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5. A INTELIGÊNCIA DO RELACIONAMENTO ENTRE A ICT E A INDÚSTRIA

5.2 As diretrizes que devem estar presentes no relacionamento entre ICT e indústria

5.2.1 A importância das alianças (parcerias) entre a ICT e empresas do setor produtivo

A primeira diretriz a ser apresentada decorre do fato de que a empresa não deve contar unicamente com seus laboratórios de P&D para inovar na velocidade necessária. Ao contrário, deve contar com o “laboratório mundial”, visto que o conhecimento é globalizado e está em todo o planeta. Neste cenário, as parcerias entre ICT e indústria assumem um papel essencial e devem ser globais (SBRAGIA et al., 2006, BARAÑANO, 2005), CHESBROUGH, 2003; ANPEI, 2015; WOHLIN, 2012; FITZGERALD, 2012; HERTZFELD et al., 2006).

Françoso (2014) mostra que das 59 empresas atuando na bioindústria nos EUA, todas têm envolvimento com universidades e institutos de pesquisa. Além destas empresas terem se originado da universidade, mantém uma grande interação com elas no desenvolvimento dos seus processos tecnológicos. Esta interação pode ser vista através da análise dos principais parceiros destas empresas em suas publicações. A Tabela 3 mostra as publicações de artigos acadêmicos e as principais parcerias de algumas das novas empresas focadas na fabricação de biocombustíveis avançados e bioprodutos, a partir de biomassa.

Tabela 3: Publicações de empresas especializadas em biocombustíveis avançados e bioprodutos

Fonte: FRANÇOSO (2014)

Empresa Publicações Principais parceiros País de origem dos autores

Mascoma 69

Dartmouth College, Oak Ridge National Laboratoty, University of Massachusetts, University of Toronto, BioEnergy Science Center, USDA Forest Products Lab, Purdue University, University of Georgia, NREL, Synthetic

Genomics, Inc., Los Alamos National Laboratory, USP, University of California (Riverside e San Diego), University

of Wisconsin

US (63), Canada (6), Líbano (3), Brasil (2), Alemanha (2), Japão (2), Holanda (2), Áustria (1), Chile (1) e

China (1)

Coskata 27

Northwestern University, Fermalogic, Inc., University of Nebraska, University of Illinois, Tiajin Medical University,

Hunan Normal University, Dow AgroSciences

US (23), China (4), Índia (4), Alemanha (1), Coreia do Sul (1), Taiwan (1)

Solazyme 22

USDA ARS Western Regional Research Center, Scripps Research Institute, Kosan Biosciences, Inc., Universidad

Nacional de Rosario, Michigan State University

US (22), Argentina (3), Canada (2), china (1), UK (1)

LS9 17 UC Berkeley, Amyris Biotechnologies, Lawrence Berkeley

National Laboratory, Solazyme, US (16), Canada (1), Alemanha (1), UK (1)

Amyris 59

UC Berkeley, Lawrence Berkeley National Laboratory, UC San Francisco, Joint BioEnergy Institute, The Molecular Sciences Institute, UNICAMP, Universidad de Buenos Aires,

University of Washington, Sandia National Laboratories, University of North Texas, Amgen Incorporated, Arizona State University, Brookhaven National Laboratory, UC

Irvine, Synopsys Incorporated, Stanford University, University of Florida, Boston University, MIT

US (55), Argentina (4), Brasil (4), Canada (3), França (2), Espanha (2), Suiça (2), China (1), Alwmanha (1),

Holanda (1)

Sapphire Energy 25 UC San Diego, Texas University, Yale University, Pfizer, San Diego State University, University of Utah

US (25), UK (3), Brasil (1), Alemanha (1), Hong Kong (1), Israel (1), Japão (1)

Algenol 37

GeorgiaTech, Unversity of Maryland Center for Environmental Science, Oak Ridge National Laboratory,

National Marine Fisheries Service, Smithsonian Environmental Research Center, UC Santa Cruz

US (37), Spain (3), Chile (1), China (1), França (1), Japão (1), UK (1)

Edeniq 4 Washington State University US (4), Dinamarca (1)

Gevo 20 UCLA, DNV, Colorado State University, CalTech US (20), China (1), Alemanha (1), Espanha (1), Suécia (1)

OPX Biotechnology 7 USDA Agricultural Research Service, university of Georgia,

USDA ARS Southern Regional Research Center. US (1) Cobalt Technologies 1 Syracuse University US (1)

Phycal 16 Los Alamos National Laboratory, Donald Danforth Plant Science Center, Ohio State University, Mie University

US (13), Japao (3), India (1), Porto Rico (1), Coréia do Sul (1)

Na avaliação dos fatores de desenvolvimento tecnológico e regional em Portugal e Espanha, ATRASAS et al. (2003) mostram que os parques tecnológicos estão sempre ancorados em Universidades e Centros Tecnológicos e que este é um ponto essencial no conceito APTE16, pois a integração Universidade-Instituto de Pesquisa-Empresa é primordial

para o desenvolvimento e transferência de conhecimentos e tecnologias e formação de recursos humanos com capacidade inovadora.

Nos países desenvolvidos, a interação entre as empresas do setor produtivo e as instituições de pesquisa é normalmente mais alta que nos países em desenvolvimento, nos quais a inovação, na maioria dos casos se dá intramuros.

No Brasil, por exemplo, vários estudos apontam para a necessidade de se apoiar mais fortemente os esforços de inovação empresariais, através da cooperação com institutos de pesquisa e universidades (SBRAGIA et al., 2006), sendo que esta última forma uma quantidade expressiva de mestres e doutores (mais de 55.000 em 2011; CGEE, 2013).

A baixa interação das empresas com ICTs é um dos motivos pelos quais alguns autores consideram um sistema de inovação pouco desenvolvido (Souza, 2013). Esta é a realidade brasileira. E no caso brasileiro, bem como de outros países em desenvolvimento, a parceria da empresa com a instituição de pesquisa é mais urgente ainda. Nos países em desenvolvimento, a grande maioria das empresas não possui equipes qualificadas de pesquisa e desenvolvimento, visto que o número de doutores na empresa é baixo, quando não inexistente. Também a infraestrutura laboratorial de pesquisa na empresa é normalmente incipiente. Desta forma, é muito difícil produzir ciência e tecnologia e, consequentemente, inovação, na maioria das empresas no Brasil. Para estas empresas, a ICT passa a ser um parceiro fundamental, um braço de pesquisa, a peça-chave para a inovação.

Além disso, é muito mais produtivo para a empresa, olhar para fora em busca de novos caminhos para geração de inovação em vez de depender inteiramente de seus departamentos de P&D. Elas devem colaborar, comprar ou licenciar processos ou invenções (patentes, propriedade intelectual) de outras companhias, organizações ou ICTs, onde podem encontrar conhecimentos vitais. No sentido oposto, invenções internas que não estão sendo usadas em uma organização devem ser levadas a público através de licenciamento, joint ventures, spin-

offs, etc. Este é o conceito ao qual chamamos de inovação aberta (CHESBROUGH, 2003;

ANPEI, 2015). Desta forma, o antigo paradigma de inovação, a inovação fechada, no qual as organizações necessitam controlar desde a concepção de uma nova ideia até o desenvolvimento dos produtos e serviços derivados desta, é considerado pelos autores insuficiente para fornecer inovações significativas para as organizações. Os autores argumentam ainda, que a expansão da excelência nas pesquisas das universidades, sua difusão e distribuição, tornam evidente o fim do monopólio do conhecimento construído pelas organizações de P&D do século passado.

Com o conhecimento globalizado, as parcerias também têm que ser globais. Se a empresa almeja um resultado de suas equipes de P&D, o qual já foi alcançado em outro local do planeta, pode ser mais interessante ao seu negócio “abortar” a pesquisa em seus laboratórios (eliminar estes gastos) e licenciar a tecnologia externa (licensing in). A empresa poderá ganhar em tempo e em custos. Da mesma forma, tecnologias geradas pela empresa e que ficaram na prateleira (não foram exploradas), podem ser licenciadas a terceiros (licensing out) e dar retorno financeiro que permita recuperar os investimentos feitos durante sua pesquisa e desenvolvimento (ou vá além).

Nesse novo paradigma, no qual o ambiente externo pode e deve ser considerado nas estratégias de inovação, os departamentos de pesquisa e desenvolvimento internos deixaram de ser a única fonte de inovação para as organizações, que precisam então inovar com velocidade cada vez maior. Sendo assim, a inovação passa a fazer parte de um fluxo que tanto pode vir do ambiente interno ao externo e vice-versa, num processo colaborativo (CHESBROUGH, 2003).

Um ponto muito importante é que, com a inovação aberta até mesmo as pequenas empresas podem ter acesso a tecnologias de ponta.

A Tabela 4 apresenta o contraste entre os princípios da inovação fechada e aberta. Vale ressaltar, portanto, a importância de o governo fomentar as parcerias entre ICT e empresa, o que vem sendo feito, por exemplo, através dos financiamentos governamentais de fomento à pesquisa (não reembolsáveis) em parceria entre ICT e indústria. Como exemplos destes financiamentos pode-se citar: Embrapii, FAPESP/PITE, FINEP/Cooperação e BNDES/Funtec. Incentivar estas parcerias deve ser estratégia de qualquer país para fomentar a inovação.

A aliança com a empresa é também muito importante para a ICT, visto que é através da empresa que produtos decorrentes de novas tecnologias, oriundas da ICT, chegam ao mercado. Através do licenciamento e partilha de benefícios, as ICTs são também remuneradas de forma justa quando estes produtos chegam ao mercado, remuneração esta normalmente revertida em pesquisa. O país também ganha com isto pois, sem a parceria com a empresa a produção intelectual da ICT fica nas prateleiras ou reduzida a publicações científicas, sem a transformação das invenções em inovações que beneficiem a sociedade,

promovam o crescimento da economia, o crescimento do PIB e o desenvolvimento econômico. As empresas parceiras podem ser indústrias já estabelecidas, bem como start-

ups, criadas com o propósito de desenvolver as novas tecnologias até que estas sejam

demonstradas e ganhem valor. Após, normalmente a start-up é comprada por uma grande empresa.

Tabela 4: Contraste entre os princípios da inovação fechada e aberta. Fonte: ANPEI, 2015.

Em recentes discussões sobre políticas de ciência e tecnologia, mais atenção vem sendo prestada aos mecanismos para promover a interação entre entidades privadas de

clusters industriais e ICTs, bem como ao papel de cientistas conceituados na coordenação de

projetos visando a transferência de tecnologia e a inovação na indústria. Dado o exposto nesta sessão, a diretriz número 1 é:

5.2.2 A importância do investimento público e do capital privado no processo de