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3. Estrutura da tese

1.2. Poder político, legitimidade e participação

1.2.1. Poder político: a vertente ideológica na implementação de políticas de

O Orçamento Participativo como política de participação cuja iniciativa é do governo está dependente da posição ideológica dos governantes e partidos políticos que representam sobre a vontade de o implementar.

A política pode ser definida como a direcção ou a influência sobre a direcção de um Estado. Ela está relacionada com o esforço de pessoas ou grupos para participar no poder (Weber, 2005). Neste sentido, uma decisão política depende directamente da vertente ideológica, dos interesses de distribuição, de conservação ou de transferência do poder que os governantes, normalmente vinculados a partidos políticos, têm.

Seguindo a linha de pensamento de Weber, define-se o poder do Estado como a relação particular de poder de homens sobre homens, sendo este poder um meio de violência legítima, que para subsistir necessita que os governados acatem a autoridade dos que governam.

Weber, propõe a tripartição do poder (poder “tradicional”; poder “legal” e o poder “carismático”) que, em cada uma das suas formas, exibe ou impõe diferentes justificações internas e fundamentos de legitimidade e suscita, nos súbditos, uma aceitação baseada em motivos de temor e de esperança.

Neste sentido, e nas relações governantes e governados, o poder relaciona-se com o conceito de legitimidade. Atendendo a que democracia significa em si: que não existe nenhuma desigualdade formal dos direitos políticos entre as classes singulares da população. Esta igualdade formal não anula as desigualdades sociais e o acesso ao poder do Estado não é igual para todos os cidadãos. Tanto na teoria de Marx como de Weber podemos concluir sobre esta exclusão apesar de os indicadores serem diferentes. Na teoria de Marx, o Estado é o instrumento através do qual a classe dirigente domina as outras classes, as classes oprimidas (Olson, 1998). Para Weber a questão económica não é preponderante no exercício do poder através do Estado, mas sim a “capacidade” que os eleitos têm para governar.

Em 1895, Weber escrevia que “o que está em causa não é a posição económica dos governados, mas antes as qualificações políticas das classes governantes em ascensão, uma questão básica do poder político e social” (Giddens, 1998:19). O que estava em discussão era a necessidade da existência de uma consciência política para governar.

Weber rejeitava a concepção da democracia “directa”, na qual o povo participaria na tomada de decisão; isto poderia ser possível em pequenas comunidades, mas era desadequado para a governação de uma nação. Nos Estados modernos a liderança deveria ser prerrogativa de uma minoria. A ideia de que qualquer forma de democracia poderia destruir a “dominação do homem pelo homem” era uma utopia. O desenvolvimento do governo democrático dependia do desenvolvimento da organização burocrática.

Segundo Weber a relação entre democracia e burocracia dera origem a uma das tensões mais profundas na moderna ordem social. O crescimento das disposições legais à implementação de procedimentos democráticos dependia da criação de uma nova forma de monopólio (o controlo crescente do oficialismo burocrático). Este facto implicava a subordinação da população a um aparelho de Estado burocratizado. A existência de partidos em grande escala, eles próprios “máquinas” burocráticas, era uma das características da moderna ordem democrática. Mas se estes partidos fossem dirigidos por líderes com perícia e iniciativa, a dominação da burocracia podia ser evitada. A maior ameaça era a possibilidade de uma “dominação burocrática incontrolável”. O principal meio através do qual isto poderia ser evitado implicava o desenvolvimento da democracia representativa: “é uma questão de escolha: democracia de liderança com a “máquina”, ou a democracia sem liderança – isto é, dominação dos “políticos profissionais” sem vocação e sem as qualidades carismáticas que, por si só, definem o líder” (Weber, 2005:13).

Durkheim, na mesma linha de Weber, tinha como preocupação não a “ordem” em sentido genérico, mas a questão da forma de autoridade apropriada ao desenvolvimento do Estado moderno.

Parsons avançou a ideia segundo a qual o poder podia ser “criado” pelo sistema social da mesma forma que a riqueza era gerada pela actividade produtiva da economia. O poder tinha relativamente ao governo (subsistema da consecução de objectivos), uma função correspondente à que o dinheiro tinha na economia

(subsistema adaptável). O “valor” do dinheiro em si advém do facto de ser reconhecido e aceite por todos como um meio padronizado de troca.

Parsons considerava que o poder era um “meio de circulação” gerado, em primeiro lugar, no subsistema político à semelhança do que acontecia com o dinheiro na economia. O poder define-se então como a “capacidade generalizada de conseguir que as unidades pertencentes a um sistema de organização colectiva cumpram as suas obrigações quando estas são legitimadas pelo seu contributo para fins colectivos” (Giddens, 1998:175). Para Parsons o poder derivava, então, directamente da autoridade: a autoridade era a legitimação institucionalizada que fundamentava o poder e era definida como o direito institucionalizado que os líderes têm em esperar o apoio dos membros da colectividade.

Giddens (1998) aponta como crítica à concepção de poder de Parsons o facto de este o tratar apenas como poder legítimo, partindo do pressuposto que existe algum consenso entre os detentores de poder e aqueles a ele subordinados, ignorando o carácter hierárquico do poder e as divisões de interesses originadas em sua consequência.

Se o uso do poder assenta no “crédito” ou “confiança”, como Parsons sublinhou, também assenta com frequência no engano e na hipocrisia. Na realidade, isto aplica-se a toda a vida social; toda a acção social estável, exceptuando uma situação de guerra total, depende da “confiança” provisória – o que torna possível a existência de muitos tipos de rejeição dessa “confiança”. O “engano” e a “desconfiança” apenas têm significado quando contrapostos ao “crédito” e à “confiança”: as primeiras como as últimas estão presentes em toda a vida social dado que as pessoas têm desejos ou valores exclusivos a cada um e existem “recursos insuficientes”, quaisquer que eles sejam. Ter poder é, potencialmente, ter acesso a recursos escassos e, por conseguinte, o poder em si torna-se um recurso raro (Giddens, 1998).

“Parsons evitou lidar com tais problemas em grande parte devido a um artifício de definição, ao considerar unicamente como “poder” o uso de decisões autoritárias para alcançar “objectivos colectivos”. Dois factos óbvios foram escamoteados: o primeiro, que as decisões autoritárias servem muitas vezes interesses sectoriais; e, o segundo, que os conflitos mais profundos da sociedade provêm de lutas pelo poder – ou, pelo menos, como fenómenos relacionados com o “poder” (Giddens, 1998:181).

Na perspectiva de Giddens, Parsons ignorou que as “metas” colectivas, ou mesmo os valores a elas inerentes, pudessem resultar de uma “ordem negociada”, assente em conflitos entre as partes que exibem poderes diferenciais, uma vez que o “poder” de Parsons assumia a existência prévia de objectivos colectivos.