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Poder Executivo e sociedade civil: partilha do poder de decisão nas políticas

3. Estrutura da tese

3.2. Poder político e participação no Orçamento Participativo

3.2.1. Poder Executivo e sociedade civil: partilha do poder de decisão nas políticas

Políticas públicas e orçamento

A política pública pode definir-se como a soma das actividades dos governos, que agem directamente ou através de delegação, e que influenciam a vida dos cidadãos (Souza, 2001).

No fundo, pode-se sintetizar a definição de política pública como “o que o governo escolhe fazer ou não fazer”. Outras definições enfatizam o papel da política pública na solução de problemas. Essas definições deixam de lado o seu aspecto conflituoso e os limites que cercam as decisões governamentais. Deixam também de fora possibilidades de cooperação que podem ocorrer entre os governos e outras instituições. No entanto, definições de políticas públicas, guiam o nosso olhar para os interesses/ideias dos governos.

Análises sobre políticas públicas e orçamentos públicos implicam responder à questão sobre o espaço que cabe as Estado nas decisões sobre esses dois processos. Souza (2001) realça a teoria da escolha racional porque trás contribuições ao questionar dois mitos. O primeiro é o de que interesses individuais geram acção colectiva. O segundo é o de que a acção colectiva produz necessariamente bens colectivos. Definições sobre políticas públicas e alocação de recursos são, em democracia, questões de acção colectiva e de distribuição de bens colectivos.

O papel da participação na alocação de recursos

Quando a participação dos cidadãos é alta, existe uma pressão maior sobre a administração para repassar recursos para o OP. Se a participação é alta, a transparência e o controle social serão mais facilmente realizados porque existem

mais activistas e participantes interessados nos resultados. O apoio da administração ao novo programa participativo não é suficiente se os cidadãos e activistas não tomarem a iniciativa de participar.

No entanto, é necessário ter um olhar cauteloso acerca das promessas e expectativas que a introdução da participação da sociedade civil nos processos de gestão pública sugere. Elemento central é a ideia que a participação dos actores não garante, por si própria a reversão de uma lógica de poder em direcção ao aprofundamento da democracia. Há que qualificar essa participação e apurar os elementos constitutivos de uma efectiva reformulação nos mecanismos de decisão.

Como já se referiu anteriormente, há igualmente que considerar os factores impeditivos dos processos participativos que envolvem questões de natureza política, económica, social e cultural.

OP: partilha de poder entre Estado e sociedade civil

Luchmann (2002) avança a hipótese de o OP se constituir como uma aposta de uma efectiva partilha de poder entre o Estado e a sociedade civil na formulação e decisão do interesse público. Nesta perspectiva, não cabe à sociedade civil ser mera executora das acções políticas do Estado, pois há o pressuposto de partilha de poder e responsabilidade entre ambos através de um processo onde seja possível a construção colectiva de regras em todos os níveis: elaboração, implementação e controle das acções. O OP pode constituir-se como um exemplo, em muitos dos governos que o implementam, desta efectiva partilha de poder entre Estado e sociedade em relação às políticas públicas de investimento. Ainda que este investimento se traduza em grande parte em obras locais. As instituições ao mesmo tempo contêm e criam poder. O OP produz efeitos democratizantes nas políticas locais? Ele representa um modo real de tomada de decisão que permite a deliberação e a negociação?

Como se referiu, a problemática no debate sobre as políticas públicas e a sociedade civil privilegia as formas de participação nos processos de produção de uma legitimidade pública do poder político.

A capacidade de influência dos cidadãos sobre os governantes pode ser verificada através da resposta a duas questões: a primeira trata de verificar o grau de efectividade da participação, ou seja, até que ponto reivindicações populares são transformadas em políticas públicas; a segunda questão dedica-se a apreender as

opiniões e reacções dos representantes ao processo de participação, isto é, como esses representantes encaram e lidam com a interferência externa sobre os seus mandatos.

A eficácia da participação como factor de incentivo

Quanto mais as pessoas conseguem através da sua participação verificar resultados efectivos traduzidos em políticas mais participam. De facto, argumenta-se algumas vezes que os altos níveis de não participação reflectem uma avaliação racional de muitas pessoas de que a participação é perda de tempo. Os níveis reais de satisfação expressos por aqueles que participam são no mínimo potencialmente relevantes para decisões futuras de participação e para a viabilidade de uma democracia mais participativa” (Parry, Moyser, 1992, citado por Dias, 2002)

É esta eficácia que constituí um incentivo à participação. O argumento parte de uma perspectiva racional, a partir da qual o cidadão avalia os custos e benefícios da sua acção na esfera pública a fim de decidir se deve continuar a participar; isto irá ocorrer se os benefícios adquiridos forem superiores, ou seja, compensarem os custos – tempo e energias gastos – da sua participação.

A incorporação de reivindicações populares nos processos decisórios da esfera pública não é apenas um compromisso moral com a representação do tipo democrático, mas uma crença nos valores políticos associados à participação.

Entretanto, existem actores políticos que, embora partilhem da maioria dos valores democráticos, não acreditam que os mecanismos de participação são os mais eficazes na consecução de objectivos políticos. Para estes a participação do cidadão comum na política é bem-vinda apenas numa parcela restrita de actuação. O argumento fundamental é que os cidadãos no geral são mal informados com relação aos procedimentos políticos e muito vinculados aos seus interesses imediatos; quando participam são motivados por interesses públicos quase privados: habitação, saneamento que chega ás suas casas; a iluminação e o asfalto das ruas onde moram, etc. A visão política limitada daí resultante, nunca seria capaz de tomar resoluções qualificadas acerca de questões mais gerais ou que exigissem um maior conhecimento técnico (Dias, 2002).

Conclui-se que só quando os representados conseguem de facto influenciar a agenda política é que a ideia de participação deixa de ser mero instrumento de pressão dos governados para transformar-se em mecanismo de poder.