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3. HISTÓRICO DO SETOR SUCROENERGÉTICO SOB O PONTO DE VISTA DA

3.2 O Sistema de inovação da indústria sucroenergética no Brasil

3.2.1 O papel do Estado

3.2.1.3 A curva de aprendizado do etanol

Além de viabilizar a produção de etanol no Brasil, um dos resultados positivos da implantação do Proálcool consistiu no aumento dos investimentos em P&D (FONSECA et al., 2007). Este último tipo de investimentos vem permitindo a ampliação da base produtiva diversificada da indústria, bem como o desenvolvimento de novas variedades de cana-de- açúcar - variedades mais produtivas e com maior capacidade de transformação de açúcar. Os investimentos em novas variedades de cana já existiam desde o início do Planalsucar, que foi o programa criado pelo antigo IAA, mencionado anteriormente.

Em meados de 1980, quando o subsídio ao álcool começou a cair, foi ficando mais difícil competir com a gasolina e as usinas buscaram ganhar eficiência.

Os esforços produtivos e os ganhos de rentabilidade obtidos à época do Proálcool asseguraram uma confortável base competitiva para a agroindústria de açúcar e álcool mesmo após o fim deste Programa e após a demanda de álcool voltar a cair e o mercado da

commodity açúcar voltar a ser a principal referência para os produtores brasileiros. Mais

importante, ao final do período de intervenção estatal, a agroindústria sucroalcoleira brasileira passou a contar com um importante sistema de pesquisa e desenvolvimento, um sistema que articula instituições privadas e públicas de forma inédita no Brasil (FONSECA et al., 2007).

O aumento na competitividade do etanol de cana-de-açúcar no Brasil foi contínuo nas últimas três décadas (GOLDEMBERG et al., 2004; VAN DEN WALL BAKE et al., 2009; LAGO et al., 2012; VAN DEN WALL BAKE, 2006). No período de 1974 a 2004, os custos de produção de cana-de-açúcar foram reduzidos em 60%, os custos de produção do etanol hidratado em 70% e os custos totais de produção do etanol hidratado também em 70% (VAN

DEN WALL BAKE et al., 2009). A evolução dos custos totais do etanol hidratado é mostrada através da curva de aprendizado da Figura 3.

Figura 3: Curva de experiência do etanol hidratado (custos totais: produção da matéria-prima e produção industrial do etanol)

Fonte: VAN DEN WALL BAKE et al. (2009)

A Figura 4 mostra maiores detalhes deste aprendizado. De 1975 a 2008, a produtividade do etanol por área de cana plantada aumentou em 125%. A produtividade da produção da cana-de-açúcar cresceu em 65,6%. Os custos tanto do etanol como da cana-de- açúcar foram reduzidos em 69% no período.

As Figuras 3 e 4 refletem os esforços de pesquisa, desenvolvimento e inovação realizados nos períodos.

Conforme explicado por Goldenberg (2004), desde a criação do Proálcool em 1975 os preços do etanol praticados pelos produtores eram determinados pelo governo federal, que concedia subsídio aos produtores. Os preços só foram liberados em 1997 para o etanol anidro e em 1999 para o etanol hidratado, como exposto anteriormente.

Os custos de produção do etanol eram próximos a US$100 o barril nos estágios iniciais do Programa, em 1980. Até 1985, à medida que a produção crescia, os preços pagos aos produtores refletiam custos médios de produção, determinados pelo governo através da Fundação Getúlio Vargas. Durante esta fase inicial, os preços caíram lentamente refletindo

os ganhos de produtividade agroindustrial e de economia de escala capturada pelos produtores, os quais eram transferidos aos consumidores através de um esquema de regulação de preços. Após 1985, entretanto, os preços foram fixados abaixo dos custos médios de produção, enquanto o governo federal tentava frear a inflação através do controle dos preços públicos, inclusive dos combustíveis. Devido a este fator e a economias de escala, o custo caiu muito rapidamente, conforme mostrado nas curvas de aprendizado das Figuras 3 e 4. No médio e longo prazo, a elevada competição na atividade do etanol fez com que os preços fossem movidos em direção aos custos de produção.

Figura 4: Crescimento nos rendimentos e redução nos custos de produção para produtos da agroindústria brasileira de cana-de-açúcar de 1975 a 2008.

Fonte: LAGO et al. (2012)

Desta forma, nos estágios iniciais do Proálcool, o uso do etanol tornou-se viável aos consumidores devido à política de preços aplicada aos combustíveis no Brasil (o etanol tinha preços fictícios devido aos subsídios aplicados). À medida que a produção de etanol se tornou eficiente e competitiva, os preços foram liberados e o mercado tornou-se de livre concorrência. Com esta desregulamentação do setor a partir dos anos 1990, as usinas mais competitivas sobreviveram, as quais buscaram expansão no mercado internacional de açúcar, devido à estagnação do mercado de etanol. A Figura 5 apresenta a curva de crescimento das exportações de açúcar a partir de 1990, passando de 926 mil toneladas em 1990 para 27 milhões em 2013.

0 5000 10000 15000 20000 25000 30000 1989 1991 1993 1995 1997 1999 2001 2003 2005 2007 2009 2011 2013

Quantidade (MIL T)

Figura 5: Evolução da quantidade de açúcar brasileiro exportado, por ano civil.

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do Anuário Estatístico da Agroenergia, 2009 e 2014 – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

Obviamente, o aumento na produção e exportação de açúcar influencia fortemente o preço do etanol, dado que o aumento de volume do primeiro produto acarreta redução do segundo, e, consequentemente, o aumento de preço do segundo, refletindo as condições de oferta e demanda. Entretanto, segundo Melo e Sampaio (2016), nos últimos 15 anos a relação de preços entre etanol e açúcar caiu cerca de 60%.

Vale ressaltar que foi o álcool a força motriz para o aumento da competitividade. Entretanto, toda eficiência ganha no álcool também foi transferida para o açúcar, fazendo o Brasil aumentar em competitividade nos 2 produtos, tornando-se o maior produtor e exportador mundial de açúcar, o maior produtor de etanol até 2005, quando os EUA assumiram a liderança, e o maior exportador de etanol, posição esta tomada pelos EUA em 2011, perdida novamente um ano depois e recuperada em 2014 (NOVACANA, 2015).