• Nenhum resultado encontrado

XVIII) ,como oferta ao então ministro plenipotenciário em Haia , António Araújo de Azevedo, Conde da Barca,

no final do século XVIII. Vendida pelos seus herdeiros já no século XX ao médico Manuel de Oliveira, veio posteriormente a ser adquirido pelo Arquivo Distrital de Braga em 1926.Cf.,De fora, Da terra..., op cit; sobre a origem e o destino dos manuscritos do Arquivo de Braga ver também, Alberto Feio, « Notícia Bio-bibliográfica » in Pêro Pais, História de Etiópia,pp.XXVII-XXXVI

643 Ironicamente também as obras de Afonso Mendes e Manuel d’Almeida serão pela primeira vez publicadas a par da de Pais, na mesma colectânea, organizada por Beccari.

644 F. M. Esteves Pereira, «Documentos Inéditos para a História e Geographia da Ethiopia», Revista Portugueza-

Colonial e Marítima, 12ºano, 2º sem., nºs 139 a 144, vol. 24, Lisboa, Livraria Ferin, 1908/1909

645 Pêro Pais, História de Etiópia,3 Vols., Biblioteca Histórica- série ultramarina nº5, leitura paleográfica de

António Lopes Teixeira, 2º conservador do Arquivo Distrital de Braga, introdução de Elaine Sanceau e nota bibliográfica de Alberto Feio, Porto, Livraria Civilização, 1945/1946. O último volume contém um índice onomástico organizados por Cecilda L. de Figueiredo Pereira e Carlos Cidraes Rodrigues e uma corrigenda. 646 Esta nova edição crítica será preparada preparada por uma nova geração de autores, apaixonados pelos estudos etíopes, como o antropólogo Manuel João Ramos e os historiadores Hervé Pennec e Isabel Boavida, a cargo do Instituto Português do Livro e da editora Assírio e Alvim, assim como a sua tradução em espanhol e inglês. Se o projecto se concretizar, finalmente o P.e Pais irá” 646respirar “ à luz do dia e conhecerá a internacionalização

coevos, por outro, mescla-se com as informações geográficas, antropológicas e culturais, como parte integrante do discurso histórico, de uma forma muito habitual nos escritos da Expansão, onde o habitual não é a separação dos campos, mas a

complementaridade temática647. Ora sem dúvida que Pais intentou escrever uma obra

de cariz histórico, conjugando-a com o propósito de rectificar a obra de Urreta e com a descrição da terra e seu povo.

A História de Etiópia inicia-se com uma dedicatória ao Geral da Companhia, Padre Mutio Vitelleschino, na qual Pais declara que o seu desejo de narrar as novas da Etiópia a uma Europa que «pouca noticia tinha dellas» fora posto em prática a pedido do Provincial da Índia, especialmente no que diz respeito ao historiar da acção dos padres que partiram do reino com o primeiro partiarca João Nunes

Barreto648. A dedicatória está datada da Corte do Imperador em Dancas, 20 de Maio

de 1622.

Deparamos, em seguida, com o Prólogo onde Pais afirma a importância do registo escrito como garante da permanência da memória, concepção que se denota

nos escritos da época649. Pais retoma como exemplo a tradição bíblica, e a

importância de registar os factos memoráveis tanto os positivos como os negativos, « (...)q esse he o fim da historia, como diz S. Augustinho, (...), contar com toda a verdade assi o mal como o bem de quem o tem.»650Outras finalidades da escrita histórica consistem na divulgação de sucessos notáveis; na recreação que proporciona o relato de factos de locais remotos, a quem não tem acesso a eles in

loco. Mas acima de tudo, a História, segundo Pais, deve obedecer a uma preocupação de rigor e verosimilhança e daí a importância da informação disponível para o historiador.A utilização de falsas informações, afirma-nos Pais, é a principal causa dos erros contidos nas obras históricas, tanto antigas como modernas. E essa falta de aferição das informações é exemplar na obra de Urreta. A intenção de Pais é a reposição da verdade, com base na sua experiência e defendendo o rigor da escrita histórica, como memória e exemplo fiel do passado, segundo a matriz aristotélica de narrar o que acontecera com propriedade, mesmo nela inserindo a novidade.

647 Vide, Luís Filipe Barreto, «As Grandes Obras Portuguesas de Carácter Geográfico» in, Portugal no Mundo, pp.46/47

648 Pais, op.cit.,p.3

649 Ana Paula Avelar, op. cit.,p.24 650 Pais, op.cit.,p.3

Desta forma a precisão e o relato fidedigno são outra das preocupações de Pais, até por contraposição a Urreta. Partindo da confrontação entre os factos narrados por este, Pais passa a repudiá-los e emendá-los, sublinhando repetidamente quão falsas, fabulosas, imaginarias, contraria a verdade ou fora do caminho, segundo expressões utilizadas pelo autor, quando não contraditórias, são as

portentosas patranhas redigidas pelo valenciano. Por oposição à concepção rigorosa da História, a obra de Urreta é remetida inexoravelmente para o campo da ficção: «Pello q disse muito bem frei Luiz de Urreta no principio do Prologo de sua historia q as cousas q escrevia erão todas novas, não vistas ne lidas em author (...); porq.

Afora dos livros de cavalarias , q professão ficçoes, não parece q haverá nenhu q tenha tantas , (...)»651.É frequente Pais afirmar que dado capítulo apenas se deve à amplitude com que Urreta deu asas à sua imaginação, havendo por isso que repôr a verdade.

Todavia, Pais também considera que Urreta, podia ter sido vítima da sua credulidade, afirmando:« Não digo isto por desfazer no piadoso zello com q se deve presumir , q o P.e frei Luiz de Urreta escreveo; senão pera mostrar o q merecem as

falsidades grandes cõ q joão Baltasar o enganou.»652 Mas Urreta, se não é

responsável pelas informações veiculada-as, é-o pela falta de capacidade crítica e de discernimento, pelo desinteresse na confirmação e nas contradições em que incorre: «Contudo me parece muy provavel q não informarão a frei Luiz de Urreta desta man.ra, senão q se confundio com os papeis de João Balthasar,(...) e acreçentou

m.to mais assi como a outras cousas q lhe disse João Balthasar(...)»653.

Façamos então uma breve análise da estrutura da História...de Pêro Pais. O Livro primeiro e o segundo não são assinalados por qualquer espécie de título. Neles Pais responde capítulo a capítulo, tema a tema, a todas as informações veiculadas por Urreta nos seus livros de 1610e 1611, que são reproduzidosm por Pais em extensas citações, versando no Livro I as características do Império etíope e dos seus habitantes. Se o seu ponto de partida foi a necessidade de refutação da obra de Fr. Luís de Urreta, conferindo uma tónica polemista à obra, Pais alarga-se na caracterização da realidade etíope, que confere à sua história uma componente do que Luís Filipe Barreto intitula, na sua categorização de obras da Expansão

651 Ibd.,p. 9

652 Ibd.,p.10 653 Ibd.,p. 285

portuguesa, como uma Sistemática Descritiva de carácter geográfico/antropológico I654. De facto Pais descreve pormenorizadamente a realidade etíope, com as quais tomou contacto ao longo da sua vivência e deslocações que efectuou naquelas paragens. O Livro I termina com a história da expedição de D. Cristovão da Gama e as aventuras e desventuras de D. João de Bermudes. A inclusão destes últimos episódios são justificados pelo autor pela sua importância e fama, quer na Europa, quer na Etiópia, e igualmente para confrontação com a versão incorrecta de Urreta. O Livro II, aborda desenvolvidamente a questão religiosa seguindo a estratégia de refutação do frade valenciano.

O terceiro Livro intitula-se «Em q se referem as historias de Emperadores de Ethiopia, cõ as missoens q os P.es da Comp.ª fizerão pera este Imperio em o tempo de cada hum delles.» Inicia-se com a história do Imperador anterior à embaixada de Francisco Álvares, seguindo uma ordem cronológica, onde no devido momento é inserido o relato da missão dos companheiros do Patriarca D. João Nunes de Barreto e dos que lhe sucederam. Conjuga a história dos imperadores etíopes e da missão jesuíta de D. André de Oviedo e seu grupo de missionários, como ele próprio afirma:«(...)pois juntam.te cõ referir as historias dos Emp.res pretendemos tratar das

missoens q os P.es da Comp.a fizerão a Ethiopia em tempo de cada hu delles.»655.

Ao narrar os êxitos e os falhanços da história das missões naquela área, introduz a sua própria tentativa de alcançar a missão do Preste e seus longos sete anos de cativeiro no sul da Península arábica, que assume um cunho de relato memorialista assim como de relação de viagens terrestre, contendo alguns elementos de relato de viagem marítima. Termina o Livro III com o relato da igualmente infeliz tentativa de penetração na Etiópia do P. Georgis.

O último Livro retoma esta linha cronística, mas centra-se nos inícios e sucessos da missão coeva: entitula-se «Da Historia da Ethiopia- Em q se trata dos tres ultmos Emperadores q atee oje ouve nella, e das missoens, q os P.es da Comp.ª fizerão em seo tempo pera este Imperio». Se no Livro III se mantém as

desmistificações a Urreta em certos capítulos656, estas desaparecem apartir do

capítulo XII e não constam do Livro IV, já ultrapassado o seu âmbito cronológico, uma vez que narra acontecimentos posteriores à publicação das obras do frade