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205 Em relação aos três manuscritos existentes ( no British Museum; Biblioteca Nacional de Lisboa , ao que parece em mau estado e na School of Oriental ans African Studies – SOAS, em Londres ) e suas características Vide, Hervé Pennec, op cit.,pp. 260-263

206 Vide.,Ibidem.. pp.260, 268-269

Outros autores, antigos missionários, continuam a redigir, aproximadamente

na mesma época, obras referentes à terra do Preste,208:o P.e Manuel Barradas

compõe Tratado primeiro- Do Estado da Santa Fé romana em Ethiopia quando se

lançou o pregão contra ella; Tratado segundo- Do Reyno de Tygrê e seus mandos em Ethiopia; Tratado terceiro Da cidade e fortalezas de Adem, concluído já após a expulsão (1634), que envia em 1635 a Manuel Severim de Faria e, igualmente apenas publicado por Beccari. Diogo Barbosa Machado refere ainda uma Descripção

da Ethiopia em que relata a causa da sua Rebelião e Apologia contra Fr. Luiz de

Urreta da Ordem dos Pregadores sobre o que escrevera do Imperio da Ethiopia209. O sucessor de Pais, António Fernandes encarregará-se-à de elaborar um catálogo de erros teológicos dos etíopes, entre 1610 e 1621, obra essa que será traduzida para geez (Magseph Assetat idest Flagellum mendaciorum contra

libellum Aethiopicum) e impressa na tipografia do colégio de S. Paulo para ser

enviada para a Etiópia em 1642, já depois da expulsão da Companhia de Jesus210.

Também o patriarca, Afonso Mendes redige uma obra em latim,

Expeditiones Aethiopicaee Patriarchae Alphonsi Mendesi et Societate Lusitani, libri tres et actuarii libri quarto sobre a sua estadia na Etiópia, enviada em 1651 ao Geral

da Companhia, Francesco Picolominni211 que também permanecerá inédita até ao

século XX212, sendo igualmente publicada por Beccari na colecção referida.

Anteriormente havia redigido Carta do Patriarcha de Ethiopia Dom Afonso Mendez

escrita de sua propria mão ao muyro reverendo Padre Mutio Vileschi Preposito Geral da Companhia de Iesus; na qual se contem o que Sua Illustrissima Senhoria, com os demais padres da Companhia que andão naquelle grande imperio fizerão de serviço de Deos, & bem das almas, o anno de 1629, impressa em Lisboa por Mateus Rodrigues em 1631.

208 Já em 1628 fora editada em Lisboa uma compilação com base nas cartas dos jesuítas de 1624 a 1626, feita pelo P.e Manuel da Veiga, sob o título Relaçam Geral do Estado da Christandade na Ethiopia. Vide, Inocêncio Francisco da Silva e Brito Aranha, Diccionário Bibliographico Portuguez, Vols 1 a 23, Ophir, Biblioteca Virtual dos Descobrimentos Portugueses, nº 9, Lisboa, Comissão para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 2001 [CD-Rom ] e J. V. Serrão, A Historiografia Portuguesa, Vol. II, , Lisboa Verbo, s.n., pp.294/295

209 Vide, «Padre Manuel Barradas» in, Diogo Barbosa Machado, Biblioteca Lusitana, Vol. III,1741/1752 ,Ophir Biblioteca Virtual dos Descobrimentos, nº 2, Lisboa, Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses/Biblioteca Nacional, s.d. [CD-ROM]

210 Obra referida por C. R. Boxer, A Igreja e a Expansão Ibérica, nota 17 « Interacções culturais» in op cit.,p.62 e por Hervé Pennec, op cit, p. 266

211 Vide, «P.e Afonso Mendes » in, Diogo Barbosa Machado, Biblioteca Lusitana , Vol. I

212Cf., Diogo Ramada Curto, «As Cristandades no Oriente» in História da expansão portuguesa...,, volIII, pp. 469- 477 e Luís Graça, «Os Portugueses na Etiópia» in Portugal no Mundo, vol. III, pp.135-142

Por sua vez o missionário jesuíta, P. Jerónimo Lobo, na Etiópia entre 1625 e 1634, redige um Itinerário após a sua expulsão, por volta de 1640, onde relata as suas viagens e estadia no Oriente (entre elas a tentativa de retomar o velho trajecto de ligação a Melinde em 1625), e incluí vários capítulos sobre a história e características da Etiópia, além da clássica história da expedição molitar de D. Cristóvão da Gama e a questão das nascentes do Nilo. Segundo a opinião do P. M. Gonçalves da Costa, responsável pela edição crítica da sua obra no século XX, Lobo baseia-se na sua experiência e em testemunhos contemporâneos, com excepção da descrição das fontes do Nilo, em que recorre à obra de Pais 213. Mas na época também não verá a sua obra publicada, fosse pela falta da retórica barroca, ao gosto literário da época, fosse por inimizades pessoais ou institucionais, ou diferendos dentro da Companhia quanto à publicação de obras.

No entanto graças aos seus contactos com a Royal Society de Londres, através do enviado especial à corte portuguesa, Sir Robert Southwell, para o qual comporá dois pequenos tratados (Breve Relação do Rio Nilo... e Discurso das

Palmeiras...), que conhecerão tradução inglesa com várias reedições e igualmente versões francesas e alemãs, italianas e holandesas, uma parte da sua obra será conhecida durante o final do século XVII e XVIII.

Por outro lado, um novo manuscrito teria sido terminado em 1668, e, objecto da curiosidade por parte do secretário do enviado francês, Joaquim Le Grand, foi traduzido para o francês e publicado em 1728. Versão essa, que traduzida para inglês por Samuel Jonhson, em 1735, conhece várias publicações até ao século XIX. Será também traduzida para alemão por T. F. Ehrmann e publicado em Zurique em 1793. No entanto o manuscrito original e completo permanecerá inédito até ao século

XX, sendo editado em português apenas em 1971214.

Apenas uma obra centrada na Etiópia é publicada no século XVII: uma terceira rescrita de Pais e de Almeida, levada a cabo pelo P. Baltasar Teles, filósofo, teólogo e historiador da Companhia (e que nunca fora à terra abexim), que decide ou

é encarregado pelo geral da Companhia em Roma215 de resumir e refazer as obras

anteriores na sua Historia Geral da Ethiopia, a Alta, ou Preste João e do que n’ella

213 Vide, M. Gonçalves da Costa, « Introdução » in, Jerónimo Lobo, Itinerário e outros Escritos Inéditos, ed.

crítica, Porto, Livraria Civilização, 1971, pp.105/110

214 O seu editor, P.e M. Gonçalves da Costa refere a sua descoberta na Biblioteca Pública de Braga em 1947. Vide,

ibd.,p.110; quanto às traduções vide pp.125/128; para os Manuscritos da Royal Society vide, pp. 663/670

obraram os Padres da Companhia de Jesus..., impressa em Coimbra em 1660, com traduções em francês e inglês ainda no mesmo século, «(...) onde conjuga as informações etnográficas e históricas de missionários como os P.e Pêro Pais e P.e Manuel de Almeida, com a retórica anatemizadora dos enviados pontificais André

de Oviedo e Afonso Mendes.»216.

A obra contém um mapa preciso da Etiópia, já patente na obra de Manuel d’Almeida, que reduz a representação do território etíope a limites mais precisos, certamente elaborado por um membro da missão, divulgando na Europa a verdadeira

dimensão geográfica da terra do Preste217.

É o fim de um ciclo. Das imagens fabulosas do país do rei sacerdote, repositório de esperanças cristãs, chegamos à imagem da Etiópia ou Abissínia, território concreto, que com o Preste João mantém apenas uma ténue ligação, de nomenclatura.

216Manuel João Ramos, «O destino etíope do Preste João...»in, Condicionantes culturais da Lietratura de Viagens, p.174

217 Já em 1848 Charles T. Beke refere a importância desta carta apesar de não estar isenta de erros e imprecisões: «Leur Carte d’Abyssinie, envisagée dans son ensemble, est substantiellement exacte par rapport aux positions relatives des provinces(...) du cours des rivières et de la situation topographique des villes principales.», que os viajantes subsequentes apenas tiveram de precisar, Charles T. Beke, «Mémoire justificatif en Réhabilitation des Péres Pierre Paez et Jerôme Lobo...» in, Bulletin de la Société de Géographie, Primeira Secção, Março de 1848 , p. 186. Por sua vez Kurt Krause em 1913 sublinha a evolução que ela representa em relação a cartas do século XVI, salientando a correcta sinalização do mar Vermelho e do desenho da linha de costa; a indicação das províncias e rios, com clara localização das residências jesuitas, o que é igualmente, sublinhado por Hervé Pennec, Cf., Kurt Krause, «Os Portugueses na Abissinia...» in, Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa,1ª Parte, nºs 11-12, 31ª Série, Novembro- Dezembro de 1913, pp. 388/389 e Hervé Pennec,op cit., pp. 141/142

Capítulo II- P.e Francisco Álvares e P.e Pêro Pais : Percursos e