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CAPÍTULO II. CULTURA, VALORES E PRÁTICAS ORGANIZACIONAIS

SEÇÃO 2. VALORES HUMANOS E VALORES ORGANIZACIONAIS

2.1 VALORES HUMANOS

É crescente a importância dos valores na psicologia social, fato esse que pode ser comprovado pela presença de um capítulo exclusivo designado à temática na última versão do Handbook of Social Psychology (Ros, 2006). Conforme ressalta Ros (2006), isso só foi possível graças aos esforços de pesquisadores, durante os anos de 1980 e 1990, no desenvolvimento e na verificação de teorias que permitiram o conhecimento das dimensões básicas da cultura.

2.1.1 Valores Humanos: uma perspectiva histórica e conceitual

O constructo valores já circundava o imaginário de diversos pensadores, como é o caso de Aristóteles, que o definia como aquilo que todos desejam em contraponto ao que deveriam desejar; logo, a ênfase que se estabelecia recaía sobre a concretização de uma natureza, já que o ser humano carecia de uma realização virtuosa no que lhe é natural, a sua razão, o modo pelo qual a pessoa floresce, ou seja, torna-se ela mesma (Aristóteles, 2001). Cabe salientar que não havia consenso entre Sócrates, Platão e os sofistas sobre o significado do termo valor. Assim, para os sofistas, na subjetividade e na relatividade os valores eram depositados; advinha a ideia de que “o homem é a medida de todas as coisas, das que são como são e das que não são como não são”, conforme o pensamento de Protágoras de Abdera. Disso resulta a subordinação dos valores ao julgamento do homem. Para Sócrates, a noção de valore vinculava-se a um juízo de verdade, que continha validade universal. E, por fim, Platão, abordava a ideia de que no bem estaria o caminho para todas as coisas.

Ao caminhar pelo horizonte da história, a concepção moderna do valor, definida por Kant (1724-1804/2002), passa pela possível realização prática advinda de uma norma priorizada, desde que vincule verdade, bondade e beleza às coisas passíveis de seleção

(Goergen, 2005). Para Durkheim (1897/1964) e Weber (1905/1958), os valores são cruciais para explicar a organização social e pessoal bem como a mudança.

As contribuições sociológicas e psicológicas encontram em Thomas e Znaniecki (1918-1920 citado por Ros, 2006) expoentes do legado sobre o qual foram estabelecidos os desenvolvimentos teóricos dos anos de 1970 até o final dos anos de 1990 (Ros, 2006). A contribuição dos autores perpassa dois temas considerados centrais, atitude e a relação entre atitude e valores. Assim, enquanto a atitude é considerada intrasubjetiva, o valor passa pelo intersubjetivo e extrasubjetivo. Para tanto, são estabelecidas cinco motivações subjacentes aos valores: reconhecimento social, segurança, resposta, domínio ou competência e novas experiências. Se o desejo de se relacionar com os outros for a consequência da motivação subjacente nos valores, tem-se a relativização da motivação, fato análogo quando se refere à definição da situação (Ros, 2006).

Outro expoente da tradição sociológica foi Parsons (1937), que observava a importância do sistema cultural para tornar possível o sistema social e o pessoal. Segundo esse autor, as pessoas agiam motivadas por três categorias (cognitivas, catécticas (ou catéxicas) e avaliativas) adicionadas às orientações de valor que obrigavam o indivíduo a respeitar determinadas normas que limitariam as escolhas. Assim, a definição de valor pessoal apresentava-se como os compromissos com os critérios normativos relacionados a três critérios (cognitivo, avaliativo e de responsabilidade pessoal), perante as implicações de suas ações, tanto para o sujeito que age como para o sistema social (Ros, 2006). Segundo a concepção de Parsons (1951), os valores têm um caráter normativo que proveem critérios orientadores da ação, motivando as expectativas e sanções sociais.

Os dois conceitos apresentados anteriormente são distintos. Parson (1961) adota o conceito concebido por Kluckhohn (1951, p. 395) que o estabelece como uma “concepção, explícita ou implícita, distintiva de um indivíduo ou característico de um grupo, do desejável que vai influenciar a seleção entre os modos, meios e finalidades de ação disponíveis”. Nessa definição, fica evidente o papel de influência dos valores sobre o comportamento da pessoa, além de estarem internalizados pelo praticante da ação. Ademais, Kluckhohn (1951) observa que os valores estão hierarquicamente organizados.

No ramo da psicologia, destaca-se a contribuição de Lewin (1942) e sua observação sobre a influência dos valores no comportamento, o que significa dizer que os valores definem quais atividades são relevantes, negativa ou positivamente, para um indivíduo em um contexto definido. Ao classificar valores como a crença sobre a qual o indivíduo se baseia para atuar por preferência, que, assim, acabam por influenciar o modo como os

indivíduos percebem a realidade, Allport (1955) reforça a ideia de que valores influenciam o comportamento, como preconizado por Lewin (1942).

Mesmo com os trabalhos apresentados por Allport (1955) e Lewin (1942), de tradição da psicologia, dois outros nomes aparecem em destaque, ao se tratar a temática dos valores: o primeiro é Maslow (1959) e sua hierarquia e dinâmica das necessidades humanas, que escalona em uma pirâmide cinco tipos de necessidades (fisiológicas, segurança, sociais, autoestima e autorrealização). Segundo o autor, as necessidades mais básicas referem-se aos valores comuns compartilhados por toda a sociedade. Em contrapartida, as necessidades ou valores mais elevados não se apresentam plenamente compartilhados, tendo em vista que sua manifestação depende de questões relativas a escolhas pessoais, condições econômicas, sociais e culturais. Apesar disso, ambas as categorias de necessidades ou valores permaneceriam inter-relacionadas, já que conceberiam metas que o indivíduo busca alcançar.

O segundo nome de relevo no estudo dos valores é o de Rokeach (1973), que os define como crenças transituacionais, hierarquicamente organizadas, que atuam como critério para orientar o comportamento. Segundo Ros (2006), vários elementos que estão presentes nessa definição merecem destaque: o primeiro é que valores não são crenças descritivas ou avaliativas, são prescritivas, ou seja, aquelas que revelam o que é adequado ou não atingir. Segundo, organizam-se com um critério de importância; e terceiro, os valores estáveis orientam as decisões dos indivíduos, devido à interiorização ocasionada pelos processos de socialização, pela convergência das instituições sociais (e.g família, escola, amigos), que são a base de seu autoconceito.

Dois tipos de valores foram descritos por Rockeach (1973): os terminais e os instrumentais; os primeiros dizem respeito às necessidades de existência do homem, podendo ser pessoais (autorrealização, felicidade, harmonia interna) e sociais ou interpessoais (segurança familiar e nacional, igualdade). Já os segundos são valores que compõem o meio para o alcance dos fins da existência do homem. Os valores instrumentais exibem-se como morais (ser honesto, responsável), que se apresentam como interpessoais, cuja falta de realização provoca culpa e, por fim, de competência (autorrealização, ser eficaz, ser imaginativo), em que a falta de cumprimento acende sentimentos de ineficiência pessoal.

Rokeach (1968, 1981) e Feather (1995) partilham a ideia de que um indivíduo pode possuir uma infinidade de crenças e atitudes, todavia, apenas um reduzido número de valores, cuja importância atribuída varia entre as pessoas. Assim, Feather (1995) define valores como estruturas abstratas que transcendem objetos específicos e posições específicas; além de

serem dotados de atributo normativo e impregnados de moral, influenciam escolhas e comportamentos, dada a organização prioritária relacionada com o self do sujeito.

O modelo elaborado por Schwartz (2005a), baseado teoricamente nos estudos de Rokeach (1968, 1973, 1981), tinha por finalidade unificar as distintas teorias no campo da motivação humana, organizando as diversas necessidades, motivos e objetivos propostos nas teorias anteriores. Com isso, o autor procurou desenvolver um sistema universal de valores humanos, em que se consideram os principais valores compartilhados por todas as culturas (Blackwell, Miniard & Engel, 2005, Schwartz, 2005a).

Essa característica transcultural dos valores foi explicada por Schwartz e Bilsky (1987), levando em consideração as representações cognitivas de três tipos de necessidades humanas universais: necessidades biológicas do organismo; necessidades de interação social para a regulação das relações interpessoais; e necessidades sócio-institucionais que buscam o bem-estar e a sobrevivência do grupo. A ampliação do modelo proposto por Schwartz (1992, 1994, 1996, 2005b) decorreu de um processo de avaliação empírica da teoria, no qual os tipos de valores ou tipos motivacionais básicos e as relações que se estabelecem entre eles foram confirmados ao longo de várias pesquisas transculturais.

2.1.2 Modelo Teórico dos Valores Humanos de Schwartz

Com base na compreensão de Schwartz (1992, 2005a), os valores humanos podem ser definidos como: (1) crenças ligadas à emoção de forma intrínseca que, quando ativadas, geram sentimentos positivos e negativos; (2) um construto motivacional que orienta pessoas para agirem de forma adequada; (3) transcendem situações e ações específicas,diferindo das atitudes e normas sociais, além de orientar as pessoas em diversos contextos sociais; (4) guiam a seleção e avaliação de ações, políticas, pessoas e eventos e compõem critérios para julgamentos; e (5) aqueles que se organizam de acordo com a importância relativa dada aos demais valores e, assim, formariam um sistema ordenado de prioridades axiológicas.

Dessa forma, existe uma variação do grau de importância que cada indivíduo atribui aos valores. Schwartz (2005a) propõe a existência de uma organização universal das motivações humanas, sustentada na semelhança das estruturas axiológicas, mesmo entre indivíduos de grupos de culturas diversificadas. Os indivíduos e grupos não diferem em relação aos tipos motivacionais (valores), mas, sim, em relação importância relativa atribuída a seus valores, ou seja, às prioridades axiológicas dos indivíduos ou grupos. Em síntese, a diferença entre indivíduos e grupos reside em suas prioridades axiológicas, o que distinguiria um valor de outro, ou seja, seria o tipo de objetivo ou tipo de meta motivacional que o valor

expressa. Com isso, a Tabela 6 descreve os dez tipos motivacionais contemplados na Teoria de Valores de Schwartz, suas metas e como são compostos em termos de valores.

Tabela 6 Tipos motivacionais de valores do modelo de Schwartz

Tipo Motivacional Metas / Objetivos que definem os valores Serve a interesses

Segurança Segurança, harmonia e estabilidade da sociedade, dos relacionamentos e de si mesmo

Mistos

Tradição Respeito, compromisso e aceitação dos costumes Coletivos

Conformidade Advertência das ações, inclinações e impulsos que incomodam, prejudicam ou que violam as expectativas ou normas sociais

Coletivos

Benevolência Preocupação com a preservação e fortalecimento do bem- estar de pessoas próximas

Coletivos

Universalismo Compreensão, apreço, tolerância e proteção do bem-estar de todas as pessoas e da natureza

Mistos

Autodeterminação Independência de ação e pensamento - escolher, criar, explorar

Individuais

Estimulação Excitação, novidade, desafio Individuais

Hedonismo Prazer ou gratificação sensual Individuais

Realização Sucesso pessoal por intermédio da demonstração de competência de acordo com padrões sociais

Individuais

Poder Controle ou domínio sobre pessoas ou recursos, status social e prestígio

Individuais

Fonte. Schwartz (2005a, p. 24-27).

O modelo apresentado, na visão de Schwartz e Bilsky (1990), representa a possibilidade de revelar a estrutura dinâmica das relações entre os tipos motivacionais (Schwartz, 2005a). Essa estrutura decorre do fato de as ações, na busca de qualquer valor, produzirem consequências que poderiam conflitar ou ser congruentes com a busca de outros valores; assim, alguns pares de tipos motivacionais concorreriam entre si, enquanto outros seriam complementares (Schwartz, 2005a). A explicação do que são valores congruentes ou conflitantes foi trazida por Bardi e Schwartz (2003). Para esses autores, dois valores expressariam congruência quando as ações normalmente utilizadas para expressá-los fossem compatíveis com as metas motivacionais que representam. Por exemplo, benevolência e universalismo são valores congruentes, porque ambos promulgam ações relacionadas à promoção do bem-estar de terceiros.

Dessa congruência e conflitualidade resulta que determinados indivíduos apresentam alta preferência para tipos motivacionais mutuamente compatíveis e baixa prioridade para

tipos motivacionais incompatíveis (Schwartz & Bilsky, 1987). É bem verdade que as pessoas poderiam buscar valores antagônicos, porém, não em uma única ação. Ao contrário, buscariam em relação a atos separados, em ocasiões e conjunturas diferentes. A priorização concomitante de valores de domínios incompatíveis poderia gerar o conflito (Schwartz & Bilsky, 1987).

A estrutura circular proposta por Schwartz (1994, 2005a), disponível na Figura 7, refere-se ao padrão total de relações teóricas de conflito e congruência entre os tipos motivacionais, bem como tipos motivacionais de segunda ordem. Quanto mais próximo um tipo motivacional estiver de outro, em qualquer uma das direções do círculo, mais compatibilizados são suas motivações subjacentes. Quanto mais afastados os valores se localizarem no círculo, mais antagônicas são suas motivações subjacentes.

Figura 7. Estrutura teórica de relações entre valores de Schwartz (2005a).

A seguinte compatibilidade entre os pares de tipos motivacionais são indicados por Schwartz (1994, 2005a), baseada na verificação da Figura 7:

 poder e realização: ênfase na superioridade social e estima;  realização e hedonismo: satisfação situada no indivíduo;

 hedonismo e estimulação: presumem o desejo por experiências afetivas prazerosas;

 estimulação e autodeterminação: envolvem o interesse pela novidade e abertura à mudança;

 autodeterminação e universalismo: expressam a confiança no próprio julgamento e bem-estar com relação à diversidade;

 universalismo e benevolência: referem-se à preocupação com as outras pessoas e superação dos interesses individuais;

 tradição e conformidade: manifestam a subordinação do indivíduo em favor de expectativas socialmente impostas;

 conformidade e segurança: relativos à proteção da ordem e da harmonia nas relações;

 segurança e poder: destacam a evitação e a superação de ameaças, controlando relacionamentos e recursos.

Ao vislumbrar as oposições entre os tipos motivacionais contrastantes, verifica-se que estão organizadas em duas dimensões bipolares. Conforme se pode verificar na Figura 7, uma dimensão contrasta abertura à mudança e conservação, que enlaça o conflito entre a evidência no pensamento e nas ações independentes do sujeito, que beneficiam a mudança (autodeterminação e estimulação) e autorrestrição submissa, preservação de práticas tradicionais e proteção da estabilidade (segurança, conformidade e tradição). A segunda dimensão afronta autopromoção e autotranscedência, que capta o conflito entre a ostentação na aceitação dos outros como iguais e a preocupação com seu bem-estar (universalismo e benevolência) e a busca pelo próprio sucesso relativo e domínio sobre os outros (poder e realização) (Schwartz, 2005a). Ainda, segundo o autor, o hedonismo apresenta elementos comuns tanto à abertura à mudança quanto à autopromoção.

Em síntese, ao se organizar em distintos sistemas psicológicos de semelhanças e opostos, Schwartz (1992, 2005a) observa que os tipos motivacionais formam um continuum ou hierarquia de motivações. Esse continuum motivacional compõe-se de duas dimensões basilares, designadas dimensões de ordem superior (Mendonça & Tamayo, 2008). Apesar de a teoria reunir e distinguir os valores em dez tipos motivacionais, Schwartz (2005a) afirma que, em nível mais fundamental, os valores formam um continuum de motivações relacionadas (Blackwell et al., 2005; Schwartz, 2005a). Tal exposição reflete o fato de que algumas ações que são equivalentes com algum valor e seu tipo motivacional ocasionam consequências que podem ser complementares e congruentes, ou conflitantes, com os objetivos de outros tipos motivacionais que estejam próximos ou opostos (Schwartz, 2005a).

Examinando a estrutura circular, nota-se que os cinco tipos motivacionais que exprimem interesses individuais ocupam uma área adjacente que se contrasta aos três conjuntos de valores que expressam interesses coletivos. Os tipos de valores que expressam

interesses mistos sãoopostos, situando-se na fronteira entre as duas áreas anteriores (Tamayo & Schwartz, 1993).

De forma contrária às demais propostas para o estudo dos valores, que buscam o exame das relações entre valores isolados e atitudes ou comportamento, no modelo de Schwartz (1996), a estrutura do sistema de valores capta o relacionamento dinâmico (compatível ou antagônico) entre os dez tipos motivacionais, permitindo pesquisar as relações dos valores com atitudes, comportamentos ou outras variáveis de maneira integrada.

A abordagem proposta pelo modelo de Schwartz (1996) implicaria em uma associação entre os tipos motivacionais adjacentes de maneira similar com outras variáveis, bem como uma previsível redução do nível de correlação dos valores com outras variáveis. Assim, espera-se um decréscimo contínuo ao longo dos tipos motivacionais nas direções horárias e anti-horárias da estrutura circular, apresentando desde o tipo motivacional com maior correlação até o mais negativamente relacionado a determinada variável, o que resulta em um padrão previsível entre a ordem de associações para o conjunto dos dez tipos motivacionais (Bedani, 2008). Portanto, quando se tem uma correlação positiva entre uma atitude ou comportamento e um tipo motivacional específico, deseja-se uma correlação negativa no tipo motivacional oposto, espera-se que o modelo de associações seja o mesmo entre os tipos motivacionais ao longo da estrutura circular em consonância com o conteúdo da meta que expressa. A consequência do modelo apresentado reside na possibilidade de elaboração de hipóteses lógicas acerca dos relacionamentos entre os tipos motivacionais e alguma outra variável, em virtude do tratamento do sistema de valores como estruturas integradas, que indica um comportamento previsível, e assim facilitaria a explicação dos resultados das investigações conduzidas com base neste modelo teórico (Schwartz, 1996).

Recentemente, a Teoria de Valores foi revisada e Schwartz et al. (2012) propuseram o refinamento dos tipos motivacionais de valores com o objetivo de obter um contínuo de valores mais significativo, com melhor confiabilidade entre os itens e menor multicolinearidade entre valores adjacentes (Schwartz et al., 2012). Os dez tipos motivacionais inicialmente propostos foram desdobrados em 19 potenciais valores, conceitualmente distintos, que representam um contínuo de motivações de maneira mais particularizada. As análises do escalonamento multidimensional e confirmatórias dos 57 itens produzidos para medir esses valores forneceram suporte tanto à distinção entre eles, quanto ao seu ordenamento. A avaliação do grau de distinção destes 19 valores e seu ordenamento circular se deu em 15 amostras de 10 diferentes países. A Tabela 7 apresenta como os 19 valores capturam diferenças motivacionais substanciais no contínuo de valores.

Tabela 7 Os 19 Valores da Teoria Refinada, definidos em termos de Metas Motivacionais

Valor Definições Conceituais em Metas Motivacionais

Autodireção de Pensamento Liberdade para cultivar suas próprias ideias e habilidades. Autodireção de Ação Liberdade para determinar suas próprias ações.

Autodireção de Estimulação Excitação, novidade e mudança.

Hedonismo Prazer e gratificação sensual para si mesmo. Poder de Realização Sucesso de acordo com os padrões sociais.

Poder de Domínio Poder pelo exercício de controle sobre outras pessoas. Poder sobre Recursos Poder pelo controle sobre materiais e recursos sociais. Face Manutenção da sua imagem pública e evitar humilhações. Segurança Pessoal Segurança em seu ambiente imediato.

Segurança Social Segurança e estabilidade da sociedade (mais ampla). Tradição Manutenção e preservação da cultura, família ou religião. Conformidade com Regras Conformar-se com regras, leis e obrigações formais. Conformidade Interpessoal Evitar chatear ou machucar outras pessoas.

Humildade Reconhecimento da própria insignificância em um contexto amplo. Benevolência Dependência Ser um membro confiável e fidedigno do endogrupo.

Benevolência Cuidado Devoção ao bemestar dos membros do endogrupo.

Universalismo Compromisso Comprometimento com igualdade, justiça e proteção de todas as pessoas.

Universalismo Natureza Preservação do ambiente natural.

Universalismo Tolerância Aceitação e compreensão daqueles que são diferentes de si mesmo. Fonte. Adaptada de Schwartz et al. (2012).

Como já observado, a ordem circular no contínuo, proposta pela teoria original, reflete conflitos ou compatibilidades motivacionais entre eles (Schwartz, 1992). Esse princípio também se confirmou e está inserido na teoria refinada. A argumentação necessária para justificar a nova ordem proposta na teoria refinada foi apresentada e detalhada por Schwartz et al. (2012). A compatibilidade entre os valores se estabelece, quando os comportamentos promovem ou expressam metas de um par de valores. Na medida em que esses comportamentos apresentam consequências opostas para dois valores, originando a meta de um deles em detrimento do outro, estes valores estão em conflito. Quanto maior a compatibilidade entre dois valores, mais próximos eles estão no ordenamento circular. Quanto maior o conflito entre os valores, mais distantes eles estão no círculo. A Figura 8 ilustra o ordenamento dos 19 valores na estrutura circular da teoria refinada.

Figura 8. Círculo motivacional de acordo com a teoria de valores básicos refinada, adaptada de Schwartz et al., 2012.

Ainda assim, a teoria refinada não invalidou a estrutura dos 10 tipos motivacionais supramencionados, em virtude da possibilidade da nova estrutura de valores em agrupar os valores de forma similar ao da teoria original (Schwartz et al., 2012; Sousa, 2013), conforme se mostrar mais útil para o pesquisador.