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2. A CONSTITUIÇÃO NA TEORIA DOS SISTEMAS CONSTITUCIONALIZAÇÃO

2.4. LIMITAÇÕES CONSTITUCIONAIS AO PODER DE TRIBUTAR

2.4.7. Limitações constitucionais negativas: as imunidades tributárias

2.4.7.2. Espécies de imunidade

2.4.7.2.1. Imunidade recíproca

Na ordem trazida pelo dispositivo constitucional, tem-se inicialmente a imunidade recíproca.

Fundada no princípio federativo — e, portanto, no postulado da isonomia, equilíbrio e

respeito mútuo entre os entes que a compõem —, a regra impede que um ente político, ao

exercer a competência tributária definida e atribuída constitucionalmente, venha a impor

exação tributária cujo fato gerador se relacione com patrimônio, renda ou serviços uns dos

outros (enunciados 73

427

, 74

428

e 75

429

da Súmula de jurisprudência do Supremo Tribunal

Federal, editadas, ainda, sob a égide de CF/67).

O § 2.º desse dispositivo estende a imunidade às pessoas jurídicas de direito público

(autarquias e fundações), no tocante “ao patrimônio, à renda e aos serviços, vinculados a suas

finalidades essenciais ou às delas decorrentes”, ao passo em que o §3.º veda expressamente

que se reputem abrangidos por essa imunidade o patrimônio, a renda e os serviços,

“relacionados com exploração de atividades econômicas regidas pelas normas aplicáveis a

empreendimentos privados, ou em que haja contraprestação ou pagamento de preços ou

tarifas pelo usuário” (súmula 76

430

do STF).

427 “A imunidade das autarquias, implicitamente contida no art. 31, V, ‘a’, da Constituição Federal, abrange tributos estaduais e municipais.”.

428 “O imóvel transcrito em nome de autarquia, embora objeto de promessa de venda a particulares, continua imune de impostos locais”.

429 “Sendo vendedora uma autarquia, a sua imunidade fiscal não compreende o imposto de transmissão ‘inter vivos’, que é encargo do comprador”.

430 “As sociedades de economia mista não estão protegidas pela imunidade fiscal do art. 31, v, ‘a’, Constituição Federal”.

O mesmo STF, contudo, vem construindo jurisprudência no sentido de que a imunidade

tributária recíproca é extensível às empresas públicas prestadoras de serviços públicos

monopolizados

431-432

.

Esta imunidade, pois, é restrita aos impostos, não se estendendo às taxas e as demais espécies

tributárias. Examinando a aplicação da regra da imunidade à contribuições especiais, o STF

tem se pronunciado no sentido da restrição. Isso porque o texto constitucional apenas alude a

impostos, de sorte que a figura tributária que não de constitua impostos não está albergada por

essa forma exonerativa de tributos

433

.

431 Cf. ARE 816120 AgR, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda Turma, julgado em 12/08/2014, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-162 DIVULG 21-08-2014 PUBLIC 22-08-2014. (RE 605908 AgR, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Segunda Turma, julgado em 24/06/2014, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-152 DIVULG 06-08-2014 PUBLIC 07-08-2014. (AI 797034 AgR, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Primeira Turma, julgado em 21/05/2013, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-111 DIVULG 12-06-2013 PUBLIC 13-06-2013. RE 601392, Relator(a): Min. JOAQUIM BARBOSA, Relator(a) p/ Acórdão: Min. GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em 28/02/2013, ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-105 DIVULG 04-06-2013 PUBLIC 05-06-2013.

432 Convém destacar, a esse respeito, a opinião de Marco Aurélio Mello, que manifestou-se contrariamente a essa extensão da imunidade recíproca: “Assim, a atividade interpretativa de cada imunidade em particular, sob pena de transgressão à própria Carta, não pode ser estrita a ponto de invaiabilizar que o objetivo protecionista seja satisfeito, nem tão ampla de modo a promover privilégios odiosos e desmedidos em detrimento de outros bens e valores, olvidando-se a Carta como um todo. A interpretação deve ser teleológica e sistematicamente adequada, de maneira que a norma de imunidade alcance o máximo de efetividade em harmonia com os demais valores de nosso sistema constitucional” (Cf. “Interpretação constitucional e controvérsias tributárias”. In Tributação:

democracia e liberdade: em homenagem à Ministra Denise Arruda Martins. Ariane Bini de Oliveira, Nayara

Tataren Sepulcri e Smith Barreni (organizadores). São Paulo: Noeses, 2014, p. 1159).

433 “RECURSO EXTRAORDINÁRIO - OUTORGA DE EFEITO SUSPENSIVO - EXCEPCIONALIDADE - PRESSUPOSTOS LEGITIMADORES DA MEDIDA CAUTELAR - INOCORRÊNCIA DO REQUISITO CONCERNENTE À PLAUSIBILIDADE JURÍDICA - IMPOSSIBILIDADE DE OS ESTADOS- MEMBROS/MUNICÍPIOS DESLIGAREM-SE, UNILATERALMENTE, DO DEVER DE RECOLHIMENTO DA CONTRIBUIÇÃO PERTINENTE AO PASEP - PEDIDO INDEFERIDO - AGRAVO IMPROVIDO. A AUSÊNCIA DE PLAUSIBILIDADE JURÍDICA NÃO AUTORIZA A OUTORGA DE MEDIDA CAUTELAR DESTINADA A CONFERIR EFEITO SUSPENSIVO A RECURSO EXTRAORDINÁRIO. - A concessão de medida cautelar, pelo Supremo Tribunal Federal, quando requerida com o objetivo de atribuir eficácia suspensiva a recurso extraordinário, exige, para viabilizar-se, a cumulativa observância de determinados pressupostos (Pet 2.466-PR (Questão de Ordem), Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g.), dentre os quais avulta, por sua importância, a plausibilidade jurídica da pretensão de direito material deduzida pela parte interessada. - O Plenário do Supremo Tribunal Federal assentou o entendimento de que, em tema de contribuição ao PASEP, os Estados-membros e os Municípios não podem invocar a prerrogativa constitucional da autonomia, que lhes é inerente, em ordem a legitimar, com apoio em unilateral manifestação de sua própria vontade, o desligamento da obrigação de recolher essa especial exação de caráter tributário. A contribuição pertinente ao PASEP - por qualificar-se como contribuição social - não se expõe, por efeito de sua própria natureza jurídica, às limitações fundadas na garantia constitucional da imunidade tributária recíproca, que se aplica, unicamente, enquanto espécie de imunidade tributária genérica, aos impostos (RTJ 136/846 - RTJ 174/303-304), consoante prescreve, em cláusula expressa, a própria Constituição da República (art. 150, VI, "a"). Precedente: ACO 471-PR, Rel. Min. SYDNEY SANCHES, Pleno. - D escaracterização, na espécie, do fumus boni juris, em face desse julgamento plenário do Supremo Tribunal Federal, que, ao examinar questão idêntica, rejeitou a tese jurídica na qual se funda a postulação ora deduzida pela entidade estatal requerente. MEDIDA CAUTELAR INOMINADA E DESCABIMENTO DA CITAÇÃO. - A decisão que, no contexto de medida cautelar inominada, defere, ou não, efeito suspensivo a recurso extraordinário já admitido pela Presidência do Tribunal de jurisdição inferior constitui provimento jurisdicional que se exaure em si mesmo, não dependendo, em conseqüência, da posterior realização do ato citatório, eis que incabível, em tal hipótese, o oferecimento de contestação. É que a providência