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A investigação em educação assenta, tradicionalmente em dois grandes paradigmas, cada um com a sua terminologia, métodos e técnicas: os paradigmas quantitativo e qualitativo. (Bento, 2012)

Durante muito tempo, a maioria da investigação no campo da educação foi estabelecida com base no paradigma quantitativo. Até aos anos 70 do século passado, a maioria dos estudos em educação era de natureza quantitativa. (ibidem)

Para os defensores deste paradigma, este carateriza-se pelos seguintes aspetos (Coutinho C. , Qualitativo versus Quantitativo: Questões Paradigmáticas na Pesquisa em Avaliação, 2006):

 A realidade a avaliar é “objetiva”, na medida em que existe independente do sujeito; os acontecimentos ocorrem de forma organizada sendo possível descobrir as leis que os regem para os prever e controlar;

 Há uma clara distinção entre o investigador “subjetivo” e o mundo exterior “objetivo”;

 A validade do conhecimento depende da forma como se procede à observação; diferentes observadores perante os mesmos dados devem chegar às mesmas conclusões - a replicação é garante da objetividade;

 O mundo social é semelhante ao mundo físico; o objetivo da ciência é descobrir a realidade, pelo que tanto as ciências naturais como as sociais devem partilhar uma mesma lógica de racionalidade e uma metodologia comum;

 Desde que os processos metodológicos tenham sido corretamente aplicados, não há porque duvidar da validade da informação obtida.

Segundo Coutinho (2006), neste paradigma de investigação destaca-se:

 o determinismo (há uma verdade que pode ser descoberta);

 a racionalidade (não podem existir explicações contraditórias);

 a impessoalidade (quanto mais objetividade e menos subjetividade, melhor);

 a previsão (o fim da pesquisa é encontrar generalizações capazes de controlar e prever os fenómenos) e;

 uma certa irreflexividade na medida em que se faz depender a validade dos resultados de uma correta aplicação de métodos, esquecendo o processo da pesquisa em si.

Neste modelo, a recolha de dados é feita por meio de instrumentos estruturados. A objetividade dos fenómenos em estudo é reforçada pelo uso de técnicas estatísticas para correlação de dados, sendo as relações entre factos estatisticamente determinadas, repetíveis e mensuráveis (Adue, Chervo, Prado, & Carraro, 2008).

Pelo paradigma quantitativo, os investigadores utilizam, de forma sistemática, processos de medida, métodos experimentais ou quase-experimentais, análise estatística de dados e modelos matemáticos para testar hipóteses, identificar relações causais e funcionais e para descrever situações educacionais de forma rigorosa (Fernandes D. , 1991).

Neste âmbito, Bento (2012, p. 1), refere que na investigação quantitativa “há uma pesada dependência em números, medidas, experiências, relações e descrições numéricas”, exigindo “controlo e manipulação de comportamentos e lugares”.

Por outro lado, Bogdan e Biklen (1994, p. 16) referem que na investigação qualitativa os dados recolhidos são “ricos em pormenores descritivos, relativamente a pessoas locais e conversas, e de complexo tratamento estatístico. As questões a investigar não se estabelecem mediante a operacionalização de variáveis, sendo, outrossim, formuladas com o objetivo de investigar

fenómenos em toda a sua complexidade e em contexto natural”. Os autores referem que neste tipo de investigação é privilegiada a compreensão dos comportamentos a partir da perspetiva dos sujeitos da investigação, sendo a recolha de dados realizada “em função de um contacto aprofundado com os indivíduos, nos seus contextos ecológicos naturais”.

O modo como se procurou conduzir o presente estudo, ajusta-se às caraterísticas de uma investigação qualitativa descritas por Bogdan e Biklen e resumidas por Bento (2012), nomeadamente, no que se refere a:

 acontecer em ambiente natural, isto é, o investigador vai ao local dos participantes para recolher os dados com grande detalhe;

 usar múltiplos métodos de recolha de dados e que são interativos e humanistas. Há, neste âmbito, uma participação ativa do investigador e uma sensibilidade para com os participantes no estudo;

 emergir do processo de investigação em vez de ser pré-estabelecida. Em consequência, as questões de investigação podem mudar e ser redefinidas durante o processo;

 ser uma investigação profundamente interpretativa e descritiva. O investigador faz uma interpretação dos dados, descreve os participantes e os locais, analisa os dados para configurar temas ou categorias e retira conclusões;

 ser indutiva. O investigador analisa os dados indutivamente, não havendo preocupação em arranjar dados ou evidências para provar ou rejeitar hipóteses;

 ser significativa - uma preocupação essencial na abordagem qualitativa. O investigador está preocupado em saber quais são as perspetivas pessoais dos participantes.

 os fenómenos sociais serem vistos holisticamente pelo investigador. Este facto explica por que os estudos qualitativos parecem gerais e visões panorâmicas em vez de micro análises;

 o investigador qualitativo:

- refletir sobre o seu papel na investigação, reconhecendo possíveis enviesamentos, valores e interesses pessoais. O “eu” pessoal é inseparável do “eu” investigador. Assume-se, portanto, que toda a investigação está eivada de valores;

- usar, em simultâneo, a recolha de dados, a análise e o processo de escrita. Privilegiam-se os significados e como os participantes dão sentido às suas vidas, o que experienciam, o modo como interpretam as suas experiências e como estruturam o mundo social em que vivem;

- ser o principal instrumento de recolha de dados. Passa muito tempo no local de estudo a compreender os contextos;

Assim, atendendo a que, para a compreensão de um fenómeno se deve fazer uso da abordagem metodológica que melhor se adequa ao estudo pretendido, às questões de investigação que se colocam, assim como aos recursos materiais e pessoais, a opção metodológica deste trabalho recaiu sobre o modelo qualitativo, uma vez que o que se pretende é, essencialmente, compreender os fenómenos em estudo e encontrar significados e respostas através de observações, de narrativas, de citações diretas dos participantes sobre as suas experiências e perceções, de gravações ou transcrições de entrevistas ou discursos, de análise de documentos e registos e não através de relações ou descrições numéricas, manipulação de variáveis ou o estabelecimento de relações causais, caraterísticas do modelo quantitativo.

Por outro lado, no âmbito desta investigação, procurou-se estimular a reflexão sobre as práticas vivenciadas, perspetivando-se mudanças na ação pedagógica das docentes intervenientes, assim como a tomada de decisões, com base numa visão crítica sobre o trabalho pessoal e colaborativo, tendo como metas a melhoria da qualidade das práticas ministradas pelas docentes e das aprendizagens dos seus alunos. Por esta razão, fez-se uso da investigação-ação como método de investigação que melhor se configura para a prossecução destas metas, como detalhamos a seguir.

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