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A dimensão comunicacional, política e de participação pública

III.5.1. As fontes secundárias

Iniciámos a recolha da informação estatística oficial disponibilizada pela APA (Agência Portuguesa do Ambiente), sobretudo nos relatórios do Estado do Ambiente publicados anualmente, assim como as Estatísticas do Ambiente, publicadas pelo INE que fornecem um conjunto de dados sobre a produção de RU no país desde 1995, que actualmente estão congregadas na Pordata (www.portada.pt). Da análise sobre o material recolhido foi possível fazer um enquadramento da questão dos RU a nível nacional e da sua evolução, em particular no que se relaciona com a recolha selectiva de materiais.

Este enquadramento estatístico articulou-se com a análise realizada sobre os documentos nacionais que orientam as politicas públicas em Portugal, nomeadamente o PERSU I (Plano Estratégico de Resíduos Sólidos Urbanos) aprovado em 1997, e o PERSU II , que abrange o período 2007-2016.

Tendo este cenário de nível nacional como pano de fundo, e considerando a delimitação geográfica do terreno empírico, foi realizado um levantamento de dados e de documentação que permite fazer uma caracterização da situação dos RU no concelho de Sintra no que diz respeito à evolução da separação, nomeadamente à implantação das infraestruturas para a separação selectiva existentes. Esta recolha documental foi sobretudo feita através do recurso a fontes e dados oficiais, especificamente a informação disponível nos sites das principais entidades com responsabilidades no sector no concelho, incluindo notícias de imprensa, campanhas de âmbito local sobre esta temática que tenham sido, ou estejam a ser, desenvolvidas e outra documentação.

Neste âmbito as entidades que considerámos foram as seguintes:

• Câmara Municipal de Sintra, enquanto entidade da Administração Pública com competências nesta matéria;

• HPEM – Empresa Municipal de Higiene Pública que tem a seu cargo a operacionalidade da recolha e da limpeza pública;

• TRATOLIXO.EIM, entidade gestora de RU que abrange o concelho de Sintra.

Este levantamento, para além de contribuir para a caracterização do contexto público e institucional onde as práticas quotidianas individuais em relação aos RU se desenrolam, foi também relevante como fase preparatória para as entrevistas exploratórias a estas entidades.

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Uma outra fonte secundária que surgiu no percurso da pesquisa, foi a participação no Grupo de Trabalho dos Resíduos do CNADS (2011), o que ofereceu a oportunidade de assistir, entre Fevereiro e Junho de 2010, a um conjunto de 17 audições a personalidades e organizações do sector dos resíduos em Portugal e ainda de visitar a VALNOR, visita guiada pelo representante da EGF (Empresa Geral de Fomento), Rui Gonçalves, e pelo próprio presidente da VALNOR, Pinto Rodrigues.

Nesta reflexão do CNADS (2011) consideraram-se cinco grandes grupos de auditados: (1) comunidade científica, (2) ONGA (Organizações Não Governamentais de Ambiente), (3) operadores económicos privados, (4) sector empresarial do Estado e (5) entidades da Administração Pública com competências nesta matéria. As audições trouxeram consigo diferentes perspectivas, experiências e saberes, marcados pela sua posição relativamente aos resíduos, isto é, de acordo com o papel que desempenham no conjunto do processo, revelando de forma inequívoca a complexidade do tema e os interesses contraditórios que atravessam o sector13.

Por fim, no âmbito das fontes secundárias que são material empírico desta tese, destaca-se a revisitação às transcrições das 20 entrevistas semi-directivas, realizadas em 2007, aos Presidentes de Junta de Freguesia de Sintra, no âmbito do projecto Separa®. Apresenta-se um quadro síntese (Quadro III.2) das principais categorias de análise de discurso dos Presidentes das Juntas de Freguesia que se enquadram nos objectivos e dimensões de análise do trabalho desenvolvido.

Quadro III.2.

As principais categorias de análise

de discurso dos Presidentes das Juntas de Freguesia

1. Potencial dinamizador da Junta de Freguesia

2. A relação com a população e mecanismos de aproximação à população 3. Avaliação das práticas dos residentes em relação aos resíduos

4. A relação da Junta de Freguesia com o sistema de recolha e gestão dos RU 5. Avaliação do sistema de recolha e limpeza públicas

6. A Junta de Freguesia como poder local

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Identificação dos auditados: Rui Berkmayer da QUERCUS; Álvaro Costa ex-director da TRATOLIXO.EIM; Graça Martinho da FCT da Universidade Nova de Lisboa; Marco Baptista do INIA; Suzete Dias do IST; Nuno Barros da LIPOR; António Barahona da SPV; Célia Marques da ASSIMAGRA; Filipe Serzedelo e Carlos Raimundo do CIRVER/SISAV; Telma Pereira e Elsa Rola do CIRVER/ECODEAL; Bravo Ferreira e Júlio Abelho da SECIL; Álvaro Gomes da CIMPOR; representante da CCDR Norte; Major Alves do SEPNA; Jaime Melo Baptista do ERSAR; Luísa Pinheiro da APA; Alberto Santos da ANMP).

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Serve a análise sobre estas entrevistas, por um lado, para complementar as informações recolhidas nas entrevistas exploratórias às entidades que actuam à escala do concelho com a perspectiva das entidades locais com maior proximidade à realidade quotidiana da população – as Juntas de Freguesia.

Por outro lado, este material é também utilizado como um elemento de enquadramento e interpretação no âmbito da análise das entrevistas aos agregados familiares, sobretudo no que respeita ao envolvimento e participação social à escala local da residência e ao nível da confiança que depositam nas instituições públicas.

III.5.2. As fontes primárias: contactos exploratórios

Foram efectuados vários contactos informais e realizadas entrevistas de carácter exploratório junto das principais entidades com responsabilidades no sector dos RU no concelho de Sintra - Câmara Municipal de Sintra, HPEM e Tratolixo.EIM.

Pretende-se com esta abordagem ao terreno, complementar, enriquecer e esclarecer a informação recolhida através do levantamento documental já citado, assim como identificar as posturas ao nível dos diferentes discursos das entidades envolvidas, chamando também aqui a análise aos discursos das Juntas de Freguesia enquanto entidades locais que à sua escala de competências, também são actores institucionais no sector dos RU.

A análise destas entrevistas fornece um enquadramento sobre a operacionalidade do sistema que actua na dimensão pública do concelho e, que por isso mesmo, abrange as residências dos agregados familiares alvo do trabalho de campo da tese.

Estas entrevistas exploratórias desenvolvem-se em torno dos seguintes objectivos, ainda que com alguns ajustes à especificidade de cada entidade.

Objectivos dos contactos exploratórios:

 Identificar as matrizes da política da entidade em relação aos resíduos;

 Compreender como se articula internamente com os outros serviços (em particular no caso da CM);

 Identificar as entidades que operam no concelho na área dos resíduos e limpeza urbana, respectiva distribuição de responsabilidades e como se articula com essas entidades;

 Identificar os principais problemas de lixo com que o concelho se depara e quais aqueles que interpelam mais a acção da entidade;

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 Identificar o papel da identidade junto dos cidadãos e outras entidades locais;

 Identificar as principais potencialidades de acção da entidade nesta área junto da população(s);

 Identificar o tipo de queixas e a capacidade de dar resposta por parte das entidades competentes;

 Identificar que informação, campanhas e outras acções públicas relativamente aos lixo e limpeza pública são desenvolvidos pelas entidades;

 Recolher elementos sobre a história dos resíduos no concelho (por exemplo, quando começou a haver recolha selectiva, projectos-piloto, etc.).

III.6. A dimensão das práticas domésticas quotidianas e do espaço público envolvente da