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5. A INTELIGÊNCIA DO RELACIONAMENTO ENTRE A ICT E A INDÚSTRIA

5.2 As diretrizes que devem estar presentes no relacionamento entre ICT e indústria

5.2.9 Valoração das tecnologias e formas de remuneração à ICT

5.2.9.1 Sobre a BVC

A BVC é uma plataforma de simulação que integra toda a cadeia produtiva da cana-de- açúcar: área agrícola, área industrial, transporte e logística, seja para produzir etanol, açúcar, eletricidade e outros produtos. Seus modelos permitem que seja feita a simulação de processos, com o intuito de avaliá-los do ponto de vista econômico, social e ambiental. Isto torna possível a avaliação da sustentabilidade da introdução de novas tecnologias na indústria.

Os modelos da BVC foram construídos pelo CTBE e validados mediante parcerias com usinas de açúcar e álcool (por exemplo, Usina da Pedra) e fabricantes de equipamentos (por exemplo, Dedini e Procknor). Os resultados destas validações foram apresentados internamente ao CTBE apenas, dada à confidencialidade dos dados fornecidos pelas empresas, bem como dos resultados das validações envolvendo estes dados, conforme estabelecido nos acordos das parceiras.

O surgimento da BVC se deu pela necessidade de uma ferramenta para avaliar os avanços do CTBE na área tecnológica, através da avaliação da performance dos diferentes tipos de tecnologias para a produção de bioprodutos produzidos no LN e sua introdução na indústria atual.

Na área agrícola, o modelo de avaliação utilizado pela BVC incorpora parâmetros como, por exemplo: tipos de colheita e plantio, etapas de transporte, operações agrícolas, maquinários, implementos, mão de obra, agroquímicos, fertilizantes, entre outros. No setor industrial, obtêm-se balanços de massa e energia do processo e realiza-se a avaliação técnica de diferentes opções de produtos e tecnologias para biorrefinarias. Já na área de logística e uso final, é possível analisar a influência da logística de comercialização e do transporte do etanol e de outros produtos no impacto total da cadeia produtiva. Impactos de sustentabilidade econômica são avaliados na BVC empregando técnicas conhecidas de engenharia econômica, enquanto que avaliações sociais e ambientais são realizadas por meio de metodologias como a Matriz de Insumo-Produto e a Análise de Ciclo de Vida (BONOMI et al., 2016).

Dentre as tecnologias em desenvolvimento avaliadas pela BVC estão o etanol celulósico (segunda geração), produtos derivados da química verde, novos manejos agrícolas para a cana-de-açúcar e a palha correspondente, além de diferentes estratégias de

comercialização e uso do etanol como biocombustível. Integram essa análise os setores agrícola, industrial e de uso final dos produtos. A BVC é uma plataforma em contínua atualização, seja para inserção de novas rotas, novos produtos e melhoria nos modelos de avaliação (BONOMI et al., 2016).

No segundo estudo de caso do Capítulo 6, a BVC avaliou e comparou os usos do bagaço e palha de cana-de-açúcar para a produção de energia elétrica e de etanol 2G, com o propósito de concluir qual dos dois cenários era o mais rentável (interesse das empresas parceiras). Foi a avaliação na BVC que viabilizou o projeto de etanol 2G, indicado nas simulações como o negócio de maior valor.

Tanto as indústrias como as ICTs devem obter acesso a ferramentas como a BVC, que vão além da valoração. Além da sustentabilidade econômica, a BVC possibilita também a avaliação da sustentabilidade social e ambiental de qualquer proposta de projeto, antes que seja investido em sua execução. Tais ferramentas possibilitam a avaliação de diferentes cenários para que ICT e empresa analisem e concluam sobre quais são os mais atrativos, sob estes três pontos de vista. Como exemplo, pode-se citar a indicação do melhor cenário para utilização de um dado resíduo, como a palha de arroz, dentre: produção de sílica, etanol e eletricidade. Os resultados das avaliações são ainda extremamente úteis aos órgãos financiadores (tais como o BNDES), dando a estes maior segurança quanto ao potencial de sucesso do projeto a ser investido.

Sejam quais forem os métodos de valoração e formas de pagamento empregados na transferência de tecnologia, é preciso ter em mente que nenhum negócio é perfeito e que é preferível concluí-lo, ainda que não seja ideal, com uma empresa capaz de colocar os produtos resultantes no mercado, do que lutar interminavelmente na obtenção das melhores condições e ao final não conseguir chegar a um acordo entre as partes. Afinal, somente quando a tecnologia tiver sido desenvolvida e levada ao mercado é que o público se beneficiará dela (KRATTIGER et al., 2003, MAHONEY, 2004).

Outro ponto que vale mencionar é que, em alguns casos, o risco da ICT é mínimo, quando esta não entra com contrapartida de recursos próprios. Por exemplo, em projetos de P&D financiados pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social)/Funtec (Fundo Tecnológico), o banco financia todos os custos do projeto incorridos na ICT, incluindo recursos humanos. Portanto, os riscos são do banco e da empresa, a qual

tem de entrar com contrapartida financeira. No Funtec, os investimentos do banco normalmente superam em muito os da empresa, nesta fase de alto risco. Se o projeto for bem sucedido, entretanto, a empresa deverá investir montantes muito maiores nas etapas subsequentes ao projeto, como as de desenvolvimento de produto, planta piloto, planta comercial, etc., conforme mostrado na cadeia da inovação, no início deste Capítulo. Nestas fases, entretanto, o risco é menor, apensar de ainda existir.

E por último, é preciso considerar que o valor econômico de uma inovação não está diretamente relacionado ao valor científico da invenção concebida, e que o potencial de êxito comercial de uma inovação deve ser avaliado em relação ao mercado e não em relação ao estágio tecnológico alcançado (SBRAGIA et al., 2006).

As diretrizes relacionadas a valoração são:

Diretriz no 17: Não é necessário valorar o negócio no momento da transferência da

tecnologia, se a ICT puder ser remunerada através de pagamentos que, com o tempo, refletirão o valor do negócio, tais como royalties ou equity.

Diretriz no 18: Nos casos em que a ICT for remunerada através de quantias fixas, as

ferramentas de valoração serão úteis e deverão ser empregadas.

Diretriz no 19: Tanto as ICTs como as indústrias devem obter acesso a uma ferramenta

que avalie a sustentabilidade econômica, social e ambiental da introdução da futura tecnologia na indústria.