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b) O sentido espiritual ou místico

PRIMEIRA HOMILIA

3. Que ele me beije então com beijos da

sua boca. É do costume das Escrituras usar o

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409 O uso do imperativo em vez do optativo não suprime a vontade dos protagonistas da aliança bíblica, mas traduz o sentido da realização imediata do que é aqui pedido, dado a relação que une o hagiógrafo ou crente com Deus.

410 Recordamos que o nome Cristo vem do grego Χρίστος, que significa exatamente o ungido.

411 Traduzimos aqui pectusculum por parte superior do peito, que seria a parte da vítima reservada ao sumo-sacerdote hebreu. Ver «pectusculum» in BLAISE, A., DLFAC, 2e éd. revue et augmentée, Turnhout, 1962, 603. A mesma palavra, neste dicionário, pode significar o peito ou peito delicado, se for considerado como diminutivo de pectus. Para explicar o epitalâmio, a partir da realidade cristã, Orígenes recorre aos três modos de designar a peito na Escritura: στηθύνιον ou pectusculum (Lv 10, 15), que traduzimos por «parte superior do peito», escolhida e posta de lado para o sacrifício [cf. ORÍGENES, HLv VII, 3 (322-324)]; στῆθος ou pectus (Jo 21, 20) para designar o peito de Jesus sobre o qual se reclinou o discípulo amado e μαστοί ou ubera (seios), quando se trata de um amor conjugal (Ct 1, 2). Sobre o peito de Jesus e o seu alcance teológico-místico em Orígenes, ver BERTRAND, F., Mystique de Jésus chez Origène, 138-139.

412 O verbo recumbere usado aqui pode informar-nos do hábito antigo de a refeição ser tomada com os convivas reclinados.

ponere, ut ibi: Pater noster, qui es in

caelis, sanctificetur nomen tuum (Mt 6,

9) pro: utinam sanctificetur, et nunc in praesenti: Osculetur me ab osculis oris

sui pro eo, quod est: utinam osculetur!

Deinde conspicit sponsum. Venit delibutus unguentis nec aliter ad sponsam poterat uenire decebat aliter patrem ad nuptias filium destinare. Variis eum unxit unguentis, fecit ilium Christum. Venit diuersis odoribus spirans et audit: Quia bona ubera tua

super uinum. Congrue sermo diuinus

eandem rem pro locorum qualitate diuersis uocabulis nuncupat. Quando hostia offertur in lege et uult intellectus ostendere, pectusculum separationis (Lv 10, 14) effatur. Quando uero

recumbit aliquis cum Iesu et sensuum

eius communione perfruitur, non

pectusculum, ut supra, sed pectus (Jo 13,

25) eloquitur. Porro cum sponsa loquitur ad sponsum, quia nuptiale carmen inducitur, non pectusculum, ut in sacrifício, non pectus ut in Iohanne

neste caso: Pai-Nosso, que está nos céus, que

o teu nome seja santificado (Mt 6, 9) em vez

de: oxalá seja santificado. Assim também, no caso presente: que Ele me beije com beijos da

sua boca em vez de: oxalá me beije!409 Em

seguida, a Esposa avista o Esposo. Ele vem ungido de perfume e nem poderia vir de outra maneira junto à Esposa, nem conviria que o Pai enviasse o Filho de outra maneira para as núpcias. Ele ungiu-o com vários perfumes e fê- lo Cristo410. Ele vem, exalando diversos

odores, e ouve: que os teus seios são melhores

do que o vinho. A Palavra de Deus designa, de

forma adequada, a mesma coisa, conforme as circunstâncias, com diversos nomes. Quando uma vítima é oferecida na Lei e a Palavra de Deus quer revelar o seu sentido, ela fala de

parte superior do peito411, posta de lado (Lv 10, 14). Quando alguém, na realidade, se põe à

mesa412 com Jesus e goza completamente da comunhão dos seus sentimentos, a Escritura já não fala de parte superior do peito, como anteriormente, mas fala do próprio peito (Jo 13, 25). Todavia, quando a Esposa fala ao Esposo, dado que isso leva a um canto nupcial,

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413 Trata-se simbolicamente da intimidade do Verbo. discipulo, sed ubera nominat dicens:

Quia bona ubera tua super uinum.

Communica ut sponsa cum sensibus sponsi et scies quia inebrient atque laetificent istiusmodi cogitatus. Quomodo autem calix Domini inebrians

perquam optimus est (Sl 22, 5), sic ubera sponsi omni meliora sunt uino. Quia bona ubera tua super uinum. In

mediis precibus ad sponsum uerba conuertit. Et odor unguentorum tuorum

super omnia aromata. Non uno, sed

omnibus sponsus uenit unctus

unguentis.

Si autem et ad meam animam factam sponsam suam uenire dignabitur, quam oportet earn esse formosam, ut ilium de caelo ad se trahat, ut descendere faciat ad terras, ut ueniat ad amatam? Quali pulchritudine decoranda est, quali debet amore feruere, ut ea loquatur ad illam, quae ad perfectam locutus est sponsam, quia ceruix tua, quia oculi tui, quia genae tuae, quia

manus tuae, quia uenter tuus (Ct 1, 10;

1, 15; 5, 14; 7, 2), quia humeri tui, quia pedes tui? De quibus, si concesserit Dominus, disputabimus, quomodo sponsae membra uarientur et singularuni partium laus diuersa dicatur, ut post disputationem etiam ad nostram

a Palavra de Deus não fala de parte superior

do peito como no sacrifício nem de peito, como

em João, o discípulo, mas fala de seio413,

dizendo: que os teus seios são melhores do que

o vinho. Esteja em comunhão, como a Esposa,

com os sentimentos do Esposo e saberás que tais pensamentos embriagam e alegram. Tal como o cálice inebriante do Senhor é

absolutamente ótimo (Sl 22, 5), também os seios do Esposo são, em tudo, melhores do que

o vinho. Porque os teus seios são melhores do

que o vinho (Ct 1, 2). No meio das preces, ela

fala ao Esposo. E o odor dos teus perfumes está

acima de todos os aromas. Não só de um, mas

de todos os perfumes pelos quais o Esposo vem ungido.

Ora, se o Esposo se digna vir também à minha alma, feita Esposa dele, quão formosa deve ela ser para o atrair do céu até si, para o fazer descer à terra, para que venha para junto da amada? De que espécie de beleza deve ela ser ornamentada, de que amor deve ela estar a ferver, para que o Esposo lhe diga o que foi dito à Esposa perfeita: o teu pescoço, os teus

olhos, as tuas faces, as tuas mãos, o teu ventre

(Ct 1, 10), os teus ombros, os teus pés? Acerca disto tudo, examinaremos, se o Senhor permitir, de que modo é que os membros da Esposa são diversificados, ao ponto que se pronuncie um elogio diferente para cada uma das suas partes, para procurarmos então, depois da exposição, ver como é que o mesmo pode ser dito à nossa alma.

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414 Na tradição latina, o mysterion grego foi muitas vezes traduzido por sacramentum; daí a nossa tradução do propheticum sacramentum por «mistério profético» justifica-se então, até porque a interpretação deste verso,

atesta que se trata de um mistério que será desvelada e cumprida apenas com a vinda de Jesus. dici animam similiter laboremus.

Bona igitur ubera tua super uinum. Si uideris sponsum, tunc

intelliges uerum esse, quod dicitur:

Quoniam bona ubera tua super uinum, et odor unguentorum tuorum super omnia aromata. Multi habuerunt aromata. Regina Austri detulit aromata Solomoni (1Rs 10, 2.10) et plures alii aromata possederunt, sed habuerit quis

quantalibet, non possunt Christi

odoribus comparari, de quo nunc sponsa

ait: Odor unguentorum tuorum super

omnia aromata. Ego arbitror quia et

Moyses habuerit aromata et Aaron et singuli prophetarum, uerum, si uidero Christum et suauitatem unguentorum eius odore percepero, statim sententiam fero dicens: Odor unguentorum tuorum

super omnia aromata.