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889 Ibd.,Vol. III, p. 49

890«(...) como tem pera si os S.tos Antigos e quasi todos os Doutores modernos, he o q a divina escritura,

Gen 2, chama Gehan e o poem no segundo lugar, quando nomea os quatro, q sahião do Paraiso (...)»Ibd.,

Vol. I, p. 214

891 Hoje identificadas com as montanhas Rwenzori entre o lago Albert e o lago Edward, no actual Zaire

892 Maria Emília Madeira Santos, Viagens de Exploração Terrestre dos portugueses em África, Lisboa, Centro de Estudos de Cartografia Antiga, 1978, p. 113

893 Vide, Cap. II, p.5 894 Álvares, op. cit.,p. 154 895 Ibd.,p. 167

chamado Gion897). A norte do reino de Gojame, fica o reino de Bagamidri que

correria ao longo do Nilo. 898

Desta forma, para Francisco Álvares, o Nilo situar-se-ia para poente, na confluência com a terra dos Núbios, parecendo ter já a noção da inflexão do seu curso para este, no limite de Gojam. A informação definitiva e sucinta sobre o assunto dá-nos Álvares no resumo apresentado ao Arcebispo, onde é registado,

«Diz que não viu o Nilo e chegou duas jornadas dele e as jornadas que andava são pequenas(...). Porém alguns da sua companhia chegaram ao nascimento dele e dizem que nasce no reino de Gojame e o seu nascimento é em grandes lagoas e logo em nascendo são ilhas e daí começa seu curso e vai para o Egipto.»899

Segundo Maria Emília Madeira Santos, as grandes lagoas apresentadas como as nascentes do Nilo, referem-se ao lago Tana900 . Quanto a outros dados sobre a hidrografia etíope, o P.e Álvares menciona as numerosas ribeiras com que depara ao longo do seu caminho, que enchem durante as trovoadas do Inverno abexim, indo algumas delas engrossar o caudal do Nilo como atrás vimos. Por vezes estabelecem a fronteira entre diferentes regiões e senhorios901. Quando refere o reino de Damute, para poente, comenta que «(...) dizem nascer um grande rio e contrário ao Nilo, porque cada um vai para sua parte: Nilo para Egipto; dêste outro ninguém da terra

sabe para onde vai, sómente presumem que vai para Manicongo.»902

Pais tratará a mesma questão, porém de forma mais sistematizada, agrupando em capítulos os principais rios e lagos do Império. O primeiro rio referido é o

Nilo903. Com efeito, Pais terá sido dos primeiros europeus904 a visionar as modestas

nascentes do principal afluente do Nilo, o Abbai (Abaoî, segundo Pais) ou Nilo Azul, confundido na época com a totalidade do rio. «A gente deste Imperio o chama Abaoî;

897 Ibd.,p. 360

898 Ibd.,pp. 169/170 899 Ibd., p. 425

900 Maria Emília Madeira Santos, op. cit.,p. 113 901 Vide, Álvares, op. cit.,p. 82

902 Ibd.,p. 359

903 «Já q tratamos da fertilidade das terras, q senhorea o Preste João, não será fora de proposito dizer agora algua cousa dos principais rios e lagoas, q também a fertilizão e fazem mais abundante. E o primeiro, q se oferece como mais insigne, he o grande e famoso rio Nilo, (...)», Pais, op. cit,.Vol. I, p. 214

904É necessário ter em consideração a provável presença de membros da embaixada de 1520, como nos refere Álvares e talvez a de alguns dos elementos da expedição de Cristovão da Gama ou seus descendentes , como é já salientado no artigo de M.W. Desborough Cooley, « Notice sur le Pére Pedro Paez» in, Bulletin de la Société de Géographie, Paris, 1872

e tem sua fonte no reyno de Gojâm em hua terra q se chama Çahalâ, (...). Esta fonte quasi ao Poente daquelle reyno, na cabeça de hu vallezinho q se faz em hu campo grande, e aos 21 d’Abril de 1618 q eu a cheguei a ver, não pareciam mais q dous olhos redondos de quatro palmos de largo;(...)»905 Foi sem dúvida uma ocasião especial, embora notada de modo discreto. Pais descreve em pormenor estas nascentes:

«A agoa he clara e muito leve, a meu parecer, q a bebi; mas não corre por cima da terra, ainda q chega à borda della.(...). Dizem os que aly morão q o não tem [fundo] , e quando andão por perto daquelles olhos, bolle e treme tudo a roda de maneira q se vê claramente q debaixo tudo he agoa; e q não se anda por çima senão por estarem as raizes das ervas mui entretecidas com algua pouca de terra;(...) pondo o pee sobre a erva, parecia q se queria hir tudo ao fundo; e até oito ou dez passos mais adiante bulia decendo e alevantando.»906

Pais traça o percurso sinuoso do Nilo Azul na região, formando uma espécie de anel a Oriente em volta do reino de Gojam, tocando a norte as provincias de Begmeder e de Amharâ e a sul a região de Damut, e banhando ainda o as regiões de Xâoa a sudoeste, inflectindo para oeste e noroeste e rodeando o Gojam e aproximando-se mesmo do local de nascente. A partir daí saí das fronteiras do império etíope907, penetrando em terras de gentios na sua viagem para o Cairo908. Pais não deixa de salientar igualmente a passagem do Nilo pelo lago Tana, por ele

cuidadosamente observada909.

905 Pais, Vol. I, p. 214(?)

906 Pais, op. cit.,Vol. I, p. 215

907 Quando da viagem de António Fernandes, o grupo é forçado a atravessar o Nilo que cerca o Gojam, para se dirigir ao reino de Nareâ.«(...) e cõ hir por aquella parte muy furioso, não acharão outra embarcação mais que hua como Jangada, que tinha de hua e outra banda amarradas m.tas cabaças(...)», Ibd.,Vol. III, p. 204

908 « O fio de agoa, q vai por baixo da terra, quando sae daquelle circuito redondo da fonte corre pera Oriente por espaço de hu tiro de Espingarda (...); e logo vai declinando mansamente pera o Norte (...) e pouco mais adiante se lhe juntão duas ribeiras pequenas, q vem da banda de Oriente, e depois recolhe outras m.tas, com q sempre vai engrossando, e tendo andado pouco mais de hu dia de caminho, recolhe hu rio grande , q se chama Jamâ. Depois , dando m.tas voltas, vai pera Occidente e tendo andado 20 ou 25 legoas, já he rio grande, e começa a declinar pera Norte e vay voltando sempre, de maneira q as 35 legoas de seu curso (...), torna a correr ao Oriente e entra por hua ilharga de hua lagoa grande , q está entre a Provincia , q chamão Bed do reyno de Gojâm, e o reyno de Dambiâ. (...) pouco mais adiante se estreita de maneira entre duas rochas, q facilmente atravessão paos de hua a outra e fazem ponte (...) e chegando defronte de hua terra , q chamão Bizân da banda de Damôt e outra q se chama Gumâr Çaneâ da banda de Gojâm, vem a estar o rio tam perto de sua fonte, q se pode chegar a ella em hu dia. (...)ainda vae correndo alguns dias à roda de Gojâm, e depois passa por entre o Reyno de Fazcolô e o de Ombareâ (...). Daly por diante não senhorea o Emperador, ne sabem dar rezão dos nomes das terras ne do curso do rio, mais q dizerem q vai por terra de Cafres gentios pera o Cairo.», Pais, op. cit.,Vol. I, pp.215/217

909«E eu cheguei ao lugar por onde entra e depois passei bom pedaço adiante, e olhando da borda da lagoa de lugar alto, me pareceo q passa o rio por dentro della como mª legoa e enxergasse m.to bem o fio de sua corrente, quando a lagoa está em calmaria (...); porq huas Ervas verdes, q traz o rio antes de entrar nella, as vai levando mansamente sem

Com efeito, as nascentes deste rio, um pouco a oeste do lago Tana e o facto de o seu leito se atravessar no lago, levaram à localização das fontes do Nilo nesse local.

Porém «O grande erro dos Jesuítas [que era a ideia em geral e não apenas desta Ordem] foi terem identificado o verdadeiro Nilo com o Nilo Azul, principal afluente daquele famoso rio. O império abexim não atingia a zona de confluência dos

dois cursos de água, junto da moderna Cartum, já sob o domínio dos Árabes.»910

Todavia, durante largos séculos, com base nos testemunhos e representações cartográficas destes missionários, a Abissínia foi tida como local das nascentes do Nilo911.

Pais não deixa de referir a catarata de Alatâ, quando o rio deixa o lago na direcção sueste, da qual nos deixa uma forte impressão visual: «Como sae da lagoa, vai declinando pera o Sul muy devagar e tendo andado como cinco legoas, chega a hua terra q chamão Alatâ, onde cae a pique por huas rochas, q terão d’alto quatorze braças; (...) e no Inverno da pancada q dá em baixo se levanta agoa como fumo no ar, tanto q se vê de m.to longe, como eu vi m.tas vezes; (...)»912.

Outra questão relacionada com este rio e que desde sempre intrigara os

geógrafos e historiadores é a causa das cheias do Nilo em pleno Verão913. Álvares

adianta uma explicação bastante plausível, conhecendo as condições climáticas da

Etiópia914; explicação essa plenamente corroborada e exemplificada por Pais, na

seguinte passagem: