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Inclusão de Estudantes com Deficiência no Mercado de Trabalho

CAPÍTULO II: EDUCAÇÃO DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NO BRASIL: POLÍTICAS E

3.4 Inclusão de Estudantes com Deficiência no Mercado de Trabalho

Conforme mencionado anteriormente, ao concluírem o programa de educação especial no ensino superior, os estudantes com deficiência escolhem em qual área eles/elas desejam

trabalhar e a faculdade possui um especialista de empregabilidade que os auxilia na inserção do mercado de trabalho. Dentro desse trabalho de suporte, o especialista da faculdade orienta os estudantes a como elaborar um currículo, destacando as informações que são importantes de acordo com a necessidade do empregador; e também auxilia a verificar quais empresas possuem vagas disponíveis para pessoas com deficiência nas áreas específicas que eles optarem.

Ao ingressarem no mercado de trabalho, o especialista de empregabilidade continua a oferecer o suporte que eles/elas precisam dentro do ambiente de trabalho – o que é denominado de emprego apoiado. Este é caracterizado por sua filosofia de oferecer o suporte necessário para que as pessoas com deficiência intelectual possam obter um emprego sustentável. A Associação Brasileira de Assistência e Desenvolvimento Social (ABADS), uma das organizações brasileiras que também oferece esse tipo de serviço, define o emprego apoiado como:

uma metodologia com planejamento individualizado e centrado na pessoa, possibilitando uma visão mais ampla das habilidades de cada pessoa. Seu diferencial destaca-se em detectar as potencialidades de cada um, na busca dos apoios ou tecnologias para tornar as pessoas mais independentes, articulando a rede da pessoa na comunidade e no campo empresarial60.

O suporte inerente à metodologia do emprego apoiado, acima definida, é oferecido pela faculdade canadense nos primeiros meses após a inserção da pessoa com deficiência no mercado de trabalho. Esse apoio é realizado mediante vários caminhos, como por exemplo: desenvolver trabalho de sensibilização nas empresas; identificar o perfil vocacional do candidato; fazer o levantamento do perfil da vaga e suas atribuições; oferecer treinamento à pessoa com deficiência em seu respectivo local de trabalho; oferecer suporte aos funcionários da empresa para facilitar o trabalho em equipe. Tudo isso é realizado através de reuniões periódicas com os empregadores e com o corpo de funcionários da empresa.

Após esse período inicial, a faculdade realiza uma parceria com alguma organização da comunidade que possa continuar a oferecer esse suporte às pessoas com deficiência empregadas61. Conforme esclarece o diretor do curso, Bob Loglelin, “a média de

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Disponível em: <http://www.abads.org.br/view_secao_empregadoapoiado.php?i=&s=45> 61

A principal organização canadense em British Columbia que oferece o emprego apoiado é BCEmployment.

Esta é uma rede unificada de prestadores de serviços comprometidos com o avanço de práticas de apoio ao emprego através de recursos, partilha, educação, desenvolvimento das melhores práticas e da celebração de histórias de sucesso. Outras organizações que também trabalham, oferecendo emprego apoiado no Canadá, são: BCACL Employment Policy; Finding a Job and Keeping it: Tips for Self Advocates; BCCoalition of People with Disabilities:

alunos/alunas com deficiência que conseguem um emprego ao finalizar o curso está em torno

de 80% e o índice daqueles que permanecem está entre 75%”. Esse alto nível de ingresso e

permanência das pessoas com deficiência no mercado de trabalho do Canadá deve-se, sobretudo, à prática do emprego apoiado, a qual tem sido realizada no Brasil também principalmente por meio de organizações não governamentais. Para exemplificar essa realidade, estudantes com deficiência da faculdade Douglas College mencionam os experiência de trabalho a que eles têm tido acesso nas empresas canadenses:

Aqui na faculdade, nós aprendemos como podemos conseguir um trabalho e nós ganhamos muita experiência. Meu primeiro trabalho foi trabalhar em escola voltada para crianças de 3 a 5 anos de idade, eu ajudava a cuidar das crianças (Carol, deficiência intelectual)62.

Eu sou Mike, eu sou de Coquitlam, e minha primeira experiência de trabalho foi na cafeteria Tim Hortons da Kingsway. Eu me sentia muito importante, pois esta empresa é uma das maiores de Vancouver e eu atendia muitos clientes em um dia só. Eles gostava m muito do meu trabalho (Mike, deficiência intelectual).

Eu trabalho em um cinema. Eu fico na porta do cinema recolhendo os tickets das pessoas e repetindo a frase: “aproveitem o filme(...)”. Eu tenho que ser uma pessoa simpática e eu me sinto muito bem tentando fazer as pessoas felizes no cinema (John, deficiência intelectual).

Meu nome é Brand e eu faço trabalhos de escritório em uma associação sem fins lucrativos que existe no Canadá e em outras partes do mundo há 35 anos, tentando oferecer água limpa e potável para as pessoas. É um trabalho muito relevante e eles têm ajudado muitas pessoas ao redor do mundo (Brand, deficiência intelectual).

Minha primeira experiência de trabalho eu fui até a Winners em Coquitlam e eu trabalhava nesta loja com moda de roupas. Eu ajeitava as roupas no estoque e trazia para a loja quando alguém pedia. Eu adorava o meu emprego e o salário que eu recebia por isso (Clarisse, deficiência intelectual).

As experiências relatadas mostram a diversidade de empregos a que os estudantes com deficiência no Canadá têm sido encaminhados após a conclusão do curso profissionalizante do ensino superior. Observa-se que grande parte desses trabalhos são mecânicos e/ou informais, porém adequados ou acomodados às condições das pessoas com deficiência intelectual. Destaca-se que no Canadá tais empregos são destinados a uma parte da população, até para aqueles que concluem uma universidade, porém os salários percebidos por eles estão dentro do padrão legal e possibilitam uma digna qualidade de vida. Isso porque

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Esse depoimento e os que se seguem abaixo foram colhidos através do grupo focal realizado no dia 18 de

além do salário mínimo legal, o governo canadense oferece educação, saúde, transporte, moradia e outros benefícios destinados às pessoas com deficiência.

Não há nenhuma lei específica no Canadá, como a Lei de Cotas do Brasil, que obrigue os empregadores a receberem em seu quadro de funcionários pessoas com deficiência, mas, caso eles empreguem uma pessoa com deficiência, o Governo, como uma forma de incentivo, passa a pagar quase a metade do valor do salário da pessoa com deficiência e o empregador paga o restante, durante um período de seis meses. Além desse incentivo governamental, o coordenador Bob Loglelin explana sobre outras razões pelas quais pessoas com deficiência têm sido empregadas com frequência no Canadá:

Aqui não é tão difícil para nós empregar pessoas com deficiência, pois o que importa para o empregador não é se aquela pessoa possui ou não uma deficiência, mas se ela consegue realizar o trabalho de uma forma adequada e profissional, se ela atende aos requisitos da empresa . Por esta razão, nós

só enviamos o estudante para o mercado de trabalho quando ele/ela está realizando a tarefa de forma perfeita(Bob Loglelin, coordenador)63.

O conceito de empowerment está profundamente enraizado no vocabulário profissional. O mercado de trabalho ao apropriar-se dos princípios para o empoderamento acaba associando-o ao mérito e à competência individual, por isso há uma cobrança ainda maior para pessoas com deficiência exercerem suas funções com „perfeição‟. A mão de obra qualificada exigida nas sociedades industrializadas é determinante para a formação das pessoas com deficiência, uma vez que o argumento principal é que os profissionais devem ser empoderados para que possam empoderar os usuários de serviços. O conceito de empoderamento também é abraçado com entusiasmo como o fornecimento da legitimidade e credibilidade empresarial (BERESFORD, 2013).

Apesar de não existir uma lei canadense que estabeleça a compulsoriedade das empresas empregarem pessoas com deficiência, quando elas ingressam no mercado de trabalho, a lei canadense as protege contra toda forma de discriminação e/ou exclusão sem justa causa. A lei Duty to Accomodate64 proíbe a discriminação com base em qualquer um dos onze motivos identificados na seção 2 da Lei Canadense de Direitos Humanos (Canadian Human Rights Act- CHRA) e os empregadores têm o dever de acomodar os funcionários para evitar tal discriminação. Os empregadores devem acomodar os funcionários que se

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Depoimento colhido através de entrevista individual realizada no dia 17 de janeiro de 2014, na Faculdade

Douglas College.

enquadram nos grupos protegidos pela lei, tendo em conta a saúde, segurança e as condições de vida65. Dentre os aspectos discriminatórios protegidos pela referida lei, como raça, idade, cor, religião, orientação sexual, estado civil, dentre outros, destaca-se a deficiência, a qual é definida como:

condição física ou mental que é permanente e contínua, episódica ou de alguma persistência, e é um limite substancial ou significativo sobre a capacidade do indivíduo de realizar algumas das importantes funções ou atividades da vida, tais como o emprego. Deficiência incluem deficiências

visíveis, como a necessidade de uma cadeira de rodas, e deficiências invisíveis, como deficiências cognitivas, comportamentais ou de

aprendizagem e problemas de saúde mental (Canadian Human Rights Act, 1985).

Essa lei visa proteger a discriminação no trabalho não só em relação às pessoas que possuem uma deficiência desde o nascimento, mas também a pessoas que estão deficientes por razões temporárias ou que estão acometidas por algum problema psicológico, comportamental ou de aprendizagem. A lei, apesar de elencar outros elementos que devem ser protegidos da discriminação, é mais aplicada a situações que envolvem deficiências.

O documento (CANADÁ, 1985) também descreve os papéis e responsabilidades dos principais intervenientes no processo de acomodação, tais como gerentes, especialistas funcionários, tecnologias da informação, recursos humanos, relações trabalhistas, segurança e saúde ocupacional, remuneração, serviços jurídicos, o representante do empregador, e o empregado solicitante da acomodação. Esse documento constitui uma importante ferramenta para que pessoas com deficiência ingressem no mercado de trabalho e nele permaneçam por meio do recebimento de todo o suporte e acomodações de que necessitam.

3.5 A Educação ao Longo da Vida para o Empoderamento, Autoadvocacia e