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698 Pais, op.cit.,Vol. III, p. 145 699 Ibd.,pp.89/93

700 Ibid., Vol. II, p.110 701 Ibd., pp.158/161 702 Ibd.,p. 227

as de Abbâ Taquelâ Haimanôt (...)»703, com o objectivo de refutar dados de Urreta acerca de um assunto central na polémica, as ordens religiosas na Etiópia. Assim irá traduzir e incluir no seu trabalho, num longo excerto, a Historia de Abbâ Taquellâ

Haimanôt como acontão os livros de Ethiopia704. Segundo Hervé Pennec, Pais confronta o texto do dominicano com o etíope, conferindo a este último a autoridade e credibilidade para base de refutação do anterior, tal como procurara fazer com toda

a espécie de testemunhos etíopes que contradiziam o frade valenciano705.

Outro documento etíope que terá possívelmente passado pelas mãos do P. Pais, presente na corte, foi a carta de 2 de Junho de 1621, endereçada pelos frades de Tigré ao Imperador depois da interdição da observância do Sábado, que ele reproduz na sua história sob a forma de um resumo. Socorrendo-nos ainda da profunda análise textual efectuada por Hervé Pennec para a compreensão da utilização das fontes etíopes em Pais, constatamos que se trata de uma versão abreviada do tratado do

Refúgio da Alma, originalmente dividido em dez capítulos e do qual «Les morceaux choisis par l’historien jésuite sont en relation avec l’édit promulgué par le roi en 1620(...). le long passage sur la question du sabbat est le seul qui garde toute sa cohérence les autres n’étant que des extraits mutilés du traité.»706.

Esta utilização dos documentos abexins revela o conhecimento das línguas etíopes, elogiado por todos os autores que se debruçaram sobre Pais, o que lhe permite a sua consulta, resumo e tradução de forma a incluí-los na sua obra. Daí que numerosos apontamentos de etimologia apareçam na Historia, quer a propósito da titulação real707; quer na descrição dos oficiais da corte708; quer na dos diferentes

dignidades religiosas709 ; quer nos nomes das igrejas, dos imperadores, das terras, dos

objectos do quotidiano, da natureza710. Os dois exemplos que se seguem ilustram como a etimologia é igualmente uma forma de corrigir as imprecisões de outros

703 Ibd., p.154, Pais completa a informação quanto à história da outra ordem religiosa: «(...) a de Abbâ Stateus não pude aver porq alem de se acharem poucos livros della, não os querem emprestar por lhe parecer q os buscamos pera ver se se acha nelles algua cousa (...) com q se refutem seus erros (...)», ibd.

704 Ibd.,pp.167/204

705 «(…) hu seu livro, a q elles dão muito credito, e chamão Haimanôt Abâu, q quer dizer fee dos P.es, porq he de pedaços de humilias de S. Basilio, Chrisostomo, Athanasio e outros santos antigos.», Ibd., Vol. III, p. 190 706 Ibd., p. 305

707 Pais, op. cit.,Vol.I, p.61 708 Ibd., pp.47/51

709 Ibd.,Vo.II, p.113

710 Este interesse estende-se ao nome dos diferentes povos e nações.A partir da sua experiência entre os turcos, Pais procura descodificar a origem da terra de Rum, de onde teriam chegado santos à Etiópia, no início do

cristianismo:«Alguns por esta palavra (...) entendem Roma.. Outros affirmão q não quer dizer Roma, senão outra terra q senhorea o Turco chamada Rum, e della vem chamar aos Turcos Rumes; ainda q estando eu cativo entre elles, me disserão, q aos q são Turcos de nação não os chamão rumes, senão aos q são de Casta Christãos (...)», ibd.,pp. 11/12

autores, nomeadamente o inevitável frade Urreta. Assim a respeito das fortalezas na Etiópia diz-nos:

« Mas pera q milhor se entenda o nome desta fortaleza, se hade advertir, q na lingoa de Ethiopia todo o monte e rocha, cujo cume se pode defender a gente de seus inimigos se chama Ambâ; e destes há em Ethiopia muitas e muito fortes; por onde o nome proprio daquelle lugar, onde se guardão os descendentes dos Emperadores antigos, não he Ambâ (...), senão Guixên, q quer dizer achou-se.»711

Também a palavra mosteiro, debrâ, se confunde com monte na língua utilizada pelos etíopes, mas Pais elucida-nos que «(...)ordinariam.te edificão em Ethiopia os mosteiros nos montes, daqui veo chamarem tambem ao mosteiro Dêber,e quando querem dizer o mosteiro de tal parte acrescentão esta letra A e dizem Debrâ (...)»712.

Outra base da narração do P. Pais foram testemunhos escritos dos autores ociedentais que o precederam em terras etíopes.Como refere Isabel Boavida, «O testemunho escrito resultante da experiência pessoal deve ser posto ao mesmo nível que o testemunho presencial»713 e as missivas dos missionários, eram tidas como documentos de probidade inquestionável, assim como cartas oficiais das quais Pais obteve cópias.

Entre os vários tipos de correspondência que o autor reproduz com abundãncia podemos começar por destacar, as missivas reais datadas da época da sua missão na Etiópia. Estas estão incluídas no Livro IV, dentro do âmbito cronológico da narração histórica em que Pais é uma testemunha directa e participante(1604/16018) e dizem respeito a missivas trocadas entre si e os imperadores, principalmente a correspondência entre os imperadores etíopes, o Papa e o rei de Portugal e ainda, o governador da Índia. Cartas estas que foram concebidas com o apoio ou orientação dos padres da Companhia, e de Pais em particular, a quem cabia igualmente a sua tradução e o envio, a partir da sua missão em Tigré para algum porto, de onde pudessem seguir para a Índia,

È novamente Hervé Pennec que propõe uma releitura e o papel deste tipo de fontes na obra de Pais. Primeiramente há que evidenciar o papel determinante dos