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Pontes de Miranda, Com entários, cit., v 1, p 35.

No documento REALE, Miguel. Teoria do direito e do estado (páginas 158-161)

O ESTADO E O SEU CONTEÚDO SOCIAL

8. Pontes de Miranda, Com entários, cit., v 1, p 35.

M as a Teoria Social do Estado estuda tam bém o elem ento so ­ cial quando o Estado já está constituído segundo um ordenamento jurídico, porque, então, as circunstâncias sociais se alteram, e sur­

gem exigências objetivas de instituições jurídicas novas.

Seria, porém, absurdo pensar que existe um a Teoria Social do

Estado p u r a m e n te s o c ia l. N a realidade, tal cousa não é p ossível. N ão

há análise do Estado que não pressuponha algo de jurídico, assim com o não há fenôm eno social que não im plique notas de juridicidade. É só por um esforço m ental que fazem os abstração do “jurídi­ co ” para considerarm os “o social” do Estado. Por sua vez, não é p ossível, a rigor, tratar do “jurídico” e do “social” sem im plicita­ m en te en v o lv er a q u estã o d os fin s da in stitu içã o , o p rob lem a

te le o ló g ic o -p o lític o . D issem os, no Capítulo I, que o Estado é uma realidade cultural tridim ensional, e esta característica tem o Estado em com um com o próprio Direito, de que é inseparável. D e qualquer

forma, o Estado e o D ireito representam uma r e a lid a d e in te g ra d a , ou

seja, ao m esm o tem p o una e m u ltíp lice , m aterialm en te in d e- com ponível, só m entalm ente analisável em três direções distintas.

N ão se queira, p ois, ver nas distinções que vim os fazendo se­ não um m eio de análise, sem separações radicais entre este e aquele outro aspecto do Estado. Q uem estuda o fenôm eno estatal para lhe

penetrar nos caracteres essenciais, d is tin g u e , m a s n ã o s e p a r a , anali­

sa para possibilitar a clareza da síntese.

E S T A D O E N A Ç Ã O

106. Ora, fazendo abstração do ordenamento jurídico que dá

forma ao Estado, não tem os diante de nós um conglom erado de ho­ m ens sem relações íntim as, am álgama inform e de seres sem nada que os una. A o contrário — e a form ação histórica dos Estados M o­ dernos é fonte de inform ações seguras — a sociedade que se integra

no ordenamento jurídico estatal já é, por si, uma u n id a d e ju r íd ic a “in

p o te n tia ” . Considerando a m ais evoluída das formas de sociedade é que m elhor com preenderem os este fato.

A N ação é uma realidade, não é uma noção artificial, nem uma sim ples ficção política. E xiste com o uma formação cultural histórica.

A o contrário do que diz Jellinek, ela possui uma realidade exte­ rior, resultante de fatores m últiplos, de ordem econôm ica, racial, lin­ güística, religiosa etc., mas sobretudo de ordem histórica, por todos esses laços sutis e fortes que ligam o s hom ens estabelecidos em um m esm o território com uma com unhão de usos e costum es. Represen­ ta, pois, também, um valor de ordem espiritual, que Renan viu reno­ var-se perenemente com o um “plebiscito de todos os dias”.

A C iência jurídica contemporânea está m ais ou m enos de acor­ do em ver em a N ação uma realidade subjetiva e objetiva (cultural), pondo em foco tanto o elem ento subjetivo, que é representado pelo que se convencionou chamar “consciência nacional”, com o o ele­ m ento objetivo dado pelos fatores étnicos, econôm icos etc.9. D aí a dizer-se que a N ação tem um a personalidade distinta da do Estado, vai uma distância enorm e que a sociologia naturalista em vão pro­ curou vencer.

“Em sua totalidade, com o organismo político, escreve Hauriou, a nação é larvária; som ente sua m etam orfose em Estado centraliza­ do a tomará um ser perfeito; sua individualidade é passiva, pois não reage sobre os nacionais de um m odo form al; a personalidade

9. Há escritores que acentuam o elemento subjetivo, apresentando-o como característico na Nação (cf. Renan, Qu’es-ce la nation? in D iscours e t conférences,

1882; Jellinek, D ottrina generale, cit., p. 225 e s.), ao passo que outros pensam po­ der explicá-la de maneira exclusivaniente objetiva (vide Queirós Lima, Teoria do E stado, 3. ed., 1936, p. 7). A maioriados'éscritores, porém, sem esquecer o papel decisivo e principal representado pela solidariedade espiritual, opta por uma teoria

su bjetivo-objetiva, como se pode ver em Esmein, Elém ents de droit constitutionnel,

cit., p. 164 e s.; Hauriou, P récis, cit., p. 80 e s.; Duguit, Traité, cit., v. 2, p. 5 e s.; Corradini, U u n ità e la p o te n za delia nazione, 2. ed., Florença, 1926, p. 85 e s.; An­ tônio Navarra, Introduzione a l diritto corporativo, Milão, 1929, p. 49-90; Bortolotto,

L o Stato fa scista e la nazione, Roma, 1931, cap. II; Panunzio, P rin cipio e diritto d i nazionalità, Roma, 1920, p. 20 e s.; Bagehot, L ois scientifiques du developpem ent d es nations, 3. ed., Paris, 1897; Johannet, Le prín cipe des nationalités, Paris, 1923; e Dabin, D o c tr in e g é n é r a le , cit., p. 17. V ide o trabalho de Francis D elaisi,

C o n tra d iccio n es d e l m undo m o d ern o , trad. espanhola, especialmente na parte intitulada “El mito nacional”, no qual o ilustre historiador e economista tece uma série de considerações sutis tentando demonstrar que a Nação é uma criação artifi­ cial e mítica. A realidade histórico-cultural que é a Nação não pode ser confundida com as doutrinas que, especialmente na Itália e na Alemanha, a transformaram em elemento mítico. O curioso é que o “misticismo nacional” revive hoje na obra de autores que se proclamam antifascistas ou antinazistas...

pensante, ativa, potente, que esta individualidade amorfa pode en­ gendrar, som ente poderá brotar com sua organização sob a forma do Estado” 10.

A tese de Durkheim sobre a existência de uma consciência co ­ letiva, insustentável nos dom ínios da S ociologia e no que concerne à sociedade, também o é relativamente ao Estado, porquanto este só é uma pessoa nos dom ínios do Direito.

107. D evido ao fato inegável da N ação constituir uma realida­

de, o grau m ais alto de integração social até hoje alcançado pela convivência humana, e ao fato não m enos importante de que a N ação já contém em esboço ou em forma latente a personalidade estatal, que só se tom a com pleta m ediante o ordenamento jurídico, é que se

costum a dizer que a N ação é titu la r da soberania. O termo “titular”

neste caso não é em pregado em sua acepção técnica, mas para indi­ car a sede, a fonte originária do poder estatal.

É por isso ainda que dizem os que a s o b e r a n ia é d a N a ç ã o , não

em sentido contratualista-liberal, mas em sentido histórico-socioló- gico, visto com o reconhecem os que toda N ação é um Estado em potência, tem o poder de se atualizar com o pessoa jurídica na unida­ de de um ordenamento de Direito objetivo.

A queles teorizadores que dizem que a soberania, substancial­ m ente da N ação, se com unica ao Estado, achegam -se à doutrina que está de acordo com a análise da soberania em seus dois m om entos, um s o c ia l e o outro ju r íd ic o . C om o pensam os ter demonstrado em um de nossos trabalhos, não há m otivos para se contrapor a doutrina

10. Hauriou, P récis, cit. Dizer que o Estado é a concretização jurídica da

No documento REALE, Miguel. Teoria do direito e do estado (páginas 158-161)

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