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10. O PASSADO COMO DESTINO TURÍSTICO: PERFIL DE UM IMPACTO

10.3 Turistas Ocidentais

A Zona de Turismo de Guimarães, através de inquéritos já referidos anteriormente neste capítulo, definiu um perfil de turistas que visitam Guimarães: os inquiridos pertencem maioritariamente ao segmento da população activa (49,5% têm entre 41 e 65 anos); os turistas nacionais representam 31% seguindo-se os espanhóis com 14% (perfazendo juntos 45% do total); o nível de escolaridade é, em 71,5% de nível superior, o que está directamente relacionado com produto Turismo Cultural que Guimarães oferece. À semelhança da maior parte dos destinos turísticos internacionais, Guimarães sofre do efeito da sazonalidade com picos de procura nos meses de Verão, principalmente Agosto, e quebras nos meses de Inverno. Finalmente, apesar dos aumentos nos números de visitantes nos postos de turismo e nos museus, a taxa média de ocupação-quarto na hotelaria registou um decréscimo, situando-se nos 50,4% (dados obtidos a partir da Síntese de Resultados Estatísticos 2002).

Jordi Juan i Tresserras define da seguinte forma os clientes do turismo cultural: “El turista cultural apuesta por la calidad del producto y exige un nivel más alto de infraestructuras y servicios; busca una oferta personalizada; no está tan sujeto a la estacionalidad; visita monumentos, museos, celebraciones tradicionales, etc.; manifiesta interés por el contacto con las gentes y sus tradiciones; gasta más dinero que el turista tradicional; tiene mayor tendencia a alojarse dentro de la comunidad que visita que en

resorts turísticos especializados; pasa más tiempo en el área objeto de su visita; es más

educado con el medio y la cultura local; y posee nivel cultural medio-alto” (2001: 218). Penso que desta definição só o último aspecto- possui nível cultural médio-alto- se pode, em parte, confirmar em Guimarães tendo por referência os dados da Z. T. G. e as declarações dos comerciantes de artesanato entrevistados: vários se referem ao nível socio-cultural mais elevado dos turistas desde a classificação de Património da Humanidade, com frases do género “Aumentou a qualidade dos turistas. Mais

interessados em conhecer” ou “Hoje há uma procura de qualidade. Casais de 45/50 anos, que procuram mais qualidade”. A alegada procura de qualidade por parte dos

turistas talvez seja uma das razões por que dez dos catorze comerciantes se queixam de não vender: com excepção das duas lojas de artesanato contemporâneo, as restantes apresentam, de modo geral, um amontoado de objectos a que dificilmente se pode chamar artesanato e que só eventualmente pode interessar a um turista cultural, tal como definido anteriormente por Tresserras (2001) ou ainda por Fortuna (1995): o turista

cultural pertence a estratos sociais médios e médios altos, tem um nível de capital escolar e cultural relativamente elevado, é membro do grupo de profissões intelectuais, técnicas, científicas e artísticas, tem, na sua maioria, idades compreendidas entre os 20 e os 39 anos e tende, quanto à sua divisão por sexos, a repartir-se de igual modo. De um modo geral, os visitantes de estratos sociais superiores são mais motivados por interesses históricos, patrimoniais e educacionais do que os grupos de estratos inferiores; contrariamente, os visitantes mais jovens têm menos interesse por castelos, monumentos antigos e história, comparando com grupos mais velhos (Thomas, 1989).

Quanto às questões ter “mayor tendencia a alojarse dentro de la comunidad que visita” e passar “más tiempo en el área objeto de su visita”, a taxa média ocupação- quarto em Guimarães contraria essas características, pois houve um decréscimo desde 2001. O mesmo se pode dizer em relação à sazonalidade que em Guimarães segue os padrões do turismo de massas pela acentuada concentração de visitantes nos meses de Verão, sobretudo em Agosto, escapando a uma das características do turista cultural que é não estar “tan sujeto a la estacionalidad”. Se a procura de “una oferta personalizada” não pôde ser testemunhada, já a visita a “monumentos e museos” é possível contabilizar: o Paço dos Duques registou uma subida de 23.750 visitantes de 2001 para 2002 e o Museu de Alberto Sampaio uma subida de 8.698, no mesmo período de tempo.

Muitos comerciantes se referiram à falta de tempo de que os turistas dispõem para visitar a cidade o que pode explicar a sua falta de “interés por el contacto con las gentes y sus tradiciones”. Para Krippendorf, esses contactos, por si só, também nunca contribuíram para a criação de laços de amizade ou aproximação verdadeira entre turistas e autóctones: “Na maioria dos casos, o encontro segue a lógica de um clichê, é artificial e enganador. Neste caso, em que domina a motivação da fuga e do egocentrismo, onde a invasão das massas não pode ser dominada senão pela massificação dos serviços, (...) é inevitável que o coração não participe e que qualquer tipo de encontro se torne impossível. Mesmo quando os cidadãos das nações industriais se dirigem às regiões turísticas do seu próprio país e podem, portanto, travar contactos em um nível social equivalente, raramente ocorre uma aproximação real” (1989: 110).

Qual é, então, o perfil do turista que visita o centro histórico de Guimarães? Cerca de metade tem mais de 40 anos, a maioria é de nacionalidade portuguesa ou espanhola e possui um nível de escolaridade médio-superior. Grande parte procura Guimarães por ser Património da Humanidade e por questões culturais, visita museus e monumentos, não permanece mais que um dia na cidade. Em grande grupo não adquire

artesanato ou quaisquer outros bens de consumo, não manifesta interesse em contactos pessoais com os residentes e desloca-se em tempos e percursos predefinidos. Com a família, em pequenos grupos ou individualmente, os visitantes têm mais tempo e propensão para, de forma directa ou indirecta, conhecer o património cultural, arquitectónico e natural de Guimarães.