PARTE II – ESTUDO EMPÍRICO
3.1 – PROBLEMA E QUESTÕES DE INVESTIGAÇÃO
A primeira parte do presente trabalho académico – revisão de literatura – refere- se à fundamentação teórica que pretendemos adotar para tratar o tema desta dissertação – a normalização contabilística internacional para o setor público – e, consequentemente o problema da nossa investigação.
Quanto ao enquadramento da problemática de estudo em causa, podemos mencionar que o normativo nacional aplicado às Autarquias Locais – o POCAL – teve a sua origem no POCP que, por sua vez, se baseou no POC e nas diretrizes contabilísticas, do setor privado. O POC foi abolido pelo Decreto-Lei nº 158/2009, de 13 de Julho, que aprovou o SNC, que entrou em vigor no dia 01/01/2010. O SNC constitui uma reforma estrutural em todo o sistema contabilístico nacional, para o setor privado e resulta da estratégia da UE de adaptação dos normativos nacionais de cada estado-membro às normas internacionais de contabilidade emitidas pelo IASB.
De acordo com a revisão de literatura, a estratégia da UE, em matéria de normalização contabilística para o setor público, é a sua adaptação às normas emitidas pelo IPSASB, denominadas IPSAS, que por sua vez são adaptações das normas estabelecidas pelo IASB, designadas IFRS.
Notámos ainda que alguns países pertencentes à UE, designadamente Espanha, França e Reino Unido, já tiveram a preocupação de direcionar as normas contabilísticas nacionais para o setor público, no sentido das IPSAS.
Embora em Portugal ainda não se tenha verificado o início de uma nova reforma da normalização contabilística para o setor público, do que aferimos na revisão de literatura, parece-nos que esta nova reforma tenderá a seguir a tendência dos
países acima referidos, indo de encontro à estratégia da UE. Neste contexto, identificámos o seguinte problema de investigação:
Qual o impacto da eventual adoção, em Portugal, das IPSAS no relato financeiro das Autarquias Locais?
Dentro desta problemática, identificámos algumas questões de investigação:
Será que o POCAL difere significativamente do preconizado nas IPSAS? Se o POCAL difere das IPSAS, o impacto da aplicação das IPSAS às Autarquias Locais dá-se ao nível da valorização dos ativos e passivos? Se o POCAL difere das IPSAS, o impacto da aplicação das IPSAS às Autarquias Locais dá-se ao nível da apresentação das demonstrações financeiras?
Se o POCAL difere das IPSAS, o impacto da aplicação das IPSAS às Autarquias Locais dá-se ao nível das divulgações?
Considerando a eventual adoção do normativo internacional, procuramos dar resposta às questões de investigação, confrontando o normativo contabilístico português – POCAL - com as normas internacionais contabilísticas para o setor público - IPSAS - de forma a identificarmos as potenciais alterações nas demonstrações financeiras das Autarquias Locais.
3.2 – METODOLOGIA
Para COLLIS e HUSSEY (2005), citados por SEGURA et al. (2010:3), a escolha do paradigma de investigação define a metodologia a ser utilizada. Assim, é possível adotar diversas metodologias, sendo a que seguimos, enquadrada no
paradigma fenomenológico3.
3
De acordo com SEGURA et al. (2010:4), a fenomenologia “() é a descrição daquilo que se torna visível ou, mesmo, a ciência cujo fim ou objectivo é a exposição circunstanciada deste fenómeno ()”.
No âmbito da abordagem fenomenológica, cujo principal objetivo é descrever um determinado fenómeno, optámos pelo método de estudo de caso.
O estudo de caso é uma abordagem metodológica de investigação que pressupõe a análise exaustiva e profunda de vários aspetos de um fenómeno, de um problema, de uma situação específica: o “caso”. Tem como objeto de investigação um elemento particular que pode ser, por exemplo: uma organização, uma comunidade, ou mesmo uma decisão.
De acordo com YIN (1994), citado por COUTINHO (2011:294), o estudo de caso é “() uma investigação empírica que investiga um fenómeno no seu ambiente natural, quando as fronteiras entre o fenómeno e o contexto não são bem definidas ()”, utilizando-se múltiplas fontes de evidência.
Existem algumas controvérsias entre os investigadores no que diz respeito ao enquadramento do estudo de caso nas diversas modalidades de investigação – planos qualitativos, quantitativos ou mistos. Contudo, dado que o estudo de caso assume a natureza descritiva, a grande maioria dos investigadores é unânime em enquadrar o estudo de caso no paradigma de investigação qualitativa.
A perspetiva qualitativa é caracterizada por requerer “() informações, dados e evidências impossíveis de serem mensurados por meios de técnicas e métodos estatísticos, exigindo interpretações, descrições e análises de informações não passíveis de serem expressas por meio de dados e números ()” SEGURA et al. (2010:5).
A nível metodológico, a investigação do tipo qualitativa tem por base o método indutivo, que é um “processo mental que, partindo de dados particulares, suficientemente constatados, infere-se uma verdade geral ou universal, não
contida nas partes examinadas” (RODRIGUES, 2007:11)
.
Segundo COUTINHO (2011), a perspetiva qualitativa na relação teoria-prática é uma investigação de carácter prático. Acresce que “A teoria é de tipo interpretativo, ou seja, não é anterior aos dados mas surge a partir desses mesmos dados, numa relação constante e dinâmica com a prática ()”
(COUTINHO, 2011:27). Por conseguinte, o problema ou a problemática de estudo neste tipo de investigação dependerá de questões meramente práticas.
Face ao exposto, e considerando que a escolha da metodologia deve ser feita em função da natureza da problemática de investigação a estudar, reconhecemos a importância da metodologia de investigação qualitativa ou interpretativa, uma vez que entendemos ser a mais adequada ao problema desta investigação.
O caso que vamos estudar é a Câmara Municipal de Estarreja, doravante designada por CME. A CME que, por ser uma Autarquia Local, integra o SPA.