2. A CONSTITUIÇÃO NA TEORIA DOS SISTEMAS CONSTITUCIONALIZAÇÃO
2.4. LIMITAÇÕES CONSTITUCIONAIS AO PODER DE TRIBUTAR
2.4.7. Limitações constitucionais negativas: as imunidades tributárias
2.4.7.2. Espécies de imunidade
2.4.7.2.5. Imunidade de fonogramas e videofonogramas musicais
A imunidade mais recentemente prevista no texto da CF/88, incluída por intermédio da EC n.º
75/2013, que acresceu a alínea “e” ao inciso VI do art. 150, de modo a proteger “fonogramas
e videofonogramas musicais produzidos no Brasil” que contenham obras musicais ou
literomusicais de autores brasileiros, ou obras interpretadas por artistas brasileiros, bem como
os suportes materiais ou arquivos digitais que os contenham, salvo na etapa de replicação
industrial de mídias ópticas de leitura a laser.
Trata-se, outrossim, de imunidade objetiva, construída sob a mesma lógica da imunidade
instituída sobre livros, jornais e periódicos: refere-se aos referidos objetos na atividade de
produção e de circulação (IPI e ICMS).
O bem jurídico protegido por essa imunidade refere-se a liberdade de produção cultural
musical brasileira materializada em fonogramas e videofonogramas musicais produzidos no
Brasil; liberdade de expressão artística brasileira e aqui produzida. Exclui, pois, de logo,
produtos importados dessa natureza, ainda que de autores brasileiros, interpretando obras
brasileiras ou não.
Tem por objetivo, pois, (a) facilitar o exercício da liberdade de expressão artística; (b)
fomentar a cultura artística-musical nacional, torando-a mais acessível a uma porção maior da
população nacional; (c) combater a contrafação de mídias como CDs e DVDs
447.
A CF/88 determina a proteção da cultura brasileira em diversos dispositivos, destacando-se o
art. 23, incisos III, IV e V, e arts. 215 a 216-A (sendo que este último foi introduzido pela EC
71/2012); por essa razão, a norma de imunidade fecha em obras musicais ou literomusicais de
autores brasileiros e/ou obras em geral interpretadas por artistas brasileiros.
INTELIGÊNCIA. A imunidade tributária relativa a livros, jornais e periódicos é ampla, total, apanhando produto, maquinário e insumos. A referência, no preceito, a papel é exemplificativa e não exaustiva.
(RE 202149, Relator(a): Min. MENEZES DIREITO, Relator(a) p/ Acórdão: Min. MARCO AURÉLIO, Primeira Turma, julgado em 26/04/2011, DJe-195 DIVULG 10-10-2011 PUBLIC 11-10-2011 EMENT VOL- 02605-01 PP-00101 RTJ VOL-00220- PP-00510 RDDT n. 198, 2012, p. 194-199)
447 Cf. WASSERMAN, Rafhael. “Notas sobre a imunidade musical: liberdade de expressão artística e cultural nacional”. In. Tributação: democracia e liberdade: em homenagem à Ministra Denise Arruda Martins. Ariane Bini de Oliveira, Nayara Tataren Sepulcri e Smith Barreni (organizadores). São Paulo: Noeses, 2014, p. 853.
Visa tanto evitar perseguições de gêneros musicais, como desonerar tributariamente tais
produtos a fim de que o preço final reste reduzido, viabilizando o acesso a eles pelas classes
menos favorecidas e, também, fazendo parte de uma política nacional de combate aos
produtos contrafeitos, que violam às escâncaras os direitos do autor (art. 5.º, incisos XXVII e
XXVIII
448).
Excluiu da imunidade, contudo, a etapa de replicação industrial de mídias ópticas de leitura a
laser (CD, DVD e Blu-Rays
449). Considerando o valor jurídico que visa a ser protegido por
intermédio da imunidade, não se encontra uma justificativa razoável para a exceção da
imunidade nesta etapa de produção que, de rigor, pode significar etapa de maior custo,
inclusive o tributário
450.
A fim de evitar discussões similares às estabelecidas em torno da imunidade de livros,
periódicos e jornais, ao se introduzir essa nova figura de imunidade, teve-se a preocupação de
deixar claro que esta se estende a os suportes materiais ou arquivos digitais que os contenham.
Com o fim de melhor proporcionar uma intepretação teleológica, não se especificou o tipo de
suporte que contenha o fonograma e videofonograma musical produzido no Brasil
451.
A introdução dessa imunidade veio a consagrar no texto constitucional um proteção quanto à
tributação desse tipo de produção cultural (musical), resultado de um movimento de pressão
448 “XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publicação ou reprodução de suas obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar;
XXVIII - são assegurados, nos termos da lei:
a) a proteção às participações individuais em obras coletivas e à reprodução da imagem e voz humanas, inclusive nas atividades desportivas;
b) o direito de fiscalização do aproveitamento econômico das obras que criarem ou de que participarem aos criadores, aos intérpretes e às respectivas representações sindicais e associativas;”.
449 Rafhael Wasserman defende que, com a redação conferida ao dispositivo constitucional, a replicação de arquivos gravados em outros suportes – a exemplo de pen-drives – estariam no ambito da “exceção da exceção” da norma de imunidade; vale dizer, estaria protegido pela imunidade a reprodução feita em outros suportes (cf. “Notas sobre a imunidade musical: liberdade de expressão artística e cultural nacional”. In. Tributação:
democracia e liberdade: em homenagem à Ministra Denise Arruda Martins. Ariane Bini de Oliveira, Nayara
Tataren Sepulcri e Smith Barreni (organizadores). São Paulo: Noeses, 2014, p. 859).
450 A eventual circunstância de grande parte das indústrias que desempenham este mister já estar situada na Zona Franca de Manaus (que já dispõe de benefícios fiscais) não se constitui justificativa para estabelecer-se a exceção.
451 Para uma noção inical sobre a novel espécie de imunidade, WASSERMAN, Rafhael. “Notas sobre a imunidade musical: liberdade de expressão artística e cultural nacional”. In. Tributação: democracia e
liberdade: em homenagem à Ministra Denise Arruda Martins. Ariane Bini de Oliveira, Nayara Tataren Sepulcri
e Smith Barreni (organizadores). São Paulo: Noeses, 2014, p. 845-862. SABBAG, Eduardo de Moraes. “Imunidade tributária musical e liberdade de expressão artística”. In. Tributação: democracia e liberdade: em
homenagem à Ministra Denise Arruda Martins. Ariane Bini de Oliveira, Nayara Tataren Sepulcri e Smith