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Processo de definição e execução das obras: rodadas, caravana e fórum

3. Métodos e técnicas de investigação

4.4. Metodologia do Orçamento Participativo

4.4.2. Processo de definição e execução das obras: rodadas, caravana e fórum

4.4.2. Processo de definição e execução das obras: rodadas, caravana e fórum regional

Como se referiu anteriormente e se pretende agora detalhar, o OP de Belo Horizonte segue um conjunto de etapas que são repetidas de dois em dois anos e começam com a abertura municipal. Esta etapa é onde a autarquia com a presença do Prefeito convida toda a cidade para a abertura dos trabalhos, tornando público o valor orçamentário a ser disponibilizado para toda a rodada do OP. É um momento essencialmente simbólico que visa iniciar mais um processo do ciclo do OP.

Figura 9: Fluxograma - Definição e execução das obras do OP

Quadro 17 – Etapas do OP em Belo Horizonte

Etapas Participantes Actividades Tipo de Participa

ção

1ª rodada (assembleia regional)

Moradores das sub-regiões. Representantes de associações comunitárias e entidades organizadas. Secretário de coordenação de gestão regional e equipa da prefeitura

Esclarecimento sobre o orçamento municipal.

Prestação de contas dos OPs anteriores.

Apresentação do montante de recursos para investimento na região. Apresentação das directrizes gerais. Distribuição do formulário para levantamento e descrição das prioridades.

Directa

Reuniões nos bairros Moradores e representantes de associações e entidades organizadas.

Secretário de coordenação da gestão regional quando solicitado.

Definir o empreendimento a ser reivindicado.

Directa

2ª rodada(assembleia sub-regional

Moradores das sub-regiões. Representantes de associações comunitárias e entidades organizadas. Secretário de coordenação da gestão regional e e equipa da prefeitura. Pré-selecção de 25 empreendimentos por região.

Eleição dos representantes para o Fórum Regional de Prioridades Orçamentárias.

Directa

Estimativas de custos Técnicos da Urbel e da Sudecap.

Representantes dos moradores.

Vistoria de cada empreendimento solicitado e estimativa de custos.

Indirecta Caravana de prioridades Representantes eleitos na 2ª rodada. Secretário de coordenação da gestão regional e equipa da prefeitura.

Visita a todos os locais com solicitação de obras.

Indirecta

Fórum Regional Secretário de coordenação da gestão regional e equipa da prefeitura.

Representantes eleitos na 2ª rodada para o fórum regional.

Discussão e aprovação do Plano regional de obras – 14 empreendimentos por região. Eleição da CONFORÇA

Indirecta

Encontro municipal Prefeito municipal e equipa do governo.

Representantes que participaram do OP.

Entrega ao Prefeito dos Planos Regionais de Obras.

Indirecta

Rodadas do OP

O número de participantes por rodada consta do quadro seguinte:

Quadro 18 - Participação por rodadas no Orçamento Participativo de 2003 a 2008

2003/2004 2005/2006 2007/2008 1ª rodada – presenças 5.903 5.354 4.189 2ª rodada – presenças 22.221 28.337 25.230 Delegados eleitos para o Fórum 2.018 1.961 2.115 Fórum regional – Delegados presentes 1.655 1.500 1.724 Fórum regional – Delegados eleitos para a Comforça

298 364 331

Fonte: adaptado Plano Regional de empreendimentos OP 2003/2004; 2005/2006; 2007/2008

Pode-se observar que é na segunda rodada que participam mais pessoas. Este facto, pode ser explicado por ser neste momento que se seleccionam os empreendimentos e elegem os delegados para participar na caravana e fórum onde vão ser votadas as obras que vão ser efectivamente concretizadas. Como o número de participantes condiciona o número de delegados as comunidades motivam-se mais para participar porque sabem que da sua participação pode depender a “conquista” de obras.

De facto, a primeira rodada, de carácter Regional, tem um carácter informativo e operacional na medida em que é o momento onde se distribuem os formulários para a escolha das obras. Da observação realizada, constatou-se que é uma etapa “pacífica” por parte das comunidades, onde quem lidera o processo é a prefeitura. Apresentamos, em seguida foto do encontro da primeira rodada da regional de Venda Nova:

Figura 10: Foto 9 – Primeira rodada do OP da regional de Venda Nova

Antes da segunda rodada, existe a discussão nos bairros das obras a apresentar, tendo aqui as lideranças comunitárias um papel fundamental. A prefeitura só intervém se for solicitada. Neste período, são preenchidos os formulários e entregues aos serviços técnicos da prefeitura para que estes possam verificar se as propostas estão de acordo com as directrizes.

Ao mesmo tempo, através dos órgãos executores de obras da Prefeitura, Sudecap – Superintendência de Desenvolvimento da Capital e Urbel – Companhia Urbanizadora de BH, é feita a vistoria e o levantamento do custo estimado das propostas.

A segunda rodada é a mais participativa, pelos motivos já apontados. É nesta fase que se seleccionam os 25 empreendimentos por região e se elegem os representantes para o Fórum regional de prioridades orçamentárias. Apesar da presença da equipa técnica da Prefeitura, a coordenação nesta fase é sobretudo das lideranças comunitárias que trazem as propostas que discutiram nos bairros para serem aprovadas. Assim, a partir das indicações contidas nos formulários distribuídos na segunda rodada, os participantes debatem sobre as áreas e os investimentos propostos. Escolhem 3 áreas de interesse social e três investimentos por área e por sub-região.

Caravana de prioridades

Segue-se, a caravana das prioridades, onde os delegados vão visitar os locais onde se propõem realizar obras e argumentam sobre a necessidade da sua realização face aos problemas vivenciados por aquelas comunidades.

Figura 11: Foto 10 - Delegados eleitos da regional de Venda Nova participando da caravana das prioridades do OP

O objectivo da caravana de prioridades é adquirir uma visão mais ampla das propostas e necessidades de cada região e obter mais informação para votar nas obras no fórum regional. Neste momento, é comum a prática da discussão e da negociação das obras a partir da visão do conjunto de propostas. A visualização das várias necessidades ajuda a definir as prioridades. Por exemplo, a visualização de esgoto a “céu aberto”, prejudicial à saúde pública, facilita a defesa dessa obra pelo delegado e muito provável o apoio dos outros delegados à votação nesse empreendimento.

Figura 12: Foto 11 - Visita a uma das possíveis obras a realizar no OP 2009/2010: problema esgoto a “céu aberto”

Foto: Cristina Granado

A argumentação do delegado, que defendeu esta obra, sintetiza-se no seguinte discurso: “Gostaria que vocês colaborassem na votação desta obra, dado que há alguns anos que tentamos realizar esta obra mas como a comunidade tem poucos moradores e idosos não tem conseguido mobilizar para passar no OP. O grande problema, para além do esgoto, é que quando há chuva provoca enchentes e sofremos muito com a inundação do esgoto. Em contrapartida do vosso apoio, nós oferecemos a ajuda da nossa comunidade, para apoiar obras das vossas comunidades” (delegado do OP que expõe a defesa da obra, Novembro de 2009)

Fórum Regional

Depois da caravana de prioridades e percorridas as 25 obras propostas para aquela regional realiza-se o fórum regional de prioridades orçamentárias. Esta é a penúltima fase do processo do OP. É neste momento que se discute e aprova o plano regional de obras (cerca de 14).

Figura 13: Foto 12 - Fórum da Regional de Venda Nova de prioridades orçamentárias

Fotos: Cristina Granado

Nesta fase, os delegados eleitos das diversas sub-regiões, já têm realizado “acordos” no sentido de conseguirem o apoio das outras sub-regiões para as “suas obras”. Pode-se observar, que é mais um momento de troca de informação, votação efectiva das obras a realizar e dos membros que farão parte da Comforça. É igualmente, a altura para alguns “desabafos”:

“No OP uns saem rindo outros chorando. Porque no OP acontece o seguinte: a vila que mais se mobiliza, a liderança que tem mais articulação com as outras lideranças sempre passa a obra. Além disso, a liderança que entra em conflito, em briga, ela fica de fora. Nós, já é o 3º orçamento que estamos a tentar que esta obra passe. Desta vez como conseguimos um aumento de verba, conseguimos” (delegado OP – Venda Nova)

“A obra do “João” passou, houve gente que abdicou da sua obra para apoiar a dele” (delegado OP – Venda Nova).

“Houve vários acordos aqui. Nós acordámos com a UMEI de Piratininga. Mas no fundo foi bom. O nosso bairro nunca se uniu para obras, desta vez uniu-se e por isso nós ganhámos” (delegado OP – Venda Nova).

“Vocês mesmo fizeram a caminhada da caravana connosco e viram córregos a céu aberto, casas enchendo com as enchentes, becos que não passa nem uma cadeira de rodas e lá as pessoas não tiveram condições de aprovar muitas das suas obras. Parece que as obras este ano ficaram mais voltadas para a educação, UMEI, que já é obrigação do governo. Eu acho que o recurso do OP como é muito reduzido devia ser para as infra-estruturas básicas, a saúde e educação já são obrigação do governo” (delegado – Venda Nova).

O encontro municipal de prioridades orçamentárias é o último evento do processo. Conta com a participação dos representantes dos fóruns regionais, de diversas entidades da sociedade, dos vereadores, prefeito e a sua equipa. No encontro

municipal, a população entrega formalmente ao prefeito a relação das obras aprovadas. O prefeito assume perante a comunidade o compromisso de as cumprir.