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4. O SISTEMA REGULATÓRIO E PRÁTICO DO INTERCÂMBIO DE INFORMAÇÕES

4.2. A Moldura Prática do Intercâmbio de Informações Tributárias no Brasil

4.2.1. A Estrutura Institucional da Receita Federal do Brasil para a Realização do

4.2.2.1. A Disponibilidade de Informações Fiscais e Contábeis e o Banco de Dados da

O primeiro passo para a efetividade do intercâmbio de informações é a própria existência de informações atualizadas e confiáveis sobre os contribuintes. Caso contrário, quando solicitada, a autoridade competente não terá meios para atender a um pedido de intercâmbio de informação. A fim de cumprir com as obrigações assumidas doméstica e internacionalmente, é preciso viabilizar meios para a coleta e atualização de informações dos contribuintes.

No Brasil, além das informações prestadas pelos próprios contribuintes, outros dados também são coletados, mantidos e fiscalizados por autoridades públicas (i.e., RFB, BACEN, CVM, COAF etc.) e outras instituições, como as instituições financeiras369. Segundo a OCDE, o Brasil tem assegurado à sua administração tributária um sólido e

368 Disponível em: www.oecd.org/tax/transparency/Information520Brief_27%20June% 202012.pdf. Acesso

em: 4/1/2013.

369 OECD (2013), Global Forum on Transparency and Exchange of Information for Tax Purposes Peer

atualizado banco de dados em relação à identidade e ao patrimônio dos contribuintes brasileiros370.

Com efeito, o banco de dados da administração tributária brasileira é alimentado por diversas fontes e atores371. Primeiramente, a legislação tributária impõe que os registros fiscais dos contribuintes se encontrem disponíveis com as informações dos últimos cinco anos372. As instituições financeiras também devem cumprir detalhadas obrigações acerca dos registros de todos os seus correntistas, investidores e transações

realizadas nos últimos cinco anos, conforme artigo 197 do CTN373. Além da

disponibilidade das informações fiscais e bancárias, é importante para a efetividade do intercâmbio de informações que estejam disponíveis para a administração tributária as informações contábeis dos contribuintes374. No Brasil, o Código Civil brasileiro determina que as pessoas jurídicas mantenham disponíveis suas informações contábeis dos últimos dez anos, de acordo com os artigos 1.179, 1.184, 1.186, 1.190, 1.193 e 1.195. A apresentação de informações contábeis falsas é considerada crime de fraude e é punida de acordo com o previsto no Código Penal, artigos 171, 298, 299 e 304.

370 Ibidem. p. 24. 371

Regardless of the applicable tax regime, all private entities (companies, partnerships, SCPs, foreign entities with a branch, subsidiary or office in Brazil and foundations) are obliged to safeguard documentation concerning ownership and accounting information on the assets and the activities of the entity, or which concern acts or operations that modify or may modify its patrimonial situation for at least five years from the date in which taxes become due and payable. OECD (2013), Global Forum on Transparency and Exchange of Information for Tax Purposes Peer Review: Brazil 2012: Phase 2. p. 58. Ver também: Decreto Lei 486/1969, artigo 4º; Código Tributário Nacional, artigos 173, 174, 195 e 197; Lei Complementar 123/2006, artigos 26 e 27; Lei n. 8.218/1991, artigo 14, Lei n. 83.83/1991, artigo 62, Lei n. 8.981/1995, artigo 45; Regulamento do Imposto de Renda (RIR/1999), artigos 253, 264 e 527; Instrução Normativa da RFB n. 983/2009, artigo 27 e Resolução CMN n. 2.025/1993, artigo 1º e Circular do Banco Central(BACEN) n. 3.461/2009, artigo 2º.

372 Código Tributário Nacional, artigos 173, 174, 195 e 197; Decreto-Lei n. 486/1969, artigo 4º; Lei

Complementar n. 123/2006, artigo 26, II e Instrução Normativa da RFB n. 983/2009, artigo 27.

373 Código Tributário Nacional − Artigo 197 − Mediante intimação escrita, são obrigados a prestar à

autoridade administrativa todas as informações de que disponham com relação aos bens, negócios ou atividades de terceiros:

I − os tabeliães, escrivães e demais serventuários de ofício;

II − os bancos, casas bancárias, Caixas Econômicas e demais instituições financeiras; III − as empresas de administração de bens;

IV − os corretores, leiloeiros e despachantes oficiais; V − os inventariantes;

VI − os síndicos, comissários e liquidatários;

VII − quaisquer outras entidades ou pessoas que a lei designe, em razão de seu cargo, ofício, função,

ministério, atividade ou profissão.

Parágrafo único. A obrigação prevista neste artigo não abrange a prestação de informações quanto a fatos sobre os quais o informante esteja legalmente obrigado a observar segredo em razão de cargo, ofício, função, ministério, atividade ou profissão.

374 OECD (2013), Global Forum on Transparency and Exchange of Information for Tax Purposes Peer

Além das obrigações de registro e guarda das atividades dos contribuintes existem também outras fontes de informações que alimentam e atualizam o banco de dados da administração tributária. Com efeito, os cadastros nacionais de pessoas físicas e jurídicas formam uma base de dados gerenciados pela Receita Federal e que armazenam informações cadastrais dos contribuintes obrigados à inscrição no Cadastro Nacional de Pessoas Físicas (CPF) e no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ). A Declaração de Imposto de Renda das Pessoas Físicas e Jurídicas, as Declarações do Imposto de Renda Retido na Fonte (DIRF) e algumas outras declarações também contribuem para

alimentar o banco de dados fazendário375. Complementarmente, o Decreto n. 6.022/2007

introduziu um banco de dados eletrônico com registros contábeis e fiscais e outras informações de interesse para as administrações fiscais dos Estados brasileiros e da RFB, bem como registros de autos de infração em operações realizadas pelos contribuintes. O projeto é conhecido como Sistema Público de Escrituração Digital (SPED) e é formado por dois subprojetos: SPED-Contábil e SPED-Fiscal. O SPED-Contábil376 substitui os registros contábeis em papel pela obrigação de registrá-los e transmiti-los em plataforma digital. O SPED-Fiscal é aplicável a todos os contribuintes sujeitos ao ICMS e/ou IPI, que deverão apresentar, em meio digital e em uma base mensal, todas as informações relevantes sobre a suas atividades e operações para a determinação desses tributos377. Em segundo lugar, tem-se a Nota Fiscal Eletrônica (NF-e). Trata-se de documento emitido e armazenado eletronicamente com o objetivo de documentar transações realizadas pela circulação de bens e serviços fornecidos378. Outra ferramenta é a Instrução Normativa (IN) expedida pela RFB, n. 811/2008379, que criou a Declaração de Informações sobre Movimentação Financeira (DIMOF). A IN determina que as instituições financeiras apresentem eletronicamente, duas vezes por ano, relatórios contendo os valores mensais globais em contas de depósito ou de poupança e a identidade dos contribuintes. Trata-se, portanto, de ferramenta que alimenta e atualiza o banco de dados da administração tributária brasileira. Importante também é a Declaração sobre Operações Imobiliárias (DOI), introduzida pela Instrução Normativa RFB n. 1.112/2010; esta determina que os serventuários da justiça responsáveis por Cartório de Notas, de Registro de Imóveis e de

375Disponível em:< http://www.receita.fazenda.gov.br/principal/informacoes/infodeclara/declarapj.htm>.

Acesso em: 5/1/2014.

376Informação disponível em: http://www1.receita.fazenda.gov.br/sistemas/sped-contabil/o-que-e.htm.

Acesso em: 18/8/2013.

377 OECD (2012), Global Forum on Transparency and Exchange of Information for Tax Purposes Peer

Review: Brazil 2012: Phase 1, op. cit., p. 18.

378 Ibidem. p. 18. 379

Títulos e Documentos estão obrigados a fazer comunicação à RFB dos documentos lavrados, anotados, matriculados, registrados e averbados em suas serventias e que caracterizem aquisição ou alienação de imóveis, realizada por pessoa física ou jurídica,

independentemente de seu valor, a partir de 2011380. Ainda em relação a imóveis, a RFB

conta também com a Declaração de Informação sobre Atividades Imobiliárias

(DIMOB)381, relativa a pessoas jurídicas e equiparadas que comercializaram imóveis que

houverem construído, loteado ou incorporado para esse fim; que intermediaram aquisição, alienação ou aluguel de imóveis ou realizarem sublocação de imóveis; bem como aquelas constituídas para a construção, administração, locação ou alienação do patrimônio próprio, de seus condôminos ou sócios382.

Todas essas ferramentas digitais fornecem à administração tributária brasileira, em alguns casos em tempo real, as informações necessárias para as ações fiscais, além de reduzir custos administrativos, padronizar as informações entre as diferentes unidades federativas, simplificar e racionalizar os procedimentos, melhorar a qualidade da informação e também possibilitar o cruzamento entre dados contábeis e fiscais383.

Conforme relatado pela OCDE, o Brasil possui grande disponibilidade de informações em sua base de dados governamental e pode também utilizar-se de medidas coercitivas para alcançar outras informações necessárias, mas que ainda não estejam disponíveis ou tenham sido apresentadas de maneira insatisfatória pelo contribuinte ou pelo detentor da informação. Isto porque as jurisdições devem contar com mecanismos de enforcement para ter acesso às informações, por isso a RFB tem a preocupação de aplicar multas e sanções aos contribuintes que não cumprem seu dever de prestar informações ao fisco, tal como o preenchimento de obrigações acessórias. Nesse sentido, o Brasil tem assegurado meios coercitivos para que seja possível alcançar as informações desejadas.

Conforme reporta a OCDE:

Overall, very compreehensive obligations established under Brazilian civil, comercial and tax laws ensure the availability of ownership information concerning companies, either in the hands of public

380Disponível em:http://www.receita.fazenda.gov.br/Legislacao/Ins/2010/in11122010.htm. Acesso em:

2/10/2013.

381

Disponível em: http://www.receita.fazenda.gov.br/PessoaJuridica/Dimob/Orienta.htm. Acesso em: 5/1/2014.

382 Artigo 1º da Instrução Normativa SRF n. 694, de 13 de dezembro de 2006.

383 Informação disponível em: http://www1.receita.fazenda.gov.br/sobre-o-projeto/beneficios.htm. Acesso

authorities (i.e. the Public Trade Register, the CVM, the BACEN, the RFB, etc.), the company itself (shareholder register) or custodians (financial institutions and other entities supervised by the CVM)384. Assim, especificamente em relação à administração tributária, as autoridades brasileiras possuem grande quantidade de dados sobre os contribuintes. Essas informações são coletadas e atualizadas principalmente por meio dos seguintes bancos de dados: (i) Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ)385; (ii) Cadastro de Pessoas Físicas (CPF)386; (iii) Declarações de Imposto de Renda387; (iv) Declaração do Imposto

de Renda Retido na Fonte (DIRF)388; (v) Declaração de Informações sobre

Movimentação Financeira (DIMOF); (vi) Sistema Público de Escrituração Digital (SPED); (vii) Nota Fiscal Eletrônica (NF-e); (viii) Declaração sobre Operações Imobiliárias (DOI) e (xix) Declaração de Informação sobre Atividades Imobiliárias (DIMOB). Assim, a farta disponibilidade de informações fiscais e contábeis, bem como a constante atualização e manutenção de um robusto banco de dados demonstram que existem elementos suficientes para que o Brasil realize o intercâmbio eficaz de informações com administrações tributárias estrangeiras.

4.2.2.2. O Acesso às Informações Tributárias dos Contribuintes Brasileiros e a

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