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3. Métodos e técnicas de investigação

4.5 Discurso sobre a participação no Orçamento Participativo

4.5.5. Importância das lideranças no Orçamento Participativo

As lideranças comunitárias são consideradas importantes no processo do OP por duas razões: a relação com a autarquia e a relação com a comunidade. Os indicadores relacionados com cada uma delas estão expressos na figura seguinte:

Figura 18 - Importância das lideranças comunitárias no OP

A liderança é uma questão fulcral em qualquer processo de mudança e na eficácia do projecto pois é o líder quem mobiliza e incute confiança nos outros (Drucker, 1992). O caso do OP não é excepção. As lideranças locais são reconhecidas pela sua capacidade de mobilização dos cidadãos. São igualmente elas que discutem e representam as comunidades, ampliam a participação, conferem acreditação e validação ao processo; conhecem bem os bairros e comunidades, acompanham todas as obras do OP e constituem a Comforça:

“Seria muito difícil o projecto sem as lideranças. (…) No início do OP nós induzimos as pessoas a participar. Fizemos um trabalho igual ao de um partido político ou sindicato. As primeiras assembleias do OP fomos de casa em casa distribuindo papel e convidando as pessoas. (…) Nós estimulámos também, senão não tinha liderança. “ (Ent.1: poder executivo)

“São importantíssimas, são essas lideranças que ajudam a mobilizar e trazer a comunidade. São esses líderes que colocam a comunidade para discutir o OP, são fundamentais dentro do processo.” (Ent. 5: poder executivo)

“As lideranças são importantes. E a preocupação que a gente tem no movimento popular é tentar fomentar cada vez mais essa participação e criar novas lideranças. Agora têm aparecido novas lideranças porque eles passam a ver que aquilo é uma escola de cidadania.” (Ent. 10: poder legislativo)

“São muito importantes porque eles acabam tendo um papel de acreditação do processo, de fazer validar esse processo, de mobilizar e impulsionar as pessoas, nesse sentido eles têm um papel grande.” (Ent. 8: poder legislativo)

Os técnicos reconhecem que o trabalho de mobilizar as populações é fundamentalmente das lideranças, a prefeitura apesar de no início do OP ter

Lideranças

Relação autarquia: - Conhecem bem bairros e comunidades: colaboram com técnicos - ConstituemComissão acompanhamento do OP - Acompanham todas as obras do OP Relação comunidade: - Mobilizam comunidade a participar - Discutem e representam ascomunidades - Ampliam a participação

trabalhado nessa mobilização actualmente já não faz esse trabalho. Isto significa que o projecto já tem uma importante integração nas comunidades locais.

Contam com os líderes carismáticos, reconhecidos pela sua capacidade de coesão social, com um papel importante na resolução de problemas e mediação entre posições divergentes (Alberoni, 1999). Alguns são líderes militantes, outras lideranças vão-se formando pela experiência do trabalho na comunidade e participação no OP.

É da capacidade de mobilização e credibilidade junto das pessoas que o líder consegue trazer pessoas para o OP e com isso ter uma maior votação para as obras na sua comunidade:

“As lideranças locais são muito importantes, porque eles é que fazem a mobilização mesmo. Esse movimento de ir até a casa de chamar para a reunião a gente não faz. Nós montamos e divulgamos a reunião. Quem vai e explica a importância de estar indo e de estar votando, realmente são as lideranças comunitárias.” (Ent. 21: técnico da prefeitura)

“Tem lideranças que são lideranças natas que têm autoridade na forma como se colocam, são pessoas inteligentes, embora não tenham uma formação escolar formal mas não é isso que as impede de se manifestarem e de se expressarem. Existem outras que acumularam tanta experiência que se transformaram em referências para eles. Existem aquelas pessoas que são militantes, defendem determinadas posturas. Tem outros que são da prefeitura, trabalham na saúde ou num conselho tutelar, ou trabalham nas regionais, são pessoas que alem de politizadas trabalham para o governo. Então você tem vários perfis que interferem na articulação comunidade/governo.” (Ent. 20: técnico da prefeitura)

“São elas que mobilizam pela sua credibilidade para a participação, porque sem participação não tem jeito de aprovar obra, é muito na base da democracia representativa, você tem uma liderança que representa um todo. Mas no OP tem um particular, ela representa um todo mas tem de trazer esse todo junto com ela para participar porque se vier sozinha ela não leva.” (Ent. 18: técnico da prefeitura)

“Sim, são elas na verdade que apontam para a participação. São elas que vão lá e discutem com a sua comunidade, conseguem sensibilizar outras pessoas. E a liderança comunitária tem de ter um feeling, não é qualquer um que é líder, a gente percebe que ele tem capacidade de aglutinar pessoas em torno dele. Ela é importante porque tem credibilidade lá na sua comunidade. Por exemplo, você tem favelas em BH que não entra, mas se tiver com a liderança do lado, entra.” (Ent. 17: técnico da prefeitura)

“Sem as lideranças eu acho que o processo ficaria comprometido, as lideranças são pessoas extraordinárias e uma peça fundamental no processo. (…) O OP não só deu voz e luz aquelas liderançaslatentes como vem incentivando e fazendo nascer novas lideranças. As lideranças comunitárias vivem da existência de programas e o OP foi um canal que potencializa esse fenómeno.” (Ent. 2: poder executivo)

“Sim as lideranças têm um papel muito importante na mobilização das pessoas, no acompanhamento de todo o processo do OP. Os partidos podem participar mas a

aprovação das obras não depende dos partidos, depende mais da liderança em si, do perfil dela, do carácter dela, da sua credibilidade.” (Ent. 24: liderança local)

“É muito importante o papel das lideranças, nós nunca podemos abrir mão desse nosso papel de mobilizar as comunidades e também temos que trabalhar o OP para que ele cresça nas vilas e favelas.” (Ent. 29: liderança local)

É igualmente o conhecimento dos bairros e das suas comunidades que permite aos líderes terem a possibilidade de representar os interesses efectivos daquelas localidades. O trabalho de Faria (1996) revela dados que referem que as lideranças se organizam para disputar as obras necessárias e afirmam que aprenderam a negociar para conquistar as obras. Igualmente o OP contribuiu para conhecer melhor os problemas da sua região.

Apesar de no geral os líderes terem pouca escolaridade12, eles têm o conhecimento dos dados e factos de quem vive os problemas quotidianos da região:

“São muito importantes, são fundamentais, porque eles conhecem muito bem os bairros e comunidades. São eles que vão ser votados para acompanhar todas as obras realizadas no OP nas suas regiões. (…) Uma democracia directa com muita gente é difícil. Então, essa representação das lideranças é muito forte. E as lideranças apesar de às vezes terem pouca escolaridade, eles têm o argumento muito forte em cima de dados e factos. Então, aquela realidade do local, do território ele trás para você.” (Ent. 2: poder executivo)

“A importância que eles têm, é estar identificando qual é a necessidade do bairro, destacando as prioridades, chamando a comunidade para analisar o que é que de facto eles vão entrar pedindo. É unificar uma proposta, eles não podem vir com dois empreendimentos para disputa, eles têm que trabalhar com aquela comunidade para dialogar entre eles e destacar uma.” (Ent. 5: poder executivo)

Apesar de as lideranças serem consideradas importantes, não se deve perder de vista ampliar a participação, para não ficar “refém” das lideranças. Há igualmente que garantir que elas efectivamente representem os interesses das comunidades que as elegeram como representantes para votação e acompanhamento das obras. É transmitida a preocupação de ampliar a participação e assegurar uma rotatividade das lideranças:

“As lideranças locais são importantes mas lembrando sempre que é importante sempre ampliar a participação. Também não podemos ficar reféns dessas lideranças locais porque senão você está garantido que o OP continue investindo independente do partido que está no poder mas passa essa dependência para as lideranças locais. Então a partir do

12

A investigação de Faria (2006), utilizando um inquérito por questionário a cerca de 50 lideranças de

duas regionais de Belo Horizonte obtêm como resultados de caracterização social: sexo: masculino - 72,9%; feminino - 27,1%; idades: 18-35 – 21,6%; 36-55 - 67,3%; mais de 55 – 10,8%; escolaridade: analfabeto e semi-analfabeto - 16,9%; 1º grau incompleto - 40,4%; 1º grau completo:14,8%; 2º grau incompleto – 10,6%; 2º grau completo – 10,6% e superior – 6,3%.

momento em que essas lideranças locais não estiverem ali por algum motivo o OP também é destituído. O que eu estou querendo dizer é que é um processo contínuo, as lideranças têm de ser substituídas por outras, outras pessoas têm de saber da importância da sua participação, eu acho que tem de ser um processo muito amplo e que envolva vários segmentos da sociedade.” (Ent 3: poder executivo)

Para além dos líderes do OP, existem pessoas que estão ligados a partidos e outras organizações que também mobilizam a população para participar, assim como alguns vereadores têm uma influência grande na mobilização de determinadas comunidades. Há igualmente líderes que pertencem a partidos políticos.

Uma crítica que é feita é a falta de renovação de líderes aparecendo quase sempre os mesmos há muitos anos. No entanto, reconhece-se que isso não é um problema só do OP mas sim um problema geral quer ao nível associativo quer partidário.

“Sim, há muitas que estão em consonância com os vereadores, existe relação com os partidos. Agora, o OP não promove isso é uma dinâmica da sociedade e da cultura política local e da estrutura brasileira no geral. O OP não consegue evitar, não promove mas não evita.” (Ent 7: poder executivo)

“O trabalho de mobilizar é feito pelas lideranças, associações, igreja e alguns partidos e políticos. Os vereadores através dos seus gabinetes também se mobilizam para levar a comunidade a participar e a votar.” (Ent. 27: liderança local)

“A crítica que eu tenho é a falta de renovação das lideranças. Mesmo com toda essa mobilização e participação não se conseguiu fazer uma renovação. (…) Mas como é que nós vamos cobrar uma renovação se o mundo não está vivendo isso.” (Ent.18: técnico da prefeitura)

Acresce ao seu papel de mobilização das comunidades a responsabilidade de as lideranças acompanharem todo o desenvolvimento do OP e fiscalizarem as obras a ele ligadas. O OP contribuiu para as lideranças aprenderem a discutir com a administração municipal os problemas do seu bairro (Faria, 1996:112).

São as lideranças que formam a Comforça, organização que com já se referiu tem como função principal fazer este acompanhamento e a interacção com a prefeitura:

“São as lideranças que formam a Comforça. Quase sempre os representantes da Comforça são líderes locais e eles são fundamentais para a mobilização, são eles que mobilizam a população dos bairros para a defesa de determinadas obras. Como líderes locais eles sabem as necessidades, sabem as motivações, sabem a história do lugar. Se eu fosse num bairro, que não conhecesse a história, e me contassem lá o problema de uma rua eu não saberia opinar. Agora, a liderança local sabe a verdade e eles conduzem isso muito bem, levam as pessoas a participar.” (Ent. 15: técnico da prefeitura)

“E os delegados da Comforça para além da participação nessas plenárias finais, eles são uns fiscalizadores das obras do OP. Assim que o OP é aprovado ele tem dois anos para executar a obra, e aí nesses dois anos os delegados do Comforça estão sempre se reunindo, vendo como está o projecto, vendo como está a licitação.” (Ent.18: poder legislativo)