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CAPÍTULO 4 – ANÁLISE DAS INTERVENÇÕES

4.6 Posicionamento e tom discursivos na construção das identidades diplomáticas do Brasil, da

4.6.5 Identidades diplomáticas da Espanha e da França sobre o Haiti em 2015

Na intervenção do representante permanente da Espanha sobre o Haiti em 2015, encontramos vários aspectos que contribuem para a construção de sua identidade diplomática no CSNU. Em primeiro lugar (exemplo 53), o representante espanhol evidencia o acompanhamento da situação do Haiti e explicita o apoio político e financeiro de seu Estado àquele país. Em segundo lugar (exemplo 54), destaca uma diplomacia preventiva em torno do diálogo. Assim, não há uma ordem, mas um pedido para que os atores políticos do Haiti garantam o clima necessário para a reforma política. Em terceiro lugar (exemplo 55), ao apoiar a renovação da MINUSTAH por um ano, o diplomata da Espanha a justifica pelo risco de aumento da criminalidade e da violência em decorrência das eleições. Por fim (exemplo 56), o posicionamento de defesa de uma atuação mais inclusiva e mais transparente do CSNU mostra que, do ponto de vista do enunciador (representante da Espanha), o trabalho do

Conselho não tem sido completamente satisfatório. A disposição de levar em conta os interesses e as opiniões dos Estados em que o órgão atua e, no caso do Haiti, “escutar com atenção” a delegação do país em suas considerações e expectativas sugere que isso não vem sendo feito.

Exemplo 53

• España, está acompañando y ofreciendo apoyo político y financiero a Haití en este proceso – cuatro españoles forman parte de la Misión de Observación Electoral de la OEA a la que hemos contribuido también con recursos financieros.

Exemplo 54

• España ha venido mostrando y continúa apostando por la vía del diálogo como la mejor opción posible para lograr la consolidación de la democracia y avanzar en la institucionalidad del país. Por ello, exhorta a todos los actores políticos del país para que contribuyan de manera generosa y decidida a la creación y mantenimiento de un clima de estabilidad política y social que permita el adecuado desarrollo de los diferentes procesos electorales.

Exemplo 55

• En el contexto electoral, además, no es descartable el aumento de la criminalidad y una escalada de la violencia. Por ello, España apoya la renovación del mandato de MINUSTAH un año más y, como recomienda el Secretario General, manteniendo el actual número de efectivos autorizados que creemos imprescindible para que la Misión pueda desempeñar su mandato.

Exemplo 56

• También defendemos que el Consejo de Seguridad trabaje de la manera más inclusiva y transparente posible, y que sus decisiones tengan siempre en cuenta los intereses y la opinión de los Estados que se ven afectados por ellas. En ese sentido, escucharemos con mucha atención la intervención de la delegación de Haití y sus consideraciones y expectativas acerca de MINUSTAH, así como las aportaciones de los países que contribuyen a esta Misión. ANEXO I

Antes de passar para a análise da identidade diplomática da França em relação à situação do Haiti, ressaltamos a menção feita pelo representante permanente da Espanha à OEA no exemplo 53. Isso porque ele, não se contentando com a ação de expor o apoio político e financeiro de seu país ao Haiti, destaca o modo como esse apoio se dá: pela participação de quatro espanhóis na Missão de Observação Eleitoral da OEA. Nesse caso, faz parte também da identidade diplomática da Espanha a estratégia de colocar em evidência a sua atuação diplomática multilateral em um órgão (OEA) em que a maioria dos membros permanentes são países que têm a língua espanhola como idioma oficial: Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, El Salvador, Guatemala, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana, Uruguai e Venezuela. Aliás, esses foram os dezessete dos vinte e um Estados (juntamente com Brasil, Cuba, Estados

Unidos e Haiti) que se reuniram em Bogotá, em 1948, para a assinatura da Carta da OEA. Esse aspecto reforça, portanto, a nossa hipótese de que poderíamos falar de práticas diplomáticas hispanófonas conforme defendemos em 4.5.

Quanto à intervenção do representante permanente da França no CSNU sobre o Haiti, em 2015, observamos, em um primeiro momento (exemplo 57), as contribuições daquele país no âmbito da ONU e da diplomacia bilateral. Além disso, destaca-se o papel diplomático – e material – do Presidente Hollande. Já no exemplo 58, podemos perceber a visão de liderança da França no CSNU. Não apenas se propõe que esse órgão deve continuar com suas operações de paz no Haiti, mas impõe-se uma espécie de reformulação dos objetivos do Conselho. O convencimento da França de que se deve passar de uma lógica de manutenção da paz para uma lógica de consolidação da paz do Haiti pode ser interpretado como uma necessidade de novos objetivos a ser lançados e alcançados pelo CSNU no referido país:

Exemplo 57

Les difficultés structurelles auxquelles Haïti fait face appellent un engagement soutenu et de long terme de la part de la communauté internationale. La France y prend toute sa part, au travers de ses contributions générales aux opérations, fonds et programmes de l’ONU mais également à titre bilatéral, comme l’a illustré la récente visite du Président de la République à Port-au-Prince en mai dernier. Le Président Hollande lors de cette visite importante a notamment annoncé un engagement à hauteur de 50M€ dans le secteur de l’éducation au cours des 5 prochaines années. Exemplo 58

Il est en effet de notre responsabilité de faire évoluer les moyens déployés sur place pour répondre au mieux aux besoins de ce pays et de sa population. Il en va de la crédibilité de l’action de ce Conseil, mais également de son efficacité. La France est convaincue qu’il est désormais temps de passer d’une logique de maintien de la paix à une logique de consolidation de la paix en Haïti. La sécurité et la stabilisation d’Haïti à long terme repose sur la prise de leur responsabilité par les autorités haïtiennes et du développement durable de l’île. ANEXO J