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5. A INTELIGÊNCIA DO RELACIONAMENTO ENTRE A ICT E A INDÚSTRIA

5.2 As diretrizes que devem estar presentes no relacionamento entre ICT e indústria

5.2.3 A transferência de tecnologia

5.2.3.2 O processo de transferência de tecnologia: Os exemplos do MIT

O processo de transferência de tecnologia envolve vários passos, podendo ir desde a pesquisa até a comercialização da tecnologia e auferição de receitas. A título de exemplo, é ilustrado na Figura 9, o processo de transferência de tecnologia utilizado no MIT (MIT, 2005, MENDES 2015).

Figura 9: Processo de transferência de tecnologia do MIT Fonte: Mendes (2015), MIT (2005).

As etapas apresentadas na Figura 9 são descritas a seguir (MENDES, 2015):

Pesquisa: as atividades de pesquisa podem resultar em descobertas e invenções. Considera-se invento qualquer processo, máquina, composição de matéria ou qualquer melhoria nova ou adaptada num objeto.

Pré-revelação: o pesquisador/inventor entra em contato com o Escritório de Licenciamento de Tecnologia do MIT, para discutir a invenção e receber orientações quanto à avaliação, potencial de proteção e divulgação do invento.

Revelação da invenção: o processo formal de transferência de tecnologia inicia-se com a notificação, do pesquisador/inventor, por escrito, ao Escritório de Licenciamento de Tecnologia, do MIT, por meio de um documento confidencial sobre a invenção e as possíveis alternativas para sua comercialização, que serão avaliadas.

Avaliação: o Escritório de Licenciamento de Tecnologia realiza pesquisas em bases de patentes (se aplicável), analisa o mercado e a competitividade de tecnologias similares para estudar o potencial de comercialização da invenção. A avaliação orienta a estratégia para focar no licenciamento da invenção para empresa já existente ou criação de uma nova empresa - start-up.

Proteção: A proteção à propriedade intelectual (PI) de uma invenção tem o propósito de incentivar uma terceira parte interessada na comercialização da invenção. A proteção competente conforme a natureza da invenção – por mecanismos de propriedade industrial e/ou direito autoral – é realizada mediante pedido depositado no Escritório de Patentes dos EUA e, quando apropriado, aos escritórios estrangeiros de PI.

Marketing: São identificadas empresas candidatas para levar a tecnologia ao mercado, considerando as suas experiências, recursos e redes de contatos. A estratégia pode envolver parceria com uma empresa já existente ou a formação de uma start-up.

Criação de start-up ou parceria com empresa existente: se a estratégia mais adequada para comercialização da tecnologia for a criação de uma empresa start-up, o Escritório de Licenciamento de Tecnologia orienta os empreendedores nas atividades de criação, planejamento e financiamento. Caso a estratégia seja comercializar via uma empresa existente, o escritório seleciona potenciais licenciados e identifica objetivos e interesses comuns entre as partes e estabelece o plano para comercializar a tecnologia.

Licenciamento: Preservando os direitos de propriedade do MIT, é firmado um acordo de licença entre este Instituto e o terceiro para fins financeiros e outros. O acordo pode ser celebrado tanto com uma nova empresa start-up como uma empresa já estabelecida. Às vezes é utilizado outro acordo que permite, por um tempo limitado, que um terceiro avalie a tecnologia e seu potencial de mercado antes do licenciamento.

Comercialização: A empresa licenciada continuará os avanços da tecnologia mediante novos investimentos empresariais para desenvolvimento do produto ou serviço. Esta etapa implica em mais desenvolvimento, aprovações regulatórias, marketing, vendas, suporte, treinamento e outras atividades.

Receitas: As receitas recebidas pelo MIT das empresas licenciadas são distribuídas aos inventores e aos departamentos, centros e ao Fundo Geral MIT para financiar mais pesquisas e educação.

A direção do processo de inovação: oferta (Science push) ou demanda (Market

pull)?

Na Figura 9 observa-se que, se a pesquisa (primeira etapa) não se basear em uma demanda da sociedade, o processo ocorre com base na oferta: primeiro ocorre a atividade de pesquisa e a invenção, depois o Escritório de Licenciamento de Tecnologia vai ao mercado buscar um parceiro interessado nas tecnologias decorrentes da pesquisa. Ressalta-se que é mais difícil, porém não impossível, trabalhar nesta direção. Entretanto, quando a atividade

de pesquisa já tem início com base em uma demanda real da empresa ou do mercado, o potencial de sucesso da comercialização é bastante ampliado.

O modelo mais frequentemente encontrado no Brasil é o Science push (BARBIEI E ÁLVARES, 2003; SBRAGIA et al., 2006). A consequência de tal modelo foi que o Brasil, embora tenha conseguido obter índices razoáveis de artigos científicos publicados em periódicos internacionais, acabou gerando indicadores de tecnologia ruins, o que revela, segundo Buianain (2003), baixo índice de transformação de resultados de pesquisa acadêmica em inovações no Brasil.

A Embrapa, por exemplo, trabalha da forma apresentada por Gomes e Atrasas (2005): o processo inicia-se com a demanda da sociedade, determina o produto resultante de P&D e culmina com as ações de transferência e com a adoção da tecnologia. Além disto, a Embrapa apresenta em seu fluxo, as seguintes modalidades de transferência de tecnologia (informações adaptadas de Gomes e Atrasas (2005), após entrevista com os autores):

Difusão de tecnologia: Refere-se à transferência de tecnologia cuja apropriação pelo público alvo é promovida por agentes de extensão rural, assistência técnica, redes de difusão, utilizando instrumentos como: unidades de demonstração e/ou observação, cursos de capacitação, palestras, publicações e mídias. Trata, geralmente, de conhecimentos, bens e serviços isentos de proteção intelectual. Esses conhecimentos relacionam-se mais acentuadamente com as áreas de pesquisa agronômica e biológica. Nesta modalidade, as transações entre o detentor dos direitos e os produtores rurais são ressarcidas, mediante os impostos pagos pela sociedade.

Comercialização de tecnologia: as diretrizes da Embrapa determinam o aumento das receitas mediante o licenciamento de tecnologias protegidas (processos e produtos de base tecnológica) e o aprimoramento dos mecanismos de gestão de royalties. Isso implica o estabelecimento de estratégias para: aumentar o portfólio de tecnologias patenteadas pela Empresa, promover a prospecção de mercados, aproximar clientes, implementar controles e desenvolver estruturas e instrumentos que facilitem o aumento da arrecadação.

O processo de comercialização de produtos, serviços e processos de base tecnológica compreende o licenciamento, a alienação ou venda direta e outras modalidades que incluem

prestação de serviços, consultoria, assessorias. A seguir serão descritas as formas de comercialização:

i. Licenciamento: o proprietário dos direitos de propriedade intelectual transfere a exploração comercial e o uso de marca para empresas privadas, mediante licitação e contrato.

A transferência obedece aos direitos e obrigações estabelecidas entre as partes: remuneração pela transferência da tecnologia, assistência técnica, acordo sobre o pagamento de royalties sobre o valor de venda do produto comercializado e garantia de qualidade do produto comercializado.

ii. Alienação (venda) de tecnologia: transferência integral dos direitos de exploração da patente mediante pagamento, no todo ou em parte, dos recursos investidos nos projetos de P&D que produziram novos processos ou produtos. Também está sujeita à licitação pública e à regulamentação por contratos.

iii. Outras modalidades: compreende a venda de serviços tecnológicos, a transmissão de conhecimento mediante contratos de consultoria e assessoria, a venda de pacotes tecnológicos, o teste de produtos e outras formas.

Segundo Gomes e Atrasas (2005), existem modalidades que podem ser compatibilizadas e abrigadas em estruturas e arranjos institucionais que, pela sua funcionalidade, poderão facilitar o processo de transferência para determinados tipos de clientes. Um desses arranjos, e um dos mais conhecidos, é o processo de incubação de empresas.

O processo de incubação de empresas, assim como a instalação de parques, pólos e centros tecnológicos, constitui uma das diretrizes estratégicas da Embrapa para dinamizar a transferência de tecnologia.

A partir de 2001, a Embrapa, mediante acordo com o Fundo Multilateral de Investimentos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), regulamentou e implementou o Programa de Apoio ao Desenvolvimento de Novas Empresas de Base

Tecnológica Agropecuária e à Transferência de Tecnologia (Proeta). Esta modalidade de transferência de tecnologia visava arranjos institucionais entre Embrapa, incubadoras de empresas e empreendedores interessados em estabelecer Empresas de Base Tecnológica Agropecuária (EBTAs), utilizando tecnologias agropecuárias geradas pela Embrapa.

O CTBE trabalha sempre com base na demanda da sociedade dado que, mesmo suas pesquisas internas (não conduzidas em parceria com a empresa, portanto, sem a demanda da mesma), seguem um planejamento estratégico que objetiva solucionar os gargalos atuais da sociedade nas áreas de etanol de primeira e segunda gerações e química verde.

As etapas do processo de transferência de tecnologia do CTBE assemelham-se às do MIT. Além disso, o CTBE é bastante aberto para as diferentes formas de transferência de tecnologia. Entretanto, por ser uma instituição jovem, ainda não teve a chance de exercitar todas elas, como por exemplo, criar start-ups. Apesar de sua política e regulamento de propriedade intelectual preverem esta forma de atuação, as tecnologias geradas até então no CTBE não apresentaram características propícias a este tipo de empreendimento.

O CTBE possui apenas dois casos nos quais primeiro as tecnologias foram concebidas (internamente, sem a parceria com a empresa) e, posteriormente, foram ofertadas ao mercado e licenciadas às empresas Optolink e British Petroleum. Provavelmente pelo fato do CTBE ser jovem (e ainda não ter muitas tecnologias disponíveis na prateleira), a maioria dos casos de sucesso do CTBE, alguns dos quais serão descritos no Capítulo 6, ocorreram com base em projetos de P&D realizados em parceria com a indústria, onde a demanda da empresa já estava estabelecida, seguindo estes casos de transferência de tecnologia o fluxo ilustrado na Figura 10.

Em alguns destes casos, a sugestão do tema de pesquisa partiu da indústria, em outros, do CTBE. O importante é que ocorra a convergência dos interesses para que se possa seguir em frente.

Como próximo passo, é feito um acordo estabelecendo: o plano de trabalho acordado entre as partes para execução do projeto de pesquisa; propriedade intelectual (condições da partilha e responsáveis pelo processamento e despesas com as patentes resultantes); a partilha de benefícios (ganhos do CTBE em função dos ganhos auferidos pela empresa com a comercialização dos produtos finais); fontes de financiamento para o projeto e valores financiados, contrapartidas da empresa e condições do licenciamento.

Figura 10: Exemplo de processo de transferência de tecnologia com base na demanda. Fonte: elaboração própria.

A proteção dos resultados, neste caso, ocorre durante a execução do projeto de pesquisa: os novos resultados vão sendo protegidos à medida que vão sendo gerados. As patentes do CTBE são apresentadas na Tabela 6, com destaque em amarelo àquelas originadas nos projetos com a indústria.

Como o fluxo já teve início com base em uma demanda da empresa, não existe a etapa de marketing do processo do MIT. Se os resultados esperados para o projeto forem atingidos, como por exemplo a viabilidade técnica e econômica das tecnologias desenvolvidas, a empresa parceira terá todo o interesse em produzi-la e comercializá-la, segundo as condições comerciais tratadas previamente, no acordo efetivado no passo anterior.

As receitas são distribuídas internamente segundo o previsto no Regulamento de Propriedade Intelectual do CNPEM (CNPEM – Regulamento de Propriedade Intelectual, 2013). Este estabelece que as receitas auferidas com a exploração dos direitos de

propriedade intelectual do CNPEM sejam partilhadas com os inventores, obtentores ou autores que tenham contribuído intelectualmente para a criação. As despesas com o pedido de proteção dos direitos de propriedade intelectual incorridos pelo CNPEM, os encargos periódicos de manutenção desta proteção, bem como quaisquer encargos administrativos e judiciais, deverão ser deduzidos do valor dos ganhos econômicos que vierem a ser partilhados. O valor total do prêmio a ser partilhado entre os envolvidos, é de 50% dos créditos recebidos pelo CNPEM com a exploração dos direitos de propriedade intelectual, até o limite igual a 40 vezes a maior remuneração do CNPEM. O valor retido pelo CNPEM é destinado, na proporção de 50%, para o LN responsável pela criação intelectual e 50%, a um fundo de custeio, apoio e fomento das atividades de inovação do CNPEM. O valor do prêmio deverá ser pago em prazo não superior a 1 (um) ano após a realização da receita que lhe serviu de base, sendo certo que não integra nem incorpora a remuneração dos empregados ou colaboradores beneficiados, para qualquer efeito trabalhista ou previdenciário.