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Todos os grupos têm dilemas sociais

No documento La Vem Todo Mundo Shirky Clay (páginas 147-155)

Em meados dos anos 1960, o grupo anarquista holandês Provo lançou seu programa Bicicleta Branca em Amsterdã. Acreditando que os sistemas políticos da época haviam subestimado enormemente a bondade humana básica e depositado poder demais nas mãos do Estado, o Provo colocou dezenas de bicicletas brancas nas ruas de Amsterdã, que todos podiam usar gratuitamente. O plano do programa era simples: o Provo distribuía as bicicletas, destrancadas e pintadas de  branco, por toda a cidade. Era possível pegar uma bicicleta onde quer que ela estivesse, usá-la  para ir até seu destino e deixá-la ali para outra pessoa, que a usaria então para ir até seu destino e a deixaria, ad infinitum. Dessa maneira, uma nova infraestrutura comunal se tornaria disponível a  baixo custo, criando um mundo melhor para os habitantes de Amsterdã e ao mesmo tempo

repudiando a economia de mercado e o “terrorismo de tráfego de uma minoria motorizada”. Como os membros do Provo expressaram em seu manifesto: “A bicicleta branca simboliza simplicidade e vida saudável, em contraste com a ostentação e a sujeira do autoritário automóvel.”

O programa Bicicleta Branca teria sido apenas mais uma nota de rodapé na Era de Aquário, não fosse por um detalhe: ele foi um fracasso quase instantâneo. Dentro de um mês, todas as bicicletas tinham sido ou roubadas ou jogadas nos canais. Não se deixando desencorajar, muitos visionários urbanos ressuscitaram a ideia básica das Bicicletas Brancas de uma forma ou de outra. Os resultados acumulados desses experimentos não dão margem a dúvida: os programas que ofereciam acesso irrestrito a bicicletas comunais enfrentaram roubos, e a maioria terminou fracassando por  completo, ao passo que os programas de bicicletas comunais que tiveram sucesso impunham restrições ao seu uso, como abrigos trancados e exigência de apresentação de carteira de identidade no ato da retirada ou da entrega. Apesar do otimismo do Provo, a natureza humana revelou-se bastante sensível ao contexto; se for dada às pessoas a oportunidade de se comportarem mal, e se a punição for pequena, o comportamento de um número suficiente delas se torna antissocial o bastante para estragar as coisas para todos. (Se pelo menos o  Los Angeles Times tivesse compreendido isso antes de lançar o projeto Wikitorial.)

Por acaso, mas de maneira impressionante, o destino dos vários programas Bicicleta Branca ilustra uma verdade básica dos sistemas sociais: nenhum esforço para criar valor de grupo pode ser   bem-sucedido sem alguma forma de governança. Os grupos que hoje estão adotando ferramentas

sociais formam a ala experimental da filosofia política, um campo em que questões espinhosas sobre governança de grupo estão sendo resolvidas. Um aspecto notável do aproveitamento de valor  social é que grupos sociais tendem a ser homeostáticos, isto é, resistentes a pressões externas. A ilustração clássica da homeostase individual é a temperatura corporal. O ser humano tem uma temperatura interna de 37°C, quer esteja no Saara ou no Ártico. Um grupo, depois de formado,  pode atingir a homeostase também, encontrando maneiras de permanecer unido mesmo que o

ambiente externo mude.

Pierre Omidyar, cofundador do eBay, atribui o sucesso de seu negócio à confiança nos usuários; ele disse muitas vezes que um de seus pressupostos fundamentais era que as pessoas são

 basicamente boas. A realidade é mais complexa: o eBay pode ter sido fundado sobre uma confiança básica na bondade humana, mas, menos de dois meses depois de sua criação, o número de transações que estavam dando errado de um jeito ou de outro foi suficiente para forçar a companhia a reagir. A solução do eBay foi criar um sistema de reputação, permitindo ao comprador e ao vendedor em qualquer transação relatar publicamente seu grau de satisfação em relação ao outro. Esse sistema foi concebido para projetar a sombra do futuro sobre ambas as  partes, dando-lhes um incentivo para preservar ou melhorar sua reputação no site; com essa adição, o eBay tornou-se o site que conhecemos hoje. Omidyar tinha razão, com uma ressalva: as pessoas são basicamente boas quando estão em circunstâncias que recompensam a bondade, ao mesmo tempo em que reprimem impulsos à transgressão. As recompensas e as restrições podem ser muito simples e pequenas, mas, em grupos grandes com atores relativamente anônimos, precisam estar   presentes, ou o comportamento irá decair com o tempo.

Se um grupo conseguir durar um ano, tem boa chance de durar bem mais. Os fãs de Buffy, a caça-vampiros que participaram do fórum Bronze:Beta permaneceram ativos muito depois que a série foi cancelada; Buffy  lhes forneceu a razão para que se reunissem, mas o valor da própria comunidade tornou-se uma razão para que continuassem juntos. De maneira semelhante, a comunidade Howard Forums para ávidos usuários de celular inclui um conjunto de discussões sobre assuntos diversos, porque, embora tivessem se conhecido em meio ao tópico dos telefones celulares, os usuários decidiram que gostavam uns dos outros o bastante para querer conversar  sobre esportes, animais de estimação e dietas. Em casos extremos de homeostase, a razão original desaparece completamente, mas o grupo continua intacto. O S-100 Computer Users Group, um grupo do Vale do Silício fundado no fim dos anos 1970 para usuários de um tipo primitivo de computador pessoal, continuava se encontrando como grupo social sob esse nome no início dos anos 1990, embora todos os membros tivessem abandonado havia muito seus S-100s. O grupo sobreviveu à perda da razão de sua origem porque os membros gostavam da companhia uns dos outros.

Isso não quer dizer que todos os grupos se tornam puramente sociais – há sempre uma tensão entre o prazer da comunidade e a razão da existência do grupo (em outras palavras, entre satisfação e eficácia), e essa tensão se resolve de diferentes maneiras. Em 2002, uma de minhas alunas, Marion Misilim, observou um grupo do LiveJournal chamado “I Love My Boyfriend” (Eu Amo Meu Namorado), povoado por meninas que celebravam a emoção resumida no nome do grupo. Durante o tempo em que Misilim esteve observando o grupo, irrompeu uma crise quando uma das integrantes descobriu que seu amado a havia traído. Essa descoberta teve o efeito previsível sobre a relação, suscitando a difícil questão: agora que ela não amava mais o namorado, poderia ainda fazer parte do grupo? Várias razões paliativas foram oferecidas pelas outras meninas – ela ainda o amava, mesmo que desprezasse as suas ações, ou ela o amara antes e isso bastava. Essas ustificativas destinavam-se a permitir que a amiga continuasse no grupo, mas foram inúteis – a menina traída passou a detester o ex-namorado e ponto. A promessa fundadora não se extinguira  para todas, como no caso do grupo do S-100; havia apenas malogrado para ela, que então deixou o

grupo.

Isso também não quer dizer que os grupos não acabem fracassando. Os dois grupos mais longevos na internet, as listas de discussão SF-LOVERS e WINE-LOVERS, ambas fundadas nos anos 1970, duraram três décadas cada uma, mas acabaram se encerrando. O corolário da

homeostase, contudo, é que a maioria dos fracassos acontece rapidamente, em geral devido à incapacidade de acertar uma das três coisas importantes.

Muitos desses sites fracassam já na primeira prova – não oferecem nenhuma promessa plausível. Depois do fracasso do projeto Wikitorial do L.A. Times, observadores discutiram se o problema estava no uso de um wiki ou no mau comportamento dos usuários. O problema com o Wikitorial foi que a proposta básica – “Venham ajudar a melhorar os editoriais do  L.A. Times!” – desde o início despertava pouco interesse. Um editorial não é o tipo de conteúdo que se beneficia da edição por  um grupo, e a promessa de trabalhar em prol do Times, uma entidade obviamente não comunal, tinha pouco apelo, exceto para usuários propensos a tirar partido de uma tribuna em potencial. Como não havia nenhuma comunidade interessada em defender o Wikitorial, o experimento fracassou. Michael Kinsley, então editor e um dos propositores do Wikitorial, atribuiu corretamente a ruína aos usuários de mau comportamento, mas sugeriu erroneamente que essa condição era incomum. Sempre haverá pessoas interessadas no fracasso de todo experimento de qualquer importância. Só os sistemas dotados de defesas contra esses usuários podem prosperar; a suposição de que eles não aparecerão é uma defesa inadequada.

Se promessa bastasse, o caso normal seria o sucesso das ferramentas sociais, não o fracasso. Por  vezes a promessa é muito atraente, mas as ferramentas são inadequadas. Um exemplo disso é a MoveOn.org, a organização política liberal famosa por usar a web para granjear apoio. A MoveOn foi fundada para convencer o Congresso a censurar (em vez de destituir) o presidente Clinton por  mentir sobre sua relação com Monica Lewinsky e a passar a tratar de outros problemas; causas  posteriores incluíram a defesa da campanha pela reforma financeira e o apoio à candidatura de John Kerry à presidência dos EUA em 2004. Quando quer mobilizar apoio, a MoveOn pode enviar  e-mails a quase 1 milhão de usuários, que por sua vez enviam e-mails ao Congresso.

Isso não parece em nada algo destinado a fracassar, mas a verdade é que e-mails são a ferramenta errada para pressionar o Congresso. Antes deles, era uma regra prática no Congresso que uma carta escrita à mão enviada por um cidadão indicava que cerca de 2 mil eleitores naquele distrito se preocupavam com a mesma questão. O e-mail baixa enormemente o custo transacional do envio de uma mensagem e cria uma superdistribuição, o reencaminhamento sem nenhum esforço da mensagem de pessoa para pessoa e de grupo para grupo. O problema do e-mail como ferramenta é que ele agora é bom demais – o custo de pressionar o Congresso por e-mail é tão baixo que uma mensagem de e-mail tornou-se, na prática, insignificante. Tentativas do Congresso de reintroduzir  algum valor nessas comunicações – pedindo aos remetentes de e-mails que informem seu endereço  postal, para assegurar que são cidadãos da região de um parlamentar – fracassaram porque os usuários podem sem dificuldade recortar e colar endereços do distrito do parlamentar, quer morem lá ou não. Se as campanhas por e-mails continuam, apesar de sua quase inutilidade, é porque são uma demonstração pública de força. Como as comunicações individuais foram desnaturadas, a  batalha deslocou-se para declarações em público sobre o número de e-mails enviados, o que tem

efeito no tribunal da opinião pública, mas não nos corredores do Congresso. A MoveOn e todas as outras organizações que pressionam o Congresso se sairiam melhor com uma ferramenta menos conveniente, mais dispendiosa, cujo uso demandasse esforço real e que por isso comunicasse real compromisso da parte das pessoas que subscrevem.

Isso está acontecendo agora. Fãs da série de televisão Jericho ficaram tão contrariados quando a CBS a cancelou que começaram a protestar enviando amendoins para o canal pelo serviço de

entrega da NutsOnline. Esse esforço custava dinheiro de verdade aos fãs, então não havia como duvidar de sua dedicação, especialmente quando vinte toneladas de amendoins acabaram chegando à CBS. (O canal cedeu e ressuscitou a série.) De maneira semelhante, manifestantes pacifistas em Michigan e imigrantes insatisfeitos com mudanças na aplicação das regras referentes à concessão de vistos americanos estão protestando enviando flores para um político de Michigan e para o chefe dos Serviços de Imigração dos EUA, respectivamente. Flores têm a dupla vantagem de significar respeito e de ser entregues fisicamente; é muito mais difícil ignorar flores que e-mails. Todas essas formas de protesto têm o que falta ao e-mail, provando que os manifestantes estão dispostos a expressar sua opinião, mesmo que isso envolva alguma despesa e dificuldade.

Um problema semelhante com uma mudança nos custos atormentou a campanha de Howard Dean. A primeira vez que ele chamou atenção em nível nacional foi quando trezentas pessoas compareceram a um Meetup sobre Howard Dean na cidade de Nova York no início de 2003. Esse nível de comparecimento era inédito e impressionou o próprio Dean, que viajou de Vermont para falar a seus partidários. Isso parecia prenunciar um grande sucesso, mas o tamanho do Meetup foi um atestado tanto para o Meetup quanto para Dean. As pessoas estavam certas ao se entusiasmar  com o encontro, mas pela razão errada, porque o Meetup foi fundado para reduzir os custos de coordenação das reuniões no mundo real. Antes dele, o comparecimento de trezentas pessoas teria indicado a existência de uma enorme população de partidários latentes de Dean; como no caso das cartas ao Congresso, o comparecimento de um indivíduo teria sugerido um apoio muito mais amplo  para o candidato. Contudo, como o Meetup facilita a reunião dos fiéis, isso confundiu as pessoas, levando-as a pensar que estavam vendo um aumento no apoio a Dean, não os efeitos de uma redução nos custos transacionais – o Meetup de 2003 simplesmente atraiu uma porcentagem muito maior dos partidários de Dean do que a que teria comparecido quando a ferramenta não existia. (Vimos esse tipo de efeito antes, como quando as correspondências escritas em papel timbrado deixaram de ser sinal de uma companhia solvente, graças à revolução das impressoras portáteis.)

Por fim, tanto a promessa quanto a ferramenta podem ser eficazes, mas o acordo mata o negócio. Até os críticos mais severos da Wikipédia admitem sua popularidade e o valor de ter usuários que apontam erros. Quando os administradores da Encarta, a enciclopédia digital da Microsoft, viram o entusiasmo em torno da Wikipédia, ofereceram aos usuários da Encarta a possibilidade de realizar  um serviço semelhante para ela. O problema resultante não teve a ver nem com a promessa nem com a ferramenta: a Wikipédia havia mostrado que as pessoas estão bastante dispostas a colaborar  com obras de referência na internet, e que há ferramentas para isso disponíveis a baixo custo e em grande escala. O que condenou o esforço da Encarta foi seu acordo com os usuários: eles tinham de conceder à Microsoft permissão para “usar, copiar, distribuir, transmitir, exibir publicamente, encenar publicamente, reproduzir, editar, modificar, traduzir e reformatar sua Proposta” para um  produto pelo qual a empresa iria cobrar. Isso nem chegava a ser propriamente um acordo, já que

todo o poder ficava com a Microsoft, um fato que tornava a opção pela contribuição do usuário em  boa medida irrelevante. A conversa da Encarta era basicamente a mesma da Wikipédia, mas os

detalhes do acordo, inclusive seu tom, solaparam a possibilidade de qualquer recrutamento em grande escala.

Mesmo quando um grupo faz uma promessa óbvia e fornece um serviço estável, o acordo continua a se desenvolver. Em 2004, o Flickr foi adquirido pelo Yahoo, que, no ano seguinte, pediu aos usuários que passassem a usar um nome de usuário e senha gerais para o Yahoo e não

específicos para o Flickr. Era uma mudança técnica, que ocasionava um transtorno muito pequeno –  foi o que o pessoal que dirigia o Yahoo pensou. No entanto, uma parte pequena, mas bastante ruidosa, da população do Flickr ficou muito publicamente enfurecida, criticando o Flickr e ameaçando mudar-se para outro serviço de fotos. Pouco resultou dessas ameaças; o Flickr tem milhões de usuários e não iria sentir falta nem mesmo de centenas, mas a razão da luta nunca esteve de fato nos detalhes. O que os usuários mais vociferantes denunciavam era a incontestável evidência de que não estavam no controle. Embora tivessem fornecido as fotos que faziam do Flickr o que ele era, não estavam em condições de dizer não a uma mudança unilateralmente  proposta pela Yahoo. O fato de essa mudança ser relativamente insignificante não importava,  porque até uma mudança tão pequena expunha a relativa impotência dos usuários. O incidente  passou sem oferecer um desafio sério para o Flickr, mas o grau de indignação pública é indicativo do quanto os usuários levam a sério o acordo implícito, mesmo quando (e talvez especialmente quando) ele não é corroborado de maneira explícita por um contrato.

O Digg, site de notícias editado por usuários, foi vítima de uma revolta semelhante quando a equipe que o administra precisou negociar com os usuários um acordo que nem sabia ter firmado. A revolta teve relação com DVDs. Todo DVD conta com um código digital secreto destinado a impedir que usuários copiem o conteúdo, e no início de 2007 esse código foi descoberto. Pessoas que protestavam contra as restrições digitais em DVDs começaram a postar o número secreto no Digg, e o serviço, atendendo ao pedido de um grupo da indústria dos DVDs, começou a remover os  posts que o incluíam. O Digg não tinha apenas pleno direito de fazer isso, tinha na verdade uma obrigação legal, mas seus usuários não se importaram com isso. Milhares deles inundaram o site com posts que continham o código, ou com instruções sobre como encontrá-lo buscando “09 F9”, e milhares de outros escreveram e-mails para Kevin Rose, o fundador do site. O ponto de vista deles, que vinha expresso em tons que iam do polido ao colérico, era simples: o Digg se baseava na  participação dos usuários. Eles sugeriam e classificavam as notícias que apareciam na primeira  página, e, nesse caso, o que eles queriam ver na primeira página era o código dos DVDs. Os  proprietários do Digg, que pensavam estar apenas obedecendo à lei, deram-se conta de que os usuários não estavam postando o código ao acaso – estavam exercendo um ato de desobediência civil, e o Digg era a plataforma que tinham escolhido. Tendo de optar entre exercer um controle unilateral sobre seus usuários e cumprir com a sua parte no acordo, o Digg cedeu, permitindo  postagens ilimitadas do código. Como disse Kevin Rose ao anunciar a nova conduta:

Após ver centenas de notícias e ler milhares de comentários, a coisa ficou clara. Vocês preferem ver o Digg afundar lutando a vê-lo curvar-se diante de uma companhia maior. Nós os ouvimos, e partir deste momento não apagaremos mais notícias ou comentários contendo o código e enfrentaremos as consequências, sejam elas quais forem. Se perdermos, então que diabos,  pelo menos teremos morrido tentando.

“Pelo menos teremos morrido tentando.” Esse talvez seja o caso mais extremo quando uma firma comercial é obrigada a prestar contas a seus usuários. O que Rose reconheceu, e teve o mérito de  pôr em prática, foi que seu negócio se fundava não no software que fazia o Digg funcionar, mas no acordo implícito que seus usuários supunham ter com o serviço e, por extensão, com ele. Esse acordo nada tinha a ver com as regras oficiais do site, ou mesmo com as exigências legais – os usuários estavam violando intencionalmente ambas. O acordo era implícito, mas levado a sério; se

os administradores do Digg tivessem descumprido sua parte, o prejuízo para a popularidade do site  poderia ter sido considerável. Depois de reconhecer esse fato, Rose deu o notável passo de  permitir que sua companhia fosse um site de ação coletiva dos usuários, uma ação coletiva que  poderia ter destruído a empresa. (O Digg sobreviveu.)

A revolta do Digg é um exemplo do rumo que nossas ferramentas sociais estão tomando. A começar com a invenção do e-mail, que funcionou primeiro para sustentar uma conversa em grupo, nossas ferramentas sociais têm dado aos grupos, cada vez mais, o poder de se congregar e agir em arenas políticas. Estamos vendo essas ferramentas progredirem da coordenação para a governança, à medida que grupos adquirem poder e suporte suficientes para serem capazes de impor suas exigências. A revolta do Digg foi um dos exemplos mais claros dessa interseção entre grupos e governança; não será a última.

Epílogo

Às duas e meia da tarde do dia 12 de maio de 2008, um terremoto atingiu a província chinesa de Sichuan. Centenas de prédios desabaram, inclusive muitas escolas, deixando quase 70 mil mortos, 20 mil desaparecidos, 350 mil feridos e 5 milhões de desabrigados. A notícia do terremoto espalhou-se no mesmo instante por todo o globo através das mídias sociais. A primeira linha de cobertura foi composta pelos próprios residentes de Sichuan, com mensagens aparecendo no QQ (a maior rede social da China) e no Twitter quando o solo ainda tremia. Minutos depois, fotos e vídeos dos efeitos do terremoto estavam sendo enviados a partir de telefones celulares, com seus

No documento La Vem Todo Mundo Shirky Clay (páginas 147-155)