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Como foi visto nos capítulos anteriores, nos documentos da época existia muita especulação sobre o que teriam ido fazer os barbudos – homens, mulheres e crianças – na Igreja de Santa Catarina, na Bela Vista, naquela quarta-feira, 13 de abril de 1938, na Semana Santa. Para os antagonistas, como o comerciante Júlio Telles537 – que mandou chamar as

forças policiais –, o boato era que, o sábado de Aleluia, “era o dia escolhido para os monges se apropriarem das propriedades dos que não faziam parte da religião deles.” Para os monges entrevistados, eles foram à igreja por orientação do profeta João Maria. Ele apareceu na casa de Anastácio Fiúza, por isso o povo “foi se juntando”, a fim de ver e ouvir o velho monge.

São João Maria teria ficado uma semana na casa de Anastácio. Antes, teria estado no Rincão

dos Costa. Instruiu para que fossem à Igreja de Santa Catarina e teria preparado Anastácio para a morte. O irmão Thomás Fiúza e a esposa, Alsira Koeller Fiúza, foram chamados. Ela era muito devota e insistiu para que o marido fosse ver o profeta. Resistente, Thomás disse que não iria e descrente, sentenciou: “Esse home tá fazendo uma religião aí, contando essa cosa, mas ninguém viu ainda quem é, ninguém viu. Eu não vi, não verifiquei. Isso às veiz qué dinhero, às veiz qué um bem pra sí. [...] É melhor eu não ir.” Por insistência da mãe, Balbina Onorato Fiúza538 e da esposa, acabou indo à casa do irmão Anastácio. Achou que ao ver o

monge de perto poderia tomar posição:

Cheguei lá tava o homezinho pletiando [...] Ele tava sentadinho, de pé no chão, fez eu me abaxá. [...] Chamava-se são João Maria. [...] Aí diz pra mim: ‘– Por que que não veio ontem?’ Eu digo: ‘– Não, eu não estava em casa, pam-pam-pam.’ Ele disse: ‘– Óia! Vai tê benefício. Você não é do bem, mas a salvação vai tê teu ermão, ele tá pedindo, rogando por... pra você... por mim.’ Ele disse: ‘Eu não sô Deus, mas sô enviado de Deus’. Ele disse. Óia, embruiava a gente.

Com simplicidade e poder de convencimento, o velho barbudo João Maria teria mandado o povo que rodeava a casa de Anastácio ir para a igreja da Bela Vista, pois lá existia

537 RIO GRANDE DO SUL. Delegacia de Polícia de Soledade. Relatório. Do delegado de polícia de Soledade, 1o tenente

Januário Dutra, para o emissário do Governo, capitão José Rodrigues da Silva. Registra os acontecimentos de 13 e 17 de abril de 1938, ocorridos no 5o e 6o distritos de Soledade, lista 98 presos e reúne depoimento de testemunhas. Soledade, 15

de maio de 1938. Depoimento de Júlio Telles. (APERS)

538 Conforme RIO GRANDE DO SUL. Cartório do Notário, Comarca de Soledade. Talão de Óbitos n. 4. Espumoso, vila Jacuizinho, p. 161. (APERS). No atestado de óbito consta que Balbina Onorata Fiúza nasceu em 19/mar/1876 e faleceu em 03/dez/1952, às 2 horas, de “moléstia ignorada”, aos 76 anos. Ela foi sepultada junto com o marido, Bazileu Desidério Fiúza, no cemitério do Rincão dos Costa, do lado direito da sepultura do filho Anastácio.

mais espaço para reunir as pessoas. Estavam na Semana Santa e teria dito: “Vão rezá lá, vão acendê vela”. Foram todos juntos. Gregório negou que tivessem levado imagens de santos. Ele também negou que fosse uma prática reunir pessoas nas igrejas da região, garantiu que foi só daquela vez. Para ele, são João Maria era “um homizinho pequenininho, barbudinho assim. Um homi quieto.” Não chegou a ouvir o mestre: “logo nóis saímo pra igreja”. Na ida para a Igreja de Santa Catarina, “o Tácio ia junto, ele ia recomendando que não era pra mexê em nada alheio.” Idalcinéia confirmou a presença do monge na região e mencionou o dinheiro da “oferta pra igreja”:

São João Maria que mandô. Era pra todo irem rezá e levá uma oferta pra

Santa Catarina, que era padroera da igreja. Irem rezar o rosário. E daí eles assaltaram lá na igreja. Dizendo eles que foram pra roubá, o pessoal denunciador que inventaram lá que [...] conversa da perseguição. Mas não. Eles foram rezar e ficô na porta, chegaram lá tava chaveada, não quiseram deschaveá a igreja. Ficô por baxo da porta, assim mais ou meno, uns dez mil em dinhero, que o povo levô de oferta pra igreja, né? Que eles ó... na cachaça.

Para Idalcinéia, a reunião foi episódica, tendo ocorrido somente naquela oportunidade por orientação do monge. No cotidiano, viviam “cada um nas nossas casa. Nóis não fazia grupo. Nóis rezava em nossas casa. Fomo na igreja que ele mandô convidar, que ele ia aquele dia na igreja.” Essas informações foram confirmadas por Gregório, para quem as reuniões de rezas eram poucas e que, embora tivessem ocorrido algumas vezes, o comum era cada um rezar na sua casa: “Cada qual rezava as suas oração, em casa”. Nas casas, as famílias se reuniam para rezar. Muitas vezes, iam em um vizinho ou em outro para “ajudá a rezá. Era aquele sistema, né? Por exemplo: a pessoa vai lá, a pessoa vai lá na otra casa, né? Já marca o dia. Ansim era esse tempo”. Rezavam um terço completo. Os dois entrevistados falaram de uma religião doméstica, familiar e comunitária. Para Gregório, desde a aparição do monge João Maria na casa de André França, até o assassinato de Anastácio Fiúza, teriam transcorrido entre três e quatro anos.539

Anastácio Fiúza levou o pessoal à Igreja de Santa Catarina para rezar, mesmo tendo sido avisado de que algo de trágico iria acontecer. Teria ido chorando porque fora avisado de que de lá voltava morto. Ele foi guiando o povo, em procissão, “tudo dois a dois”:

Se ele não fosse, a polícia não ia também, porque daí ele foi, foi com aquele mundo de gente e tava lá rezando e tudo o mais. Eles acharam: ‘Isso aí é os bandido’, isso e aquilo. Mas foi, foi de religião, não foi coisa de banditismo. Banditismo fizeram a polícia e aqueles que perseguiram.

Orlandino expôs a circunstância, confirmando que Anastácio foi esperando a morte:

539 Confere com a primeira aparição, na qual foi convertido André França, em 1935. O capitão Riograndino da Costa e Silva apontou que o movimento teria mais de dois anos.

Foi são João Maria que ordenô ele. [...] São João Maria ficô em casa de Tácio e mandô ele lá pra igreja. [...] Ficô lá e a mulher do Tácio também não foi. Diz: ‘Tu vai encontrá teu marido quando vié assassinado de lá’, ele contô tudo que ia acontecê. Tácio foi sabendo que de lá da igreja ele vinha assassinado. Saiu chorando... [...] Foi. Ele queria defendê os fio dele, os dele. Pra defendê os que acreditavam nele, ele entregava os espírito dele, as matéria, mas não dizia que não.

Segundo a sua irmã, Ernestina, Anastácio sabia e profetizou que de lá não escaparia vivo. Esta versão foi confirmada pelo outro irmão, Thomas: “Ele não tinha medo. Ele foi sabendo [...] Que ele vorta. No dia de Jesus... Que Jesus vai vim, na pedra, ele dizia, no dia que Jesus vim, ele vai vim também. [...] Voltava junto. Agora pode sê inludido, o qué que eu vô dizê?” Para ele, Anastácio chegava a se esconder “pra não podê fazê mal pra ninguém”. Tamanha era a convicção na sua própria morte que “deixô até a roupa à parte”. Ele teria aceitado o convite do monge João Maria para segui-lo em espírito, assim narrou Idalcinéia:

Ele usava bombacha neste tempo. Bombacha bem larga, ansim. E daí esse profeta convidô ele pra i junto com ele, em espiritual. Ele aceitô. [...] Ele apartô uma calça de brim pretinho com listrinha branca. Um parzinho de chinela. Um lenço vermelho bem bonito, que gostava. E um chapéu de lona com uma cruz na cabeça, que neste tempo usavam, né? Foi assim que foi vestido, e o casaco da mesma cor.

Gregório estava na igreja da Bela Vista e confirmou: o pessoal foi lá para rezar. Era quarta-feira, 13 de abril, quando começaram a chegar: “Então o pessoal foram se juntando e foram pra rezá, né? E foi e foi, que no fim, chegô bastante gente, umas três mil pessoa foi na igreja aquele dia lá. Lá que a polícia bateu na pessoa”. Para ele, Anastácio sabia que a polícia estava a caminho: “O Tácio Fiúza dizia, na hora que tava na igreja, que eles tavam cercado pelo burro preto. Que não se assustasse que vinha batê aqui. Como de fato, quando foi de manhã, bateu a polícia”, era quinta-feira, 14 de abril. A igreja ficava longe do Rincão dos Costa: “Saímo daí a meia-tarde ou de manhã, chegamo de noite lá. É longe sim”. Passaram a noite “acampado”, no outro dia de manhã: “a polícia bateu”. Gregório estava do lado de fora da igreja, quando “mataram ele, atiraram [...] e ele escapô, e atiraram [nele], né? Mas ele... Veio numa certa altura, ele morreu, né? E truxeram pra casa aí. Que ele pediu, antes de morrê, que viesse aqui pra esta casa, ele foi sepultado aqui, no Orlando ali. Ali foi velado também.” Essas eram as terras dos avós de sua esposa Ana Fiúza, do falecido e respeitado Pedrinho Barnabé e sua esposa, Maria Pacífica da Costa.

Os depoimentos convergem sobre quem teria dado o primeiro tiro em Anastácio Fiúza: Oscar da Silva Telles, então com 25 anos. Como foi apontado em capítulo anterior, os Telles eram comerciantes na localidade, o pai, Júlio, era bastante influente540, e o próprio

Oscar já havia respondido a vários processos crimes por arruaças e violências contra vizinhos

nas localidades rurais de Sobradinho. A família da Silva Telles teve participação ativa mobilizando e colaborando com as autoridades policiais. Manoel da Silva Telles541 depôs

como testemunha em Soledade e Janico Telles, irmão de Oscar, foi lembrado pelas confusões e violências que protagonizava. Segundo Idalcinéia, Júlio Telles “não desceu mais, depois que fez toda essa folia, ele tinha medo também.” Segundo Gregório, quem matou Anastácio Fiúza “foi a polícia: os Telles sim. É, mas a polícia junto com eles”. Narrou que “tavam todos eles junto lá. [...] Foram buscá a polícia em Sobradinho” e “bateram na igreja. [...] A igreja era bem na frente da casa do Júlio Telles.”

Para Orlandino e sua esposa, Izantina Gonçalves da Costa, Anastácio Fiúza foi morto pela polícia, dentro da igreja. Eles sabiam que Oscar Telles buscou a polícia: “Diz que ele foi um dos que entrô na frente bem dizê, com a polícia. Lá não sei se foi ele ou foi a polícia, mas foi aquela hora, foi.” Orlandino não estava presente, mas Izaltina estava. Mesmo não tendo testemunhado o fato, ele sabia detalhes como o de que os tiros tinham sido seletivos, queriam acertar Anastácio. E atiraram nele, mesmo estando “no meio do povo, era ele que eles queriam”. Foi baleado com dois tiros na barriga, no interior da Igreja de Santa Catarina. Morreu na madrugada do dia 15 de abril, na casa de Guilherme Ritter, perto da Bela Vista.542

Segundo Pereira e Wagner543, o corpo de Anastácio teria sido carregado “pelo meio do mato,

à noite”, por uma distância de 50 km, até o Rincão dos Costa, no Jacuizinho, para ser velado na casa de Alípio.

Outras violências aconteceram naquele dia. Gregório também foi atacado: “Me deram com fuzil, me bateram com fuzil. Não me acertaram, eu pulei por cima do fuzil, me escapei”. Mesma sorte não teve um bebê morto nos braços da mãe. Outros teriam sido baleados. Ernestina viu muitas camisas ensanguentadas. Izaltina recordou-se da morte de duas crianças. A mãe que estava amamentando o nenê em seu colo foi baleada no peito544. A bala atingiu a

criança e a mulher: “A criança morreu e a mulhé ficô aí, com o braço balhado assim, saiu a bala, né? Ela sarô”. Teria sido tratada pelo próprio Deca França. Segundo Orlandino: “Nem no médico não foi, aquele ainda foi o Deca que curô ela.” Deca Fraça não estava na igreja, quando Anastácio foi baleado. Para Orlandino, André não foi porque “não era a veiz dele. Quando tinha a veiz dum era dum, quando era d’otro...” Segundo Idalcinéia, “dali a quatro mês ficô André Ferrera França convidado pra ele ir. Dali a quatro mês, no dia 16 de abril o Tacinho foi, no dia 16 de agosto, foi pru André.” Estas informações correspondem com os

541 RIO GRANDE DO SUL. Relatório da Delegacia de Polícia de Soledade. 1o tenente Januário Dutra, delegado de polícia, 15 de maio de 1938, depoimento de Manoel da Silva Telles. (APERS)

542 PEREIRA, André Luiz S. e WAGNER, Carlos Alberto. Os monges barbudos & o massacre do fundão. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1981, p. 30, 36; Entrevistas Orlandino e Izaltina Gonçalves da Costa. Rincão dos Costa, Salto do Jacuí, 21 de janeiro de 1990 e Thomás Desidério Fiúza. Campinas, Tunas, 21 de janeiro de 1990.

543 PEREIRA, André Luiz S. e WAGNER, Carlos Alberto. Op. cit., p. 40. 544 Possivelmente fosse Catarina Vital e seu filho de 20 dias, Francisco Vital.

documentos da época. Observa-se nesses relatos a crença na vida após a morte, na imortalidade do espírito e na inevitabilidade da morte trágica de André e Anastácio.

Os monges entrevistados conheciam a versão corrente de que o corpo de Anastácio teria ficado insepulto a espera da ressurreição: “Ora, contam isso, mas não era assim”. Refutaram essa versão. Para eles, não houve demora no sepultamento, os procedimentos de antigamente é que exigiam mais tempo: fazer o caixão, abrir a cova, organizar as roupas. As fortes chuvas dificultavam as providências que precisavam ser tomadas. Assim, as várias pessoas que foram chorar a morte de Anastácio também tiveram que permanecer no local por mais tempo, mas tudo dentro dos prazos regulares dos velórios. Mesmo assim, a nova concentração de barbudos teria chamado a atenção das autoridades. Como contou Gregório:

Naquele tempo, não é como hoje, que a roupa tem feita. Eles foram fazê roupa, foram fazê caixão, né? E o pessoal ficaram aí. Chegaram de tarde com ele, na casa do finado Alípio, passaram aquela noite. No outro dia, sepultaram ele de tarde, me lembro, venceu as 24 hora. O pessoal era tudo de longe, não puderam se retirá, tava chovendo. Ficaram ali. Por isso que a polícia bateram de novo lá.

Com a chegada da noite, “o pessoal não pôde se retirá”. Era “gente de todo lado”, de muitos lugares distantes. Gregório estimou em duas mil pessoas. Em meio ao clima de tensão e medo, durante o velório de Anastácio Fiúza, aconteceu algo inusitado: “baixou o espírito” de Santa Catarina em Maria Cândida Ferreira545 e Maria Florestina Ferreira546. As duas jovens

foram levadas presas para Porto Alegre, conforme visto em capítulo anterior. Assim, relataram Izaltina e Orlandino:

Foi o dia do sepulto dele. Quando levantaram ele pra levá pro sepulto. Então uma moça, uma Ferrera, saiu gritando: ‘Minha reinha Santa Catarina, que é virge e é poderosa.’ E dançava num pé só. [Pegava a] água e chegava e pedia. Mas óia, a coisa mais linda! Durante o sepulto dele, tudo. Daí é que ela voltô pra dentro de casa e começô a explicá o povo, como é que aconteceu, o que é que... Mas contava tintim por tintim, que vinha a polícia e o povo imbimbido a esperá. Se naquela hora tivesse se esparramado tudo, não achavam ninguém. Mas se embeberam com ela ali, de escuitá, escuitá, até que chegô a...

Esse episódio foi relembrado também por Gregório, a santa “baixou” contando histórias do que “acontecia” e do que “não acontecia”: “Conversava lá, mas a gente não sabia [no princípio como era]. Naquele tempo, eu era rapaiz.” Quando foi de manhã, “a polícia bateu de novo”, cercaram o Rincão dos Costa, mataram mais um: “tirotiaram lá”. Assim como o Anastácio, “esta gente não tinha arma”. Idalcinéia viu mais uma pessoa ser morta:

545 Maria Cândida Ferreira de Camargo foi identificada pelo correspondente do CORREIO DO POVO de 05 de maio de 1938, como a Santa Catarina dos monges. Ela foi entrevistada na cadeia civil de Soledade.

546 Maria Florestina [ou Florícia] Ferreira foi dentificada como a Santa Terezinha dos monges. Ela foi levada presa com outras duas pessoas para Porto Alegre. No total, nove pessoas foram deslocadas presas da delegacia de Polícia de Soledade para Porto Alegre.

“Mataram Benjamin de Amaral, morreu com o rosário na mão.547 A arma que o pessoal tinha

era só o rosário. Eles anunciavam que os homens tinham arma, até de guerra, e era mentira”. Não é sem motivo que Idalcinéia referiu-se a armas de guerra, este boato tinha vinculação com o inverossímil vínculo com Flores da Cunha – apresentado em depoimentos na Delegacia de Polícia de Sobradinho – que, além de estar no exílio nessa época, ainda estava envolvido em escândalos de assassinato e corrupção, segundo notícias nos jornais de abril de 1938.548

O responsável pelo novo cerco e a fuzilaria foi o subdelegado do Jacuizinho, quinto distrito de Soledade, Otacílio Pinto, que também era fazendeiro. Ele apareceu com “uma turma de paisano”, moradores vizinhos. Ele encaminhou as prisões, levaram os barbudos para a vila do Jacuizinho. Segundo Orlandino, o espírito de Santa Catarina ainda estava presente neste momento, as moças teriam saído na frente encarando a chuva e o grupo armado, falando: “filho de Santa Catarina não deve nada e não se teme.” Pegaram o Divino Espírito Santo e todos foram atrás. A escolha por Santa Catarina foi explicada de forma muito simples por Gregório: ela era a padroeira da igreja aonde os monges iam, “lá onde foi matado o Tácio”. Para ele, a identificação de moças da religião com Santa Catarina e Santa Terezinha era “ignorância do povo [...] que dizia”. Não era crença dos barbudos. Este entendimento foi confirmado por Izaltina e Idalcinéia que refutaram a ideia de “santinhas” da religião.

As entrevistas, embora mais de 50 anos distantes dos acontecimentos, trouxeram várias convergências com os documentos da época e esclarecem circunstâncias polêmicas com outros estudos. Duas questões foram apontadas, a esperança na ressurreição de Anastácio, entendida pelos entrevistados como imortalidade do espírito. Para os monges não houve retardo na inumação, conforme a cronologia dos acontecimentos estava dentro dos prazos tradicionais de um velório de 24h/48h. A outra questão foi a identificação de moças como santinhas da religião. Na negativa dessa crença, aparece outra, a manifestação das santas como espírito nas moças Ferreira, Maria Cândida e Maria Florícia. Foram as santas que “baixaram” e elas dançavam num pé só. Gregório e Orlandino registraram o inusitado dessa situação dando a entender que eles desconheciam esse tipo de manifestação religiosa. Já as autoridades interessaram-se pelo ocorrido e prenderam as duas moças. Teriam essas manifestações identidade com práticas religiosas de origem africana?

547 Conforme entrevista Ernestina Desidério Fiúza. Tunas, 20 de janeiro de 1990. Ela também confirmou mais uma morte no dia do “sepulto” de Anastácio Fiúza.