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No Jacuizinho, nova concentração de ‘fanáticos’

Após o confronto na Bela Vista, Anastácio Desidério Fiúza foi levado gravemente ferido para o Rincão dos Barnabé, no Jacuizinho, quinto distrito de Soledade, residência do seu sogro, Frutuoso Gonçalves da Costa, e dos tios de sua esposa, Ana Gonçalves Vieira Fiúza. Dessa vez, um novo tiroteio após o sepultamento de Anastácio causou outra morte e a prisão de mais de cem pessoas que participavam do velório.403 Para esse evento o delegado de

polícia de Soledade, 1o tenente Januário Dutra, produziu um segundo relatório404, assinado em

15 de maio de 1938, mais de um mês após o primeiro conflito na Bela Vista. O documento de quatro páginas datilografadas visava esclarecer as circunstâncias da morte de dois agricultores identificados como “monges” de uma “seita exótica” no interior de Soledade. O documento assinado por Januário Dutra buscava fazer uma síntese dos acontecimentos que antecederam a Páscoa de 1938, nos municípios de Soledade e Sobradinho. O delegado colheu depoimentos de nove testemunhas, seis civis – três eram da família da Silva Telles –, o subprefeito de Jacuizinho e dois militares, todos opositores aos monges. Embora tendo estado com quase cem barbudos na Delegacia de Polícia, os quais foram apresentados nominalmente, Januário Dutra não fez o registro do contraditório, unanimou uma versão a partir dos depoimentos das testemunhas escolhidas.

O tenente Dutra afirmou que, entre os dias 13 e 17 de abril405, entre quarta-feira e domingo de Páscoa, nas localidades de Bela Vista e no Rincão dos Barnabé, respectivamente nos 6o e 5o distritos de Soledade, no Lagoão e no Jacuizinho, ocorreu “uma grande reunião de

403 Embora o documento refira-se a 104 presos, nominalmente são identificados 98, conforme pode ser visto no Anexo 1. 404 RIO GRANDE DO SUL. Delegacia de Polícia de Soledade. Relatório. Do delegado de polícia de Soledade, 1o tenente

Januário Dutra, para o emissário do Governo, capitão José Rodrigues da Silva. Registra os acontecimentos de 13 e 17 de abril de 1938, ocorridos no 5o e 6o distritos de Soledade, lista 98 presos e reúne depoimento de testemunhas. Soledade, 15

de maio de 1938. (APERS)

405 A data dos acontecimentos é fundamental para que se verifique a tese de que Anastácio Fiúza teria ficado insepulto por vários dias a espera de ressurreição.

fanáticos que praticam uma religião exótica e não conhecida”. O delegado de polícia de Soledade afirmava que as reuniões teriam “causado pânico entre os moradores” daqueles locais e “diversas pessoas” estariam “pedindo às autoridades garantias e providências a respeito, pois os fanáticos haviam invadido o lugar denominado ‘Bela Vista’ e se apoderaram da igreja a tomar chimarrão.” Como a localidade de Bela Vista era próxima de Sobradinho: o “primeiro apelo foi dirigido ao Delegado de Polícia de Sobradinho, cuja autoridade atendeu com presteza e dirigindo-se com a patrulha” ao local.

Aparece no relatório um conjunto de justificativas ancoradas nos depoimentos colhidos de testemunhas locais, todas elas claramente contrárias aos monges. A linguagem adotada neste relatório contorna caracterizações pouco amistosas. O delegado afirma que as autoridades policiais de Sobradinho foram recebidas com hostilidade, “alguns dos componentes do bando” teriam feito “disparos de uma arma contra o Delegado e sua patrulha”, com o que eles “reenvidaram a agressão, resultando saírem diversos feridos, entre eles o chefe do bando, Anastácio Fiuza, que veio a falecer”. Como resultado da operação, foram feitos “diversos prisioneiros e o restante do grupo foi dispersado.”

O delegado seguiu historiando: em 17 de abril, domingo de Páscoa, às 22 horas, “veio a minha presença o subdelegado do quinto distrito acompanhado de alguns moradores” do Jacuizinho, pediam providências policiais a respeito de “grande aglomeração” existente no Rincão dos Barnabé, onde estariam, há quatro dias406, “acampados uma grande leva de fanáticos, calculados em mais de mil e quinhentos”. Com isso, teria sido fornecido ao subdelegado Otacílio Pinto “uma patrulha sob o comando do cabo Vergílio Felisberto Centenário, com o fim de dissolver o referido bando”. Outra vez, o delegado Januário Dutra não acompanhou as diligências, limitou-se a designar efetivo.

Conforme a versão do delegado ausente do local dos acontecimentos, as forças policiais teriam sido repelidas novamente: a “patrulha ao se aproximar do reduto, onde se achavam os fanáticos, foi também recebida a tiros de arma de fogo”. No tiroteio ocorreu mais uma morte e outros foram atingidos: o “fanático Benjamim Garcia de Moraes” e “diversos feridos inclusive o soldado Osvaldo dos Santos, conforme se verifica dos autos de corpo de delito”. No auto de exame de lesões corporais de Osvaldo dos Santos407, praça do

destacamento da Brigada Militar, “acantonado” em Soledade, 26 anos, “cor parda”, solteiro, morador na vila de Soledade, foi registrado “um ferimento contuso com cinco centímetros de

406 Anastácio foi ferido no confronto na Bela Vista, em 14 de abril. Escapou com vida, sendo levado ao Rincão dos Costa, faleceu dia 15 de abril. Em 17 de abril, Anastácio já estava sepultado quando foi morto Benjamim Moraes. Assim, o velório durou no máximo 48 horas.

407 Grafado nos documentos como Osvaldo ou Oswaldo. RIO GRANDE DO SUL. Delegacia de Polícia de Soledade. Auto de exame de lesões corporais Osvaldo dos Santos praça da Brigada Militar. Perito nomeado: dr José Attilio Véra. Assinado por Januário Dutra, 1o tenente e delegado de polícia de Soledade, e Augusto Villasbôas, escrevente. Consultório

extensão, situado na região interparietal no seu terço anterior408” produzido por arma de fogo.

Ele foi examinado no consultório do médico José Attilio Véra, em 19 de abril, embora o exame registre que o ferimento tenha ocorrido às 17h do dia 18. O praça teve uma lesão superficial na cabeça produzida por meio de arma de fogo, sem perfuração por bala e sem gravidade.

Por outro lado, o auto de corpo de delito no cadáver do agricultor Benjamim Garcias de Moraes409 registrou um ferimento à bala com entrada no nariz, tendo causado sua morte.

Ele tinha 39 anos e residia no sexto distrito de Soledade. Os peritos notificados – um comerciante e um criador – registraram: “Que encontraram morto nesta vila, na casa onde era de residência do senhor Jean Alfredo D’atenney, [...] o sr. Benjamim Garcias de Moraes, com um ferimento de projétil de arma de fogo com orifício de entrada na asa direita do nariz, não tendo orifício de saída”. Assinam o subprefeito do distrito, na função de subdelegado de Polícia, Otacílio Floriano Pinto, e o escrivão distrital Pillar Pacheco de Campos.

Após o tiroteio no Rincão dos Costa, o cabo Centenário, com uma patrulha de oito praças, prendeu “104 fanáticos que haviam se refugiado em uma casa no local”410, conforme

pode ser visto parte do grupo na Figura 3. Além disso, foram apreendidas, “em poder dos fanáticos” duas espingardas winchesters e um revólver calibre 44. O delegado afirmava: “Procurei como me competia proceder às investigações a respeito”. Por isso, pediu ao delegado de polícia de Sobradinho, Antônio Pedro Pontes, “suas declarações por escrito” dos fatos que presenciara e que resultaram na morte de Anastácio Fiúza dias antes. O delegado Pontes forneceu os documentos já apontados.

Dos nove depoentes nesse relatório, dois já haviam prestado depoimento em Sobradinho: o comerciante e proprietário de engenho Jacinto Bridi e seu funcionário Cantolino da Fontoura. No entanto, os depoimentos de Sobradinho mais serviram para justificar a ação policial fora da jurisdição municipal do que discorrer propriamente sobre os eventos da manhã de 14 de abril. Os demais civis que depuseram foram identificados somente com o nome, sem outras qualificações. As declarações ocorreram na seguinte ordem: 1) Otacílio Floriano Pinto411, subprefeito distrital do Jacuizinho e também respondendo pela

função de subdelegado de Polícia, 2) Júlio da Silva Telles, 3) Jacinto Bridi, 4) Cantolino Gonçalves da Fontoura, 5) Fidêncio Patrício de Britto, 6) Manoel da Silva Telles, 7) João

408 Caixa craniana.

409 RIO GRANDE DO SUL. Cartório da Vila do Jacuizinho, Comarca de Soledade, 5o distrito. Auto de corpo de delito.

Exame no cadáver de Benjamim Garcias de Moraes. Assinado por Octacilio Floriano Pinto, subprefeito do distrito, na função de subdelegado de polícia, e Pillar Pacheco de Campos, escrivão distrital. Vila do Jacuizinho, 18 de abril de 1938, 16h. (APERS).

410 Embora sejam referidos 104 presos, a lista nominal é de 98 pessoas, conforme já observado anteriormente. 411 Escrito nos documentos também como Octacilio.

Kraemer, subdelegado do Jacuizinho, e os praças: 8) cabo Vergílio Felisberto Centenário 9) soldado Osvaldo Santos.

Essas testemunhas registraram os dois eventos: o confronto na igreja Santa Catarina, em 14 de abril, e o tiroteio no Rincão dos Barnabé, no Jacuizinho, após o sepultamento de Anastácio Fiúza, onde resultou morto o agricultor Benjamim Garcias Moraes, em 17 de abril. Para dar maior clareza aos depoimentos, primeiro são apresentadas as cinco declarações sobre o evento na Bela Vista nos dias 13 e 14 de abril, quarta e quinta-feira da Semana Santa de 1938. Nessa perspectiva, o comerciante Júlio da Silva Telles, morador da Bela Vista, foi o primeiro a discorrer sobre o conflito de 14 de abril. O seu depoimento é significativo porque, de certa forma, estruturou as declarações dos demais. Júlio Telles tinha experiência com as questões policiais e judiciais, ele interveio em diversos processos criminais na defesa de seu filho, Oscar Telles, nas várias vezes em que o jovem foi acusado de violências contra moradores do interior de Sobradinho.

Júlio Telles declarou que, no dia 13 de abril, quarta-feira, por volta de 23 horas: “achava-se em sua residência quando foi surpreendido por dois indivíduos” desconhecidos que “bateram fortemente na porta de sua casa e pediram que lhes fosse servido café”. Negou o pedido alegando que “não era hora para eles estarem batendo”. Frente à insistência, ele abriu a janela da casa e “notou grande aglomeração de pessoas”, como os que pediam “faziam parte do bando que se achava postado à frente de sua casa”, sem escolha, serviu-os “e foi ver o que se passava em casa de seu vizinho Jacinto Bridi”. Cabe lembrar que Júlio Telles possuía um estabelecimento comercial, assim, os solicitantes eram compradores e não pedintes.

Segundo Júlio Telles, para o vizinho Bridi foi feito outro pedido: queriam a chave da Igreja de Santa Catarina. Anastácio Fiúza insistia “para que lhe fosse entregue a chave da Igreja”, Bridi negava a concessão. Com isso, Fiuza teria “retorquido que estava à frente de 800 homens e não tinha tempo a perder”. Acreditando ser uma “atitude ameaçadora”, Telles aconselhou Bridi a entregar a chave da igreja. Com a chave, Fiuza ainda teria dito que ficariam “até sábado de aleluia, dia em que queria ver se arrumava uns quatro mil homens”. Foi o bastante para que Telles mandasse “avisar as autoridades”, o delegado de Sobradinho, pois sentiu-se “sem garantias por não fazer parte do bando de fanáticos”. Com presteza, o delegado de Sobradinho compareceu ao local, embora não fosse sua jurisdição: “ao se aproximar da referida Igreja foi recebido à bala”. Por isso, “os soldados então fizeram uso das suas armas reenvidando a agressão”.

Após esse fato teriam sido presos dez monges, conforme lista apresentada anteriormente, e “o chefe do bando Anastácio Fiúza” foi gravemente ferido. Arrematava Júlio Teles afirmando que: “horas antes de chegar o Delegado na dita Igreja, Fiuza se achava sentado sobre o Altar tomando chimarrão”. Ele mesmo teria visto “quando Fiuza, de revolver

em punho, atirou contra um soldado, tendo errado o alvo e acertado em uma criança que se achava no colo de sua mãe; que o mesmo projetil feriu a ambos”. O boato era que o sábado de Aleluia “era o dia escolhido para os monges se apropriarem das propriedades dos que não faziam parte da religião deles.” Os policiais conseguiram apreender “só duas pistolas e várias facas”, embora tivessem muitos “armados de revólveres, porém embrenharam-se nos matos.”

Com esse depoimento Júlio Telles organizava a sincronia dos fatos e a justificativa dos opositores: os “fanáticos” eram muitos e esperavam outros tantos (entre 800 e quatro mil), eram inconvenientes e ameaçadores, exigiam a chave da igreja e profanaram o altar tomando chimarrão, ele viu Fiuza armado atirando contra a escolta e acertando o tiro em um bebê e sua mãe. E o pior e derradeiro: o sábado de aleluia era o dia da tomada de posse das propriedades alheias. Observa-se ainda que, com o tempo transcorrido entre as declarações de Sobradinho e Soledade, diminui a suposta intenção de permanência, dos 15 dias mencionados na Delegacia de Polícia de Sobradinho, ficou limitado ao Sábado de Aleluia, portanto três dias. Enquanto que o horário de chegada à Bela Vista, declarado inicialmente como 20h, passou para 23h. Esses são alguns detalhes que foram agravando as características da concentração dos monges

barbudos na Semana Santa de 1938.

Jacinto Bridi412 prestou depoimento pela segunda vez. Nessa oportunidade disse que

estava em casa às 22h, quando Anastácio “lhe intimou que entregasse a chave da Igreja” da qual ele era encarregado. Em Sobradinho, ele registrou que Anastácio bateu a sua porta às 20h.Primeiramente, “negou-se a entregar, mas vendo que se achava ameaçado por Fiúza, que lhe dissera que se achava à frente de 800 homens e que era melhor entregar a chave para o bem do depoente”. Fiúza teria dito não saber quantos dias ficaria com a chave, pois estava esperando “que lhe chegasse um reforço de quatro mil homens”. Afirmou que o próprio Fiúza teria dito a Santo Trevisan que o reforço esperado “deveria vir sob o comando do General Flores da Cunha”. Temos aqui uma declaração da maior gravidade. A expectativa de uma força comandada pelo governador deposto, seria motivo suficiente para que o Estado Novo interviesse. Já não eram agricultores “fanáticos”, mas um grupo rebelde aguardando o comando do general no exílio. Em abril de 1938, vários movimentos políticos do Estado Novo alteraram os mandatários do poder no Rio Grande de Sul e em Soledade e Sobradinho. Em boa parte dos municípios gaúchos, prefeitos perderam os mandatos e novos foram nomeados, conforme visto no capítulo 3.

O comerciante e dono de engenho, Jacinto Bridi, assumiu a responsabilidade por ter chamado as forças policiais: “diante da insegurança em que se achava o depoente e sua família”, procurou as autoridades de Sobradinho, por serem mais próximas do local. O

412 RIO GRANDE DO SUL. Delegacia de Polícia de Sobradinho Declaração de Jacinto Bridi ao delegado de polícia, Antonio Pedro Pontes, escrevente João Rodrigues. Sobradinho, 16 de abril de 1938, manuscrito. (APERS)

delegado de Sobradinho dirigiu-se “imediatamente” ao local e ofereceu “todas as garantias”. Afirmou que o delegado: “ao se aproximar da Igreja onde estavam os fanáticos”, teria sido recebido “com tiros de arma de fogo”, “que a patrulha reagiu atirando contra os agressores”. Do conflito disse “que soube que foram feridos Anastácio Fiúza e outros, entre eles uma mulher e uma criança, que foi ferida por Anastácio Fiúza, quando este atirava contra um soldado da patrulha; que os monges, mesmo feridos se embrenharam nos matos existentes nas proximidades da Igreja, tendo o delegado conseguido prender 10 monges.”

O que Bridi não disse em Soledade, mas registrou em Sobradinho, foi que Anastácio “intitulava-se com ordens governamentais” e a incrível história do “avião, o qual baixa e solta correspondência” nas áreas de residência dos monges, além disso, reduziu de cinco mil para quatro mil o pretenso número de homens aguardados sob o comando de Flores da Cunha. As outras testemunhas ouvidas pelo tenente Januário Dutra pouco acrescentaram às informações já expressas, mas ajudam a estabelecer nexos através de informações adicionais ou da terminologia utilizada para caracterizar os monges.

Cantolino Gonçalves da Fontoura disse que, na manhã de 14 de abril, estava olhando “uma grande multidão, digo, reunião de fanáticos”, calculados por ele em mais de mil pessoas, quando chegou a patrulha do delegado de polícia de Sobradinho. Afirmou que: “ao se aproximar da Igreja a referida autoridade foi alvejada a tiros por diversos fanáticos, entre eles viu quando Anastácio Fiúza fez uso de seu revólver, travando-se aí um forte tiroteio, do qual resultou saírem diversos feridos entre eles o chefe do bando Anastácio Fiúza.” Mencionou as prisões, acreditando que o acampamento estava previsto para durar entre três e quinze dias, e que viria reforço de Cruz Alta. Retomava assim o vínculo com Cruz Alta, associando novamente os barbudos aos grupos políticos que atuavam em Soledade e que tinham relações com aquele município, conforme visto anteriormente.

Fidêncio Patrício de Britto depôs no mesmo sentido dos vizinhos: viu chegar, na noite de 13 de abril, na Igreja Santa Catarina, “uma grande quantidade de fanáticos” para uma “reunião exótica”. Por ouvir dizer, não estava presente, soube que na manhã seguinte os “monges haviam recebido” o delegado de polícia de Sobradinho e a patrulha “à bala, tendo havido grande quantidade de tiros de armas de fogo, resultando daí, conforme consta, diversos fanáticos feridos, entre eles Anastácio Fiúza chefe do referido bando”. Ouviu falar no falecimento de Anastácio em consequência dos ferimentos e de que o mesmo, horas antes da chegada do delegado, “achava-se sentado sobre o altar da Igreja tomando chimarrão”. Também ouviu a versão de que “os fanáticos diziam, [que, em] muito breve iriam se apossar das propriedades dos que não faziam parte da religião deles, e fariam a divisão entre o pessoal

deles, da seita.” Manoel da Silva Telles413 estava em sua residência, na manhã do dia 14 de

abril, quando ouviu “uns tiros” para o lado da Igreja da Santa Catarina, dirigiu-se ao local e “encontrou um homem ferido o qual pertencia a uns tais ‘monges’; que na mesma Igreja estavam algumas mulheres que procuravam crianças; que quando chegou não encontrou mais as autoridades locais.”

Por fim, pode-se dizer que esses depoimentos versam sobre um “forte tiroteio”, com “grande quantidade de tiros”, ocorrido na chegada do delegado de Sobradinho à Igreja de Santa Catarina, onde foi baleado Anastácio Fiúza, uma mulher e seu bebê. Significativamente somente dois dos depoentes viram Anastácio armado: Júlio Telles, pai de Oscar Telles, que foi apontado pelos monges414 como autor dos disparos que vitimou Anastácio, e Cantolino,

empregado de Jacinto Bridi. Da mesma forma, Júlio Telles afirmou que Anastácio estava tomando chimarrão no altar da igreja, os demais, ouviram falar.

As outras quatro testemunhas registraram a concentração no Rincão dos Costa, durante o velório de Anastácio, e o novo tiroteio com morte, após o seu sepultamento. Seguem os depoimentos sobre o segundo conflito. O subprefeito distrital do município de Soledade, na função de subdelegado de polícia do Jacuizinho, Otacílio Floriano Pinto, apresentou a seguinte versão dos fatos: “diversas pessoas” teriam vindo até ele “pedir garantias em virtude de se acharem ameaçadas por uma grande leva de fanáticos que se achavam reunidos já há uns quatro dias no lugar denominado ‘rincão dos Bernabé’ ”. Foram calculados em mais de mil pessoas. Percebe-se nos depoimentos o aumento das cifras de participantes e dos dias em que os monges barbudos teriam ficado concentrados. Como visto nos registros da Delegacia de Soledade, os fiéis chegaram à Bela Vista na noite de 13 de abril, as forças de Sobradinho dia 14 de manhã, Anastácio foi ferido, resistindo até dia 15 de abril, o velório foi concluído dia 17. Quando as forças policias chegaram, o enterro já havia acontecido.

Desta forma, o subprefeito e subdelegado, “em virtude do clamor geral dos moradores daquele lugar, procurou em continente o delegado de polícia de Soledade, a quem narrou o ocorrido, tendo essa autoridade lhe confiado uma patrulha composta de oito praças, com o fim