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Inquérito policial: registros da mesma versão

As primeiras informações sobre o assassinato de André Ferreira França e Antônio Mariano dos Santos foram registradas por autoridade policial de Sobradinho. Novamente, a estrutura policial de Sobradinho atuava em território do município de Soledade. A outra vez foi quando a Delegacia de Polícia de Sobradinho interveio na concentração dos monges

barbudos na Igreja de Santa Catarina, na Bela Vista, no Lagoão, sexto distrito de Soledade. O

resultado da ação anterior foi o assassinato de Anastácio Desidério Fiúza e de Francisco Vital – bebê de 20 dias que morreu baleado no colo de sua mãe, Catarina Vital456 – e a prisão de

dez lideres do movimento religioso dos monges barbudos, conforme visto no capítulo anterior.

Dessa vez, a interposição partiu do subprefeito e subdelegado de polícia do distrito de Arroio do Tigre, 3o distrito de Sobradinho, tenente Sady Côrrea Bastos. Ele já havia

colaborado com a diligência determinada pelo Delegado de Polícia de Soledade, com a orientação da Brigada Militar, realizada em final de março de 1938. De acordo com o relatório457 do tenente Bastos, ele seguiu para a Costa do Lagoão no 1o distrito municipal, na

tarde de 16 de agosto, para diligências policiais referentes à reunião de “fanáticos barbudos”, conforme havia sido comunicado pelo cabo Antônio Porto da Brigada Militar. Na Coloninha, em frente à casa de José Crespim da Rosa458, encontrou dois cadáveres.

O subdelegado Sady Bastos lavrou os autos, tomou a termo a declaração do cabo da Brigada Militar, Antônio Porto, e providenciou a nomeação de peritos para o exame de necropsia. O cabo Porto já havia prendido José Crespim da Rosa e o jovem Pantaleão Moura da Silva459, que estavam na casa, encaminhando-os para Tunas e, depois, para Soledade. Na

456 Catarina Vital teria algum laço de parentesco com Antônio Mariano dos Santos que era conhecido como Toninho Vital? 457 RIO GRANDE DO SUL. Justiça Pública, Comarca de Candelária, Termo de Sobradinho. Processo crime sumário. Réus:

cabo Antonio Porto, praça Lucas Campos Galvão, Pedro Simon, José Henrique Simon, Benedito Paulo do Nascimento, Aparicio Miranda e João Elberto Oliveira. Vítimas: André Ferreira França e Antônio Mariano dos Santos. Escrivania do Juri, 1938-1942. V. 1, p. 5-6. (APERS) Escrito no dia do crime.

458 Crespim aparece no processo como Chrispi, Chrispin e Crespim. Utilizamos Crespim porque ele assim assinou. 459 No processo também aparece como Pantaleão Maura da Silva.

revista ao domicílio, foram apreendidas quatro facas, das quais duas eram “as que usavam os barbudos que reagiram à prisão e mais duas, encontradas no interior da casa”, nenhuma arma de fogo. Ao revistar os cadáveres, o policial “encontrou nos bolsos e dependurado no pescoço orações, ervas, cascas e mais algumas drogas pertencentes à medicina dos mesmos.”460

A necropsia nos corpos teria sido realizada por dois moradores da região, no cargo de peritos notificados461: o comerciante Paulo Bernhard e o mecânico de automóveis Rodolfo

Textor. Eles descrevem o auto de corpo de necropsia no cadáver de André Ferreira França: tinha cerca de 50 anos, cor branca, era casado, a “profissão ignorada”, natural do Rio Grande do Sul e morador do Lagoão, sexto distrito de Soledade. A vítima foi atingida com dois tiros: um, na região abdominal, do lado direito, com saída na região lombar, atingindo a espinha dorsal, e o outro também do lado direito, na região torácica anterior, na altura do coração. Além disso, tinha dois ferimentos na cabeça, região frontal, do lado esquerdo, sem ofender o osso, de 3 e 5 cm, produzido por arma contundente.

Já o auto de corpo de necropsia no cadáver de Antônio Mariano dos Santos, descrevia- o com 48 anos, casado, cor branca, natural deste estado, morador da Costa do Rio Lagoão, com a profissão também ignorada pelos peritos. Ele foi morto com um tiro fatal na cabeça, região frontal do lado esquerdo.462 Verifica-se que: as vítimas foram ambas atingidas de frente

e os tiros fatais acertaram André França no lado direito e Antônio Mariano no lado esquerdo. Além disso, os agressores estavam próximos o suficiente para desferir duas cacetadas na cabeça de Deca França.

Estranhamente, na fase judicial do processo, quando Rodolfo Carlos Textor463 depôs

como testemunha de defesa de Pedro Simon não mencionou o trabalho que teria realizado como perito notificado. Paulo Bernhard, também arrolado como testemunha de Simon, não chegou a depor. O nome de ambos está presente na conta final do processo crime, com pagamento de 60$000 para cada um deles, pelo serviço realizado como peritos. Possivelmente teriam apenas assinado o laudo elaborado pelo subdelegado, conforme declarou o próprio tenente Sady Bastos no seu depoimento judicial.

Segundo o acusado, cabo Antônio Porto, os fatos seriam melhor explicados pelos próprios moradores da região. Por isso, Sady Côrrea Bastos tomou o depoimento de dois

460 RIO GRANDE DO SUL. Justiça Pública, Comarca de Candelária, Termo de Sobradinho. Processo crime sumário. Réus: cabo Antonio Porto, praça Lucas Campos Galvão, Pedro Simon, José Henrique Simon, Benedito Paulo do Nascimento, Aparicio Miranda e João Elberto Oliveira. Vítimas: André Ferreira França e Antônio Mariano dos Santos. Sobradinho, Escrivania do Juri, 1938-1942. V. 1, p. 10. (APERS)

461 Ibidem, v. 1, p. 7 e v. 2, p. 202. Paulo Bernhard e Rodolfo Textor assinaram o compromisso do cargo de peritos para o exame de necropsia nos cadáveres de André França e Antonio dos Santos. Pelo que consta no processo, esses peritos notificados teriam recebido 60$000, seiscentos mil réis cada um, pelos dois exames. Esse valor é equivalente ao pago ao assistente judicial por cada uma das defesas escritas (30$000).

462 Ibidem, v. 1, p. 8-9v. Autos de Necropsia.

463 Ibidem, v. 1, p. 143-143v. Termo de Audiência. 4a Testemunha, Rodolpho Carlos Textor. Sobradinho, 29 de outubro de 1941.

envolvidos. Jorge Kautzmann foi o primeiro a depor. Ele era morador do sexto distrito de Soledade, na Coloninha, e revelou que mandou avisar o destacamento das Tunas sobre a reunião dos barbudos, com a presença de André França, na casa de José Crespim. A segunda testemunha foi Evaristo Rodrigues da Silva, também morador da Coloninha. Ao que parece, foi ele quem deu o alarme da presença de Deca França no local com mais onze seguidores. Segundo informou, dias antes já corriam boatos da presença do líder dos barbudos realizando reuniões com os “adeptos”, no Lagoão. No dia 15, ao anoitecer, viu o monge acompanhado dirigir-se para a casa de José Crespim.464

O cabo Antônio Porto, 28 anos, solteiro, comandante do destacamento sediado em Tunas, sexto distrito de Soledade, assumiu a autoria da morte do líder dos barbudos. Na declaração prestada ao delegado465, reconheceu a “celebridade” da vítima, mas compartilhou

o feito com os civis que o acompanhavam. Revelou que tomou conhecimento da reunião com o “chefe” Deca França na casa de Crespim por volta das 23h, do dia 15, através de comunicação do sr. Kautzmann. Com o soldado Lucas Campos Galvão e os “civis” Pedro Simon, José Henrique Simon, Benedito Paulo do Nascimento, Aparício Miranda e João Elberto Oliveira foram para a casa de José Crespim. Teriam chegado por volta de 4h da madrugada: “notou alguns movimentos na casa, pelo que mandou aos civis que o acompanham que sitiassem a referida casa, o que foi feito”.

Montado o cerco, era hora de agir: o “depoente com o soldado Lucas Campos Galvão chegaram na porta da frente; ao chegar encontraram-se com dois monges, aos quais deram voz de prisão, o que eles monges não atenderam e reagiram à prisão armados de facas.” O cabo, “vendo a impossibilidade de prendê-los sem fazer uso de arma e notando que os mesmos procuravam feri-los, puxou de seu revolver e atirou; notando que o mesmo ainda o perseguia, deu o segundo tiro, que o prostrou.” Antônio Porto deixou subentendida a responsabilidade do soldado pela outra morte, no entanto, sem explicitar. Quanto aos civis, inocentou-os. Esclareceu que os policiais chegaram pela frente, enquanto que os civis cercavam a parte detrás da casa.

As informações sobre a localização de cada um no cerco à casa é fundamental para a definição da autoria das mortes. É esse detalhe que o soldado Lucas Galvão, na época com idade em torno de 21 anos, acabou esquecendo no seu depoimento judicial, única manifestação dele no processo. Os militares localizaram apenas facas de cozinha, mas viram

464 RIO GRANDE DO SUL. Justiça Pública, Comarca de Candelária, Termo de Sobradinho. Processo crime sumário. Réus: cabo Antonio Porto, praça Lucas Campos Galvão, Pedro Simon, José Henrique Simon, Benedito Paulo do Nascimento, Aparicio Miranda e João Elberto Oliveira. Vítimas: André Ferreira França e Antônio Mariano dos Santos. Sobradinho, Escrivania do Juri, 1938-1942. V. 1, p. 5-6. Relatório. (APERS)

“muitos objetos” religiosos, sem descrevê-los. Nos corpos e nas roupas, encontraram as provas do curandeirismo: orações, ervas, casca e outra drogas da “medicina” dos barbudos.

O cabo Porto ainda teve o cuidado de registrar uma suposta responsabilidade dos

barbudos pelas marcas de tiros nas paredes da casa. Afirmou que houve enfrentamento

corporal: “quando lutavam com os monges ouviram alguns tiros e que, depois de clarear o dia, notaram ter sido atirado de dentro da casa, por ter encontrado sinais na parede”. Julgava “ter sido os que fugiram que atiraram, porque soube pelo dono da casa, o qual acha-se preso, que eram nove o número de barbudos que estavam reunidos”.

O subdelegado Sady concluiu com convicção: houve reunião de “fanáticos”, resistência à voz de prisão – o que teria causado as mortes – e fuga de outros participantes. O corpo de Antônio Mariano dos Santos foi entregue à família para ser velado em sua residência. André França teria sido sepultado em um cemitério na própria Costa do Lagoão, segundo a autoridade policial, sem que ninguém tivesse solicitado o corpo.466 Na análise do

processo criminal observa-se que os servidores públicos, escrivães ou outros colaboradores designados vão construindo com seus registros ideias desfavoráveis aos barbudos e articulando justificativas da intervenção estatal. Nos detalhes, as vítimas vão sendo descaracterizadas: as profissões são “ignoradas”, a iniciativa da agressão parte deles e os laços de humanidade desconstituem-se quando ninguém sequer reivindica enterrar o morto.

Nove dias depois do tiroteio, o delegado de polícia de Sobradinho, Antônio Pedro Pontes, conhecedor do movimento dos monges barbudos – ele foi o responsável pelo auto de resistência do tiroteio da Bela Vista em abril, onde foi baleado Anastácio Fiúza – colheu o depoimento de José Crespim e Pantaleão da Silva, quando ambos já haviam sido soltos. Essa é a primeira manifestação das testemunhas no inquérito. Se eles foram ouvidos na prisão em Soledade, não ficou arquivado nos autos. Paradoxalmente, os dois barbudos confirmaram a versão do cabo de resistência à prisão e a inevitabilidade do uso de arma de fogo por parte dos policiais. Inocentaram os civis e responsabilizaram as próprias vítimas por terem resistido à ordem policial ou por terem reagido contra a escolta.

José Crespim da Rosa, 38 anos, agricultor, casado pelo padre e residente no 1o distrito

de Sobradinho, assinou que, no dia 15 de agosto, estava em casa com a família, quando, por volta de 20h, chegou Deca França com mais dez pessoas: de madrugada, “1 hora antes de amanhecer para o dia 16, bateu em sua casa uma escolta composta do cabo Antônio Porto, uma praça e alguns civis”. Identificou quatro, dos cinco participantes: Pedro Simon, Benedito Nascimento, João e Aparício. Crespim assinou a versão de que os barbudos “ao pressentirem

466 RIO GRANDE DO SUL. Justiça Pública, Comarca de Candelária, Termo de Sobradinho. Processo crime sumário. Réus: cabo Antonio Porto, praça Lucas Campos Galvão, Pedro Simon, José Henrique Simon, Benedito Paulo do Nascimento, Aparicio Miranda e João Elberto Oliveira. Vítimas: André Ferreira França e Antônio Mariano dos Santos. Sobradinho, Escrivania do Juri, 1938-1942. Relatório. V. 1, p.6. (APERS)

a chegada da escolta, puseram-se em movimento e resistiram à prisão, tendo Deca e Antônio Vidal agido de faca contra o cabo e a praça”. Tratou-se, ainda, de registrar que houve luta corporal e de inocentar os civis: “o depoente (...) não viu os civis que compunham a escolta tomarem parte na briga”. Depois de “serenada a briga, o cabo Porto deu voz de prisão ao depoente e a Pantaleão Moura da Silva”, que seguiram presos para Soledade.467

O jovem Pantaleão Moura da Silva, 18 anos, solteiro, analfabeto, residente no sexto distrito de Soledade, depôs no dia seguinte, 26 de agosto. Negou o seu envolvimento com o grupo, reiterou a resistência à prisão, mencionou a briga e inocentou os civis. Idêntico aos demais depoimentos. Reconheceu Pedro Simão, seu filho e o peão Aparício. No lugar do declarante, por esse não ser alfabetizado, assinou o seu sogro, Antônio C. da Silva. Os dois depoimentos sofrem significativas alterações quando da inquirição judicial, como será visto mais adiante.468

Em 27 de setembro de 1938, 15 dias depois da realização do relatório do delegado de Sobradinho, Antônio Pedro Pontes, os autos foram remetidos ao promotor público da Comarca de Santa Cruz. Foi recebido no dia seguinte e remetido ao juiz municipal de Sobradinho. No relatório, o delegado limitou-se a identificar o nome das vítimas fatais, responsabilizando o cabo e o soldado, sem nem sequer mencionar a participação dos civis. Desculpando-se por não ter colhido mais informações, o delegado afirmou ter usado “todos os esforços para esclarecer o caso da melhor forma possível”. Indiciou apenas o cabo Porto e uma praça, sem apresentar o nome.469 Em 8 de outubro, os autos foram enviados ao novo

promotor público da Comarca470. Em 21 de outubro, o promotor requereu, em tom indignado,

que fossem ouvidos, “com a possível brevidade”, os civis citados, que acompanhavam os policiais militares, e o soldado Lucas Campos Galvão. O promotor manifestou preocupação com a legalidade das atividades policiais verificadas no interior do município, especialmente quanto a questões de limites da atuação entre os municípios de Soledade e Sobradinho e suas suspeitas de excessos por parte dos policiais. Queria saber: se “a escolta, comandada pelo cabo Antônio Porto (...) estava investida, por ordem superior, de funções policiais em Sobradinho, ou, ao contrário, invadiu, arbitrariamente esse município com o propósito de efetuar a prisão do ‘monge’ André Ferreira França, vulgo Deca, e de seu grupo”.

O juiz municipal de Sobradinho deferiu o requerimento e remeteu-o para a delegacia para cumprimento em 8 de novembro. Três dias depois, o escrivão Eloy de Oliveira Brito

467 RIO GRANDE DO SUL. Justiça Pública, Comarca de Candelária, Termo de Sobradinho. Processo crime sumário. Réus: cabo Antonio Porto, praça Lucas Campos Galvão, Pedro Simon, José Henrique Simon, Benedito Paulo do Nascimento, Aparicio Miranda e João Elberto Oliveira. Vítimas: André Ferreira França e Antônio Mariano dos Santos. Sobradinho, Escrivania do Juri, 1938-1942. Declaração de José Crespim da Rosa, 25 de agosto de 1938. V. 1, p. 11v-12. (APERS). 468 Ibidem, v. 1, p. 12-12v. Declaração de Pantaleão Moura da Silva, 26 de agosto de 1938.

469 Ibidem, v.1, p. 14-14v. Relatório Antônio Pedro Pontes, 12 de setembro de 1938. 470 Não foi possível identificar o nome pela assinatura.

enviou o processo para a delegacia de polícia. O novo delegado471 recebeu os autos somente

no dia 21 e oficiou o comandante do destacamento da Brigada Militar requisitando o comparecimento do cabo e do soldado para serem ouvidos. No mesmo dia, o comandante do destacamento do 1o regimento de cavalaria de Santa Maria respondeu ao delegado que os

referidos servidores não pertenciam ao regimento de Sobradinho. Informação esta que estava bastante clara nos autos. Para ouvir as testemunhas requisitadas pela promotoria, o delegado notificou o subdelegado do 3o distrito472.

No dia 26 de novembro de 1938, o delegado de Sobradinho respondeu que “deixou de satisfazer” as determinações do promotor público da Comarca “em virtude de se acharem residindo no município de Soledade as testemunhas” civis citadas na declaração do cabo Porto. Quanto às suspeitas de arbitrariedade policial, respondeu que os policiais militares pertenciam ao destacamento de Soledade, eram do 3o regimento da Brigada, com sede em

Passo Fundo. Não conseguindo “apurar se existia ordem superior para o cabo”, mas informou que “o cabo se achava nessa época destacado no lugar denominado ‘Tuna’, por ordem do comandante do contingente da BM que operou nesta zona, (...) comandado pelo major José Rodrigues da Silva”.473

No ano seguinte, em visita à cidade, o promotor da Comarca, Olavo Freitas, assumiu o processo e fez novo apelo ao delegado de Sobradinho “no sentido de serem ouvidos os civis que acompanhavam as praças”, porque era preciso esclarecer “a atitude que tiveram as pessoas que tomaram parte no caso”, sugerindo a colaboração da Delegacia de Polícia de Soledade.474 Apelo inútil. Depois do despacho de fevereiro de 1939, o processo ficou parado

por mais de um ano. Em 8 de março de 1940, foi juntada cópia do ofício dirigido pela delegacia ao comandante geral da Brigada Militar e a resposta. Pela linguagem empregada no ofício expedido pelo subdelegado, Itacir Neri Gomes, “respondendo pelo expediente”, em 3 de fevereiro de 1940, pode-se supor o porquê da lentidão e do descaso das autoridades policiais de Sobradinho. Afirmava que: era necessário “concluir as investigações policiais em torno de umas prisões feitas no lugar denominado Costa do Lagoão, (...) que, em consequência, foram mortos dois desordeiros pertencentes ao grupo dos ‘barbudos’”.475

Em fevereiro de 1940, o subchefe do Estado Maior da Brigada Militar confirmou a informação, já presente no inquérito, de que o cabo Antônio Porto e soldado Lucas Campos

471 Não foi possível identificar o nome pela assinatura.

472 RIO GRANDE DO SUL. Justiça Pública, Comarca de Candelária, Termo de Sobradinho. Processo crime sumário. Réus: cabo Antonio Porto, praça Lucas Campos Galvão, Pedro Simon, José Henrique Simon, Benedito Paulo do Nascimento, Aparicio Miranda e João Elberto Oliveira. Vítimas: André Ferreira França e Antônio Mariano dos Santos. Sobradinho, Escrivania do Juri, 1938-1942. V. 1, p.16v (APERS).

473 Ibidem, v. 1, p. 18-18v. 474 Ibidem, v. 1, p.19 (APERS) 475 Ibidem, v. 1, p. 21.

Galvão “servem no 3o R.C. e estiveram destacados em Soledade.”476 Em 11 de março de 1940, o escrivão em exercício concluiu os autos, enviando-os ao juiz municipal. Na fase policial do inquérito, portanto, não foram ouvidos os civis que participaram do cerco à casa de José Crespim, nem o soldado apontado como o autor do disparo que ocasionou a morte de Antônio Mariano dos Santos. De 16 de agosto de 1938 até 11 de março de 1940, durante quase 19 meses, as autoridades policiais de Sobradinho gastaram tempo buscando informações já presentes nos autos e justificando a morosidade e a incapacidade para atender as demandas da promotoria. As dificuldades na formalização dos atos policiais já haviam sido identificadas por ocasião das prisões e do assassinato de Anastácio Fiúza e de Benjamin Garcias Moraes em abril de 1938. Conforme observado no capítulo anterior, foi o interesse das autoridades superiores que contribuiu para os registros e os procedimentos formais, especialmente difíceis e morosos na Delegacia de Polícia de Sobradinho. Com o envio do processo à Justiça, observou-se um salto de qualidade na apuração dos fatos, mas não sem tropeços.