• Nenhum resultado encontrado

O design metodológico, uma vista panorâmica

Capítulo

Sobre a constelação de metodologias e a definição do campo empírico

A partir das reflexões inspiradas pela pesquisa bibliográfica e pela análise de um corpus de informação recolhido desde a fase inicial do trabalho de investigação, o projecto de tese foi sendo alvo de um trabalho de reequacionamento. Trilhado um percurso na delimitação operacional do objecto e objectivos do estudo, foi sendo reformulando e aprofundando o próprio projecto no sentido de o tornar cada vez mais consistente e exequível. O investimento em leituras e análises integradas e reflexivasrealizado expressa-se no próprio design da componente metodológica deste estudo.

No momento de concepção do projecto – em 2006/7 – foi elaborada uma primeira proposta metodológica. À medida que a investigação avançou e se desenvolveu, consolidou o próprio projecto; aquilo que era uma proposta - um esboço metodológico - ganhou forma e contornos mais definidos. A dinâmica da investigação fez, assim, emergir a necessidade de introduzir retoques e ajustes ao design metodológico inicial.

Começa-se por apresentar uma visão panorâmica do design metodológico de acordo com objectivos e objecto de estudo, tendo em conta as dimensões de análise definidas enquanto eixos estruturantes do estudo, assim como as fontes primárias e secundárias que constituem o

corpus empírico. Segue-se um enfoque num estudo de referência basilar, na medida em que

fornece um conjunto de dados empíricos que constituem uma fonte relevante na presente investigação. Depois, será abordada a delimitação geográfica da tese ao concelho de Sintra. De seguida elencam-se as metodologias que são operacionalizadas dentro de cada umas das dimensões, primeiro para a dimensão comunicacional, política e de participação pública, e depois para a dimensão das práticas domésticas quotidianas e do espaço público envolvente

da residência.

III.1. O design metodológico, uma vista panorâmica

Este capítulo descreve e enquadra o design metodológico da tese, justificando as diversas opções metodológicas que dão corpo empírico a esta pesquisa, de modo a responderem aos seus objectivos de base, que de novo apresento:

77

• Enquadrar a evolução da produção e tratamento dos resíduos urbanos (RU) em Portugal, em articulação com uma abordagem às políticas públicas vigentes e à evolução da opinião pública;

• Contribuir para a criação de (novas) formas de comunicação e de relacionamento entre instituições políticas e cidadãos que favoreçam a mudança das práticas de deposição dos RU, enquanto forma de participação social;

• Analisar as práticas de relação com o lixo produzido na esfera doméstica, identificando especificamente factores que facilitam e/ou bloqueiam as práticas de separação de RU.

A principal opção metodológica no âmbito do desenvolvimento do presente projecto é o recurso a uma complementaridade de múltiplas fontes e de abordagens metodológicas que fornecem um elemento criativo essencial ao espírito da pesquisa (Bryman, 1995; Tashakkori e Tenddle, 1998; Neuman, 2000). O processo de constituição do material empírico operacionaliza um conjunto de instrumentos teóricos e conceptuais que balizam e modelam a análise a desenvolver, orientando de forma flexível (versus determinista) o trabalho de campo. Com a mobilização de uma constelação de metodologias quantitativas e qualitativas, pretende-se assim, em última instância, contribuir para o conhecimento sobre a sociedade portuguesa e para a configuração de modelos de envolvimento social de forma mais integrada e criativa. Através de um encadear integrador de dados e análises sobre as práticas em relação ao lixo produzido na esfera doméstica, oferece-se um olhar compreensivo, no sentido weberiano, sobre esta questão.

Os objectivos são atravessados por duas dimensões de análise complementares: uma dimensão da ordem do “privado” articulada às práticas do quotidiano em relação aos lixos e aos factores que as envolvem e influenciam - a dimensão das práticas domésticas quotidianas

e de espaço público envolvente da residência; outra dimensão, da ordem do “público”, que

procura inovar a forma de estabelecer uma relação de comunicação entre população e poder oficial de modo a que as políticas públicas se efectivem - a dimensão comunicacional,

política e de participação pública.

Considerando estas duas dimensões como eixos estruturais da análise apresentamos de forma sucinta as fontes empíricas que alimentam e dão corpo a cada uma destas dimensões (Quivy e Campenhout, 1992).

78

Fontes primárias Fontes secundárias

Dimensão comunicacional, política, institucional e participação pública

Entrevistas e contactos directos de carácter exploratório junto das principais entidades com responsabilidades no sector dos RU no concelho de Sintra (a) (Câmara Municipal de Sintra, HPEM, Tratolixo)

Entrevistas realizadas aos presidentes das 20 Juntas de Freguesia do concelho de Sintra, no projecto Separa® (b) Informação disponível nos sites das principais entidades com responsabilidades no sector dos RU no concelho de Sintra, incluindo notícias de imprensa, campanhas desenvolvidas e outra documentação Informação estatística oficial disponível pela APA (Agência Portuguesa do Ambiente) e INE

Planos Estratégicos para os RU à escala nacional

Audições do Grupo de Trabalho dos Resíduos no âmbito do CNADS (c)

Dimensão das práticas domésticas, estilo de vida, quotidiano e espaço público envolvente da residência

Entrevistas compreensivas a 38 agregados familiares residentes no concelho de Sintra em diferentes grupos sociais e tipologias de lugares de residência (d)

Observação directa (com base em grelha) da envolvente das residências dos agregados familiares entrevistados, em particular dos contentores de deposição de RU (recurso a fotografias)

Observação directa (com base em grelha) dos recipientes utilizados pelos agregados familiares no espaço doméstico (recurso a fotografias)

Utilização de “caderno de campo” para notas de observação das práticas em relação com o lixo (abordagem de carácter etnográfico e com uma componente de observação participante)

Inquéritos por questionário realizados em 2006 e 2007 a amostras representativas de 4 concelhos da AML, incluindo Sintra, no âmbito do projecto Separa® (b) Eurobarómetros Especiais de Ambiente (1986-20011)

Inquéritos Nacionais “Os Portugueses e o Ambiente” (OBSERVA)

(a) Sobre a escolha de desenvolver o trabalho de investigação em termos empíricos no concelho de Sintra, ver ponto 3.

(b) Sobre o projecto Separa® enquanto fonte secundária privilegiada, ver ponto 2.

(c) Integro o Grupo de Trabalho de Resíduos do Conselho Nacional do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, tendo estado presente no decorrer das 17 audições a peritos e responsáveis do sector dos resíduos em Portugal, realizadas em 2010 (CNADS, 2011).

(d) Sobre a tipologia de lugares de residência no concelho de Sintra ver ponto 6.1.