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2 A INADMISSIBILIDADE DAS PROVAS ILÍCITAS NO ORDENAMENTO

3.4 A LEGITIMIDADE PARA REQUERER A APLICAÇÃO DA EXCLUSIONARY

3.4.1 Os casos Jones e a standing for motion to supress

Conforme a prevailing opinion do caso Jones, redigida pelo Justice Felix Frankfurter, Cecil Jones foi preso em um apartamento que ocupava no Distrito de Columbia, por agentes federais que cumpriam, no local, um mandado de busca por narcóticos. Após terem sido encontradas substâncias entorpecentes no local, Jones confessou que parte das drogas era sua e que estava vivendo temporariamente no apartamento, mas que o imóvel era de propriedade de um amigo.284

Durante a tramitação do processo, Jones sustentou que o mandado não tinha por motivação uma causa provável e que, portanto, as provas apreendidas por ocasião da diligência haviam sido obtidas com violação de direitos consagrados pela

281

Jones v. United States, 362 U.S. 257 (1960). 282

Alderman v. United States, 394 U.S. 165 (1969). 283

United States v. Padilla, 508 U.S. 77 (1993). 284

Quarta Emenda. Entretanto, as instâncias ordinárias consideraram que ele não teria legitimidade – stand – para requerer a supressão da prova.285

Segundo o informado pelo próprio J. Frankfurter, o requisito da legitimidade, até então, já era aplicado pelas cortes de apelação com base no texto do artigo 41(e) do Federal Rules of Criminal Procedure, que determina as medidas que podem ser adotadas pela pessoa prejudicada por uma busca e apreensão ilegal.286 Todavia, o próprio J. Frankfurter faz menção a um outro fundamento (que não o meramente legal) para exigir-se um requisito como o stand, fazendo alusão a um “princípio geral de que não será conhecido o pedido da parte de proteção constitucional a não ser que a parte ‘pertença à classe em razão da qual a proteção constitucional foi concedida’”287

, esclarecendo, ainda, que as restrições acerca das buscas e apreensões foram designadas com o escopo de proteger contra ações do Estado invasivas de privacidade e que comprometam a segurança da propriedade.

Nesses termos, em razão da própria finalidade do direito afetado, a proteção conferida pela exclusionary rule da Quarta Emenda só poderia ser invocada pelo acusado caso este fosse detentor dos direitos violados pela diligência ilegal.

E, para os casos como o de Jones, que habitava um imóvel a ele temporariamente emprestado e sobre o qual não detinha direitos de propriedade, a resposta para determinar se o acusado detém legitimidade para arguição da supressão de prova estaria vinculada a decidir se a diligência teria implicado, sob qualquer aspecto, violação de seus direitos constitucionalmente assegurados pela Quarta Emenda.

O tema nunca havia sido objeto de apreciação pela Suprema Corte até então, decidindo-se que não era necessário deter a propriedade das instalações onde foram realizadas as buscas para ter-se a legitimidade para requerer a aplicação da exclusionary rule, visto que o fato de ter-lhe sido emprestado o imóvel conferia ao réu o interesse suficiente para qualificá-lo como uma pessoa prejudicada pela busca e apreensão.288

285

Cfr. Jones v. United States, 362 U.S. 257 (1960), p. 257 e ss. 286

Cfr. Jones v. United States, 362 U.S. 257 (1960), p. 261. Referiu expresamente o Justice Felix Frankfurter que “as cortes de apelação requerem, geralmente, que o autor da moção ou tenha propriedade ou posse da propriedade procurada ou tenha um interesse substancial nas instalações pesquisadas”.

287

Jones v. United States, 362 U.S. 257 (1960), p. 261. 288

Esse parâmetro utilizado para averiguar-se a violação de direitos, que tinha por critério um interesse sobre as instalações, foi entalhado pela Suprema Corte durante o julgamento do caso Rakas versus Illinois,289 precedente através do qual determinou-se que uma expectativa de privacidade seria o suficiente para considerar que uma pessoa teve seus direitos da Quarta Emenda violados por uma ação ilegal da polícia.

No caso Rakas, conforme a prevailing opinion do Justice William Rehnquist, três pessoas que tripulavam um veículo foram abordadas por uma viatura da polícia e, durante uma busca desautorizada, a polícia encontrou, no porta-luvas, uma caixa de munição e, sob o assento do motorista, um rifle de cano serrado. Os três foram acusados por um assalto à mão armada e os objetos foram utilizados como provas. O motorista era proprietário da arma e do veículo, sendo-lhe reconhecido o stand, mas os demais não eram titulares de direitos de propriedade sobre o automóvel, nem dos objetos apreendidos, razão por que as instâncias ordinárias consideraram que, em relação aos passageiros, não poderia ser reconhecido o stand e nem excluída a prova.

A Suprema Corte, contudo, modificou o critério de verificação do stand, aduzindo que não se deveria perquirir a existência de um interesse sobre as instalações (nos termos do caso Jones), mas sim de uma expectativa de privacidade.

Diante do caso concreto, entretanto, mesmo com a alteração do critério, não foi reconhecido o stand aos passageiros, porquanto como meros “caronas” não possuíam qualquer expectativa de privacidade quanto ao conteúdo do porta-luvas e no que se refere à parte inferior do banco do motorista, onde haviam sido encontradas a arma e a munição.

A expectativa de privacidade, então, tornou-se o grande paradigma para verificar-se quando uma conduta violava os direitos assegurados pela Quarta Emenda de um não proprietário, o que seria necessário, por sua vez, para verificar se o indivíduo possuía legitimidade para requerer a exclusão da prova.

289

Rakas v. Illinois - 439 U.S. 128 (1978). O Justice Rehnquist em sua prevailing opinion no caso Rakas afirmou que “os fundamentos em Jones podem ser melhor explicados pelo fato de que Jones tinha uma legítima expectativa legítima de privacidade no local que ele estava usando, e, portanto, poderia reivindicar a proteção da Quarta Emenda.”

3.4.2 O caso Alderman e a incomunicabilidade da legitimidade para requerer a

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