• Nenhum resultado encontrado

455 Cf., Jean Aubin, op cit.,pp.189/191 456 A A Banha de Andrade, op cit.,pp. 297/298 457 A A Banha de Andrade, op cit. pp. 297 e 298/299

458 Sobre a questão dos três códices da Biblioteca do Vaticano e do trabalho de Almagià sobre as diferentes versões da obra de Álvares no seu opúsculo Contributi alla storia della conoscenza dell’Etiopia, Pádua, 1941, vide C. F. Beckingham, «The Quest for Prester John» e «Notes on an unpublished manuscript of Francisco Alvares», in

Between Islam and Christendom..., texto II e XIII; e ainda «Introduction» in, The Prester Jonh of the Indies- A True

Relation of the Lands of the Prester Jonh...., the translation of Lord Stanley of Alderley, pp.1/13

459Ap., idem, «Notes on an unpublished manuscript of Francisco Alvares» ,in Between Islam and Christendom...,

manuscrito não contém a segunda parte. Segundo C. F. Beckingham, que o estudou, existem várias discrepâncias informativas entre esta versão latina e a versão portuguesa, mas tanto ele como Almagià concordam que ambos os textos são

bastantes similares, exceptuando o prólogo e a primeira parte460.

Os outros dois códices, o 2789 e o 2202, correspondem respectivamente a uma versão da obra do manuscrito traduzido por Luigi Beccadelli, com notas suplementares recolhidas junto aos frades etíopes em Roma, nomeadamente do nosso já conhecido frade Pedro, e uma cópia sua.

Mas as versões que pululavam entre os eruditos a partir das notas ou obra de Álvares não ficam por aqui: em 1550 Ramúsio publica um resumo do texto nas suas

Navigatione et Viaggi, Vol. I, em Veneza, com base na edição impressa em Lisboa e num outro manuscrito de conteúdo diverso, que lhe havia sido enviado por Damião de Góis e hoje desconhecido. Góis já possuiria este manuscrito desde a sua

passagem por Lisboa, em 1533, segundo a opinião de Jean Aubin461, e teria, talvez,

a intenção de o traduzir para latim. Contudo, remete-lo à a Ramúsio, estando, provavelmente, a braços com o novo projecto do relato do embaixador abexim, Zagazabo. Ramúsio servir-se-á dos dois textos para elaborar a sua versão, mais curta, em italiano, incluindo passagens omitidas na edição portuguesa, assim como um outro prólogo.

Face às versões existentes e às referências a um plano mais extenso, os autores que temos vindo a citar, crêem na existência de uma obra original de maior fôlego, ou pelo menos numa extensa recolha e compilação de notas efectuada durante

ou após a viagem, e cujo manuscrito teria desaparecido462 .

Façamos pois o ponto da intrincada situação: existiria no início da década de trinta de 1500, senão uma obra completa, pelo menos uma compilação de memórias relativas às viagens empreendidas por Álvares; essas notas, segundo Jean Aubin, teriam sido revistas e seleccionadas posteriormente, existindo um manuscrito em Portugal, semelhante ao que esteve na posse de Góis, por volta de 1533.

Entretanto em Itália, c. 1532, surgem referências a uma obra com uma estrutura diferente da que hoje conhecemos, obra que nunca terá existido ou mesmo

460 Cf., Idem, «Introduction» in, The Prester Jonh of the Indies- A True Relation of the Lands of the Prester Jonh...., the translation of Lord Stanley of Alderley, pp.1/13

461 Cf., Jean Aubin, op cit., p. 192

462 «It is obvious that the original text is not fully represented by any of the surviving editions or manuscripts. Either it has perished or it lies undiscovered in some archive, probably in Portugal or Italy.», C. F. Beckingham, «Francisco Alvarez and his book on Ethiopia», in Between Islam and Christendom...,Texto XII, p,9

sido planeada pelo autor. A notícia poderá ter partido dos meios oficiais portugueses. Conheceu no entanto apreciável difusão. Existe ainda uma versão manuscrita anónima na Biblioteca Marciana, em Veneza publicada sob o título De legatione

imperatoris potentissimi AEthiopiae ad Clementem Pontificem VII, no 2º volume da colecção de Andreas Schottus, em Frankfurt, 1605 e e reimpressa por Beccari no

tomo X de Rerum Aethiopicarum Scriptores Occidentales463.

Por sua vez, Álvares em Itália desde 1532, teria levado consigo as suas notas, ou parte delas. Estas teriam sido conhecidas por alguns intelectuais italianos, como Paulo Jóvio e Luigi Becadelli, que teria traduzido e elaborado a versão dos Codices Ottobonianos da Biblioteca do Vaticano, mais próximos de uma possível primeira versão. Manuscritos similares existem na Biblioteca Palatina de Parma ( Pal.977 A e B)464.

Francisco Álvares morre em Itália. A sua obra é impressa postumamente em Lisboa em 1540. Mas teria sido sujeita a alterações: os prólogos dos manuscritos são substituídos; os capítulos iniciais da primeira parte desaparecem assim como uma possível primeira parte que conteria a descrição da viagem de Lisboa à Índia e a primeira expedição ao Mar Vermelho, cuja existência é tida como credível para estes autores; finalmente, é adicionado novo material à obra.

Segundo Jean Aubin, «(...) il en ressort que la rédaction déjà censurée qu’ Álvares laissait derriàre lui fut l’ object d’ume nouvelle lecture avant l’impression, et

subit des petits retranchements supplémentaires(...).»465. Já para Banha de Andrade, a

revisão teria sido levada a cabo em Itália, pelo próprio Álvares, com base no conteúdo mais completo dos manuscritos do Vaticano, que seriam uma possível cópia do material por ele levado.

A revisão e modificações na obra estariam relacionados com as referências

às circunstâncias que rodeavam a embaixada falhada de Duarte Galvão466. Por outro

lado, também o conteúdo religioso da fé etíope não entusiasmou as autoridades portuguesas; mas a crença numa possibilidade de uniformização religiosa e a

463 Idem, «Introduction» in, The Prester Jonh of the Indies- A True Relation of the Lands of the Prester Jonh...., the translation of Lord Stanley of Alderley,p.6 e A A Banha de Andrade,op cit., p. 297

464 C. F. Beckingham, «Francisco Alvarez and his book on Ethiopia» in, Between Islam and Christendom...,Texto XII, pp. 8/9

465 Jean Aubin, op cit.,p.197

466«Ces pages elles-mêmes furent retranchées de l’edition de 1540. Ou plotôt, le manuscrit que l’imprimeur eut à as disposition ne les comportait pas. Déjà, en 1533, Damião de Góis n’avait pu en prendre copie, croyons-nous, puisque Ramusio ignore cette partie initiale de la relation.», ibd.,p.198

continua pressão do Islão no Oriente leva, como referimos467a um retomar do interesse pela questão etíope:

« Cést dans ce contexte politique que le livre du P. Álvares fut, enfin, sous la forme tronquée (...), autorisé à paraître à Lisbonne. Mieux même, as publication “ par ordre du Roi “ fut voulue. L’ imprimeur Luís Rodrigues(...) fut incité à publier la Verdadera Informaçam das terras

do Preste Joham par l’ évêque de Lamego, D. Fernando de Meneses Coutinho de Vasconcelos, membre depuis leur création de la Mesa da Consciencia (1532) et du Tribunal de l’Inquisition (1536), qui devenait ce même automne 1540 archevêque de Lisbonne (...)»468.

Também A A Banha de Andrade confirma o papel do então bispo de Lamego no patrocínio e mesmo na preparação da edição da obra, com base no que quer que seja que Álvares tenha deixado escrito ou preparado em Lisboa ou na Itália.

Finalmente a já referida versão publicada por Ramúsio em 1550, baseada na edição portuguesa e no manuscrito de Góis, apresenta ainda detalhes ausentes das versões anteriores e um diferente Prólogo do manuscrito Ottob., prólogo esse que Jean Aubin469 crê ter sido redigido para a versão já depurada para impressão no

verão de 1527470(a que teria sido deixada em Lisboa) e entretanto retirado.

Em relação à natureza do material utilizado na impressão de Lisboa pode destacar-se a questão dos prólogos. Estes prefácios, eram, com efeito, importantes na apresentação dos objectivos da obra e intenção do autor, além das referências à entidade que possibilita a sua publicação, sob a forma de dedicatórias a personagens socialmente destacadas, permitindo enquadrar o livro nas condicionantes que

determinaram a sua produção471. Por outro lado a imprensa depende fortemente,

senão exclusivamente, nesta época do poder real, clerical ou está na dependência de universidades (também elas controladas pelo poder público ou religioso).Os escritores estão igualmente ligados a essas instituições e no caso dos nossos autores, ambos se podem considerar clérigos homem-de-letras, segundo a expressão de José

António Saraiva472. De denotar ainda, como refere Rui Manuel Loureiro, as