• Nenhum resultado encontrado

2. A CONSTITUIÇÃO NA TEORIA DOS SISTEMAS CONSTITUCIONALIZAÇÃO

2.4. LIMITAÇÕES CONSTITUCIONAIS AO PODER DE TRIBUTAR

2.4.6. Limitações constitucionais positivas: os princípios constitucionais tributários

2.4.6.5. Princípio da isonomia tributária

Objetivo da República e garantia constitucionalmente assegurada, o princípio da isonomia

tem necessária observância no direito tributário. O princípio da capacidade contributiva dele

deriva; não o esgota.

315 § 2º - A lei de diretrizes orçamentárias compreenderá as metas e prioridades da administração pública federal, incluindo as despesas de capital para o exercício financeiro subseqüente, orientará a elaboração da lei orçamentária anual, disporá sobre as alterações na legislação tributária e estabelecerá a política de aplicação das agências financeiras oficiais de fomento.

316 “Princípios Constitucionais Tributários”. In: MARTINS, Ives Gandra da Silva (coord.). Cadernos de

Na perspectiva da tributação, a igualdade pode ser compreendida em dois sentidos: (i) em

sentido eminentemente jurídico, com paridade de posições, excluindo os privilégios de classe,

de etnia e de religião, de maneira que os contribuintes se encontrem em iguais circunstâncias

e postos ante um mesmo regime fiscal; (ii) em sentido econômico, é a obrigação de contribuir

com as despesas públicas em igual medida, entendido em termo de sacrifício; nesse último

sentido, aplica-se à ideia de capacidade contributiva

317

.

Segundo Misabel Abreu Machado Derzi

318

, o princípio da isonomia implica cinco

conseqüências: (a) proibição de distinguir (universalmente) na aplicação da lei, em que o

valor básico protegido é a segurança jurídica; (b) proibição de distinguir no teor da lei,

vedação que salvaguarda valores democráticos como abolição de privilégios e de arbítrios;

como conseqüência disso, os princípios da generalidade e da universalidade; (c) dever de

distinguir no conteúdo da lei entre desiguais, e na medida dessa desigualdade

319

; em direito

tributário, o critério é a capacidade econômica do contribuinte; (d) dever de considerar as

grandes desigualdades econômico-materiais advindas dos fatos, com o fim de atenuá-los e

restabelecer o equilíbrio social; a progressividade cumpriria esse papel

320-321

; (e) possibilidade

317 Cf. UCKMAR, Victor. Principios comunes del derecho constitucional tributario. Bogotá: Temis, 2002, p. 59. 318 Cf. DERZI, Misabel Abreu Machado. In BALEEIRO, Aliomar. Limitações constitucionais ao poder de

tributar. 7.ª ed. (notas de atualização) Rio de Janeiro: Forense, 2003, p. 530.

319 Cf. MELLO, Celso Antonio Bandeira de. Conteúdo jurídico do princípio da igualdade. 3.ª ed. atual. São Paulo: Malheiros, 2000, p. 21-2: “...tem-se que investigar, de um lado, aquilo que é adotado como critério discriminatório; de outro lado, cumpre verificar se há justificativa racional, isto é, fundamento lógico, para, à vista do traço desigualador acolhido, atribuir o específico tratamento jurídico construído em função da desigualdade proclamada. Finalmente, impende analisar se a correlação ou fundamento racional abstratamente existente é, in concreto, afinado com os valores prestigiados no sistema normativo constitucional.

Em suma: importa que exista mais que uma correlação lógica abstrata entre o fator diferencial e a diferenciação conseqüente. Exige-se, ainda, haja uma correlação lógica concreta, ou seja, aferida em função dos interesses abrigados no direito positivo constitucional. E isto se traduz em consonância ou dissonância dela com as finalidades reconhecidas como valiosas na Constituição”.

320 “A discussão, que inicialmente se suscitou sobre a legitimidade constitucional dos impostos com alíquotas progressivas naqueles Estados cujas Constituições proclamavam a igualdade e a uniformidade na imposição, aparece hoje fora de contexto. Em definitivo, corresponde à ciência econômica estabelecer um sistema que possa assegurar uma melhor e justa distribuição da carga pública, e se esta ciência entende que dito resultado se obtém com um imposto progressivo e com o um imposto proporcional, o sistema fiscal, por estar concebido sobre a base de um princípio de igualdade, deverá conter, também, impostos com alíquotas progressivas” (UCKMAR, Victor. Principios comunes del derecho constitucional tributario. Bogotá: Temis, 2002, p. 69 – tradução do autor).

321 Para uma sucinta, porém sistematizada, análise da progressividade no pensamento tributário norte-americano, ver Michael A. Livingston. Neste trabalho, afirma, em arremate: “Enquanto a tributação progressiva tem sido atacada por oponentes conservadores e mesmo por alguns liberais, ela tem recebido às vezes uma defesa desanimada mesmo em ambientes ‘progressistas’, dos quais se poderia esperar uma defesa mais forte. Parte disto resulta das preocupações opostas da esquerda, inclusive identidade política, movimento antiguerra, problemas ambientais e sociais. Parte pode decorrer do sentimento de que uma tributação progressiva, embora ajuste modestamente os resultados do capitalismo, não desafia sua legitimamente subjacente. Tributação progressiva enfrenta, portanto, um ‘aperto’ entre conservadores, que sempre tiveram dúvidas sobre ela, e liberais ou radicais que a defendem em princípio, mas podem ter preocupações mais fortes. A conclusão de Blum e Kalven de que a discussão sobre a progressividade é ‘teimosa, mas inquietante’ permanece verdadeira hoje tal como real há duas

de derrogações parciais ou totais ao princípio da capacidade contributiva pelo acolhimento de

outros valores constitucionais como critérios de comparação a fim de efetivar planos de

desenvolvimento nacional integrado e harmonioso.

Nessa linha, Antonio Roberto Sampaio Dória aponta três fatores que devem ser considerados

no exame da lei tributária quanto à obediência ao princípio da igualdade: (i) razoabilidade da

discriminação, baseada em diferenças reais entre as pessoas ou objetos tributados; (ii)

existência de objetivo que justifique a dscriminação; (iii) nexo lógico entre o objetivo

perseguido e a discriminação que permitirá alcançá-lo

322

.

O princípio da isonomia em matéria tributária impõe o respeito a estas regras. No exercício da

competência tributária, não pode o legislador tratar desigualmente sujeitos que se encontrem

em idêntica situação. E, em contrapartida, no tratamento diferenciado dispensado àqueles que

estejam em situações díspares, deve haver uma exata correlação entre a diferença de

tratamento e os fatores de discriminação encontrados.

A igualdade não repercute apenas na mensuração da carga tributária criada para determinado

indivíduo. Limita a elaboração de todas as normas tributárias, como, por exemplo, as que

instituem obrigações tributárias acessórias, regulam os procedimentos de fiscalização; as que

prevêem as sanções tributárias, as que concedem isenções, anistias e outros tipos de

benefícios fiscais.

No tocante às contribuições especiais, o princípio ora em trato aplica-se da mesma forma que

para as demais espécies do sistema tributário, valendo integralmente as cinco diretrizes acima

elencadas.

Humberto Ávila, no entanto, faz um contraponto. Embora afirme que o princípio da isonomia

se aplique às contribuições, ressalva que o critério da capacidade contributiva aplicada ao

princípio da isonomia não tem espaço em tributos desse jaez. Aponta dois motivos para essa

conclusão: (i) segundo o autor, a CF/88 seria clara ao restringir esse critério para os impostos;

e mais, não todos os impostos, mas apenas para os impostos pessoais que não estejam

gerações”. (“Progressividade e Solidarietà: uma perspectiva norte-americana”. In Solidariedade e tributação. Marco Aurélio Greco e Marciano Seabra de Godoi (Coordenadores). São Paulo: Dialética, 2005, p. 193). 322 Cf. Direito constitucional tributário e “due processo of law” – ensaio sobre o controle judicial da

orientados por finalidades extrafiscais; (ii) as contribuições se notabilizam pela finalidade que

visam a realizar, razão por que devem ser pagas pelo grupo a ser atingido, havendo uma idéia

de retribuição. Ao final, pondera nada impedir que, “depois de definido o grupo a ser atingido

e sobre o qual a realização daquela finalidade irá reverter, não possa o legislador estabelecer

tratamento isonômico entre os sujeitos passivos com base na sua capacidade contributiva”

323

.

Discorda-se dessa posição, na medida em que se compreende que o princípio da isonomia se

aplica indistintamente a toda a atividade tributária (ora como regras, ora como princípio, ora

como postulado normativo, tal como registra o próprio Humberto Ávila em tese de Livre

Docência

324

), não havendo fundamento constitucional para a distinção.

Calham, nesse ponto, considerações em derredor do princípio da capacidade contributiva.