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3. HISTÓRICO DO SETOR SUCROENERGÉTICO SOB O PONTO DE VISTA DA

3.2 O Sistema de inovação da indústria sucroenergética no Brasil

3.2.1 O papel do Estado

3.2.1.4 Outras ações do Estado que impactaram a inovação em biocombustíveis

Na década de 1990, a Lei de Propriedade Industrial (Lei 9.279/1996) consistiu em uma política pública importante para os esforços de pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I) no país, dado que regula direitos e deveres em relação à propriedade industrial, no que tange à concessão de patentes, modelos de utilidade, desenho industrial, marca e indicações geográficas. Sendo importante à PD&I, também impacta no desenvolvimento de biocombustíveis avançados.

No entanto, foi na última década que a inovação passou a fazer parte efetivamente da agenda governamental, dada a criação de mecanismos públicos de incentivo à inovação, como a Lei de Inovação (Lei 10.973/2004) e da Lei do Bem (Lei 11.196/2005), bem como a disponibilização de maiores orçamentos e atenção do governo às entidades que promovem, regulam e avaliam os esforços em inovação (CORRÊA, 2014).

A Lei de Inovação cria incentivos à pesquisa científica e tecnológica e à inovação no sistema produtivo, estimulando inventores independentes, empresas e a participação de ICTs no processo inovativo. Além disso, estabelece que cada ICT deve criar um NIT (Núcleo de Inovação Tecnológica) para cuidar da proteção da propriedade intelectual da ICT. Este é um ponto fundamental, dado que a propriedade intelectual é essencial para viabilizar as parcerias entre indústrias, ICTs e outras instituições, além de atrair e estimular os investimentos nacionais e estrangeiros. Este entendimento é consagrado nos países desenvolvidos, mas relativamente recente nos países em desenvolvimento, os quais, em geral, possuem um baixo volume de patentes próprias (de residentes e não de estrangeiros depositantes no país).

A Lei do Bem concede incentivos fiscais às pessoas jurídicas que realizarem pesquisa e desenvolvimento com inovação tecnológica, tanto internamente como em parceria com ICTs. Com isso, busca aproximar as empresas das universidades e institutos de pesquisa, potencializando os resultados em P&D.

Em 2004 foi inaugurado no campus da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ), da Universidade de São Paulo (USP), o Polo Nacional de Biocombustíveis, pelo então Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Ministro da Agricultura e o Diretor da ESALQ. Este programa deveria ter tido papel chave na coordenação de esforços, definição de

estratégias para o uso de diferentes fontes de biocombustíveis e desenvolvimento de políticas para a promoção da produção de biocombustíveis no Brasil. Entretanto, acabou sendo extinto em 2009.

Em 2005 surge a Lei de Biossegurança, que estabelece normas de segurança e mecanismos de fiscalização relacionados a Organismos Geneticamente Modificados (OGMs) e seus derivados. Outras iniciativas relevantes foram o estabelecimento do Marco Regulatório de Acesso a Recursos Genéticos e a criação da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBIO) (Lei 11.105/2005), que apoia e assessora o governo federal na implementação da Política Nacional de Biossegurança e elabora pareceres e normas técnicas de segurança, especialmente para a consolidação de projetos de PD&I de biocombustíveis no contexto da Bioeconomia7.

A partir do estabelecimento deste Marco-Regulatório e das grandes mudanças qualitativas nas políticas federais de ciência, tecnologia e inovação (CT&I), foi disponibilizada em 2006, uma rodada de recursos não reembolsáveis (grants) às empresas contempladas no valor de R$300 milhões, por meio do Programa de Subvenção Econômica à inovação da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP). Parte destes recursos foi destinada aos biocombustíveis e à bioenergia, sendo que os projetos de cana-de-açúcar e etanol receberam R$65 milhões na segunda (2007) e terceira (2008) rodadas (CORRÊA, 2014).

Outra contribuição do governo foi a criação dos fundos setoriais.

Os Fundos Setoriais de Ciência e Tecnologia, criados a partir de 1999, são instrumentos de financiamento de projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação no País. Há 16 Fundos Setoriais, sendo 14 relativos a setores específicos e dois transversais. Destes dois últimos, um é voltado à interação universidade-empresa (FVA – Fundo Verde-

7 Por bioeconomia entende-se uma economia que utiliza os recursos biológicos da terra e do mar, bem como os

resíduos, como insumos à produção de alimentos para consumo humano e animal e de produção industrial e de energia. Abrange também a utilização de processos de base biológica com vista a permitir indústrias sustentáveis. Por exemplo, os biorresíduos têm um considerável potencial como alternativa aos adubos químicos ou para

a conversão em bioenergia, podendo permitir a realização de 2% do objetivo da UE no domínio das energias renováveis (European Comission, 2015).

Amarelo), enquanto o outro é destinado a apoiar a melhoria da infra-estrutura de ICTs (Infra- estrutura).

As receitas dos Fundos são oriundas de contribuições incidentes sobre o resultado da exploração de recursos naturais pertencentes à União, parcelas do Imposto sobre Produtos Industrializados de certos setores e de Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE) incidente sobre os valores que remuneram o uso ou aquisição de conhecimentos tecnológicos/transferência de tecnologia do exterior.

Com exceção do Fundo para o Desenvolvimento Tecnológico das Telecomunicações (FUNTTEL), gerido pelo Ministério das Comunicações, os recursos dos demais Fundos são alocados no Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) e administrados pela FINEP, como sua Secretaria Executiva. Os Fundos Setoriais foram criados na perspectiva de serem fontes complementares de recursos para financiar o desenvolvimento de setores estratégicos para o País.

A criação dos fundos setoriais em 1999 foi importante enquanto fonte de recursos para o desenvolvimento de projetos inovadores de diferentes áreas estratégicas da economia, incluindo os biocombustíveis. Entretanto, estes não foram destinados especificamente para a área da cana-de-açúcar.

Outro exemplo de contribuição importante do governo foi conduzida através da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Com um orçamento anual correspondente a 1% do total da receita tributária do estado, a FAPESP apoia a pesquisa e financia a investigação, o intercâmbio e a divulgação da ciência e da tecnologia produzida em São Paulo.

A FAPESP vem se preocupando com o setor de cana-de-açúcar já há algum tempo. Por exemplo, ela financiou o projeto Genoma da Cana, como parte de um programa mais amplo em genômica. Este projeto começou em 1998 e já identificou 50.000 genes da cana- de-açúcar. Este é um notável exemplo do uso produtivo de recursos públicos com intensa participação de universidades e institutos públicos na execução de pesquisa básica direcionada. É possível que exista forte correlação entre o capital alocado pela FAPESP e a competitividade do setor de açúcar e álcool no estado de São Paulo. Os programas da FAPESP foram importantes iniciativas e suportaram as primeiras etapas das empresas Alellyx e Canavialis na área de biotecnologia (FURTADO et al., 2011).

Em 2008, duas iniciativas governamentais foram importantes no que tange às políticas de CT&I voltadas à bioenergia (CORRÊA, 2014): o Programa em Bioenergia (BIOEN) e o Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE), este último tendo sido inaugurado oficialmente em 2010.

O BIOEN é um programa estadual criado em 2008 pela FAPESP para estimular atividades de P&D relacionadas à produção de bioenergia no país, articulando diferentes atores do estado de São Paulo, tais como universidades, institutos de pesquisa e indústrias. O programa possui cinco divisões: Divisão de Biomassa para Bioenergia (com foco em cana-de-açúcar); Divisão de Processo de Fabricação de Biocombustíveis; Divisão de Biorefinarias e Alcoolquímica; Divisão de Aplicações do Etanol para Motores Automotivos: motores de combustão interna e células-combustível e Divisão de Pesquisa sobre impactos sócio-econômicos, ambientais e uso da terra. A FAPESP organiza chamadas de projetos de P&D relacionadas às cinco divisões do programa, bem como podem ser estabelecidos convênios com a fundação, como é o caso da Dedini (2006) e da Braskem (2008), ambas importantes para o setor sucroenergético. A Dedini, é a principal empresa do setor de bens de capital para o setor sucroenergético brasileiro. Fundada em 1920, a Dedini S.A. Indústrias de Base nasceu do setor sucroalcooleiro, com estrutura familiar e capital 100% nacional. Na cidade de Piracicaba (SP), mantém a sua tradicional sede e, com mais seis unidades industriais, localizadas em Sertãozinho (SP), Maceió (AL) e Recife (PE), a Dedini totaliza um conjunto de nove fábricas. Com problemas financeiros desde 2013, devido à crise que afetou o setor, a metalúrgica Dedini S/A entrou com pedido de recuperação judicial em 2015. Um ponto importante é que a Dedini foi a primeira empresa no Brasil a desenvolver tecnologia para etanol de segunda geração, conforme será visto adiante. A Braskem, empresa química e petroquímica brasileira, é a maior indústria de polímeros da América Latina e tem produzido o polietileno verde. Os polietilenos são convencionalmente produzidos a partir de matérias-primas fósseis, como petróleo ou gás natural, e são encontrados em diversos produtos do dia a dia: embalagens de alimentos, cosméticos, bebidas, sacolas, entre outros. O polietileno verde, também chamado Plástico Verde ou PE Verde, é um plástico feito a partir de matéria-prima renovável, o etanol produzido a partir de da cana-de-açúcar brasileira. Segundo a Braskem, o polietileno verde preserva as mesmas características do polietileno convencional, tanto na aplicação quanto na reciclagem.

O CTBE, a outra importante iniciativa governamental de 2008 para o setor sucroenergético, é um LN, vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), criado oficialmente em 2010. Entretanto, seu planejamento teve início em 2008. Não tendo personalidade jurídica própria, o CTBE foi integrado ao Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), tendo entre seus objetivos contribuir para a inovação nos setores de bioetanol, outras fontes renováveis de energia e química verde, a partir de cana-de-açúcar e suas culturas complementares8, através de transferência de

tecnologia para o setor produtivo. O CTBE será apresentado em mais detalhes no Capítulo seguinte.

Em 2011 foi firmado um acordo de cooperação técnica entre o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e FINEP para execução do Plano Conjunto de Apoio à Inovação Tecnológica Industrial dos Setores Sucroenergético e Sucroquímico (PAISS). O objetivo desta iniciativa foi fomentar projetos relacionados com o desenvolvimento, produção e comercialização de novas tecnologias industriais voltadas para o processamento da biomassa, sobretudo, da cana-de-açúcar. Além de incentivar projetos para pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias, como o etanol de segunda geração, fomenta o desenvolvimento de novas variedades de cana (cana transgênica) e de produtos com maior valor agregado (produtos químicos renováveis), a partir da cana-de-açúcar. Depois da conclusão do PAISS, os planos de negócios geraram 42 projetos que, por sua vez, constituem uma carteira de aproximadamente R$ 3,4 bilhões, incluindo os instrumentos reembolsáveis e não reembolsáveis e as contra-partidas das empresas (BNDES, 2013).

Apesar da presença de várias empresas multinacionais concorrendo aos financiamentos do programa PAISS, os recursos são disponibilizados para projetos que sejam executados no Brasil. Desta forma, estas empresas multinacionais, muitas vezes detentoras de tecnologias relacionadas à indústria de cana-de-açúcar, serão incentivadas a investir em PD&I no país, escalonando suas tecnologias por meio de arranjos cooperativos diversos, se beneficiando e beneficiando o país.

Os investimentos do BNDES e da FINEP, através do PAISS, possibilitaram a viabilização de plantas comerciais de etanol de segunda geração, como por exemplo a

8 Culturas complementares são aquelas utilizadas durante a extensão da safra da cana-de-açúcar, tais como

construída pela Bioflex Agroindustrial (planta da GranBio), atualmente em operação, além da planta demonstração do CTC (capacidade nominal de 3 milhões de litros por ano), na Usina São Manoel, em fase de comissionamento (equipamentos e sistemas auxiliares sendo testados e corrigidos (FINGUERUT, 2015). Estes empreendimentos jamais teriam surgido sem a participação do investimento público. A Abengoa e a ETH (atual Odebrecht Agroindustrial) também foram contempladas pelo programa sendo que a primeira tinha previsão de iniciar a construção de uma planta comercial ao final de 2016 (RIBEIRO, 2015). A ETH, entretanto, não deu prosseguimento à operação e, no primeiro trimestre de 2016, foi anunciado que a Abengoa iria colocar à venda sua divisão de bioenergia e encerrar suas atividades na área no Brasil. A ETH também não deu prosseguimento à operação. A Petrobras também conseguiu aprovação de financiamento para construção de uma planta comercial, cuja implantação ainda está em estudo (MILANEZ, 2015). A Raízen também implementou planta comercial de etanol 2G em Piracicaba com recursos do BNDES, entretanto, utilizou linhas de financiamento reembolsáveis, com taxas de juros atrativas na época.

Um ponto importante a observar é que os casos mais avançados em etanol 2G no Brasil, conduzidos por empresas brasileiras, estão empregando tecnologias estrangeiras. Segundo CORRÊA (2014), a Granbio possui parceria com a Beta Renewables, empresa italiana, Novozymes, empresa dinamarquesa e DSM, empresa holandesa; a Raízen, tem parceria com a Iogen, empresa canadense e Novozymes; a Odebrecht, na qual o assunto etanol 2G não avançou, também planejava parceria com a Inbicon, empresa dinamarquesa do Grupo Dong Energy); o CTC possui parceria com Novozymes e Andritz, empresa alemã. Isto mostra que o Brasil não possui tecnologias para o etanol 2G, o que demostra a imaturidade do sistema de inovação do setor sucroenergético nesta área. A Petrobras está negociando com empresas estrangeiras (Blue Sugars, empresa americana e Novozymes) (CORRÊA, 2014 e MILANEZ, 2015).

A criação do CTBE pelo governo federal, para manter o Brasil na liderança do setor sucroenergético foi, portanto, uma peça-chave e faz parte da estratégia para que o país tenha suas próprias tecnologias de etanol 2G. Sem o CTBE, as chances de desenvolvimento de tecnologias nacionais para o setor são mínimas.

Em dezembro de 2013 foi lançado o Inova Sustentabilidade, programa em conjunto entre o BNDES e a FINEP que busca, dentre outros objetivos, apoiar o desenvolvimento tecnológico e a difusão de produtos e processos que promovam a produção sustentável9.

O Inova Sustentabilidade beneficiou empresas como a Cerradinho Bioenergia S.A., que teve financiamento de R$ 138,8 milhões para investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D) relacionados à implantação de sistema de limpeza a seco de cana- de-açúcar e à implantação de sistema de recepção e separação de fardos de palha de braquiária e de cana-de-açúcar.

Pertencente ao Grupo Cerradinho Participações S.A., a Cerradinho Bioenergia, começou a ser implantada em 2007, em Chapadão do Céu, região de excelente potencial produtivo no estado de Goiás. Em 2009, processou sua primeira safra, de 1,4 milhão de toneladas de cana. Na safra 2014/2015, foram processadas cerca de 4,1 milhões de toneladas de cana, exportados 227 mil megawatts de bioeletricidade (de bagaço de cana) e 341 milhões de litros de etanol. Além disso, a empresa gera 3,8 mil empregos diretos e indiretos.

Com os recursos do Inova Sustentabilidade, a Cerradinho também planejou investir na compra de máquinas e equipamentos nacionais. Eles seriam usados na recepção e separação dos fardos de palha de braquiária e da cana. O projeto também abarcou investimentos previstos para elevar de 70MW para 160 MW a capacidade de cogeração de energia elétrica da usina. Também seria adquirido um sistema de limpeza a seco da cana-de-açúcar na fábrica de Chapadão do Céu. A limpeza a seco no Brasil é fundamental, onde só se trabalha com a cana picada. A limpeza de cana picada a úmido é inviável, pois muito do açúcar é perdido.

Em 2014 foi lançado o PAISS Agrícola (também chamado de PAISS II), pelo BNDES e FINEP, cujo foco compreende a inovação, a produtividade e a competitividade no Brasil. O programa tem a finalidade de fomentar tanto o desenvolvimento e a produção pioneira de tecnologias agrícolas como a adaptação de sistemas industriais, desde que inseridos nas cadeias produtivas da cana-de-açúcar e/ou de outras culturas energéticas compatíveis,

9"Produção sustentável" pode ser entendida como sendo a incorporação, ao longo de todo o ciclo de vida de

bens e serviços, das melhores alternativas possíveis para minimizar impactos ambientais e sociais. Acredita-se que esta abordagem reduz, prevenindo mais do que mitigando, impactos ambientais e minimiza riscos à saúde humana, gerando efeitos econômicos e sociais positivos (Ministério do Meio Ambiente).

complementares e/ou consorciáveis com o sistema agroindustrial da cana-de-açúcar. Seus recursos totalizarão R$1,48 bilhão para operações no período entre 2014 e 2018, em cinco linhas temáticas: i) desenvolvimento de novas variedades (foco em transgenia); ii) sistemas integrados de manejo e planejamento da produção; iii) adaptação de sistemas industriais para outras culturas (milho e sorgo); iv) Novas técnicas de propagação de mudas; v) máquinas e equipamentos.

Também o PAISS agrícola beneficiou a agricultura de cana-de-açúcar em empresas como a Biovertis Produção Agrícola10, em manejo de cana-energia, que é um tipo de cana-

de-açúcar com alta produtividade agrícola e maior concentração de fibras. Outro exemplo foi a viabilização, na Raízen,11 do emprego em larga escala de técnicas mais ágeis e eficientes

de propagação de mudas pré-brotadas de cana-de-açúcar, a fim de reduzir os custos de plantio, além de aumentar a qualidade da germinação da lavoura de cana, contribuindo para incrementar a produtividade agrícola do setor.

O governo brasileiro vem, portanto, buscando realizar investimentos para fomentar o crescimento do setor sucroenergético. Entretanto, os investimentos do governo brasileiro em bioenergia são ainda pequenos, quando se leva em consideração os investimentos feitos por países desenvolvidos. A Tabela 2 apresenta a comparação entre os investimentos não reembolsáveis feitos no PAISS, do BNDES e FINEP com o Biomass Program do DOE (Department of Energy) dos EUA.

O Biomass Program é o principal programa de apoio financeiro direto à bioeconomia nos EUA, patrocinado e operacionalizado pelo DOE, contando com orçamento anual de cerca de US$ 200 milhões. O programa nasceu na década de 1970, mas suas missões atuais foram definidas em 2008, em resposta ao Renewable Fuel Standard (RFS), tendo as seguintes prioridades: reduzir as emissões de gases de efeito estufa, promover o uso de fontes de energia renováveis do país, reduzir a dependência do petróleo importado e estabelecer uma bioindústria avançada. Desde 2008, estima-se que seu orçamento acumulou

10 Empresa do Grupo GranInvestimentos S.A., localizada em Barra de São Miguel, Alagoas, dedicada à

produção de biomassa.

11 A Raízen é a principal fabricante de etanol de cana-de-açúcar do Brasil e a maior exportadora de açúcar de

cana no mercado internacional. Resultante da junção de parte dos negócios da Shell e da Cosan, está entre as três maiores distribuidoras de combustíveis do Brasil (website da empresa, 2015).

cerca de US$ 3.300 milhões. O programa propõe o apoio a projetos em diferentes fases de P&D: bancada, piloto e demonstração. O registro de maior apoio a um único projeto é de US$ 88 milhões (PEREIRA et al., 2015; PEREIRA, 2014).

Já o PAISS, mencionado anteriormente, reservou R$ 200 milhões para apoio direto, via subvenção, a serem desembolsados em um horizonte de quatro anos. Os recursos de subvenção foram utilizados para apoio a projetos nas fases de bancada ou piloto, com valor máximo de R$ 10 milhões por projeto, limitando-se, porém, a despesas de custeio (PEREIRA et al., 2015).

Apesar da substancial diferença dos aportes de capital entre os dois programas, de finalidades similares, é importante lembrar que os produtos internos brutos (PIBs) dos dois países, Brasil e Estados Unidos, são muito distantes. Dados do Banco mundial apontam, em 2014, para um PIB de US$ 2,35 trilhões para o Brasil contra o PIB de US$ 17,42 trilhões para os Estados Unidos (BANCO MUNDIAL, 2015).

Tabela 2: Comparação entre os investimentos feitos no PAISS, do BNDES e FINEP com o

Biomass Program do DOE (Department of Energy) dos EUA

Fonte: PEREIRA et al. (2015); PEREIRA (2014).

Biomass Program PAISS

Total US$3,3 bi (1) R$0,2 bi

Anual US$ 200 milhões R$ 50 milhões (2)

Em % P&D básico: até 100% do investimento; Unidades demo: até 50% do investimento

Microempresa: 95% das despesas de custeio; Grande empresa: 50% das despesas de custeio Máximo por projeto U$ 88 milhões (4) R$ 10 milhões (5)

3. Tipologia de apoio: cost- sharing x reward for

performance

Cost-sharing + Reward for performance Cost sharing 4. Subordinação hierárquica ao

governo central

Descentralizado, subordinado à instância com interesse finalístico

Centralizado, subordinado à instância com missão horizontal de promoção à P&D 5. Fase(s) de P&D pasíveis de

apoio Bancada, piloto e demo Bancada ou piloto

6. Objetivos (explícitos e implícitos)

Disparar uma corrida tecnológica necessária para alcançar as metas do RFS (7)

Aprimoramento institucional (ccordenação) e fomento a oportunidades 7. Integração com outros

instrumentos de apoio financeiro

Não integrados: Garantia de empréstimos (loanguarantee ),

rotulagem (Certified

Biobased Products ) e compras

governamentais (Biopreferred )

Formalmente integrado: linhas de crédito, participação acionária

e recursos não reembolsáveis para projetos em parceria com instituições de ciência e tecnologia 8. Nível de

aprofundamento tecnológico da fase

de formulação

Alto: projeto e modelagem de processos, definição de design cases e identificação de gargalos tecnológicos a serem superados nos

processos/operações unitárias

Baixo: formulação priorizou as lacunas institucionais

9. Nível de envolvimento da comunidade científica na fase

de formulação

Alto: dedicação da equipe técnica do NREL para construção dos design cases; processos de Request of

Information (RI)

Baixo: consulta informal por meio de entrevistas a especialistas externos, incluindo representantes da

academia 10. Quesitos classificatórios de

projetos aplicados na fase de seleção

Objetivo: a partir do design case e do pacote tecnológico (topicarea)

objeto de apoio

Subjetivo: grau de inovação e risco tecnológico; externalidades da tecnologia; grau de nacionalização

da tecnologia 11. Nível de profundidade da

avaliação tecnológica da fase de seleção

Médio: apreciação por técnicos do BETO (8) Baixo

12. Foco nas rotinas de acompanhamento e avaliação