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A Argentina teve um século XX bastante agitado. Foram quatro golpes militares ao longo do século, mas foi com o último, em 24 de março de 1976, que a repressão a qualquer tipo de oposição foi mais violenta. Denominado como Processo de Reorganização Nacional, o movimento foi um dos mais violentos da época, tendo como estimativa o desaparecimento de trinta mil pessoas, conforme relatado por Ariel Palacios:

“FATOS E NÚMEROS

– Entre 1976 e 1983 os militares assassinaram ao redor de 30 mil civis, entre eles, crianças e idosos, segundo estimativas de ONGs argentinas e organismos internacionais de defesa dos Direitos Humanos.

(...)

– A Ditadura teria sido responsável pelo sequestro de 500 bebês, filhos das desaparecidas. Desde o final dos anos 70 as avós da Praça de Mayo localizaram e recuperaram a identidade de 95 dessas crianças, atualmente adultos”.5

Usando o mesmo argumento do inimigo público interno, os subversivos, a ditadura durou até 1983, quando já desgastada internacionalmente pela afronta aos direitos humanos, principalmente pela perda da Guerra das Malvinas, teve seu declínio. Assim explicam Pablo F. Parenti e Lisandro Pellegrini: “La caída del régimen no fue abrupta ni violenta. La dictadura abandonó el poder a fines de 1983 en medio de un gran desprestigio social, no solo por las violaciones a los derechos humanos, que ya eran bien conocidas para esa época, sino por la derrota frente a Gran Bretaña en la guerra por las islas Malvinas de 1982 y por una situación de crisis económica”.6

O regime militar na Bolívia começou com o golpe em novembro de 1964, financiado e auxiliado pelos EUA, mas foi com a subida ao poder de Hugo Bánzer Suárez, em 1971, que a ditadura passou de moderada para altamente repressiva. Nas palavras de

4....franca, Ludmila. América Latina e as ditaduras militares: fatores históricos. Disponível em: <http://norbertobobbio.wordpress.com/2011/06/27/america-latina-e-as-ditaduras-

militares-fatores-historicos/>. Acesso em: 11 nov. 2012.

5....palacioS, Ariel. Ditadura argentina, a mais sanguinária da América do Sul, foi fracasso militar e econômico. Disponível em: <http://blogs.estadao.com.br/ariel-palacios/ditadura-

argentina-a-mais-sanguinaria-da/>. Acesso em: 11 nov. 2012. 6....amBoS, Kai; malarino, Ezequiel; elSner, Gisela (Ed.). Op. cit., p. 135.

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Elizabeth Santalla Vargas: “En 1971 se produjo otro golpe de Estado cuyos principales enfrentamientos tuvieran lugar en la ciudad de Santa Cruz. Tras el golpe asumió la presidencia el general Hugo Bánzer Suárez (quien se mantendría en el gobierno hasta 1978), cuyo régimen fue particularmente represivo de los universitarios de La Paz y Santa Cruz, quienes habían ofrecido constante resistencia. Así, se reportaron 98 muertos y 560 heridos. Posteriormente, se clausuraron las universidades (entre 1971 y fines de 1972), habiéndose fusilado a varios estudiantes cruceños en agosto de 1971. El régimen de Bánzer se caracterizó por ejercer prácticas de torturas, tratos cueles, inhumanos y degradantes, así como por la desaparición forzada de personas, y tuvo un alto número de presos políticos e exiliados”.7

Na verdade, todo o período dominado pelos militares bolivianos foi repressivo. Nos primeiros anos houve o Massacre de San Juan, quando vários mineiros foram atacados, mortos e feridos pelo exército, no momento em que haviam se reunido para discutir a situação salarial e a postura que adotariam perante o atual governo. Nos últimos anos, em 1981, durante o governo do general Luis García Meza, ocorreu o Massacre da Rua Harrington, evento definitivo para o término do período de exceção, conforme detalhado por Santalla: “El 15 de enero de 1981, ante la noticia de la reunión clandestina del MIR (Movimiento de Izquierda Revolucionario), por órdenes del entonces ministro del Interior, Arce Gómez, un operativo de aniquilación se desplazó a la calle Harrington de La Paz (lugar de la reunión) y dio muerte a ocho de los nueve dirigentes políticos que se encontraban presentes. El hecho es conocido como la masacre de la calle Harrington. Los excesos de esta dictadura desembocaron en el repudio incluso dentro de las Fuerzas Armadas, las cuales generaron distintos motines en regiones del país que forzaron la renuncia de García Meza”.8

Uruguai passou por uma transição particular. Foi o próprio presidente eleito, Juan María Bordaberry, que dissolveu as câmaras legislativas, dando início ao golpe de estado que promoveria a ditadura civil-militar. “A ditadura uruguaia se estendeu de 27 de junho de 1973 a 28 de fevereiro de 1985, marcada pela proibição dos partidos políticos, a ilegalidade dos sindicatos, a censura à imprensa e a perseguição, prisão, desaparecimento e assassinato de opositores”.9

No Chile, o presidente Salvador Allende seguia uma política independente dos EUA, defendendo a nacionalização das empresas

7....amBoS, Kai; malarino, Ezequiel; elSner, Gisela (Ed.). Op. cit., p. 155.

8....Idem, p. 157.

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norte-americanas que se encontravam no país. Motivo suficiente para os setores políticos conservadores e as Forças Armadas lideradas pelo general Augusto Pinochet, apoiados pelo governo norte-americano, promovessem um golpe militar para a tomada do poder em setembro de 1973.

O regime militar chileno durou até o final da década de 1980, quando, por meio de um plebiscito, Pinochet foi impedido de se reeleger. Foi considerado um dos regimes mais sanguinários da América Latina, seguindo a ideologia da Doutrina da Segurança Nacional, criando uma polícia política, a DINA (Dirección de Inteligencia Nacional). Os números assombram a história do Chile, conforme informações do relatório elaborado pela Comissão Nacional sobre Prisão Política e Tortura do governo chileno: “Durante los 17 años de régimen militar, el más cruento de América Latina, un total de 3.195 personas fueron asesinadas, muchas otras continúan desaparecidas y cerca de 30.000 sufrieron torturas, de acuerdo con un informe de la Comisión Nacional sobre Prisión Política y Tortura”.10

3. Ditadura Militar no Brasil

O regime militar no Brasil durou de 1964 a 1985, sendo governado por cinco generais e uma junta militar ao longo desse período. Assim como nos outros países da América Latina, houve uma grande influência dos EUA, principalmente pelo receio dos setores conservadores da sociedade como a classe média e a Igreja Católica ao avanço do comunismo. Claramente a ideologia da Doutrina da Segurança Nacional estava incrustada no âmbito social brasileiro. Terreno, assim, fértil para a pretensão de legitimação dos militares.

Já em 1961, os militares se manifestaram previamente de forma negativa quando João Goulart assumiu a presidência mediante a renúncia do então presidente Jânio Quadros. Como a imagem de Goulart era vinculada ao comunismo, os setores mais conservadores queriam evitar a sua subida ao poder.

Antes do golpe, o Brasil entrou em crise econômica, agravando ainda mais a situação de Jango (como era chamado João Goulart). Buscou estabelecer controles diretos de preços e apresentou projeto de reforma agrária ao Congresso Nacional, causando mais desconforto das camadas conservadoras. Acabou ficando isolado na política. O ambiente estava favorável para o golpe militar.

10..Disponível em: <http://www.emol.com/noticias/nacional/2010/01/10/393227/bachelet-inaugura-este-lunes-museo-de-la-memoria-por-victimas-de-dictadura.html>. Acesso em: 11 nov. 2012.

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Em 31 de março de 1964, os militares assumem o poder. Em 9 de abril, é decretado o Ato Institucional 1 (AI-1), cujo resumo do conteúdo é: “Modifica a Constituição do Brasil de 1946 quanto à eleição, ao mandato e aos poderes do Presidente da República; confere aos Comandantes-em-chefe das Forças Armadas o poder de suspender direitos políticos e cassar mandatos legislativos, excluída a apreciação judicial desses atos; e dá outras providências”.11

Dessa forma, estava instalada a ditadura. Cassaram-se os mandatos políticos de opositores ao regime militar, retirou-se a estabilidade dos funcionários públicos, enfim, buscavam a legitimação do golpe.

Maria Thereza Rocha de Assis Moura, Marcos Alexandre Coelho Zilli e Fabíola Girão Monteconrado Ghidalevich explicam a relação dos Atos Institucionais com a legitimação: “O movimento de 1964 apresentou-se à nação como defensor da legalidade e do combate ao comunismo. Almejava restaurar a democracia sendo, portanto, temporário. A busca pela legitimação, uma preocupação renitente nos vários governos militares que se sucederam, foi contornada pelo uso dos chamados Atos Institucionais. Eram instrumentos jurídicos fundados na ideia de que o movimento tinha um caráter revolucionário e, como tal, seria expressão do poder constituinte originário tal como a vontade popular o era. A ‘revolução’ e a ‘legitimidade’ por ela invocada estão sintetizados no primeiro de uma série de Atos que se seguiram ao longo do regime militar”.12

A repressão velada foi a marca do regime militar brasileiro. Não se permitia oposição ao governo, pois isso afetaria a própria pretensão de legitimação do governo militar. A repressão variava de moderada para intensa, de aberturas para endurecimentos, justamente por não haver consenso entre os grupos militares.

Com o governo do general Costa e Silva, em 1967, um momento dramático foi instaurado, pois ele fazia parte da linha dura do exército. Rocha de Assis Moura, Coelho Zilli e Monteconrado Ghidalevich lembram um fato importante ocorrido nesse ano: “Em fins de agosto e princípio de setembro, o deputado Marcio Moreira Alves pronunciou uma série de discursos denunciando a brutalidade policial, a tortura de presos políticos, sugerindo, inclusive, que as esposas dos militares boicotassem seus maridos até que a repressão fosse suspensa. As manifestações causaram profunda indignação nas Forças Armadas tendo os três Ministros Militares exigido a sua

11 ..Disponível em: <http://www4.planalto.gov.br/legislacao/legislacao-historica/atos-institucionais>. Acesso em: 11 nov. 2012. 12.. amBoS, Kai; malarino, Ezequiel; elSner, Gisela (Ed.). Op. cit., p. 175.

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