• Nenhum resultado encontrado

812 Ibd.,p.169 813 Ibd.,p. 170 814 Vide, ibd.,p. 246 815 Ibd.,p. 337 816 Ibd.,p. 305

com os limites do reino de Angoir (Angote) e do reino de Tigré por «mais de duzentas léguas»817.

Quanto à delimitação do reino etíope, informa-nos o P.e Álvares a partir do seu ponto de entrada, Maçuá, no Mar Vermelho, que logo a sul se encontram terras

de «mouros alarves»818 e uma sucessão de senhorios mouros ao longo da costa até

ao Golfo de Adem, que se estendem para o interior, fazendo fronteira com os territórios etíopes, aproximadamente a sudeste. De facto, os reinos do Preste ali situados estão rodeados de reinos e senhorias muçulmanas. Assim o refere Álvares a propósito de um encontro com o senhor de Balgada, no reino de Tigrei. Este sublinha «(...) as guerras que êles tinham com os mouros que partiam suas terras de contra o mar e que nunca cessavam de guerrear (...)»819. Com efeito, nesta região situavam-se vinte e quatro senhorias mouras, de Doba «(...) mui perigosa terra de

mouros que sempre estavam de guerra.»820, afectando especialmente as fronteiras do

reino de Angote, onde se verificam frequentes assaltos e incursões mouras, com retaliações duras821. Também a Capitania de Janamora, sofre frequentes ataques, nos quais são queimadas as casas e igrejas e o gado roubado. Por tal, afirma o autor que são seus habitantes bons guerreiros «(...)porque sempre tem o ôlho sôbre o ombro.»822.

Ainda para Levante, mais precisamente «No meio do reino de Adel mais para o sertão começa o reino de Adea que é de mouros e são de países sujeitos ao Preste; (...)»823. No meio do reino de Adea, para poente, iniciam-se territórios de gentios

«(...) que não são reinos e são nas cabeças dos reinos e senhorios do Preste (...)»824. O

primeiro é a terra de Ganze, habitada por gentios e cristãos; segue-se a grande senhoria de Gamu; ambos fazem fronteira com os reinos do Preste de Oija e Xoa.

A sul dos territórios do Preste situam-se terras de gentios, que habitam o reino

de Damute. A sul deste reino situar-se ia o reino as amazonas,«se as aí há»825, como

afirma cepticamente Francisco Álvares.

817 Ibd.,pp. 361/362

818 Ibd.,pp.355 819 Ibd.,p. 107 820 Ibd.,p.118

821«(...) achámos as cabeças [ de mouros] penduradas nas árvores sôbre a estrada (...) e haviamos mêdo e

nojo de passar por baixo delas.» ,Ibd.,pp.116/117 822 Ibd.,p.122

823 Ibd.,p. 357 824 Ibd.,pp. 357/358 825 Ibd.,p. 358

A oeste ficam terras de povos gentios como os cafates826, aganos827 e outros, além de tribos muçulmanas, a noroeste, que ocupam as regiões semi- desérticas do que será hoje o actual Sudão. Por sua vez o Norte da Etiópia confina com as terras da Núbia, para lá das quais está o fértil vale do Nilo.

Entre a disparidade de povos e suas formas de inclusão nos senhorios do Preste e a imprecisão na delimitação do território, continua a vigorar no relato de Álvares, o desconhecimento da extensão completa do império Abexim tanto para sul como para oeste e a sua situação exacta no continente africano, pelo que este autor mencionará ainda uma certa proximidade com a África Ocidental, quando refere a utilização de sal etíope como moeda nos reinos limítrofes dos mouros e gentios,

alcançando, esse tráfico, o reino africano de Monomotapa828.

Aproximadamente um século mais tarde, Pêro Pais ainda se reporta ao conceito alargado do território designado por Etiópia que vigorava na Europa, advertindo: «(..) porq como este nome Ethiopia seja tão lato, (...) compreende m.tas outras terras e maiores q as q senhorea o Preste João não se segue, q por nomearem Ethiopia se entenda precisamente das terras do Preste João(...)»829. No entanto as suas noções da configuração do continente africano parecem mais precisas do que as do clérigo quinhentista. Por tal corrige, em várias passagens, concepções que circulam ainda na Europa, como a da proximidade de ambas as costas do continente africano, acerca da qual afirma: «Ne são tão vizinhos os Reynos de Monomotapa e Congo (...); antes he tão grande a distancia q não somente não tem comunicação co elles, mas ne ainda lhe sabem o nome.»830; ou a ideia de um rio, que nascendo na Etiópia, desaguaria no oceano Atlântico, perto de Cabo Verde, acerca do qual Pais afirma, ser:«(...) hu absurdo e impossibilidade tão grande(...) pellos m.tos e grandes reynos e Provincias incognitas, e nunca ouvidas em Ethiopia, q estão entre ella e cabo Verde; (...)»831.

No entanto, e face ao desconhecimento do interior do continente e de sua real extensão, uma vez que as informações ao alcance dos conhecimentos dos portuguêses e europeus sobre a geografia de África são de carácter parcelar, seguindo

826 Ibd.,p. 360

827 Ibd.,p. 362

828 Álvares, op. cit.,p.108 829 Pais, op. cit.., Vol. II, p.148 830 Ibd., Vol. I, p.213

o ritmo das zonas costeiras visitadas, há uma ideia que perdura: a de uma possível ligação por terra aos portos da costa oriental africana do Índico, de fácil acesso aos portugueses. Esta rota evitaria o “anel” turco e muçulmano no Mar Vermelho e todas as dificuldades e perigos inerentes a este caminho para a Etiópia.

Esta ideia tomou forma em 1613, quando o imperador Susenios/ Seltan

Çaguêd decidiu enviar uma embaixada a Filipe III832 através de uma rota continental

que pretendia alcançar a partir do sudoeste do seu reino, o estabelecimento

portuguêsde Melinde833 , seguindo daí para a Índia e Europa. Assim em Março desse

ano parte do reino de Dambiâ uma expedição encabeçada pelo embaixador Fecûr Egzî, convertido ao catolicismo, acompanhado pelo P.e António Fernandes, membro da missão. A expedição atravessou o sul da Etiópia: partindo do reino de Gojâm, atravessou o Nilo Azul e penetrou no reino limítrofe de Nareâ, devendo dalí seguir

caminho, atravessando uma enorme extensão de terra desconhecida834. De facto, esta

embaixada não logrou alcançar os seus objectivos, regressando um ano e sete meses depois, mas permitiu aumentar o conhecimento dos territórios africanos a sul da

Etiópia. É provável que a afirmação de Pais835, «(...) Moçambique está muito longe

daqlla terra, e há no meo, segundo dizem, tantos desertos, e gentes tam incognitas, q não tem comercio co Moçambique, mas parece q ne o podem ter, ainda q

queirão.»836, advenha das informações obtidas com a expedição do seu companheiro

Pais recusa igualmente a proximidade com o sul do continente africano (Cabo

da Boa Esperança)837 com base no desconhecimento dos próprios habitantes para lá

dos limites do império, onde «(...)há mattos, e desertos infinitos habitados de feras, q se não podem passar(...)»838.