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POSIÇÃO DE SPENCER E DA ESCOLA POSITIVA ITALIANA

40. N o sistem a de Spencer encontram os uma renovação dos

princípios organicistas, mas se enquadra m enos no sistem a de uma concepção biológica do que nas linhas de uma explicação m ecanicista do universo e da sociedade.

N a teoria spenceriana, o Estado é órgão in te g r a d o r e a socied a­

de é um organism o, um su p e ro rg a n ism o , am bos sujeitos às m esm as

leis segundo as quais, em toda ordem de seres, verifica-se uma pas­ sagem da hom ogeneidade indefinida, incoerente, confusa, para a heterogeneidade definida, coerente, coordenada26.

N a doutrina do filósofo e sociólogo britânico, todo increm ento de com plexidade estrutural im plica um correspondente increm ento de com p lexid ad e fun cional, um a v ez que a evolu ção é sem pre

25. Kant, C ritica d el giu dizio, trad. de Gargiulo, Bari, 1907, § 75. Da concep­ ção do povo como unidade de ordem resulta a idéia fundamental de que o Estado é, ao mesmo tempo, meio e fim, conforme expomos em nosso E stado m odem o, cit., p.

162 e s. Neste sentido, vide também Bluntschli, Théorie générale d e l'É tat, cit. 26. Spencer, P rín cip es d e sociologie, Paris, I, §§ 1.° e 2.°, First prin cipies,

Londres, 1922, parte II, cap. XXIX. Note-se que, para Spencer, a sociedade é o organismo, sendo o Estado apenas um órgão. Outros organicistas, ao contrário, con­ sideram o Estado como organismo e apresentam a Nação como órgão do Estado. Cf. Duguit, loc. cit. Dessarte, Spencer procurou harmonizar as premissas organicistas com as suas concepções individualistas, confundindo, na realidade, Estado com Governo e incidindo em uma contradição que tem sido geralmente apontada pelos tratadistas. Sobre o individualismo contraditório de Spencer, cf. H. Michel, U id é e d'É tat, Paris, 1895.

integração de matéria e dispersão de m ovim ento. A ssim sendo, a cada integração de elem entos no todo corresponde um aumento de diferenciação nas partes com ponentes e vice-versa:

“Sabem os que, enquanto um agregado fisicamente conexo, com o o corpo humano, vai crescendo e assum indo a estrutura geral, cada um dos seus órgãos faz o m esm o; que, à m edida que cada órgão vai-

se desenvolvendo e se diferenciando dos outros, r e a liz a -s e um p r o ­

c e s s o d e d ife r e n c ia ç ã o e in te g ra ç ã o dos tecidos e dos vasos que o com põem ”... e “à m edida que cada indivíduo se desenvolve, desen­ volve-se também a sociedade da qual é uma unidade insignificante etc.”, pois “a evolução social é uma parte da evolução universal, no­ tando-se tanto em uma com o na outra um processo para um volum e maior, uma coerência, uma multiformidade e uma precisão m aior”27.

4 1 . Influenciados diretamente por Spencer são o s estudos dos

grandes juristas italianos que lançaram as bases da chamada “escola científica”, tais com o C ogliolo, Icilio Vanni e Puglia, os quais tratam com grande atenção do processo de integração, chegando m esm o a apresentar a integração com o lei ou princípio fundamental.

“N o desenvolvim ento do Direito”, escreve o em inente C ogliolo, “acontece o que acontece nos organism os e em todos os fenôm enos do mundo: de um todo vai desaparecendo a primitiva hom ogeneidade, as funções tom am -se m ais particularizadas e distintas, os órgãos ad­ quirem cada qual um a fisionom ia própria, até m esm o as pequenas diferenças aumentam e a m esm a se divide em partes diversas e aper­ feiçoadas; de outro lado e contemporaneamente, verifica-se a coor­ denação em conceitos gerais, as várias funções cooperam para um escopo com plexo, o sistem a se desenvolve e reúne a m ultiplicidade das cousas em princípios vastos e superiores”28.

27. Spencer, F irst prin cipies, loc. cit., e Prín cipes d e sociologie, t. 2, § 271. Idêntico é o pensamento de Schâffle, para quem “a vida social deve ser compreendi­ da como a mais alta, universal e consciente integração e diferenciação de todas as espécies de matéria orgânica e inorgânica, de todas as forças naturais o sociais”. Cf. Angelo Vaccaro, Intr., in Le b a si d el diritto e d ello Stato, Turim, 1893.

28. Cogliolo, Filosofia d e l diritto priva to , Florença, 1912, p. 34; na mesma ordem de idéias, vide Ferdinando Puglia, Saggi di filosofia giu ridica, no ensaio intitulado “Degli organismi sociali”, 2. ed., Nápoles, 1892, p. 174 e s.

O que C ogliolo diz do desenvolvim ento do Direito ele repete para explicar a estrutura do Estado, a divisão dos poderes, os direitos e deveres individuais etc.

42. Icilio Vanni, que sabe distinguir e reconhecer a parte de verdade contida nas teorias organicistas, declara que o concurso per­ manente dos membros de uma unidade orgânica para a realização

concorde dos fins com uns “resulta de uma d ife r e n c ia ç ã o de órgãos e

de funções, de tal maneira que cada órgão realiza uma função distin­

ta; e resulta tam bém da c o m b in a ç ã o d o tra b a lh o d is trib u íd o , de sorte

que se estabelece entre as partes uma estreita dependência mútua,

isto é, aquele co n se n su s em virtude do qual uma parte não poderia

existir e m uito m enos funcionar sem as outras, nela repercutindo tudo o que se passa nas restantes”29.

Eis aí bem clara a noção de coordenação social que sempre se

verifica em conexão íntima com um processo de d ife re n c ia ç ã o . Pen­

sam os, aliás, que não é possível isolar um processo de outro, a não ser mentalmente. Em verdade, a integração é, ao m esm o tempo, par­ ticipação dos indivíduos à vida do todo e reconhecim ento que o todo faz da individualidade dos membros com ponentes. O princípio de integração, em última análise, é princípio fundamental para a ciência jurídica, pois exprime a harmonia que deve existir entre as partes e entre as partes e o todo, visto com o integração im plica diferencia­ ção, atribuição de direitos e estabelecim ento de garantias.

É por todos esses m otivos que Icilio Vanni escreve que “to d a a

e v o lu ç ã o h is tó r ic a d o D ir e ito se re a liza n o s e n tid o d e um p r o c e s s o

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