2. A CONSTITUIÇÃO NA TEORIA DOS SISTEMAS CONSTITUCIONALIZAÇÃO
2.4. LIMITAÇÕES CONSTITUCIONAIS AO PODER DE TRIBUTAR
2.4.7. Limitações constitucionais negativas: as imunidades tributárias
2.4.7.2. Espécies de imunidade
2.4.7.2.6. Imunidades específicas
Segundo restou esclarecido anteriormente (2.4.7.1), o rol do inciso VI, do art. 150 da CF/88
somente se aplica aos impostos em razão do que consta expressamente na redação do referido
inciso. Isso não interfere, contudo, na circunstância de esse mesmo texto constitucional
albergar, de modo difuso, diversas outras situações de imunidade aplicadas não somente aos
impostos, como, também, nomeadamente, às taxas e às contribuições especiais (contribuições
sociais, contribuições de intervenção sobre domínio econômica e contribuição no interesse de
categorias profissionais e econômicas).
Calha neste item apenas e tão somente enunciá-las, a fim de demonstrar que, de rigor, o art.
150, inciso VI, embora aluda às imunidades genéricas referidas indistintamente a todos os
impostos, não exaure o conjunto de valores e bem jurídicos protegidos constitucionalmente
quanto à tributação por intermédio da técnica da imunidade. Reafirme-se, pois, que o
constituinte, amiúde, em vez de utilizar a expressão “é imune”, usou “é isento(a)” ou “não
incide(irá)”, em equívoco técnico.
Com efeito, para os impostos: (a) imunidade das exportações de IPI (art. 153, §3.º, inciso III,
da CF/88) – o que já estava consagrado na súmula 536 do STF
452, antes mesmo da CF/88; (b)
imunidade das pequenas glebas rurais quanto ao ITR (art. 153, §4.º, da CF/88); (c) imunidade
do ouro quando definido como ativo financeiro ou instrumento cambial, de sorte que único
imposto que incide é o IOF (art. 153, §5.º, da CF/88); (d) imunidade das operações que
destinem mercadorias para o exterior, bem como dos serviços prestados a destinatários no
exterior do ICMS (art. 155, §2.º, inciso X, alínea “a”, da CF/88); (e) imunidade das operações
que destinem a outros Estados petróleo, inclusive lubrificantes, combustíveis líquidos e
452 “são objetivamente imunes ao imposto sobre circulação de mercadorias os ‘produtos industrializados’, em geral, destinados à exportação, além de outros, com a mesma destinação, cuja isenção a lei determinar”.
gasosos dele derivados, e energia elétrica quanto ao ICMS (art. 155, §2.º, inciso X, alínea “b”,
da CF/88); (f) imunidade do ouro quando definido como ativo financeiro ou instrumento
cambial quanto ao ICMS (art. 155, §2.º, inciso X, alínea “c”, da CF/88); (g) imunidade das
prestações de serviço de comunicação nas modalidades de radiodifusão sonoro de sons e
imagens de recepção livre e gratuita quanto ao ICMS (art. 155, §2.º, inciso X, alínea “d”, da
CF/88); (h) imunidade das operações relativas a energia elétrica, serviços de
telecomunicações, derivados de petróleo, combustíveis e minerais no país à exigência de
outros impostos, à exceção do ICMS, II, IE (art. 155, §3.º, da CF/88); (i) imunidade dos
direitos reais de garantia quanto a ITIV (art. 156, inciso II, da CF/88); (j) imunidade da
transmissão de bens ou direitos incorporados ao patrimônio de pessoa jurídica em realização
de capital e da transmissão de bens ou direitos decorrentes de fusão, incorporação, cisão ou
extinção de pessoa jurídica ao ITIV (art. 156, §2.º, inciso I, da CF/88); (k) imunidade das
operações de transferência de imóveis desapropriados para fins de reforma agrária quanto aos
impostos federais, estaduais e municipais (art. 184, §5.º, da CF/88).
Ao seu turno, para as taxas: (a) imunidade quanto ao exercício do direito de petição aos
poderes públicos (art. 5.º inciso XXXVI, alínea “a”, da CF/88); (b) imunidade quanto à
obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de direitos e esclarecimento de
situações de interesse pessoal (art. 5.º inciso XXXVI, alínea “b”, da CF/88); (c) imunidade
quanto a custas processuais para a ação popular (art. 5.º inciso LXXIII, da CF/88); (d)
imunidade do registro civil de nascimento de óbito aos reconhecidamente pobres (art.
5.º inciso LXXVI, alíneas “a” e “b”, da CF/88); (e) imunidade quanto a custas processuais
para o habeas corpus e para o habeas data (art. 5.º inciso LXXVII, da CF/88); (f) imunidade
quanto ao acesso ao ensino fundamental (art. 208, inciso I, da CF/88); (g) imunidade quanto
ao casamento civil (art. 226, 1.º, da CF/88); (h) imunidade quanto aos transportes públicos
urbanos para os maiores de 65 anos, em relação às taxas (art. 230, §2.º, da CF/88
453).
Quanto às contribuições especiais: (a) imunidades dos proventos de aposentadoria e pensão à
contribuição para o custeio da previdência social (art. 195, inciso II, da CF/88); (b) imunidade
das entidades beneficentes de assistência social às contribuições para a seguridade social (art.
195, §7.º, da CF/88); (c) imunidade dos necessitados da assistência social oficial (art. 203 da
453 Quando o transporte está concedido à iniciativa privada (por concessão ou permissão), não se cogita de imunidade, haja vista que a contraprestação devida é tarifa (preço público) e não taxa, a respeito da qual haveria a imunidade. No primeiro caso, trata-se de regra de gratuidade não-tributária.
CF/88); (d) imunidades concernentes às contribuições sociais e contribuições de intervenção
no domínio econômico quanto às receitas decorrentes de exportação (art. 149, §2.º, inciso I,
da CF/88).
Em síntese, no texto constitucional vigente, são estas as hipóteses de imunidade aplicadas aos
impostos, às taxas e às contribuições especiais, conforme indicação especificamente feita
naquele. Não se encontram, contudo, na configuração constitucional atual, hipóteses de
imunidade para a contribuição de melhoria e os empréstimos compulsórios, nada impedindo
que o poder constituinte de reforma venha a introduzi-las.
2.5. AS LIMITAÇÕES CONSTITUCIONAIS AO PODER DE TRIBUTAR COMO
DIREITOS FUNDAMENTAIS.
Viu-se que a cada uma das limitações constitucionais ao poder de tributar, positiva ou
negativa, subjaz um valor ou um bem jurídico a ser protegido (ou a ser alcançado) quanto à
atividade tributária do Estado. Esses valores protegidos, de regra, se conectam com alguns
direitos fundamentais expressamente elencados no art. 5.º do texto constitucional. Outros,
decorrem de sobreprincípios implícitos contidos na Constituição.
Todas as Limitações Constitucionais ao Poder de Tributar, contudo, ostentam a natureza de
normas jurídicas constitucionais que veiculam direitos fundamentais, que tem por
destinatários tanto as pessoas naturais como pessoas jurídicas
454– ou mesmo entes
despersonalizados que se encontrem na situação de contribuinte do tributo.
Cumpre fundamentar essa conclusão do ponto de vista histórico-filosófico, bem assim, quanto
ao aspecto dogmático, aludindo a dois dispositivos contidos no texto que funcionam como
cláusulas de abertura e conexão dos subsistemas, sem, contudo, olvidar-se de apontar as
consequências desta conclusão.
No documento
O dever de proteção da entidade familiar como limite constitucional à tributação
(páginas 152-154)