arredores. A respeito da produção da erva-mate, fez um valioso e esclarecedor registro exemplificando o processo apresentado anteriormente: na “época da safra, os proprietários dos ervais reúnem turmas de homens, quase sempre intrusos, que vivem nesses ervais. O ervateiro-empresário lhes dá facão e comida, e lá se vão eles, com mulher e filhos”. Depois de colher os galhos, os ervateiros passam três ou quatro vezes sobre as chamas de uma fogueira. A secagem era feita logo após o corte. Depois, os feixes eram levados para os carijos. Lá, a guabirova98 era usada como lenha e a erva era queimada por 12 ou até 15

horas.99 O autor registrou a difícil situação dos ervateiros, em “tempos passados”, e as “muitas

queixas, aliás, bem justificadas”, comparando a “sina” desses trabalhadores com a dos seringueiros na Floresta Amazônica. Com o passar do tempo, no entanto, “desapareceu a situação desgraçada de maneira natural”: os ervateiros teriam “aprendido a plantar feijão, milho e batatas, de sorte que não precisavam mais depender tanto dos empresários, tão pouco aceitar condições de trabalho tão opressivas”.

Harnisch mencionou a ação do Instituto do Mate como órgão defensor da qualidade da produção, “eliminando a mercadoria que, por seus baixos preços, pudesse servir para a exploração do pobre”, e na proteção dos ervais, que “não podem ser explorados sem mais nem menos”.100 Na época da safra, que iniciava em 1o julho, por determinação do Instituto, as

tropas de mulas eram “carregadas com grandes sacos de couro” e percorriam as estradas de

95 COSTA, Samuel Guimarães da. A erva-mate. Curitiba: Secretaria de Estado do Planejamento e Coordenação Geral; Scientia er Labor, 1989, p. 60.

96 HARNISCH, Wolfgang Hoffmann. O Rio Grande do Sul. A Terra e o Homem. 2. ed. Porto Alegre: Globo, 1952. 97 Segundo GERTZ, René E. O Estado Novo no Rio Grande do Sul. Passo Fundo: Ed. Universidade de Passo Fundo, 2005,

p. 69, Harnisch era teatrólogo, social-democrata e refugiou-se no Brasil no final da década de 1930.

98 Ou guabirova, guavirova, gabiroba, gabirova e gavirova. Conforme Novo Dicionário Eletrônico Aurélio, versão 6.1, 4. ed. Editora Positivo, 2009.

99 HARNISCH, Wolfgang Hoffmann. Op. cit., p. 384. 100 Ibidem, p. 385.

Cruz Alta e de Soledade até Venâncio Aires. Por sua parte, as carretas de mate circulavam entre outubro a janeiro. Em 1939, a produção de erva-mate do Rio Grande do Sul foi de 20,5 mil toneladas.101 No entanto, dois anos antes, em setembro de 1937, o prefeito de Soledade,

médico Reinaldo Heckmann, enviava correspondência ao governador do estado, general Flores da Cunha102, pedindo providências com relação ao comércio de erva-mate. O prefeito

afirmava que, em 1936, os produtores haviam sido muito prejudicados pelas taxas excessivamente altas cobradas pelo sindicato, “paralisando verdadeiramente este comércio no nosso município”.103 Menos de um ano depois, em agosto de 1938, o prefeito interino, Olmiro

Ferreira Porto104, noticiava ao secretário do Interior, Miguel Tostes, a grande produção de

erva-mate em Soledade: tinham sido negociadas cinco mil toneladas com Cachoeira do Sul, Júlio de Castilhos, Passo Fundo e Venâncio Aires, ou seja, quase um quarto da produção gaúcha de 1939.